Apesento-lhes a minha obra-prima (para leigos)

Autor Mensagem
yield
Veterano
# out/12 · Editado por: yield


Talvez meu trabalho acadêmico seja ainda infinitamente superior a minha produção literária, porém inacessível à massa incauta. Nesse ensaio então resumo em seis página as noções fundamentais do pensamento humano.

Sei que seis páginas (sem figuras ou objetos para colorir) são um desafio monumental para muitos. Então poupem o esforço de escrever coisas do tipo "não li, nem lerei". Não faz diferença. Essa é mais uma obra para os seus filhos e netos. Peço apenas que deixem o tópico livre àqueles com sede de conhecimento e sabedoria. Responderei nele qualquer dúvida.

Abraços fraternos

Carta aos que chegaram do passado


Sempre fui fascinado por suas civilizações. Fascinado talvez não seja a palavra mais adequada, já que o sentimento que elas me despertam é a mais profunda e sincera aversão. Todavia o objetivo aqui não é dizer o que eu penso, e sim ajudá-los, o que de certa forma não deixa de ser irônico. Há tempo reparo na dificuldade que muitos encontram para se adaptar a esse mundo, totalmente novo para vocês. E desde que passamos a reviver pessoas de épocas remotas, como no famoso caso dos alpinistas do topo do Himalaia, o que tenho notado é uma falta de consideração tremenda de nossa parte. Nossa concepção de história, por ser baseada em centenas de milênios, não se preocupou em preservar em detalhes a memória de sociedades primitivas, em que pessoas como vocês viveram. E trazê-los de volta a vida dessa maneira, sem responder a questões básicas de sua época, não me parece justo. Por isso pesquisei em tudo o que me foi possível ter acesso sobre o passado distante e agora divido as minhas descobertas com quem se interessar. Tentarei também explicar o início da era atual, inclusive através de trechos de outros documentos, que acabaram por se perder entre os milênios. Espero lhes ser de alguma valia, ainda que deixe muitas questões sem resposta. Encarem o meu trabalho apenas como uma introdução ao nosso mundo - que agora também é o de vocês – e preparem-se para desvendá-lo sem pressa. Comecemos então pelo final da era que muitos dos que chegaram do passado chamavam de contemporânea.

O estudante de Biofísica Frederico Saliner talvez seja a primeira pessoa a quem eu deva apresentá-los para que possam entender como o mundo em que vocês viviam deixou de existir. Em meados do século XXI do antigo calendário cristão, ele foi pioneiro ao realizar com sucesso o experimento que literalmente dividiu a história e marcou o ponto zero de onde décadas depois, com a criação do novo calendário, a primeira era seguinte a de vocês teve início.

A experiência trouxe de volta à vida um herdeiro extraordinariamente rico, de dez anos, que morrera atropelado. Desesperada com a tragédia, a família do garoto congelou o corpo recém-falecido e passou a procurar no submundo científico toda sorte de procedimento que lhe prometesse uma esperança. Os corpos indigentes utilizados por Saliner nas pesquisas foram esquecidos pela história e o garoto foi considerado pela ciência o primeiro ser humano a ressuscitar.

A notícia surgiu no início como boato, que meses depois foi confirmado e comprovado por Saliner. Em um pronunciamento assistido por bilhões de pessoas, ele explicou por alto as dificuldades do processo e as técnicas utilizadas para a realização da façanha. Lembrou que cada caso seria um desafio, mas que o futuro não deixara por isso de ser promissor, uma vez descoberta a forma de reconstruir o cérebro e trazê-lo de volta à atividade sem sequelas. Explicou também os motivos pelos quais a notícia não foi imediatamente divulgada, que basicamente orbitavam o mesmo ponto: os imprevisíveis e drásticos resultados da descoberta. Já armado para enfrentar as conseqüências, o cientista concedeu a primeira entrevista coletiva, ao lado do garoto.

- Podemos ser imortais? – foi a primeira pergunta.

- É provável que sim – respondeu Saliner. E que no futuro a única maneira de um ser humano morrer seja destruindo completamente o seu cérebro, e com isso suas memórias, conhecimentos e experiências. É isso que nos faz únicos e reconhecidos como tal. Todo o restante, coração, estômago, pulmões, pele, rosto - assim como já vinha sendo feito na época - pode ser substituído.

