Capitalismo sem rivais?

    Autor Mensagem
    de Gaulle
    Membro Novato
    # 15/jul/22 16:59 · Editado por: de Gaulle


    "A constituição de uma classe alta durável é impossível se essa classe não exercer o poder político. Somente a política, utilizada com esse propósito, pode garantir que a classe alta permaneça no topo.
    Em princípio, isso deveria ser impossível em uma democracia; o direito de voto pertence a todos, e a maioria da população tem interesse em assegurar que aqueles que detêm o poder e são ricos não mantenham essa condição infinitamente. No entanto, são inúmeras e convincentes as demonstrações de que os ricos, nos Estados Unidos, exercem uma influência política desproporcional. Os cientistas políticos Martin Gilens, Benjamin Page e Christopher Achen e Larry Bartels trouxeram pela primeira vez na história a confirmação empírica de que os ricos possuem um peso político maior, e que o sistema político se transformou de democracia em oligarquia — sistema em que, para usar a definição de Aristóteles, “a posse do poder político se deve à posse do poder econômico da riqueza”. Gilens, por exemplo, constatou que os parlamentares norte-americanos são mais propensos a discutir e votar questões de interesse dos ricos do que as que são de interesse apenas da classe média e dos pobres. Gilens concluiu que as questões da classe média só têm chance de ser consideradas quando coincidem com aquilo que preocupa também os ricos.
    Essas conclusões são importantes não só pela sua força empírica e por suas implicações políticas, mas também porque se aplicam a uma das democracias mais consolidadas do mundo, onde, além disso, a classe média tem sido vista tradicionalmente como desempenhando um papel central tanto na política quanto na economia. Se a classe média só tem poder político quando sustenta opiniões compartilhadas pelos ricos na sociedade mais pró-classe média do mundo (pelo menos em termos de discursoideológico), no restante do mundo, então, a classe média e os pobres são certamente menos relevantes ainda" (MILANOVIC, Branko. Capitalismo sem rivais, p. 78).

    O que acham dessa reflexão provocativa do Branko?

    Adiciono mais uma: em tempos em que as pessoas encontram-se constantemente bombardeadas por informações e entretenimento barato, superficial e vazio, com os rostos voltados para os celulares e os cérebros exaustos pelos contínuos influxos de dopamina, haveria qualquer cenário em que o aprofundamento da desigualdade poderia desembocar em movimentos mais incisivos (já que falar em revolução no Ocidente me parece um pouco irreal atualmente) por parte de uma sociedade civil fragmentada, desunida e desprovida de uma noção compartilhada a respeito do que significa o bem comum?

    Wanton
    Veterano
    # 15/jul/22 17:15
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    de Gaulle
    O que acham dessa reflexão provocativa do Branko?

    Não acho uma provocação, acho que se trata de uma constatação bem óbvia. O problema é que ela está recheada de afirmações fracas. Já volto para esclarecer.

    kafka à beira-mar
    Membro Novato
    # 15/jul/22 17:17
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    O que acham dessa reflexão provocativa do Branko?

    Até acharia alguma coisa, mas por ser branco não tem lugar de fala.

    Black Fire
    Gato OT 2011
    # 15/jul/22 17:30
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    vou esperar sair o filme.

    Insufferable Bear
    Membro
    # 15/jul/22 17:32
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    quer que eu dê minha opinião de graça?
    eu vou ser proficional, se quer que eu diga o que acho tem que pagar

    kafka à beira-mar
    Membro Novato
    # 15/jul/22 17:38
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    Insufferable Bear

    Opinião de qualidade exige recursos.

    de Gaulle
    Membro Novato
    # 15/jul/22 18:09
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    Não acho uma provocação, acho que se trata de uma constatação bem óbvia. O problema é que ela está recheada de afirmações fracas. Já volto para esclarecer.

    Ele desenvolve o argumento no livro inteiro, a culpa é minha se eu selecionei só essas poucas afirmações!! Haha

    Até acharia alguma coisa, mas por ser branco não tem lugar de fala.

    O lugar de fala matou a conversa!

    quer que eu dê minha opinião de graça?
    eu vou ser proficional, se quer que eu diga o que acho tem que pagar


    Ofereço piadas de livros de humor publicados no início da década de 2000.

    Wanton
    Veterano
    # 15/jul/22 19:07
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    de Gaulle
    Ele desenvolve o argumento no livro inteiro, a culpa é minha se eu selecionei só essas poucas afirmações!! Haha

    Sim, claro.


    A constituição de uma classe alta durável é impossível se essa classe não exercer o poder político

    Bom, não sei o que ele compreende por classe alta aqui. O erro que percebo é que não dá para separar poder econômico de poder político: é um combo. Basta que a classe alta exista para que ela exerça poder político.


    maioria da população tem interesse em assegurar que aqueles que detêm o poder e são ricos não mantenham essa condição infinitamente

    Parece papo da esquerda liberal que prega que as disputas sejam mais justas. Se você assegura todas as compensações para uma competição justa, o resultado será sempre o empate.


    No entanto, são inúmeras e convincentes as demonstrações de que os ricos, nos Estados Unidos, exercem uma influência política desproporcional.

    Fico me perguntando se existe alguém que não saiba disso.


    trouxeram pela primeira vez na história a confirmação empírica de que os ricos possuem um peso político maior, e que o sistema político se transformou de democracia em oligarquia

    Isso é interessante. É bom que os estudos deem suporte às percepções.


    Gilens concluiu que as questões da classe média só têm chance de ser consideradas quando coincidem com aquilo que preocupa também os ricos

    E voilà: eis a direita!


    mas também porque se aplicam a uma das democracias mais consolidadas do mundo

    A democracia estadunidense é superestimada.


