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# fev/11
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fabricio92 Cara...O grande jogo proposto pelo governo Obama, para o mundo pós-Iraque e pós-Afeganistão, aponta na mesma direção da década de 1970, só que com o sinal trocado. Agora se trata de uma proposta de aliança estratégica com a Rússia, que bloquearia a expansão chinesa na Ásia, mas que também envolverá algum tipo de apoio ou "convite" ao desenvolvimento do capitalismo russo, bloqueado pelo seu excessivo viés "primário-exportadora". O projeto de Obama pode revolucionar a geopolítica mundial, mas também pode ser atropelado – entre outras coisas - pelas eleições presidenciais que ocorrerão nos EUA e na Rússia, em 2012. Nos últimos dois meses de 2010, o presidente Barack Obama tomou decisões e obteve vitórias internacionais que poderão mudar radicalmente a geopolítica mundial do século XXI. Graças à intervenção direta do presidente americano, a reunião da OTAN, em Lisboa, no mês de novembro, conseguiu aprovar um "Novo Conceito Estratégico" que define as diretrizes da organização para os próximos dez anos, com a previsão de retirada de suas tropas do Afeganistão, até 2014, e com decisão de instalar um novo sistema de defesa antimísseis da Europa e dos EUA, com a possível inclusão da Rússia e da Turquia, apesar da resistência do governo turco a cooperar com os países que estão obstaculizando sua entrada na UE. Esta vitória parcial do governo Obama, se somou à aprovação pelo Congresso americano, em dezembro, do acordo bilateral de controle de armas atômicas, que havia assinado com o presidente Dmitry Medvedev, no mês de abril, e que foi ratificado pelo parlamento russo, poucos dias depois de sua aprovação pelo Senado dos EUA. Estas iniciativas enterram definitivamente o projeto Bush de instalação de um escudo balístico na fronteira ocidental da Rússia, e aprofundam as relações entre as duas maiores potências atômicas mundiais, desautorizando a mobilização anti-russa dos países da Europa Central, promovida e liderada atualmente, pela Polônia e pela Suécia. Neste mesmo período, no Oriente Médio, o presidente Obama aumentou sua pressão contrária à instalação de novas colônias israelenses em território palestino, e diminuiu a intensidade retórica de sua disputa atômica com o Irã, sinalizando de forma discreta, a disposição para um novo tipo de acomodação regional. Como ficou visível, com o acordo político que permitiu a formação do novo governo iraquiano do premier Nuri al Maliki, com a intervenção do Irã e com o apoio dos EUA, apesar de que Maliki não fosse o candidato preferido dos norte-americanos. E provavelmente, a crise atual do governo libanês só terá uma solução pacífica e duradoura, se envolver, de novo, um ajuste de posições e interesses entre os EUA e o Irã, mesmo que ele seja informal e não declarado. Estas vitórias e decisões do governo Obama, estão apontando para uma nova política internacional dos EUA, de aproximação com a Rússia, e de acomodação negociada das crises sobrepostas, do Oriente Médio e da Ásia Central. No caso da aproximação da Rússia, os EUA contam com o apoio da Alemanha, por cima das resistências e das divergências intermináveis da UE, e se ela tiver sucesso, deverá redesenhar o mapa geopolítico da Europa moderna. Dentro da nova aliança, a Rússia colaboraria com a estabilização da Ásia Central, e ocuparia um lugar de destaque em uma negociação silenciosa – que já está em curso – envolvendo o Irã e a Turquia, por cima das alianças tradicionais dos EUA, dentro da região, com vistas a construção de um novo equilíbrio de poder, no Oriente Médio. Em compensação, a Rússia teria o apoio norte-americano para retomar sua "zona de influencia", e reconstruir sua hegemonia nos territórios perdidos, depois da Guerra Fria, sem as armas, e pelo caminho do mercado e das pressões diplomáticas, como já vem ocorrendo neste momento. Esta nova estratégia é ousada e de alto risco, mas não é original. No auge do seu poder, logo depois da II Guerra Mundial, os EUA perderam o controle da Europa Central para a URSS, em seguida perderam o controle da China, para a revolução comunista de Mao Tse Tung, e foram obrigados à um armistício inglório, na Guerra da Coréia. Como conseqüência, os EUA tiveram que mudar sua estratégia do imediato pós-guerra, e transformaram a Alemanha e o Japão, nas peças econômicas centrais da aliança em que se sustentou a sua posição durante a Guerra Fria. Duas décadas depois, em plena época de ouro do "capitalismo keynesiano", os EUA voltaram a ser derrotados no Vietnã, Laos e Cambodja, e perderam o controle militar do sudeste asiático. E de novo mudaram sua política internacional, construindo uma aliança estratégica com a China, que dividiu o mundo socialista, fragilizou a URSS, e redesenhou a geopolítica e o capitalismo do final do século XX. Deste ponto vista, o grande jogo proposto pelo governo Obama, para o mundo pós-Iraque e pós-Afeganistão, aponta na mesma direção da década de 1970, só que com o sinal trocado. Agora se trata de uma proposta de aliança estratégica com a Rússia, que bloquearia a expansão chinesa na Ásia, mas que também envolverá algum tipo de apoio ou "convite" ao desenvolvimento do capitalismo russo, bloqueado pelo seu excessivo viés "primário-exportadora". Roosevelt concebeu uma aliança parecida com a URSS, em 1945, mas sua proposta foi atropelada pela sua morte, e pela estratégia desenhada por Churchill e Truman, que levou à Guerra Fria. Agora de novo, o projeto de Barack Obama pode revolucionar a geopolítica mundial, mas também pode ser atropelado – entre outras coisas - pelas mudanças presidenciais que ocorrerão nos EUA e na Rússia, no ano de 2012. Antes mesmo de vencer a eleição à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama já era associado a nomes como John F. Kennedy, Martin Luther King e Abraham Lincoln. A expectativa internacional era que Obama revogasse, da forma mais rápida e mais ampla possível, a política externa agressiva de George W. Bush.
