Sobre a campanha "Começar de novo".

    Autor Mensagem
    Devil Boy
    Veterano
    # abr/10


    Cam­pa­nha do Su­pre­mo des­res­pei­ta o ci­da­dão

    O pre­so bra­si­lei­ro nun­ca se ar­re­pen­de do que fez por­que o pró­prio Es­ta­do não o dei­xa se ar­re­pen­der

    JO­SÉ MA­RIA E SIL­VA - Especial para o Jornal Opção

    O Con­se­lho Na­ci­o­nal de Jus­ti­ça (CNJ) e o Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral (STF) lan­ça­ram, em 29 de de­zem­bro de 2008, a cam­pa­nha "Co­me­çar de No­vo", que tem co­mo ob­je­ti­vo in­cen­ti­var a po­pu­la­ção a aco­lher ex-pre­si­di­á­rios, ofe­re­cen­do-lhes opor­tu­ni­da­de de rein­ser­ção so­ci­al. A cam­pa­nha cons­ta de anún­cios pa­ra a im­pren­sa es­cri­ta, uma pe­ça pa­ra rá­dio e du­as pa­ra TV, as três úl­ti­mas pro­du­zi­das pe­la Fun­da­ção Pa­dre An­chi­e­ta. Ela acom­pa­nha os mu­ti­rões car­ce­rá­rios, cri­a­dos pe­lo Con­se­lho Na­ci­o­nal de Jus­ti­ça com o ob­je­ti­vo de li­ber­tar pre­sos que es­tão cum­prin­do pe­na in­de­vi­da­men­te.

    Uma das pe­ças, "Ju­das", mos­tra ce­nas de uma cri­an­ça brin­can­do de quei­mar um bo­ne­co, com ou­tras cri­an­ças e adul­tos. O lo­cu­tor in­for­ma: "Jo­ão par­ti­ci­pou do dia da ma­lha­ção de Ju­das. E o pi­or: ele nem sa­be quem foi es­se ho­mem." Nes­se mo­men­to, o ce­ná­rio mu­da: apa­re­cem gra­des, um cor­re­dor ao fun­do e, sa­in­do por ele, um ho­mem com um mis­to de de­sam­pa­ro e es­pe­ran­ça no olhar. O lo­cu­tor diz: "Ati­tu­des sem pen­sar não le­vam a na­da. Es­que­ça o pre­con­cei­to e par­ti­ci­pe do Pro­je­to Co­me­çar de No­vo do CNJ. Dê uma se­gun­da chan­ce pa­ra quem já pa­gou pe­lo que fez." Es­ta úl­ti­ma fra­se é tri­lha de uma ce­na idí­li­ca, em que o ex-pre­si­di­á­rio abra­ça a es­po­sa, com o ros­to ba­nha­do em pran­to e acom­pa­nha­da pe­lo fi­lho, pen­du­ra­do no abra­ço do pai.

    A ou­tra pe­ça, "Pe­dras", mos­tra uma me­sa, num ce­ná­rio es­cu­ro, com o lo­cu­tor di­zen­do: "Mar­cos foi pre­so por fur­to. Pas­sou seis anos na pri­são." Ao ou­vir-se a pa­la­vra fur­to, uma mão mas­cu­li­na des­ce so­bre a me­sa e agar­ra a pe­dra que re­pou­sa ne­la. O lo­cu­tor aler­ta: "Mas, an­tes de ati­rar a pri­mei­ra pe­dra, é im­por­tan­te sa­ber que Mar­cos cum­priu sua pe­na." Nes­se ins­tan­te, a mão he­si­ta e re­põe a pe­dra na me­sa. O lo­cu­tor diz: "Mar­cos pa­gou sua dí­vi­da com a so­ci­e­da­de e tu­do o que ele de­se­ja é uma se­gun­da chan­ce." Ou­tras mãos, in­clu­si­ve fe­mi­ni­nas, co­lo­cam pe­dras ao la­do da pri­mei­ra, ma­te­ri­a­li­zan­do a idéia de cons­tru­ção co­le­ti­va. O fil­me é con­cluí­do com a mes­ma ce­na da ou­tra pe­ça: o per­so­na­gem dei­xan­do a ca­deia e se en­con­tran­do com a fa­mí­lia, en­quan­to o lo­cu­tor con­cla­ma as pes­so­as a par­ti­ci­pa­rem da cam­pa­nha, aco­lhen­do os ex-pre­si­di­á­rios.