Porém reconstruir as conexões destruídas no cérebro, pelo tempo, perda de oxigenação ou qualquer outro processo que resulte em morte cerebral, é o caminho apenas para a ressurreição, afirmou o cientista. Quanto à imortalidade, Saliner seguia a mesma convicção de sua época, de que precisaríamos descobrir o modo correto de armazenar em suportes externos todo o conteúdo cerebral e ser capazes de transferi-lo para o corpo que desejarmos. Então, sim, seríamos tão imortais quanto o universo.

Saliner não chegou a viver o suficiente para ver as limitações do seu método superadas. Ressuscitou várias vezes, mas a medicina ainda não conseguia manter infinitamente o corpo inteiro funcionado. Nenhum contemporâneo de vocês sobreviveu por mais de 150 anos.

A pergunta seguinte foi para o garoto e talvez tenha sido ainda mais interessante.

- O que você viu durante o período em que esteve morto? – indagou o jornalista, sem os eufemismos cabíveis frente a uma criança.

- Não vi nada.

Não consigo imaginar alguma outra frase na história que tenha causado tamanho impacto. Nos meses seguintes, o sucesso do método ficou comprovado e nenhum paciente jamais lembrou como foi estar morto. A maioria das instituições que vocês chamavam de igrejas sentiu-se então ameaçada. A princípio tentaram apenas justificar o fato com um raciocínio similar ao do esquecimento das vidas passadas, ou de que o espírito é completamente independente do cérebro. Mas a morte deixava aos poucos de ser temida, em relação direta ao declínio do poder religioso. Decidiram por adotar uma postura feroz contra a nova técnica e o tom de ameaça adquiriu requintes macabros nos cenários descritos pelos líderes religiosos como o destino daqueles que desafiassem a hora escolhida por Deus para desencarnar. O slogan “Morte é vida”, ganhou fama após ser tema de uma campanha mundial patrocinada pela igreja católica, que conseguiu com isso se manter por algum tempo e diminuir a angústia dos mais pobres, impossibilitados de arcar com as despesas de ressuscitar. Já em cultos evangélicos, pastores afirmavam ter conversado diretamente com Deus sobre os acontecimentos e a mensagem era clara: Saliner é o demônio!

O discurso começou a mudar assim que alguns desses líderes caíram enfermos. J.J Souza, o super missionário da Igreja Universal da Graça do Senhor Jesus Cristo Todo Poderoso, foi o primeiro dos grandes a se submeter ao tratamento de Saliner. A princípio tentou de todas as maneiras manter o sigilo sobre a sua ressurreição, mas na segunda morte acabou descoberto. Passou a adotar o discurso de que se Saliner conseguiu o que conseguiu foi porque Deus deixou. E que o próprio Deus lhe disse pessoalmente durante o período em que esteve morto “vai, ressuscita e termina a tua obra”. Não teve como negar o pedido, mas informou aos fiéis que a morte continuava sendo o único caminho para o paraíso ao lado de Jesus e que apenas ressuscitou para cumprir a missão, a ele outorgada por Deus, de elevar a fé do povo ao máximo nesses tempos apocalípticos. Já o Papa seguiu postura contrária após se submeter ao processo. Convocou a imprensa para a Praça de São Pedro no Vaticano e lá anunciou a renúncia ao cargo. Justificou a atitude assumindo a culpa de não ter certeza da existência Deus, que ao morrer não viu nada do outro lado e que nem ao menos sabe se realmente existe algo a ser visto. Por essas dúvidas abraçava agora a ciência de Saliner. Dias depois se mudou para Ibiza.

A renúncia do Papa foi o estopim para a ruína de todo o pensamento teológico ocidental, mas por alguns anos ainda se procurou manter as massas ligadas à fé. Buscava-se com isso evitar a anarquia generalizada que poderia ter início caso as amarras morais impostas no cabresto das religiões, os pecados e o medo do inferno, evaporassem todos ao mesmo tempo e em espíritos pouco habituados à liberdade. Mas o tempo se encarregou de enterrar de vez o Cristianismo e todas as outras religiões de sociedades civilizadas.

