Do parabéns ao mestrado do sallpicão

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Joseph de Maistre
Veterano
# abr/15 · Editado por: Joseph de Maistre
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sallqantay

A Primeira Lei de Voegelin sobre a honestidade intelectual diz que, quanto mais controverso o tema, maior será o dever acadêmico do expositor de trazer à tona todos os argumentos formulados por vertentes teóricas dotadas de alguma seriedade e de justificar sua opção por um desses argumentos.

O que se pode discutir aqui apenas é se a vertente teórica em questão tem a seriedade necessária para entrar no debate. Mas aí são outros quinhentos, que não invalidam a Lei...

sallqantay
Veterano
# abr/15
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Joseph de Maistre

mas se eu mostro minhas opções, mostro também as alternativas não tomadas. Todo tema é controverso, tudo é um debate imenso.

essa lei, se tomada a sério, transforma qualquer texto em um tratado exaustivo sobre todas as possibilidades. É tipo um manual de "como escrever catataus"

pode até ser intelectualmente mais honesto, mas é uma aporrinhação para o leitor. Infelizmente os textos tem entrelinhas, e o leitor tem que ter algum trabalho, existe sempre margens para mal-entendidos.

essa é minha experiência como editor, que aplico em tudo

Joseph de Maistre
Veterano
# abr/15 · Editado por: Joseph de Maistre
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sallqantay
pode até ser intelectualmente mais honesto, mas é uma aporrinhação para o leitor.

Pode ser maçante, mas é necessário para que ambos -- autor e leitor -- aprendam o negócio direito.

Caso contrário, você está agindo mais como propagandista do que como acadêmico.

Se o argumento da vertente contrária invalida a ideia que você está defendendo, você tem o dever de citá-lo e criticá-lo -- isso vale tanto para um artigo, quanto para uma dissertação ou tese.

Eu faço isso desde a minha monografia de graduação. Na época, abri um capítulo no trabalho exclusivamente para refutar cada um dos argumentos contrários, que eram bem uns dez e bem diversos entre si. Ficou uma coisa meio "metralhadora giratória" mesmo, mas eu tirei nota máxima e os membros da banca ficaram calados e não fizeram correção nem pergunta nenhuma sobre o trabalho. Um deles apenas tirou onda e recomendou que eu lesse depois a tese de doutorado de Seu Fulano (que, como eu, tinha muita influência alemã e tal), "para me aprofundar mais".

No mais, segue o texto do Voegelin, para que você tire suas próprias conclusões:

"I cannot see any reason why anybody should work in the social sciences, and generally in the sciences of man, unless he honestly wants to explore the structure of reality.

Ideologies, whether positivist, or Marxist, or National Socialist, indulge in constructions that are intelectually not tenable. That raises the question of why people who are not quite stupid, and who have the secondary virtues of being quite honest in their daily affairs, indulge in intellectual dishonesty as soon as they touch science. That ideology is a phenomenon of intellectual dishonesty is beyond a doubt, because the various ideologies after all have been submitted to criticism, and anybody who is willing to read the literature knows that they are not tenable, and why. If one adheres to them nevertheless, the prima facie assumption must be that he is intelectually dishonest" (Voegelin, Eric. Collected works. v. 34. Autobiographical reflections. Columbia: University of Missouri, 2006, p. 73).

One More Red Nightmare
Veterano
# abr/15
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ganhou o s2 do coltrane

sallqantay
Veterano
# abr/15 · Editado por: sallqantay
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Joseph de Maistre

eu assumo essa postura em aula, como professor, tantando expor as teses a respeito, mas não ao escrever. E isso nao necessariamente é propagandismo, é a honestidade de só falar do que entende 100%

Em aula temos impecisões, metáforas, analogias, tudo isso tem valor didático. Mas ao escrever não dá para correr esse risco.

há que se levar em conta a icomensurabilidade dos paradigmas. Quer dizer, como eu vou criticar o marxismo (o sério, a continuação da crítica da economia política), se para isso tenho que ter uma base em teoria econômica que foge aos meus propósitos práticos? Não dá mesmo, aí eu me calo.

nesse sentido os argumentos da vertente contrária não se encaixam no meu paradigma, eles não podem falsear ele. É como se fosse uma montanha: as vertentes estão separadas por vales profundos demais. As vertentes se separam nos pressupostos (que até dá para expor), depois seguem rumos distintos

Joseph de Maistre
Veterano
# abr/15 · Editado por: Joseph de Maistre
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sallqantay
nesse sentido os argumentos da vertente contrária não se encaixam no meu paradigma, eles não podem falsear ele.

Para um paper, isso vale. Mas aí você tem que deixar isso muito claro na introdução: "este artigo utilizará o ferramental teórico de tal e tal Escola de pensamento para analisar tal e tal problema [e, por limitações de espaço, o autor se absterá de comentar sobre controvérsias metodológicas mais profundas em relação a outros paradigmas]".

Mas, se você estiver escrevendo de dissertação para cima, não tem escapatória: ou você faz um trabalho sistemático (em que você explicita, questiona e justifica cada premissa do seu raciocínio) ou está fazendo um trabalho incompleto.

CindyFerrari
Veterano
# abr/15
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parabéns aeee

sallqantay
Veterano
# abr/15 · Editado por: sallqantay
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CindyFerrari

=*

Joseph de Maistre

Minha dissertação foi um estudo empírico horizontal. Discutir todas as implicações metodológicas seria insano (história, psicologia, antropologia, direito, design gráfico, paisagismo...). Impraticável mesmo, fora que eu ia falar besteira pra caraleo.

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