    Pro­pa­gan­da en­ga­no­sa — A pe­ça pu­bli­ci­tá­ria é tão en­ga­na­do­ra que es­co­lhe co­mo per­so­na­gem um ho­mem pre­so por fur­to. É cla­ro que quem co­me­te es­se ti­po de cri­me me­re­ce mes­mo uma chan­ce. E tem mui­tas, des­de o Có­di­go Pe­nal de 1940, que, no ar­ti­go 155, es­ta­be­le­ce que fur­to é "sub­tra­ir, pa­ra si ou pa­ra ou­trem, coi­sa alheia mó­vel". Uma ga­li­nha, por exem­plo. A pe­na é de re­clu­são (de um a qua­tro anos) e mul­ta. Mas pre­vê-se tam­bém a pos­si­bi­li­da­de de nem ha­ver ca­deia pa­ra quem fur­ta. Diz o pa­rá­gra­fo 2º do re­fe­ri­do ar­ti­go: "Se o cri­mi­no­so é pri­má­rio, e é de pe­que­no va­lor a coi­sa fur­ta­da, o ju­iz po­de sub­sti­tu­ir a pe­na de re­clu­são pe­la de de­ten­ção, di­mi­nuí-la de um a dois ter­ços, ou apli­car so­men­te a pe­na de mul­ta." La­drões de ga­li­nha (quan­do ha­via ga­los, noi­tes e quin­tais nos bair­ros po­pu­la­res) sem­pre fo­ram to­le­ra­dos pe­la po­pu­la­ção, tan­to que fa­zi­am par­te do fol­clo­re.

    Por­tan­to, com ba­se em que lei pe­nal a cam­pa­nha "Co­me­çar de No­vo" afir­ma que o au­tor de um fur­to é con­de­na­do a seis anos de pri­são? O CNJ e o STF pre­ci­sam se ex­pli­car pe­ran­te o Co­nar (Con­se­lho de Au­to-Re­gu­la­men­ta­ção Pu­bli­ci­tá­ria). Es­tão fa­zen­do pro­pa­gan­da en­ga­no­sa. Ho­je, sen­ten­ças con­de­na­tó­ri­as até qua­tro anos, co­mo é o ca­so do fur­to, são cum­pri­das em re­gi­me to­tal­men­te aber­to, me­di­an­te pe­nas al­ter­na­ti­vas, co­mo pa­ga­men­to de ces­tas bá­si­cas. Nem au­to­res de cri­mes he­di­on­dos (fi­gu­ra ju­rí­di­ca abo­li­da pe­lo Su­pre­mo) cos­tu­mam per­ma­ne­cer seis anos na ca­deia. To­dos sa­bem que os tra­fi­can­tes que quei­ma­ram vi­vo o jor­na­lis­ta Tim Lo­pes, em ju­nho de 2002, já es­tão sol­tos.

    Um de­les, o tra­fi­can­te Eli­zeu Fe­lí­cio de Sou­za, o Zeu, fi­cou ape­nas cin­co anos na ca­deia — um ano a me­nos do que o Bom La­drão da pro­pa­gan­da do Su­pre­mo. Em se­tem­bro de 2007, o tra­fi­can­te que aju­dou a quei­mar Tim Lo­pes foi be­ne­fi­ci­a­do com saí­das tem­po­rá­rias e de­sa­pa­re­ceu — co­mo era ób­vio que iria ocor­rer. Mes­mo as­sim, a Jus­ti­ça não apren­deu a li­ção. Em 30 de de­zem­bro de 2008, ape­nas seis anos de­pois do bár­ba­ro as­sas­si­na­to, os tra­fi­can­tes Clau­di­no dos San­tos Co­e­lho, o "Xu­xa", e Cláu­dio Or­lan­do do Nas­ci­men­to, o "Ra­ti­nho", tam­bém con­de­na­dos a 23 anos e 6 mes­es de pri­são pe­la mor­te de Tim Lo­pes, fo­ram be­ne­fi­ci­a­dos pe­la Jus­ti­ça com o re­gi­me se­mi-aber­to. Ou se­ja, já vol­ta­ram a co­man­dar o trá­fi­co; afi­nal, que ins­pe­tor de po­lí­cia te­rá co­ra­gem de su­bir o mor­ro pa­ra ve­ri­fi­car se es­tão mes­mo tra­ba­lhan­do ho­nes­ta­men­te co­mo man­da a lei? Al­gum ju­iz se ha­bi­li­ta a fa­zer pes­so­al­men­te es­sa ave­ri­gua­ção?

