Há vinte e dois anos. . .

    Autor Mensagem
    Joseph de Maistre
    Veterano
    # nov/11 · Editado por: Joseph de Maistre


    Há vinte e dois anos, nesta data, o Muro de Berlin que por 28 anos separara famílias na Alemanha era desmoralizado, vilipendiado, derrubado e execrado publicamente por suas vítimas.

    Em 1945, após a rendição nazista, a Alemanha fora oficialmente dividida em 4 zonas de ocupação: britânica, francesa, americana e soviética. Em 1949, as três primeiras se unificaram e deram origem à Republica Federal da Alemanha e a zona soviética do leste transformou-se no Estado comunista da República Democrática Alemã.

    Berlin, por ser o maior ponto estratégico no pós-guerra, também passou por uma divisão administrativo-politico-econômica semelhante e foi fragmentada de maneira bem peculiar: um lado foi incorporado ao território da RDA, recaía sob a zona de influência soviética e tinha economia socialista planificada; o outro se tornou uma zona autônoma soberana (i.e., um distrito politicamente independente tanto da Alemanha Oriental quanto da Ocidental), protegida pela OTAN e com economia de mercado integrada ao Ocidente através de caminhões e pontes aéreas. E como o socialismo é a ordem social mais nefasta em que algum ser humano já pensou e a Constituição da RFA assegurava a todos os alemães (inclusive os da Alemanha oriental) o direito incondicional à cidadania alemã-ocidental, era natural portanto que Berlin se tornasse um dos principais focos de imigração de uma Alemanha para a outra.

    De fato. Da fundação das duas repúblicas no final de 49 até a madrugada de 13 de agosto de 61, nada mais nada menos do que 3,8 milhões de alemães emigraram da RDA para a RFA¹. Uma média de mais de 320 mil pessoas por ano. Quase 900 por dia abandonavam suas casas, comunidades e dialetos para fugir da grande peste que afligia o leste da Alemanha (bem como os demais países da Europa oriental que também compunham a zona de influência soviética²) e construir vidas novas, do zero, no oeste liberal³. Nenhum dia e nenhuma hora se passaram na Europa sem que o comunismo não se revelasse uma perversão.

    Diante dessa situação, para que o resto de seus "contribuintes" não fugisse e o sonho socialista de um "mundo melhor" não ficasse restrito a uma meia dúzia de nobres e abnegados burocratas, estes decidiram construir uma Grande Muralha cortando Berlin e o resto do país de modo a assegurar a estabilidade populacional. Tal Muralha cumpriu seu objetivo com louvor: depois que a zona fronteiriça (até então inexistente) passou a ser vigiada 24 horas por dia e a contar com a proteção de arame farpado, cercamento elétrico e minas terrestres, a média de emigrantes ilegais do período 1961-89 diminuiu para meras 20 pessoas por dia.

    Somente quase três décadas mais tarde, na noite de 9 de novembro de 1989, em meio ao esfacelamento econômico e político da URSS do final dos anos Gorbachev, os dirigentes de Berlin oriental finalmente se dão conta de que estão com uma bomba-relógio nas mãos. O Führer do Partido decide anunciar na televisão que, a partir do dia seguinte, visitas a parentes do outro lado do Muro seriam permitidas sem a necessidade de "visto". Os berlineses percebem que essa é uma oportunidade única e vão para a Potdsdamer Platz em massa, aglomerados aos milhares, sem a menor intenção de esperar até o "dia seguinte". Avançam com tudo para cima do Muro e exigem que os soldados os deixem passar. Passam pelas catracas. Depredam e quebram as brechas. Escalam e pulam.

    Na manhã seguinte, uma multidão ainda maior de ambos os lados do Muro está nas ruas festejando e a única coisa sensata que qualquer político com algum instinto de auto-preservação pode fazer é mandar desmontar aquele monumento a tudo que o ser humano tem de pior. Toca-se o canto de cisne para o comunismo na Europa e a safadeza acaba.

    Relembrar e celebrar o instante da derrocada final da ideologia mais covarde, imoral, estúpida e mortífera que a humanidade já conheceu é a obrigação de todo cidadão de bem preocupado com os problemas da comunidade. Afinal, o preço da liberdade e da ordem é a eterna vigilância contra aqueles que desejam delas nos privar.

    Niemals vergessen!




    Notas:

    ¹SCHÄFERS, Bernhard, ZAPF, Wolfgang. Handwörterbuch zur Gesellschaft Deutschlands. 2. ed. (Leverkusen: Leske + Budrich, 2001), p. 84

    ²Ninguém conheceu melhor o peso do comunismo e do imperalismo soviético do que os povos eslavos. Em 1953, imediatamente após uma revolta em Berlin oriental, os burocratas soviéticos decidiram impor a todos os países-satélites o Pacto de Varsóvia, um "tratado" que autorizava a URSS a intervir militarmente nos mesmos sempre que os regimes-fantoches instituídos fossem colocados em risco por ameaças internas. Resultado: em 1956, um governo húngaro rebelde tentou se separar da órbita soviética e 20.000 pessoas morreram e quase 200.000 foram expulsas do país após os confrontos com as tropas do Pacto (GADDIS, John Lewis. We now know: rethinking cold war history. New York: Oxford, 1997, p. 211). Em 1968, a antiga Tchecoslováquia tentou uma manobra parecida durante a Primavera de Praga, mas, como não houve resistência à intervenção soviética, ninguém morreu e as instituições suprimidas pela Primavera voltaram a vigorar.

