Grow Veterano |
# nov/07
· votar
Faltavam quarenta dias para o casamento da modelo e atriz Ana Paula Arósio, 21 anos, com o empresário Luiz Carlos Leonardo Tjurs, 29. Apaixonada, ela escolhia peças finas para o enxoval e pensava no vestido de noiva, branco, com véu e grinalda, exatamente como sonhava. Uma bala de revólver calibre 38 pôs fim à história de amor, transformada num pesadelo de ciúme patológico. Ana Paula, cujos olhos azuis resplandecentes e o sorriso perfeito lhe valeram a fama de o rosto mais bonito do país e fotos de capa de mais de 250 revistas, aqui e no exterior, namorava Luiz havia apenas seis meses. Nas últimas semanas, o encantamento inicial já cedia a uma realidade dolorosa. Obcecado, Luiz começou a espalhar para os amigos que Ana o traía e chegava a enumerar os supostos rivais. Nada, porém, poderia antecipar a cena de horror vivida no domingo 3, quando ele encerrou o namoro da maneira mais drástica possível: com um tiro na boca, disparado diante da noiva estarrecida.
O mergulho no inferno começou na sexta-feira. Às 9 da noite, depois de um dia inteiro de gravações da novela Os Ossos do Barão, ela foi ao apartamento do namorado. Não teve uma boa recepção. "Ele perguntava tudo sobre as cenas que eu havia gravado e com quem eu tinha trabalhado", contou Ana, na sexta-feira passada, em seu depoimento no inquérito policial que investiga o suicídio. "Ele parecia dopado e dizia que os amigos telefonavam para contar que eu o traía." O casal discutiu durante três horas. Enfurecido, Luiz arremessou uma garrafa de vinho na parede, quebrando o espelho da sala. À meia-noite, quando Ana decidiu ir embora, o namorado insistiu em segui-la de carro até a casa dos pais, para ter certeza de que ela não iria a nenhum outro lugar.
No sábado, Luiz ligou e, com voz pastosa, pediu a Ana Paula que fosse ao seu apartamento à noite. Lá, limitou-se a entregar um bilhete em que se dizia decepcionado "com um mundo podre, um mundo que não é meu", e acusava a namorada de traí-lo com o empresário Luiz Simonsen, 30 anos, e com o apresentador de TV Serginho Groisman, 46. O fato de ter contado que se havia iniciado sexualmente com um namorado por quem fora apaixonada passou a ser esgrimido contra ela. Aos olhos do namorado enlouquecido de ciúme, a bem-comportada Ana Paula transformava-se numa oportunista, que passava de mão em mão à procura de um partido melhor. "Quebrou-se o cristal, quebrou-se o sonho, quebrou-se a confiança", anunciava.
Preocupada, Ana Paula foi visitar o namorado no domingo bem cedo, antes da gravação da novela. Chegou ao apartamento às 7 da manhã. Encontrou Luiz deitado na cama, transtornado, com dificuldades para se manter de pé. Discutiram, discutiram e discutiram. A empregada Maria das Graças Pinheiro ouviu tanta gritaria que, com medo, fechou a porta do seu quarto. A briga continuava. Luiz sentou-se na cama, com um revólver na mão. Começou a pôr as balas no tambor. "Me mata", pediu, estendendo a arma. Ela balbuciou: "Não". A tortura foi num crescendo. Trancando-se com Ana Paula no banheiro, Luiz aninhou o revólver no cinto e começou a escrever um bilhete em que dizia: "Eu, Luiz Tjurs, gozando plenamente das minhas faculdades mentais, decidi, por vários motivos, que não tenho razões para continuar vivendo..." Em pânico, Ana tentou aproximar-se para roubar a arma. Quando percebeu, Luiz empurrou-a para trás, abriu a porta e foi cambaleando para o quarto. Enfiou o revólver na boca e disparou.
"Quando cheguei ao prédio, ela não conseguia falar coisa com coisa, estava em estado de choque", diz Marco Aurélio Garcia, amigo e conselheiro de Ana Paula, localizado pelo pastor Hesley, do templo evangélico onde o casamento seria celebrado, e a primeira pessoa a quem a modelo telefonou. A cena encontrada por Marco: Luiz estendido no chão do quarto com uma bala na cabeça. Sobre o criado-mudo, caixas com comprimidos de Lexotan, um calmante, e Rohypnol, um hipnótico, medicamentos de venda controlada que podem ajudar a explicar por que uma situação já patológica se pode ter agravado a um limite insuportável. Tomados indiscriminadamente, ou associados a bebidas alcoólicas, os remédios — especialmente o Rohypnol, proibido nos Estados Unidos — desencadeiam graves efeitos colaterais. "Esse medicamento rebaixa o nível de consciência e seu usuário pode perder a capacidade de comparar e avaliar situações", explica o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos. "Ele pode entrar num estado em que não distingue a realidade da fantasia. É como se sonhasse, ou tivesse pesadelos, acordado."
Com ou sem remédios, Luiz Tjurs, um rapaz bonito, com aspirações artísticas, já vinha dando sinais de confusão entre o real e o imaginário. Inseguro, alucinadamente ciumento, ele se desequilibrou progressivamente ao se apaixonar por uma das modelos mais cobiçadas do país, fanática por trabalho e com uma agenda tão lotada que precisou trancar matrícula na Faculdade de Letras da USP. Ana Paula acordava todos os dias às 5h30, participava das gravações de Os Ossos do Barão, no SBT, fazia ginástica e tinha aulas de inglês, canto e interpretação. No que sobrava de tempo, viajava para fazer fotos e gravar comerciais. Para quem alimenta um enorme sentimento de posse e fantasias de traição, não pode haver coisa pior. "Ele sempre foi ciumento e possessivo, queria todas as atenções para ele, mas nunca imaginei que pudesse chegar a esse ponto", conta a modelo e atriz Gisele Fraga, que há seis anos teve um romance com o rapaz.
|