    Pe­nas fic­tí­cias — Se­gun­do re­por­ta­gem do por­tal da Re­de Glo­bo, "as in­ves­ti­ga­ções re­ve­la­ram que ´Ra­ti­nho´ tor­tu­rou o jor­na­lis­ta e foi o mai­or in­cen­ti­va­dor do as­sas­si­na­to". E es­se não era seu pri­mei­ro cri­me. Já ha­via fu­gi­do da ca­deia em 1996 e tam­bém fo­ra con­de­na­do por rou­bos, re­cep­ta­ção e por­te ile­gal de ar­mas. Seu com­par­sa, o "Xu­xa", tam­bém ti­nha ou­tras con­de­na­ções por trá­fi­co de dro­gas. Es­ses os cri­mes co­nhe­ci­dos pe­la Jus­ti­ça, cla­ro, por­que no Es­ta­do pa­ra­le­lo dos mor­ros eles de­vem ser au­to­res de mui­tos mais, in­clu­si­ve de ca­dá­ve­res de­vo­lu­tos, quei­ma­dos em pneus co­mo Tim Lo­pes. Jun­tos, re­ce­be­ram da Jus­ti­ça pe­nas fic­tí­cias que pas­sam de 70 anos de pri­são. Cum­pri­ram ape­nas seis ca­da um. Gra­ças ao fim da Lei dos Cri­mes He­di­on­dos, de­cre­ta­do pe­lo Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral.

    O mi­nis­tro Gil­mar Men­des ou­sa­ria sus­ten­tar que eles "pa­ga­ram sua dí­vi­da com a so­ci­e­da­de"? O Su­pre­mo ga­ran­te que uma es­co­la po­de con­tra­tá-los co­mo por­tei­ros? Não há ne­nhum ris­co de ten­ta­rem ali­ci­ar alu­nos pa­ra o trá­fi­co de dro­gas? Se o di­re­tor da es­co­la le­van­tar es­sa sus­pei­ta, ele é um ma­lha­dor de Ju­das, que não he­si­ta em ati­rar a pri­mei­ra pe­dra? E o que fa­lar dos es­tu­pra­do­res rein­ci­den­tes sol­tos pe­la Jus­ti­ça? Tam­bém eles po­dem ser con­tra­ta­dos co­mo mo­to­ris­tas de cri­an­ças? A mãe de­ve con­fi­ar ce­ga­men­te na cam­pa­nha "Co­me­çar de No­vo", trans­for­man­do seus fi­lhos em co­bai­as do bom-mo­cis­mo pe­nal? Te­nham a san­ta pa­ci­ên­cia! Se até mi­nis­tros não são ca­pa­zes de in­da­ga­ções tão ób­vias an­tes de pro­fe­rir sen­ten­ças, en­tão Darwin es­ta­va com­ple­ta­men­te en­ga­na­do — o ho­mem não veio dos pri­ma­tas, es­tá vi­ran­do um, ao me­nos nes­ta par­te do pla­ne­ta.

    Em ar­ti­go pu­bli­ca­do no blog do jor­na­lis­ta Ri­car­do Nob­lat, em 8 de ja­nei­ro de 2009, o se­na­dor e pro­mo­tor De­mós­te­nes Tor­res, do DEM de Go­i­ás, que foi pro­cu­ra­dor-ge­ral de Jus­ti­ça e se­cre­tá­rio de Se­gu­ran­ça Pú­bli­ca em seu Es­ta­do, ob­ser­va que, ao lon­go dos anos, mui­tos ope­ra­do­res do Di­rei­to se mos­tra­ram tão ob­ce­ca­dos no com­ba­te à Lei 8.072, de 1990, a cha­ma­da Lei dos Cri­mes He­di­on­dos, que che­ga­va a pa­re­cer que o pro­ble­ma dos de­li­tos gra­ves não eram seus au­to­res, mas a lei: "Aca­ban­do com a Lei dos Cri­mes He­di­on­dos, aca­ba­ri­am com os cri­mes he­di­on­dos." O se­na­dor faz uma sín­te­se na­da alen­ta­do­ra so­bre co­mo ope­ra a Jus­ti­ça bra­si­lei­ra em re­la­ção a cri­mi­no­sos que co­me­tem bar­ba­ri­da­des e não sim­ples fur­tos:

    "Não é fá­cil cap­tu­rar os que co­me­tem cri­mes co­mo o es­quar­te­ja­men­to de pes­so­as. De­ti­dos, é di­fí­cil man­tê-los pre­sos. Man­ti­dos, é ra­ri­da­de le­vá-los a jul­ga­men­tos. Jul­ga­dos, é pou­co fre­qüen­te con­de­ná-los. Con­de­na­dos, ge­ral­men­te re­cor­rem da sen­ten­ça. Quan­do ape­lam, nem sem­pre a de­ci­são é va­li­da­da. Aí, após in­ves­ti­gar, des­co­brir, cap­tu­rar, man­ter pre­so, le­var ao tri­bu­nal, jul­gar, con­de­nar e con­ser­var a sen­ten­ça, não se con­se­gue jus­ti­ça por­que o ban­di­do al­can­ça as ru­as pe­las por­tas lar­gas da for­ma­ção pseu­do-li­ber­tá­ria de al­guns ope­ra­do­res do Di­rei­to."

    O se­na­dor es­cre­ve "al­guns" num evi­den­te eu­fe­mis­mo por­que o cor­re­to se­ria es­cre­ver "qua­se to­dos". Nas fa­cul­da­des de Di­rei­to im­pe­ra a dou­tri­na do Di­rei­to Pe­nal mí­ni­mo e até do ab­olicionis­mo pe­nal, que, ca­da vez mais, en­con­tra gua­ri­da nas cor­tes de Jus­ti­ça do pa­ís, co­mo pro­va a cam­pa­nha "Co­me­çar de No­vo". Quan­do apro­va­ram as pe­ças pu­bli­ci­tá­ri­as da Fun­da­ção Pa­dre An­chi­e­ta, os mi­nis­tros do STF e do CNJ de­vi­am ter-se en­ver­go­nha­do des­ta fra­se: "Mar­cos pa­gou sua dí­vi­da com a so­ci­e­da­de e tu­do o que ele de­se­ja é uma se­gun­da chan­ce." Ela é um acin­te ao ci­da­dão de bem, nu­ma épo­ca em que o Su­pre­mo, ca­pi­ta­ne­a­do pe­lo mi­nis­tro Gil­mar Men­des, re­sol­veu ras­gar sen­ten­ças con­de­na­tó­ri­as até dos tri­bu­nais ao de­ci­dir que ne­nhum cri­mi­no­so po­de ser pre­so en­quan­to não se não es­go­tar o úl­ti­mo re­cur­so de sua ação.

    Li­cen­cio­si­da­de pe­nal — Na prá­ti­ca, sig­ni­fi­ca que fi­ca pre­so quem quer. Não fal­tam ad­vo­ga­dos nas por­tas das ca­dei­as nem re­cur­sos na per­mis­si­va le­gis­la­ção bra­si­lei­ra. Em meio a es­sa li­cen­cio­si­da­de pe­nal, di­fi­cil­men­te um pre­so pa­ga sua dí­vi­da com a so­ci­e­da­de, se­ja ela ma­te­ri­al ou mo­ral. Che­ga a ser uma su­pre­ma iro­nia a ve­i­cu­la­ção des­sa pro­pa­gan­da quan­do se sa­be que foi o pró­prio Su­pre­mo que aca­bou com a Lei dos Cri­mes He­di­on­dos, dan­do o di­rei­to de pro­gres­são de pe­na até pa­ra ho­mi­ci­das se­ri­ais e es­tu­pra­do­res de cri­an­ças. Cri­mi­no­sos do gê­ne­ro, se con­de­na­dos a 20 anos de pri­são, só pre­ci­sam cum­prir 3 anos e 4 mes­es em re­gi­me fe­cha­do. E se tra­ba­lha­rem na pri­são, vol­tam an­tes dis­so pa­ra as ru­as.