    Se a classe média só tem poder político quando sustenta opiniões compartilhadas pelos ricos na sociedade mais pró-classe média do mundo (pelo menos em termos de discursoideológico), no restante do mundo, então, a classe média e os pobres são certamente menos relevantes ainda

    A premissa é fraca e a conclusão é pior. Os Estados Unidos são um país bem bosta quando ranqueado pelo coeficiente de Gini.

    Lelo Mig
    Membro
    # 15/jul/22 19:18
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    de Gaulle

    Não li o livro, então não conheço a que profundidade ele vai em seu estudo.

    Mas, à grosso modo é o óbvio. Que existe desde que surgiram as primeiras civilizações e não vai mudar nunca.

    Numa sociedade indígena, por exemplo, existe um equilíbrio porque o individuo não interessa, não faz diferença. A tribo importa e ela é um coletivo. Isso para nós é abstrato, impossível de colocar em prática.

    Então, nas civilizações, o indivíduo têm importância, e quando há importância individual há diferenças e busca pela diferença.

    Os raça humana não deu certo. Somos ETs no planeta. Não fazemos parte da natureza, não harmonizamos com ela. Não aguentamos o frio, nem o calor, os insetos detonam nossa pele, não temos garras nem presas, somo pesados, lentos e fracos. Temos que derrubar tudo e asfaltar e construir prédios. Estamos sempre em desacordo com o resto, é como se não fossemos parte do planeta, como se fôssemos jogados aqui.

    Dois seres humanos não concordam nem qual é a melhor banda de rock ou sabor de pizza. Qualquer sonho de coletividade e harmonia é utopia.

    JJJ
    Veterano
    # 15/jul/22 20:43
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    Lelo Mig
    Somos ETs no planeta. Não fazemos parte da natureza, não harmonizamos com ela. Não aguentamos o frio, nem o calor, os insetos detonam nossa pele, não temos garras nem presas, somo pesados, lentos e fracos. Temos que derrubar tudo e asfaltar e construir prédios. Estamos sempre em desacordo com o resto, é como se não fossemos parte do planeta, como se fôssemos jogados aqui.

    Jorge Vercillo, devolve a conta do Lelo!

    brunohardrocker
    Veterano
    # 15/jul/22 20:44
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    Lelo flutuou.

    Wanton
    Veterano
    # 15/jul/22 21:22
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    Lelo Mig
    Qualquer sonho de coletividade e harmonia é utopia.

    Só os hippies compraram essa.

    Insufferable Bear
    Membro
    # 15/jul/22 21:44
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    Lelo Mig
    Qualquer sonho de coletividade e harmonia é utopia.
    Falta alguém ter coragem de botar LSD na água e acabar com o ego de todo mundo, vai ser que nem o final de Evangelion.

    LeandroP
    Moderador
    # 15/jul/22 21:55
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    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Lelo Mig
    Membro
    # 15/jul/22 23:09 · Editado por: Lelo Mig
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    JJJ

    "Jorge Vercillo, devolve a conta do Lelo!"

    kkkk... Sabia que tinha ouvido umas paradas parecidas em algum lugar em algum tempo... mas não lembrava que era ele que falou coisas assim... por isso nem citei fontes...kkk

    Mas, concordo com o maconheiro autor da teoria... tamô junto!

    ProgVacas
    Membro Novato
    # 16/jul/22 09:12
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    de Gaulle

    Adiciono mais uma: em tempos em que as pessoas encontram-se constantemente bombardeadas por informações e entretenimento barato, superficial e vazio, com os rostos voltados para os celulares e os cérebros exaustos pelos contínuos influxos de dopamina, haveria qualquer cenário em que o aprofundamento da desigualdade poderia desembocar em movimentos mais incisivos (já que falar em revolução no Ocidente me parece um pouco irreal atualmente) por parte de uma sociedade civil fragmentada, desunida e desprovida de uma noção compartilhada a respeito do que significa o bem comum?

    Também não considero uma "tese" provocativa, apenas uma constatação do que as pessoas mais ligadas ao tema genuinamente pensam sobre.

    A respeito do que destaquei:

    1. esses movimentos mais incisivos não existem e dificilmente existirão.
    2. mesmo se existissem não seriam bem estas as demandas. O identitarismo tomou conta das pautas, o que eu considero ser uma espécie de individualismo dentro de uma coletividade. Acompanhamos que não adianta haver um movimento negro tomando espaços na grande mídia, por exemplo, pois o racismo estrutural não é desbaratado. O preto não pode ir no Encontro, programa de uma emissora feita por brancos e ricos, justamente a classe que mais alimenta o racismo estrutural, para debater questões que o reprimem. Em vez disso, o preto deve lutar pela total destruição da rede globo.

    Tiram o sarro de um manifestante de esquerda que ao ser arguido por um repórter sobre qualquer coisa disse que não responderia porque não fala com mídia corporativista burguesa, mas é por aí mesmo. O preto deveria se recusar a minimamente aparecer na emissora. Em vez disso participa de novelas que exploram comercialmente o sofrimento de deus ancestrais e, também, dos seus contemporâneos.

    Pode-se dizer que eu, branco, estou pautando o movimento negro, mas na verdade estou pensando como eu poderia reagir se fosse preto. Seria assim.

    Falo disso porque você citou a desigualdade. Nesse fenômeno o preto é o que mais sente. A mulher preta sofre ainda mais.

    Viciado em Guarana
    Veterano
    # 16/jul/22 16:10
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    vai ser que nem o final de Evangelion

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