Após alguns séculos, a profecia de Saliner se cumpriu, ainda que não da forma imaginada. A ciência se desenvolveu como nunca, com os grandes gênios trabalhando em suas obras por um período muito maior, e a cura de todas as doenças e do envelhecimento não tardou a chegar. Já era possível viver para sempre. O esboço do que viria a ser o novo mundo estava traçado.

No início, anarquia, revolta e violência cresceram em um assustador exponencial, mas que nos anos seguintes puderam ser domados através de um acesso muito mais barato à ressurreição e a uma reforma nos sistemas judiciário e penal. Termos como homicídio tiveram que ser revistos e novas penas impostas. Ocultação de cadáver, por exemplo, passou a ser punido com a pena de morte, sem possibilidade de ressurreição, em casos em que a ocultação do corpo resultou na impossibilidade do processo de retorno à vida da vítima. Mesma pena aplicada para todas as outras ocorrências em que o cérebro foi perdido, como incêndios criminosos, bombas e tiros de grosso calibre na cabeça. As medidas refletiram em uma drástica redução do número de “homicídios consumados”, termo criado para designar os episódios em que não foi possível a ressurreição. Por outro lado, os “homicídios reversíveis” cresceram bastante, e as penas passaram a ser calculadas de acordo com a complexidade do processo necessário para a reversão do quadro. Em poucos séculos diminúiram drasticamente e o futuro se desenhava cada vez mais grandioso.

O número reduzido de mortes nos obrigou a adotar um controle rigoroso de natalidade. A permissão para nascer passou a custar uma fortuna e estava diretamente ligada ao número de óbitos registrados no ano anterior. Muitos economizaram durante vários séculos para ter um filho, já que burlar a lei era praticamente impossível. Mulheres grávidas precisavam de um atestado que comprovasse a compra da licença, sob pena de serem obrigadas a abortar. Fora isso as maternidades, pediatrias, creches, escolas e todos os produtos que em outras épocas tinham como alvo as crianças passaram a ter uma nova organização calculada em função do número de permissões. Tudo personalizado. Ter um filho às escondidas, além de crime, era condenar a criança a uma vida à margem da sociedade. Mas com a evolução da medicina reprodutiva, já não era preciso ter pressa, e em geral as mulheres deixavam para engravidar depois dos quinhentos anos. O que revolucionou completamente também as estruturas familiares. A imensa maioria dos casamentos feitos ainda na época em que a frase “até que a morte os separe” possuía sentido, não resistiu nem por um século. Os que se mantém juntos até hoje, desde o início da nova era, ainda servem de inspiração aos poetas, mas não passam de algumas centenas espalhados pelo mundo. Se antes as uniões que sobreviveram à juventude e à maturidade, dificilmente terminavam na velhice, hoje, por não existir mais essa velhice como na era passada, o desafio de permanecer unidos tornou-se infinito. Em geral, voltamos a ser nômades.

Outro aspecto interessante da sociedade de vocês, que se opõe em definição a essa idéia romântica do amor - e que contribuiu no início para o controle de natalidade - diz respeito às guerras. O fim da última que se tem notícia ocorreu há alguns milênios, no local onde vocês acreditavam que Jesus teria ressuscitado, e que depois eu soube representar também a terra santa de outras seitas. Acredita-se que esse termo “guerra” utilizado atualmente para dar ênfase à referência de uma discussão ou deixar claro uma antipatia mútua, em algumas sociedades primitivas significava muitas vezes se oferecer em sacrifício por uma forma de agrupamento, chamada por vocês de país, ou por uma religião. Especula-se inclusive sobre a existência dos chamados homens-bomba. Pessoas que amarravam explosivos ao corpo e detonavam a si próprios e ao máximo possível de semelhantes. Há quem duvide, mas eu acredito. Visto que esse mundo para vocês era considerado apenas uma ponte entre algo não muito bem definido e ou céu ou o inferno, conceitos ainda mais obscuros, mas psicologicamente bem representados. Destruir a ponte, garantindo um lugar do lado escolhido, não parece nada irracional. De certa maneira vocês mesmos podem ser considerados também uma ponte. A que nos separa dos animais.