    Daí a in­dig­na­ção de Ma­ria Jo­sé Mi­ran­da Pe­rei­ra, pro­mo­to­ra ti­tu­lar do jú­ri do Dis­tri­to Fe­de­ral, no ar­ti­go "A he­di­on­da (in)jus­ti­ça bra­si­lei­ra", pu­bli­ca­do em 8 de mar­ço de 2006 no "Cor­reio Bra­zi­li­en­se", quan­do da re­vo­ga­ção da lei:

    "Tris­te de­ci­são a do Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral ao de­cre­tar im­pu­ni­da­de dos cri­mi­no­sos mais hor­ren­dos e pe­ri­go­sos. So­mos, cul­tu­ral­men­te, uma na­ção que pri­vi­le­gia os cri­mi­no­sos, ne­ces­sa­ria­men­te, em de­tri­men­to das pes­so­as de bem. Pa­ra os cri­mi­no­sos há di­rei­tos hu­ma­nos, CNBB, as­sis­tên­cia ju­di­ci­á­ria gra­tui­ta, pas­to­ral car­ce­rá­ria, OAB, to­do o sis­te­ma ju­rí­di­co, ju­ris­pru­dên­cia, le­gis­la­ção e tan­tos ou­tros mais que não ca­be­ri­am aqui re­la­ci­o­nar. Quan­do um la­tro­ci­da as­sas­si­na um pai de fa­mí­lia, a Pre­vi­dên­cia So­ci­al am­pa­ra seus de­pen­den­tes com um au­xí­lio re­clu­são. Mas, pa­ra a vi­ú­va do as­sas­si­na­do, as cri­an­ci­nhas ór­fãs, a in­di­fe­ren­ça, o to­tal de­sam­pa­ro... Nin­guém, li­te­ral­men­te nin­guém, ne­nhu­ma ins­ti­tu­i­ção go­ver­na­men­tal ba­te­rá às su­as por­tas se­quer com uma pa­la­vra de con­so­lo."

    Por is­so, in­sis­to: a cam­pa­nha "Co­me­çar de No­vo" é um des­res­pei­to ao ci­da­dão de bem. A fun­ção da Jus­ti­ça é pu­nir cul­pa­dos, e não dar bron­ca em quem cum­pre a lei. O ci­da­dão, quan­do quer ou­vir ser­mões, pro­cu­ra vo­lun­ta­ria­men­te uma igre­ja. Dí­zi­mo é pa­go pa­ra is­so; im­pos­to não. Os mi­nis­tros das nos­sas al­tas cor­tes pre­ci­sam ter um pou­co mais de res­pei­to com quem lhes pa­ga o sa­lá­rio. O Es­ta­do tem o de­ver de fa­zer cam­pa­nhas edu­ca­ti­vas, não o di­rei­to de per­pe­trar cam­pa­nhas ir­res­pon­sá­veis. Es­ta é ir­res­pon­sá­vel por­que de­se­du­ca. Ela põe em ris­co a se­gu­ran­ça do ci­da­dão, ao in­du­zi-lo a con­fi­ar em ex-pre­si­di­á­rio bra­si­lei­ro, um su­jei­to mal acos­tu­ma­do pe­la im­pu­ni­da­de, que, mes­mo pre­so, não he­si­ta em co­me­ter cri­mes den­tro da ca­deia. Se age as­sim pre­so, sob o na­riz da au­to­ri­da­de, o que es­pe­rar de­le de­pois de sol­to? Co­mo é que o Su­pre­mo e o CNJ se ar­vo­ram a ta­char co­mo pre­con­cei­to o que não pas­sa de le­gí­ti­mo me­do da po­pu­la­ção? Is­so é ou não acin­te?

