Rato Veterano |
# mar/06
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segue ligeira entrevista do chaves para a Folha :)
Chaves é casado com dona Florinda, que foi namorada de Quico, que brigou com Chaves, assim como Chiquinha. De tanto fumar, Seu Madruga e a Bruxa do 71 morreram de câncer do pulmão.
Parece enredo de novela mexicana, mas são histórias verídicas do elenco da série "Chaves", sucesso em mais de 90 países, com cerca de 300 milhões de espectadores.
Aos 77 anos, Roberto Gómez Bolaños, criador do programa e intérprete do protagonista, falou com exclusividade à Folha, por telefone, da Cidade do México, sobre essas intrigas da série, o lançamento do livro "Diário do Chaves" e mais.
Folha - Em sua opinião, por que seus programas até hoje fazem sucesso no Brasil e América Latina?
Roberto Gómez Bolaños - Não imagino por quê. E isso não é falsa modéstia. Já passou muito tempo, os programas seguem com o cenário antigo, e as pessoas de muitos lugares continuam gostando. Agradeço a Deus por isso, mas não sei o motivo. Acho que os programas são bem-feitos, pelo menos foram feitos com muito carinho e honestidade. Espero que tenha influído, mas não tenho certeza.
Folha - Chaves foi inspirado em algum garoto em especial?
Bolaños - Não houve um, porque me dei conta de que esse garoto pobre existia em muitos lugares, não só na América Latina. Todos eles têm a esperança que queria comunicar com Chaves, que, apesar de não ter brinquedos, café da manhã e muitos amigos, brincava com entusiasmo, e o futuro o acompanhava. Espero que tenhamos isso na América.
Folha - Há a intenção de fazer novos programas ou talvez um filme?
Bolaños - Queremos fazer um programa, mas o problema são os bons horários, que não existem hoje na grade da televisão. Qualquer coisa eu não aceito. Seria outra série, porque "Chaves" já cumpriu seu propósito, já teve seu ciclo, e seria como enganar o público estando eu já tão velho. Mas posso fazer outras coisas, sobretudo tenho personagens como o Chompiras e a Chimoltrúfia, com quem me divirto muito ainda.
Folha - Seu filho está fazendo um desenho animado do Chaves, não?
Bolaños - Sim, mas não sei muito como anda o projeto, porque eu disse para ele fazer o que quisesse, e não pergunto mais até ir ao ar.
Folha - Como foi a briga com Carlos Villagrán [Quico] e Maria Antonieta de las Nieves [Chiquinha]?
Bolaños - O caso de Villagrán faz mais de 30 anos, isso separou o grupo. O programa continuou por muito tempo sem ele. Entrei com uma ação e ganhei facilmente. O problema, nos dois casos, foi que eles disseram ser os criadores dos personagens, mas o criador sou eu, que lhes permiti trabalharem fazendo esses papéis sem cobrar um centavo de comissão. Aqui, no México, ninguém mais os contrata. Isso me dói, não me irrita, porque gosto deles, foram amigos. Não me atrapalha porque não me prejudica. Ao contrário, fui eu quem lhes dei tudo o que eles têm. Mas não me importa, não tiraram nada de mim, então façam o que queiram.
Folha - Chaves começou numa época em que não se investia muito em licenciamento de produtos infantis, como hoje...
Bolaños - Chaves fez muito licenciamento, mas em sua maioria era pirata. Minha mulher diz que, se eu pudesse cobrar algo disso, assim como a Xuxa tem uma ilha, eu teria todo um continente. Sou admirador de Xuxa, acho uma excelente cantora. Uma vez me pediram para escrever programas para ela --eu os faria em espanhol e alguém os traduziria--, mas não tive tempo. O convite foi feito em Buenos Aires, faz tempo.
Folha - Os personagens são cercados de lendas, como um acidente aéreo em que todos morreram etc.
Bolaños - Isso acontece com várias pessoas conhecidas. Matam os que estão vivos e ressuscitam os mortos, como Emiliano Zapata, Carlos Gardel. A mim já mataram umas quatro ou cinco vezes. Não sei por quê. Embora isso hoje aconteça um pouco menos, porque os meios de comunicação aumentaram sua capacidade e velocidade de desmentir esse tipo de boato quando aparece.
Folha - No livro, o sr. faz referências à história do Brasil. Por quê?
Bolaños - Sempre me interessei pela história latino-americana. Creio que o Brasil é o país com o melhor futuro em todo o mundo.
Folha - Por que não visitou o país?
Bolaños - Tínhamos contrato para apresentações com nosso grupo de teatro. Até aprendi coisas em português. Mas houve um problema político no Brasil. Ocuparam alguns lugares em protesto, entre eles onde íamos nos apresentar. O problema foi com Collor [manifestações pró-impeachment]. As pessoas que haviam nos contratado cancelaram a apresentação por causa disso. Iríamos a São Paulo e talvez ao Rio. Se fosse hoje, não iria caracterizado como Chaves nem Chapolim, porque sou muito velho e as pessoas ficariam desiludidas. Iria como alguém normal, porque tenho vontade de conhecer o país e agradecer a boa acolhida que tiveram meus programas.
Folha - O livro tem conotação política. O sr. fala da invasão espanhola no México, da briga com os EUA. Por que essa opção?
Bolaños - Nosso passado foi muito complicado. Mas aqui os enfrentamentos são de mexicanos contra mexicanos. Além disso, temos um vizinho muito difícil... Procuro não ter preconceitos. Não gosto do rancor nem da vingança. Isso disse muitas vezes no programa: "Temos de preparar o futuro". Para mim, não resta muito tempo, mas tenho filhos, netos e logo haverá bisnetos. Quero que eles e todos os habitantes deste planeta tenham uma vida melhor. A política é inevitável. Ninguém consegue ficar fora dela.
Folha - No seriado "Friends", os atores ganhavam até US$ 1 milhão por episódio. E em "Chaves"?
Bolaños - [risos] Pode soar falsa modéstia, mas ganhava muito menos. Hoje, quando vejo quanto recebe um ator coadjuvante só porque ganhou o Oscar... É um disparate. Ganhávamos bem menos. Quando fazíamos turnê, ficava com 20%, e os demais com o resto. Mas ficávamos felizes. O dinheiro nunca deve ser um objetivo. Se for conseqüência, é bom.
Folha - O sr. conhece algo da televisão brasileira? Os "Trapalhões"?
Bolaños - Algumas coisas, mas minha diversão favorita é futebol.
Folha - Quem vai ganhar a Copa?
Bolaños - Brasil. E digo isso com sinceridade. Com gente como Ronaldinho, não haverá para mais ninguém. Deve ser algo entre Brasil e Argentina, talvez algum europeu entre na disputa. Não estou gostando nada do México. Estamos fora.
Folha - Que mensagem o sr. deixaria para seus fãs no Brasil?
Bolaños - Vou deixar uma mensagem que não tem nada a ver com o que faço. Quando me perguntam qual foi meu maior êxito, respondo que foi deixar de fumar. Recomendo à juventude e a todo mundo que não fumem. Larguei o cigarro há 11 anos, depois de fumar por 40. Há coisas de que já não consigo me desvencilhar: catarros, um pequeno enfisema pulmonar que não diminui, pigarros, problemas na garganta. Fumar é a estupidez maior do mundo.
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