maggie Veterana |
# dez/06
· votar
Tornar-se outra
Está na Veja dessa semana: a funkeira Tati Quebra-Barraco já passou por vinte procedimentos cirúrgicos, além de implantes de cabelo, aplicação de unhas postiças e aparelho para corrigir os dentes (folheado a ouro). Fez lipo no pescoço, nos braços, nas costas, nas coxas, no rosto e, diz a revista, em “lugares de alta intimidade”. Com um pedaço de osso do quadril modelou um nariz afilado. Refez o umbigo, acertou os músculos flácidos da barriga e colocou silicone nos seios.
Segundo ela, ainda falta silicone nas nádegas, amarrar a musculatura do pescoço e fazer um implante de cabelo liso e dourado fio a fio. Tati também quer tirar umas costelas para afinar a cintura.
Tati apenas está levando ao extremo essa tendência de modificar-se inteiramente. Tornar-se outra a partir de intervenções cirúrgicas, alcançar um padrão estético ideal, ficar de bem com o espelho, levantar a auto-estima na marra, tudo isso é sonho de consumo presente na cultura, nos programas de TV que vivem de mostrar essas transformações radicais.
Todas essas intervenções não deixam de ser sintoma de contradição: seu discurso de valorizar-se como é, continuar vivendo na Cidade de Deus, manter-se “ligada à raiz” é oposto aos processos de mudança no corpo, no qual ela parece justamente querer livrar-se de sua identidade.
Óia
|