Gostaria de deixar claro que apesar de avaliar a forma como vocês viviam, inclusive pior que a dos animais, que ao menos aproveitavam ao máximo seus instintos, e também de ter afirmado no início sentir nojo de suas sociedades, de maneira alguma deposito sobre vocês a culpa por suas mazelas. O que vocês chamavam de “condição humana” deveria mesmo ser algo terrível. Tão terrível, que poucos eram capazes de lidar com ela, abrindo mão de confortos como a crença em além-mundos. Em nossa sociedade atual, talvez o número de espíritos pouco iluminados permaneça o mesmo. Porém é evidente que criados em um mundo mais salutar, que se nem de longe é perfeito, mais distante ainda está do conhecido por vocês, mesmo os cérebros menos brilhantes puderam alcançar um nível razoável de existência. Se não dominam técnicas avançadas de meditação, nem são capazes de elevar-se às dimensões físicas do corpo, ao menos encontram satisfação em prazeres vulgares. Prazeres que vocês condenavam ou reprimiam nessa recusa aos instintos, e acabaram assim por erguer alto demais, sobre si próprios, um peso que se tornou insustentável. Esse peso vocês chamavam de vida. O que restava era esperar a morte. E mesmo assim temê-la.

Imagino que vocês já consigam nesse ponto visualizar ao menos um esboço do lugar em que estão. De tudo o que desapareceu, e tudo que se transformou, numa proporção que eu diria ser da nossa coragem sobre o tempo que levamos para assumir que fomos muito bem enganados. Talvez idiotas. Digo isso para antecipá-los a nossa nova ética e a nova constituição universal, que talvez, a princípio, pareçam impraticáveis. Mas antes de pormenoriza-las, acredito ser necessário lembrar aos que ainda não intuíram essa causalidade, de que o modelo atual só pode ser de fato implementado após o trabalho se tornar desnecessário.

Hoje ninguém mais precisa trabalhar em coisa alguma e a ideia do progresso como um bem em si, capaz de justificar e dar sentido à vida, teve que ser abandonada. Todas as máquinas já funcionam por conta própria, se autorregulam e realizam os reparos necessários sem a necessidade de diagnósticos e tratamentos externos. Maravilhas de tecnologia invisível. Superior à capacidade de compreensão de quase todos nós. Esses são os limites do conhecimento e da linguagem que nos conduziram aos limites da prosperidade. Obras monumentais, frutos de milênios de vida dedicados por nossos maiores gênios. Os que desafiam esses limites são considerados os nossos santos, mas de fato não há mais a necessidade e todo o esforço parece vão. Tudo o que a maioria de nós é capaz de imaginar já existe e está ao nosso alcance. A arte desvendou o espírito absoluto, assim como as leis da física já estão todas explicadas e nossos corpos também são velhos conhecidos, desde as primeiras reuniões de células do nosso mais antigo ancestral encontrado. A possibilidade de dor física foi eliminada e todo ano somos vacinados contra o sofrimento.

Hoje então o pressuposto fundamental e artigo primeiro da constituição das leis é a liberdade. A liberdade total do desejo e a liberdade total de realização. Acredito que facilite esse processo de desconstrução extrema das amarras morais, pensar na história de suas próprias épocas, que comprova que assim foi com diversos absurdos tidos por vocês como verdades, como a escravatura, o adultério, as drogas, a nudez e as crendices. Matamos, morremos e condenamos por muitas delas, antes de perceber que enquanto a lei estivesse vencendo, a guerra contra a liberdade seria eterna.

