Wrvieira Veterano |
# mai/09
Pessoal,
Após ver uma entrevista da fernanda Montenegro, na qual ela comenta, dentre outras coisas, sua experiência como aluna do Mestre Villa-Lobos em canto orfeônico, fui pesquisar o assunto e descobri várias coisas interessantes (como, por exemplo, que existe uma Lei Orgânica do Canto Orfeônico, que determinava o ensino do canto orfeônico como matéria de especialização de professores de música).
Neste sentido, achei esse texto bem interessante, pelo aprendizado sobre o tema em si e particularmente por fazer um link com a educação musical no Brasil, um tema do qual sempre fui ferrenho defensor. Tenho plena convicção que se nosso país investisse mais em educação musical e esportes na formação das crianças, teríamos adultos bem diferentes.
O artigo chamou minha atenção especialmente quando estabeleceu referencia à filosofia educacional aplicada por mestres como Villa-Lobos e Kodaly, como:
1. A musica é um direito de todos. "A todo o povo assiste o direito de ter, sentir e apreciar a sua arte, oriunda da expressão popular ..." (Villa-Lobos, 1946, p.498)
"Em 1690 ... a idéia de que todos poderiam aprender a ler e escrever a sua própria linguagem era no mínimo tão ousada quanto a idéia de que todos podem aprender a ler música." (Kodály, 1954, p.201)
2. A educação musical é necessária para o desenvolvimento pleno do ser humano. "A música, eu a considero, em princípio, como um indispensável alimento da alma humana. Por conseguinte, um elemento e fator imprescindível à educação da juventude." (Villa-Lobos, 1946, p.498)
"Nenhuma outra disciplina pode servir ao bem estar da criança - físico e espiritual - tanto quanto a música." (Kodály, 1929, p.121)
3. A voz cantada é o melhor instrumento de ensino porque é acessível a todos. "O ensino e a prática do canto orfeônico nas escolas impõe-se como uma solução lógica." (Villa-Lobos, 1946, p.504)
"É uma verdade longamente aceita o fato do canto ser o melhor início para a educação musical." (Kodály, 1954, p.201)
4. Musica folclórica de alta qualidade deve ser utilizada no ensino musical. "O folclore é hoje considerado uma disciplina fundamental para a educação da infância e para a cultura de um povo." (Villa-Lobos, 1946, p.530)
"... música folclórica não deve ser omitida nunca ... se não for por outra razão, que seja para manter viva ... o sentido das relações entre a linguagem e a música." (Kodály, 1951, p.173)
5. O aprendizado musical é mais significativo quando realizado em um contexto de experimentação. "Antes do aluno ser atrapalhado com regras, deve familiarizar-se com os sons. Deve-se ensinar-lhe a conhecer os sons, a ouvi-los, a apreciar suas cores e individualidade." (Villa-Lobos, 1946, p.496)
"Música não deve ser enfocada através do seu lado intelectual, racional, nem deve ser transmitida à criança como um sistema de símbolos algébricos, ou como a escrita secreta de uma linguagem com a qual ela não tem conexão. A forma correta deve abrir caminho para a intuição direta." (Kodály, 1929, p.120)
6. Os professores de música devem ser especialmente preparados para a árdua tarefa da educação musical. "Onde encontrar um corpo de educadores especializados, perfeitamente aptos a ministrar à infância os ensinamentos da musica e do canto orfeônico ...?" (Villa-Lobos, 1946, p.507)
"É muito mais importante quem é o professor de música em ... do que quem é diretor da ópera em Budapeste ... porque um diretor ruim falha uma única vez, mas um professor ruim continua falhando durante trinta anos, destruindo o amor pela musica em trinta grupos de crianças." (Kodály, 1929, p.124)
Veja que muitos são princípios que, numa primeira análise, parecem básicos, mas na prática não são seguidos. Hoje, o acesso à educação musical para os mais carentes resume-se as almas caridosas que fazem trabalho voluntário nas comunidades e as aulas ministradas por pessoas que tocam vários instrumentos de forma genérica, muitas vezes sem conhecimento adequado, e geralmente estão vinculados à religião, ensinando frequentadores de igrejas, templos, cultos e afins.
Não quero de maneira nenhuma parecer preconceituoso ou ofensivo nos meus comentários. Meu objetivo aqui é simplesmente debater o tema da educação musical no Brasil, baseado nas experiências do passado com o canto orfeônico - que, ao meu ver, é realmente a forma mais fácil e acessível de ensinar música e que falhou, segundo a minha ótica, quando esbarrou na capacitação docente.
Vemos uma enxurrada de pessoas que se prestam a dar aulas sem o mínimo preparo e afetando de forma direta a formação dos jovens músicos, os quais, sem maiores condições de procurar algo melhor, acabam reféns destes "profissionais".
O que acham? O que poderíamos fazer para mudar essa situação?
Obs: Putz, o texto ficou enorme... Desculpem!
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TerraSkilll Veterano |
# mai/09
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Olha, realmente tenho dúvidas que tenha algum resultado. Já faz tanto tempo que se pede isso e na verdade mesmo não tem como pressionar esse bando.
(desanimado) (2)
Wrvieira Pesquisando mais sobre o tema, descobri que já existe uma lei de 2008 que torna obrigatório o ensino de música no ensino básico nas escolas. Pela lei, as escolas tem 3 anos letivos para adaptar seus currículos.
Alguém sabia disso?
Tinha ouvido (lido, talvez) alguma coisa a respeito. Infelizmente (a meu ver), mais uma vez o governo tenta fazer a coisa andar na base da força, sem fornecer estrutura para tal. Ou há professores de música suficientes no Brasil para atender toda a demanda? Há material didático sendo desenvolvido para isso? Eu duvido (mas não desacredito).
Mahasiah Quem tem vontade de mudar isso, não tem verba. Quem tem verba, não tem vontade. O pior é que alguns (poucos) tem verba e vontade, mas ficam de mãos atadas, ora por compromissos diversos, ora por enfrentarem resistência ferrenha de opositores (não falo apenas de oposição política, daquela do planalto).
Hoje, o acesso à educação musical para os mais carentes resume-se as almas caridosas que fazem trabalho voluntário nas comunidades e as aulas ministradas por pessoas que tocam vários instrumentos de forma genérica, muitas vezes sem conhecimento adequado, e geralmente estão vinculados à religião, ensinando frequentadores de igrejas, templos, cultos e afins. Verdade. Eu mesmo aprendi muito do pouco que sei assim, por aí, em ong's e igrejas. Não que tenha sido ruim, pelo contrário, mas poderia ter sido melhor se fosse na escola, com um professor que tivesse plena certeza do que está fazendo.
A saber: nem tive educação artística depois do 1° ano do ensino médio. Não sei se por falta de professores, grade apertada (passamos a ter psicologia) ou a disciplina foi riscada mesmo do currículo obrigatório. Não sei se o mesmo ocorre em outras escolas.
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