    ³Que, à época, implementava o programa econômico laissez-faire de Ludwig Erhard (economista liberal que foi Ministro da Economia da Alemanha ocidental de 1948 até 1963 e chanceler até 1966) e experimentava então o crescimento mais acelerado de sua História. Outros países da Europa Ocidental também passavam por uma fase administrativa e econômica similar, como a França do general De Gaulle (que tinha como assessor econômico Jacques Rueff, ex-aluno de Ludwig von Mises especialista em teoria monetária), a Itália presidida por Luigi Einaudi (também ex-aluno de Mises) e a Áustria de Reinhard Kamitz (ministro das Finanças e amigo pessoal de Mises), no período que os historiadores marxistas costumam chamar de "Era de Ouro" do capitalismo. Cf. HOBSBAWM, Eric, Age of extremes: the short twentieth century, 1914 - 1991 (London: Abacus, 1994) e BARTLETT, Bruce R.,"Keynesian policy and development economics" in SKOUSEN, Mark (ed.), Dissent on Keynes: a critical appraisal of keynesian economics (New York: Prager, 1992), pp. 103-116.

    _________________________________

    [EDITADO PELA MODERAÇÃO]

    Por favor, leia as regras do Fórum http://forum.cifraclub.com.br/?action=regras

    1. Criação de tópicos

    "1.4. Deixe claro o assunto do tópico no título. Títulos como "preciso de ajuda", "alguém sabe..." podem fazer com que o tópico em questão seja fechado e/ou apagado. Lembrando que títulos precisam ter pelo menos 3 palavras e 15 caracteres;"

    Eric Clapton
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Deve ser interessante. Vou ler quando chegar em casa


    o/

    Joseph de Maistre
    Veterano
    # nov/11
    · votar






    Eric Clapton
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Alias, quando a Alemanha era partida ao meio, quais eram as capitais?

    Berlin de um lado e Frankfurt do outro?

    Joseph de Maistre
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Eric Clapton

    Berlin (RDA) e Bonn (RFA).

    Konrad
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Eric Clapton
    Frankfurt do outro?


    Bonn. Acho.

    PGilbert
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Eric Clapton
    Berlin de um lado e Frankfurt do outro?

    Era Bonn.

    E não tínhamos nenhum meio de passar de um lado para outro... tempos difíceis...

    Eric Clapton
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Joseph de Maistre
    Konrad
    PGilbert


    Valeu.

    Eu gosto desses lances de história.


    me amarro mais ainda no lance da Segunda Guerra e a Guerra Fria.

    PGilbert
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Eric Clapton
    me amarro mais ainda no lance da Segunda Guerra e a Guerra Fria.

    Também gosto muito.

    Engraçado que eu me interessei muito por história DEPOIS que acabei o colégio... na época do colégio eu detestava..

    Konrad
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Relembrar e celebrar o instante da derrocada final da ideologia mais covarde, imoral, estúpida e mortífera que a humanidade já conheceu

    Quem nos dera ele tivesse morrido então.

    The Blue Special Guitar
    Veterano
    # nov/11 · Editado por: The Blue Special Guitar
    · votar


    Engraçado que eu me interessei muito por história DEPOIS que acabei o colégio...

    O regime de ensino tem essa capacidade mesmo, torna chato até o que você pode achar legal.

    PGilbert
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    The Blue Special Guitar
    Sempre detestei escola/colégio/faculdade.

    tambourine man
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    os dois lado do muro eram os dois lados da mesma moeda podre do projeto de modernização falido que impera até hoje.

    Eric Clapton
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    PGilbert
    Engraçado que eu me interessei muito por história DEPOIS que acabei o colégio...


    Nossa, eu também mano. Na verdade várias materia que eu odiava na escola, passei a gostar sem estar na Escola

    =D

    Joseph de Maistre
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    tambourine man

    11 entre cada 10 habitantes da Europa Oriental discordam de você: http://en.wikipedia.org/wiki/Prague_Declaration_on_European_Conscience _and_Communism

    tambourine man
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Joseph de Maistre

    agora você vai defender a democracia? Tudo que eu penso é tomado por errado por 99% das pessoas, mas isso não me afeta em nada.

    brunohardrocker
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Quem derrubou o muro, libertários ou cidadãos de bem?

    tambourine man
    Veterano
    # nov/11 · Editado por: tambourine man
    · votar


    brunohardrocker

    tolos que acreditavam estar "fazendo a história" ou qualquer outra babaquice do gênero

    Joseph de Maistre
    Veterano
    # nov/11 · Editado por: Joseph de Maistre
    · votar


    tambourine man
    agora você vai defender a democracia?

    Na ausência daquilo que eu considero ideal...

    Dos males, eu sempre escolho o menor.

    Edit: "escolho" ficou muito brecha. "Prefiro" é um termo mais preciso para o que eu penso sobre isso.

    snowwhite
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Fonte?

    PGilbert
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    snowwhite
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Muro_de_Berlim

    Simonhead
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Só - foi uma data importante para a reunificação alemã.

    E por falar em data importante, ontem o Led Zep IV comemorou 40 anos de lançamento.

    snowwhite
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    PGilbert

    Grata.

    Lúthien Tasardur
    Veterano
    # nov/11
    · votar


    Video massa sobre o muro



    Black Fire
    Gato OT 2011
    # nov/11
    · votar


    Joseph de Maistre
    Já leu "No more comrades", um livro sobre a revolta húngara de 1956?

      Você não pode enviar mensagens, pois este tópico está fechado.
       

      Tópicos relacionados a Há vinte e dois anos. . .