    O pre­so bra­si­lei­ro nun­ca se ar­re­pen­de do que fez por­que o pró­prio Es­ta­do não o dei­xa se ar­re­pen­der. O ar­re­pen­di­men­to é o fun­da­men­to da re­cu­pe­ra­ção, que de­ve co­me­çar por den­tro, na con­sci­ên­cia do pre­so, não a par­tir de fo­ra, em pro­gra­mas so­ci­ais fa­la­cio­sos. To­da­via, dos par­la­men­ta­res que cri­am as leis aos ju­ris­tas que as apli­cam, pas­san­do pe­las uni­ver­si­da­des que ana­li­sam o cri­me, tu­do é pen­sa­do pa­ra que o pre­so ja­mais to­me con­sci­ên­cia de seus atos. A cul­pa nun­ca é do cri­mi­no­so, mas do meio so­ci­al. De al­goz, ele pas­sa a ser ví­ti­ma, qual­quer que se­ja a gra­vi­da­de de seu cri­me. A rein­ser­ção so­ci­al se tor­nou um di­rei­to ina­li­e­ná­vel do cri­mi­no­so e um de­ver ex­clu­si­vo de to­dos nós, co­mo pre­co­ni­za a cam­pa­nha de mí­dia do Su­pre­mo. O pre­so já não pre­ci­sa pro­var pa­ra a so­ci­e­da­de a sua re­cu­pe­ra­ção, es­for­çan­do-se pa­ra tan­to — à so­ci­e­da­de é que ca­be re­cu­pe­rá-lo uni­la­te­ral­men­te.

    Por mais que um cri­mi­no­so ma­te, por mais que es­tu­pre, por mais que tor­tu­re su­as ví­ti­mas, a Jus­ti­ça es­tá sem­pre pron­ta a dar-lhe mais uma chan­ce, às cus­tas, evi­den­te­men­te, de no­vas mor­tes, no­vos es­tu­pros, no­vas tor­tu­ras, por­que é as­sim que a mai­o­ria dos ex-pre­si­di­á­rios "co­me­ça de no­vo". Pa­ra a Jus­ti­ça bra­si­lei­ra, o cri­me não de­cor­re do li­vre-ar­bí­trio dos in­di­ví­duos, mas do Pe­ca­do Ori­gi­nal so­ci­o­ló­gi­co — a de­si­gual­da­de so­ci­al. To­dos nós so­mos cul­pa­dos pe­lo cri­me de um só. E que a ví­ti­ma pa­de­ça so­zi­nha a sua dor ou re­cor­ra a Deus pa­ra co­me­çar de no­vo — nu­ma ou­tra vi­da.

    JOSÉ MARIA E SILVA é jornalista e mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás. Correio eletrônico: josemariaesilva@yahoo.com.br

    Fonte.

    Devil Boy
    Veterano
    # abr/10
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    Nem li.

    staind
    Veterano
    # abr/10
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    Nem eu

    Devil Boy
    Veterano
    # abr/10
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    E vocês, amigos?

    Dariam emprego por bem a quem já pagou sua dívida com a sociedade e só quer uma segunda chance ou preferem ser preconceituosos e elitistas, incentivando-o a vir tomar o seu dinheiro por mal?

    EternoRocker
    Veterano
    # abr/10
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    Depois eu leio...
    Depois eu comento...

    To indo no CDP de Pinheiros visitar uma galera.

    Fui !!!

    staind
    Veterano
    # abr/10
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    Devil Boy
    Acho que depende muito de que crime a pessoa cometeu.
    Acho que um homicida nao tem tanta chance quanto um ladraozinho de bicicleta por ex.

    paulinho pc
    Veterano
    # abr/10
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    ladraozinho de bicicleta

    ou trombadinha.
    Pra mim já tá perdido tbém.Crack,cola,furtos,roubos,já era!

    Hawkings
    Veterano
    # abr/10
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    Eu lí. :o

    Enfim, acho essa campanha muito errada.

    Na boa, eu vou ter que confiar em um cara que pode ter matado ou feito coisa pior?

    Acho que isso que faz as coisas piorarem ainda mais, a falta de rigorosidade com os presos que faz um cara que já roubou, ir roubar denovo, ou que matar ir lá matar denovo.

    Sei que tem excessões, mas mesmo assim, acho desnecessária essa campanha, porque põe de certo modo em risco qualquer cidadão.

    Na hora de ver a sua própria segurança, deve sim haver certo preconceito contra ex-presidiários.

    Zandor
    Veterano
    # abr/10
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    Bandido tem que trabalhar em plantação de sisal

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