Todos agora somos livres e capazes pra realizar o que quisermos (somos comunistas, vejam só). Porém a relativa facilidade em implementar esse modelo, só foi possível relacionada ao fato de que todas as nossas necessidades mais sórdidas, egoístas, cruéis e inconfessáveis já podiam ser plenamente realizadas em ambientes alternativos, simulados com a perfeição dos sonhos mais lúcidos. Não diferenciamos as realidades virtuais da realidade material. Tanto que nenhum de vocês pode perceber até agora que de fato o seu corpo não está aqui. A diferença no mundo físico é que as instituições atuam no nível do inconsciente. E a potência de atos destrutivos é controlada quimicamente (LSD, heroína, cocaína e qualquer substância que atue no sistema nervoso central não tem efeito em realidades virtuais). Os poucos que não se adaptam às normas de respeito à vida e à vontade alheia são eliminados.

Porém genocídios, amor a todos os seres ou aberrações sexuais recebem agora o mesmo tratamento: o zero absoluto de valor moral. Nada é proibido ou incentivado. Vale lembrar que esse vocabulário inclusive é anacrônico e nossas crianças não aprendem mais noções de normalidade ou sordidez. Apenas a liberdade do desejo. E o estudo de nossos desejos manifestados em realidades alternativas livres constitui a bibliografia definitiva da espécie humana. A mente já não é menos conhecida que o próprio corpo, e isso tornou evidente que a principal causa de sofrimento são tentativas do ser de se adequar a modelos sociais contrários aos seus desejos, ou a própria incapacidade de realiza-los. É isso, que somado a percepção de um fim que se aproxima, gera ressentimento, remorso, culpa, piedade e todos os outros estados mentais que nos enfraquecem.

Ao abandonarmos essas tentativas, a ideia de rebanho, de uma trilha guiada à sombra, com água fresca e descanso eterno à vista num oásis transcendente, estabelecemos que ao ser é inevitável existir como abertura, como o vazio capaz de significar da maneira que subjetivamente lhe satisfizer o mistério incompreensível, à própria mística intrínseca à existência. Não só capaz, como obrigado.
Abandonamos assim o valor da verdade. O prazer é agora nossa única busca solitária e egoísta. Ainda assim não existem vícios. As opções de lazer são limitadas apenas pela imaginação e toda nossa psicologia se desenvolveu para nos ensinar a ser felizes e livres. Quando ela falha, os medicamentos resolvem. Mas vale lembrar também que consideramos medicamentos absolutamente toda a matéria que repomos ao corpo: alimentos, líquidos, hormônios e psicoativos, definidos e alterados por rigorosos e precisos exames que nos mantém saudáveis até o fim. As drogas foram extintas. Na verdade o conceito de droga. Foi outro caso de uma palavra carregada de significados a serem esquecidos, como culpa, maldade, ética, ressentimento e natureza. Na maioria de suas sociedades, esses conceitos se relacionavam com ideias sobre o bem e o mal e por isso perderam totalmente o sentido. Hoje nada pode nos fazer mal, exceto a vontade de outro ser humano, que, por definição, é aquele que está justamente além do bem e do mal.

Por isso Terra também não é mais o nome desse mundo. A dualidade Terra e Céu, reforçava uma ideia de inferioridade da vida e dificultava que muitos atingissem a iluminação. Agora chamamos esse lugar de Éden. As crianças são ensinadas de que estão no paraíso. Evitamos que elas descubram que a morte existe com o mesmo cuidado que antigamente escondíamos a sexualidade. Hoje elas fazem orgias no jardim da infância, terminam o ensino médio graduadas em sexo tântrico, mas só descobrem que são mortais aos doze anos.

Antes disso, contar equivale criminalmente ao estupro e nossos estudos são todos preparatórios para a grande revelação. Aprendemos a linguagem, o básico das ciências relacionadas e filosofia. Na semana do décimo-segundo aniversário tem início o ritual. Somos estimulados química e fisicamente em direção ao insight que nos faz descobrir a verdade da morte e do vazio. E então somos ensinados a esquecer da morte e não pensar no vazio em si, mas tentar perceber o vazio, o instante e a serenidade universal do ser, que nos leva a entender ao menos intelectualmente a inexistência da morte, que define o conceito de iluminação. E então seremos para sempre outra pessoa.

