john s mill Membro |
# abr/13
A Navalha de Ockham da maneira como foi popularizada pela ciência (um tanto diversa da sua formulação original) diz que entre duas teorias que explicam igualmente os mesmos fatos, a mais simples é a correta. Em outras palavras, se uma explicação simples basta, não há necessidade de buscar outra mais complicada. A Navalha também é conhecida por "Princípio da Economia".
Um exemplo clássico do uso deste principio pode ser visto na discussão histórica em torno da estabilidade do Universo. Isaac Newton, um gênio da física mas também um homem profundamente místico, estava convencido de que os planetas não poderiam permanecer imutavelmente em suas órbitas sem a interferência de Deus. Imaginava o Universo como um relógio (uma invenção relativamente moderna em sua época), o qual Deus teria posto em movimento na Criação e que precisava ser corrigido de tempos em tempos, tal qual um relógio que precisa de corda para continuar funcionando. Sem Deus agindo como um relojoeiro celeste, calculara Newton, os planetas, acabariam arrefecendo seu movimento devido às mútuas influências gravitacionais, desviando-se de suas órbitas até colidirem entre si. Foi somente um século depois de Newton, que Pierre Simon de Laplace mostrou, com a ajuda de métodos matemáticos de aproximação, que se os planetas não se desviavam de suas órbitas era porque as interferências gravitacionais entre eles se compensavam e anulavam-se a longo prazo. Quando indagado por Napoleão sobre por que Deus estava ausente de sua teoria, Laplace respondeu: "Sire, não precisei desta hipótese".
Laplace havia aplicado a "Navalha de Ockham" à sua cosmologia: entre duas teorias, uma que exigia a existência de uma superentidade vigilante para criar e manter o universo em movimento e outra que podia conter os fenômenos observados sem incluir hipóteses adicionais, Laplace escolheu a segunda, aquela com o mínimo de suposições necessárias para explicar todos os fatos observados, ou seja, aquela com o menor número de "razões suficientes".
Logicamente Isaac Newton não desconhecia a Navalha de Ockham, até mesmo tinha sua própria versão dela: "Não se deve admitir mais causas às coisas da natureza que aquelas que forem tanto verdadeiras quanto suficientes para explicar sua aparência."
Algumas advertências sobre o mau uso da Navalha
Como todo princípio científico mal compreendido e vulgarizado pela repetição (E=mc2, entropia, caos, herança genética, etc), a Navalha de Ockham se tornou um bordão utilizado indevidamente por leigos e por céticos ansiosos demais em descartar explicações incomuns.
Quando se diz que a teoria mais simples é a correta não se quer dizer que a teoria mais fácil de se entender é a correta. Em primeiro lugar porque simplicidade é um critério pessoal e subjetivo. Além disso a natureza certamente não tem vocação para a simplicidade; apesar de algumas leis fundamentais da física serem expressas de forma surpreendentemente simples (como as leis de Newton), isto não significa que a explicação mais simples seja sempre a correta, ou que seja correta num número maior de vezes. Na verdade, à medida que nos aprofundamos nos terrenos da física quântica ou da cosmologia, ocorre justamente o contrário e as explicações tornam-se cada vez mais complexas. Por isso é preciso compreender que a Navalha de Ockham não trata de descartar hipóteses só porque são mais difíceis de entender. O que ela propõe é que se descarte as hipóteses que em igualdade de condições com outras, possuem mais suposições ou mais pressupostos, já que quanto mais suposições, maior a chance de que alguma delas esteja errada.
Sendo assim, o princípio da economia de Ockham se revela uma diretriz, não uma regra; uma indicação de qual caminho seguir, não um sentido obrigatório; ou seja, apenas bom senso sistematizado, que no fundo é tudo do que trata o método científico.
http://www.projetoockham.org/div_ockham.html
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