Já os americanos, em meio à crise econômica, esperavam que o novo chefe de governo finalmente voltasse a se ocupar da política interna. Mesmo para um político hábil como Obama, é difícil suprir duas expectativas em parte opostas.
De fato, o brilho do candidato Obama diminuiu um pouco ao longo desse primeiro ano de governo, segundo Reinard Rode, especialista em Estados Unidos da Universidade Halle.
"Devido à frustração em relação ao seu antecessor, a Europa, e também parte do eleitorado, tiveram expectativas tão altas [em relação a Obama], que ele foi praticamente definido como um político sagrado. E em algum momento naturalmente se cai na desilusão e na realidade, e isso aconteceu agora." Nos Estados Unidos, o índice de aprovação do governo Obama caiu de 70%, no início do mandato, para 50%. E também na Europa já se dissipou ao longo desse primeiro ano a expectativa de que o presidente norte-americano resolvesse quase que sozinho os problemas internacionais.
"Muito do que se esperou não foi resolvido, isso é indiscutível", opina Michael Zürn, especialista em América do Centro de Ciência de Berlim. "Não temos nas mãos nada sobre a regulamentação do mercado financeiro, nada sobre política do clima, e também sobre as várias questões do Oriente Médio não tivemos grandes avanços", avalia.
Ainda que Obama não tenha obtido grandes êxitos na política externa, ele não só rompeu com o 'estilo Bush' nessa e em várias outras áreas. Ele pôs fim à era do unilateralismo não só de forma retórica, mas também na prática: por exemplo, conclamou o Irã ao diálogo, afrouxou o embargo econômico contra Cuba, começou a retirada do Iraque e pôs fim ao projeto do sistema de defesa contra mísseis previsto para o leste da Europa.
O fato de as reações a essas medidas nem sempre terem sido as esperadas indica que, mesmo num mundo globalizado, o presidente dos Estados Unidos não pode mais resolver conflitos sozinho. O mesmo vale para o difícil problema no Afeganistão, onde Obama optou pelo claro aumento do contingente de soldados. A medida de política externa mais importante de Obama não se deixa situar de forma geográfica ou em acordos, mas na abertura da América para o mundo. Segundo Michael Zürn, a política internacional da era Obama ganhou um novo tom e o governo norte-americano não se baseia mais tanto no slogan "conosco, ou contra nós".
"O multilateralismo voltou a ser um conceito sobre o qual se pode falar. Também normas internacionais voltaram a ser reconhecidas como tanto. Neste sentido, aconteceu alguma coisa", comenta Zürn.
Enquanto se continua esperando um claro êxito no campo da política externa, dentro de seu país Obama conseguiu êxito em um tema que não havia sido resolvido pelo último presidente democrata, Bill Clinton: a reforma do sistema de saúde.
Evidentemente, o projeto de introduzir um seguro saúde para todos os norte-americanos está longe de estar concluído. Mas, apesar das duras negociações, a reforma do sistema de saúde já venceu obstáculos importantes e tem boas chances de ser aprovada até novembro, ainda antes da votação no Congresso.
Diante da difícil situação inicial e da pressão pela alta expectativa, Barack Obama se saiu bem no seu primeiro ano de governo, segundo Reinhard Rode, que daria nota oito para a atuação do presidente norte-americano. "Não daria a nota máxima, certamente. Mas esse também não foi um ano de merecedores de nota máxima", pontua Rode.
Na avaliação de Michael Zürn, o primeiro ano de Obama foi positivo, apesar das muitas expectativas que não puderam ser atendidas. Para os alemães, que segundo pesquisas de opinião estão entre os maiores admiradores de Obama, o especialista tem uma dica: os que acham que a nova orientação da política de Obama e de seu vice-presidente, Joe Biden, não é rápida e radical o suficiente, devem se lembrar de George W. Bush e Dick Cheney.
Ou ainda imaginar o que seria a política externa de John MacCain e Sarah Palin [adversários republicanos na eleição à presidência], ironiza Zürn.
Abraço
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