Oficialmente, passamos a responder pelos nossos atos, internamente devemos lidar com a metafísica, que nos próximos vinte e um anos será nossa única disciplina. Com trinta e três anos somos libertos de qualquer obrigação e temos o tempo do universo pela frente. Mas não vou mais me alongar em pormenores. Acredito já ter explicado com alguma clareza o quanto esse mundo é diferente do que vocês conheceram. O restante deve ser visto e vivido por vocês mesmos, e nenhuma definição encontraria melhor caminho que a experiência. Espero com sinceridade que de alguma forma o meu trabalho ajude os recém-chegados a encontrar esse caminho e a desfazer as amarras que ainda os prendem ao passado. De todos os valores cultivados por vocês e também ainda por nós, talvez a solidariedade e a empatia, que serviram de base para essa carta, sejam os mais obscuros. Não sei realmente porque eu quis escrever isso. Talvez seja egoísmo e vontade de que mais um pedaço de mim ainda permaneça nesse mundo, que por tantos e tantos anos eu amei.
Atenciosamente,
David Saliner.

A sala de visitas parecia ainda mais vazia do que o de costume e David teve toda a paz necessária para realizar o último trabalho. Pegou a corda com firmeza e atou dois nós para prender junto à cabeça alguns quilos de explosivos. Tirou do bolso o fósforo e coloriu a sala de vermelho. Nas ruas do centro da metrópole o barulho da detonação não chegou a ser ouvido por humanos. Apenas os pássaros que se empoleiravam nas amendoeiras, precipitaram um voo assustado rumo a uma pousada mais distante. É domingo e poucos homens transitam pelos arredores cinzentos e de atmosfera hostil, peculiares aos grandes centros em dias como esses. Na maioria dementes, que há algum tempo já são incapazes de ouvir e que aos finais de semana se arrastam pelas sombras dos arranha-céus.

The Laughing Madcap
Veterano
# out/12
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tentei ler, mas meu clicherômetro explodiu no processo.

Bob Mauley
Veterano
# out/12
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tentei ler

eu duvido

yield
Veterano
# out/12
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tentei ler, mas meu clicherômetro explodiu no processo.


solicito a gentileza de que comentários desse nível tbm sejam esquecidos e só comente quem ler o texto na íntegra

Gansinho
Veterano
# out/12
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tentei ler, mas minha paciência pra um assunto tão chato se esgotou.

paulinho pc
Veterano
# out/12
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Não tentei ler, nem pretendo.

Headstock invertido
Veterano
# out/12
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Eu li e o meu clicherômetro explodiu no processo.

mikia
Veterano
# out/12
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Eu li o texto inteiro. Até gostei, mas terei que ler outra vez para entendê-lo melhor.

neologist_
Veterano
# out/12
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Só li metade.

Vitalogy
Veterano
# out/12
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Eu fi o único que leu essa bagaça até o fim... Morram de inveja senhores veteranos =P

Vitalogy
Veterano
# out/12
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A propósito, o que seria um clicherômetro??? Eu tenho um Ó.ò???

mikia
Veterano
# out/12
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Vitalogy
cego, eu também li inteiro.

brunohardrocker
Veterano
# out/12 · Editado por: brunohardrocker
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Achei uma merda. Se é para pobres leigos e se vem de um cidadão que vive no século XXI enquanto os outros mortais vivem na idade média, tá prometendo demais.

Mas provavelmente terei preguiça de comentar seriamente, justamente porque eu percebi a ideia central e onde o autor quer chegar, então discutir com quem se deslumbra com essas idéias é uma auto-flagelação.


PS: Aposto que o autor vai dizer que o fato de alguém ter achado uma merda já é um ponto positivo para o texto e que ele tenha causado algum efeito. (como é de costume quando alguém crê piamente que está apresentando algo realmente novo e revolucionário.) Se não disser, pensou.

Redes
Veterano
# out/12
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Nem li

McBonalds
Veterano
# out/12
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Apesento-lhes a minha obra-prima (para leigos)

Talvez meu trabalho acadêmico seja ainda infinitamente superior a minha produção literária, porém inacessível à massa incauta.

Sei que seis páginas (sem figuras ou objetos para colorir) são um desafio monumental para muitos.

Essa é mais uma obra para os seus filhos e netos. Peço apenas que deixem o tópico livre àqueles com sede de conhecimento e sabedoria.

Olavo de Carvalho, é você?

Vitalogy
Veterano
# out/12
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mikia

Não sou cego, sua sega!!!

Cavaleiro
Veterano
# out/12
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Apesar da introdução prepotente e arrogante, me dei ao trabalho de ler o texto tentando ser o mais imparcial possível.

Ele foi bem escrito, sem dúvidas. A ideia central é interessante, porém como alguns colocaram, achei bastante previsível e com críticas clichê, não que isto seja de todo ruim, mas existe um abismo com limite no infinito entre este texto e as noções fundamentais do pensamento humano.

brunohardrocker
Veterano
# out/12
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Cavaleiro
introdução prepotente e arrogante

Essa sua interpretação vem das suas amarras morais, e ele quer te libertar delas para que você ache isso tão natural quanto orgias de crianças (texto).

Cavaleiro
Veterano
# out/12
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brunohardrocker

É o desejo de ser reconhecido e amado em sua plenitude.

-Dan
Veterano
# out/12
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Cavaleiro
Apesar da introdução prepotente e arrogante,

Não fui adiante nessa concessão. Sem saco para narcisismo.

TimRiddley
Veterano
# out/12
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Que perda de tempo. Um clichê atrás do outro de idéias filosóficas e psicoanalíticas, um cenário forçado para dar vazão à demonstração de todos os livros que você já leu mas que te fizeram não mais do que uma máquina de reprodução, sem absolutamente nada de original.(Além de não ter elegância na escrita).

Não é o tipo de comentário que você quer? Me desculpe, os comentários os quais você deseja só virão quando você fizer um texto à altura deles. Por enquanto, você vai ter a vã idéia de que nós, mortais, não entendemos seu texto incrivelmente superior (que não é mais do que uma sopa de idéias emprestadas e algumas até mofadas) para manter seu ego inflado.

Scrutinizer
Veterano
# out/12
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Eu não tentei ler, porque é do yield e isso já diz tudo.

Black Fire
Gato OT 2011
# out/12
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Eu acho que você tem problemas mentais, sério mesmo.

Viciado em Guarana
Veterano
# out/12
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yield
Apesento-lhes

Você não sabe como foi fofo pronunciar isso!
Sério mesmo.

Roy.Mustang
Veterano
# out/12
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Apesento-lhes a minha obra-prima (para leigos)
Apesento-lhes a minha obra-prima
Apesento-lhes a minha
Apesento-lhes
Apesento
Apesento
Apesento
Apesento

Benva
Veterano
# out/12
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Às vezes acho que oyield é o maior troll daqui. Além dessas ideias - meio esquisitas, vá lá - dele, escreve textos enormes. Aí quando o povo começa a discutir sobre o conteúdo, deve ficar rindo alto na cadeira do pc. Porque além do que foi escrito ser uma enorme zuação com a [falta de] inteligência alheia, faz todos perderem muito tempo em nome de (sic) noções fundamentais do pensamento humano.

Parabéns!

Gregório de Matos Guerra
Veterano
# out/12
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Responderei nele qualquer dúvida.

Por que não vai tomar no rabo?

GuitarHouse
Veterano
# out/12
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Que perda de tempo. Um clichê atrás do outro de idéias filosóficas e psicoanalíticas, um cenário forçado para dar vazão à demonstração de todos os livros que você já leu mas que te fizeram não mais do que uma máquina de reprodução, sem absolutamente nada de original.(Além de não ter elegância na escrita).

Não é o tipo de comentário que você quer? Me desculpe, os comentários os quais você deseja só virão quando você fizer um texto à altura deles. Por enquanto, você vai ter a vã idéia de que nós, mortais, não entendemos seu texto incrivelmente superior (que não é mais do que uma sopa de idéias emprestadas e algumas até mofadas) para manter seu ego inflado.


Podemos colocar isso na descrição do OT na página inicial?

Shredder_De_Cavaquinho
Veterano
# out/12
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Vou imprimir pra ler mais tarde

Cavaleiro
Veterano
# out/12
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GuitarHouse

O OT já foi mais assim, acho que essa fase já passou, mas pode ser um problema de percepção

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