Rafael Walkabout Veterano |
# mar/05 · Editado por: Rafael Walkabout
Achei essa entrevista na net por acaso.Ela fala um pouco sobre essas questões que citei no título do tópico, e são coisas muito comentadas aqui no fórum.
"Tatola e Maia
Locutores da Brasil 2000 FM
O Portal do Rock esteve na sede da Rádio Brasil 2000 FM, uma das mais importantes rádio rock do Brasil, que fica na cidade de São Paulo.
Fomos até lá para fazer uma entrevista com o "Homem Enciclopédia", o famoso Maia, que juntamente com seu companheiro Tatola (um dos melhores locutores de rádio rock do Brasil), nos recebeu muito bem, respondendo com muita espontaneidade e atenção às nossas perguntas.
Portal do Rock: Vocês têm autonomia sobre a programação musical na Rádio ou existe algum tipo de acordo com gravadoras, produtoras, no sentido de promover alguns artistas em especial ou até mesmo boicotar outros ?
Maia: As vezes as pessoas pensam que a gente fica preso a determinadas coisas, mas na verdade nós dependemos muito do mercado, sendo que no Brasil existe muita limitação quanto a lançamentos. Por exemplo, a gente lança muita coisa nova, mas o acesso fica muito limitado. Obviamente que com a internet a divulgação de uma banda fica muito mais fácil. Porém, o rádio ainda tem uma maior abrangência do que a internet. Ocorre que as vezes as pessoas ouvem alguma coisa muito inédita que a gente toca aqui e depois elas não conseguem encontrar o material da banda para comprar, o que acaba sendo uma frustação. Então, como o mercado é muito limitado, parece que a gente sofre uma pressão da gravadora, mas não é verdade. É simplesmente a falta de produto, a falta de opção. Nós aqui da Brasil 2000 até que ousamos muito, mostrando coisas inéditas das gravadoras, mas acaba sendo um trabalho muito solitário.
PR: É possível uma Rádio sobreviver fazendo uma programação baseada somente em Rock e suas vertentes ou ela tem que ceder e rolar outros estilos mais populares e mais comerciais ?
Maia: Isto depende muito. Esta coisa sobre o que é mais popular ou mais comercial é muito relativa. Ninguém que trabalha em uma rádio, com sinal aberto, pode ser completamente hermético. Quando você tem um público como o da cidade de São Paulo, que é uma cidade muito eclética, você tem que ter uma programação mais abrangente, com coisas mais audíveis para que a grande massa possa conhecer. Senão você acaba falando para um grupo muito pequeno. Isto não justifica você estar sobrevivendo comercialmente, porque você tem um sinal aberto e vários custos envolvidos. Quando você vai para lugares como na Europa, EUA, que possui comunidades menores e definidas musicalmente, você tem as extratificações, as rádios comunitárias, as college radios, que só atingem aquela comunidade, o que é uma coisa muito pequena, atingindo 2 ou 3 mil pessoas, podendo se dar ao luxo de fazer uma programação específica e direcionada para aqueles ouvintes.
PR: Como é a visão da Brasil 2000 sobre as bandas de rock independentes? Quais os espaços para elas na Rádio? Como uma banda independente pode vir a ter seu som rolando na Brasil 2000?
Maia: É como eu falei agora há pouco. O caminho do rock independente tem que se extratificar. Tem que começar com fanzines, portais de internet sobre rock, locais para shows e somente depois partir para um trabalho que tenha uma abrangência maior e mais popular. A gente tem uma preocupação com as bandas independentes. A gente mostra determinadas bandas, por exemplo no programa do Osmar, que é o Brasileiro e Brasileiras, onde as bandas vêm tocar ao vivo. Mas isso é muito pouco. Não adianta você pegar uma banda independente e começar só você a tocar a música dela, se ela tem uma distribuição independente você acaba perdendo tempo e desgastando a banda.
A gente já fez muito isso, inclusive com bandas que têm um certo apelo, público e nome, como o Violeta de Outono e com o Vultos, que eram bandas que tinham até uma carreira, que estavam lançando discos independentes. Então ficava aquela mesma frustação, pois não tinha como se comprar o CD das bandas. Por isso que eu acho que o crescimento de uma banda independente tem que vir aos poucos. O papel da internet é fundamental, haja vista o lance do mp3, que possibilita gerar um arquivo com a música da banda e as pessoas podem conhecer o trabalho da banda. Definindo, eu acredito que as bandas deveriam começar pela internet, divulgando seu som em tudo o que for portal ou site de música, distribuindo seus mp3 para os internautas e para as gravadoras. Outra coisa importante para a banda é a conscientização quanto à qualidade musical. Normalmente as bandas entram no mercado meio acéfalas. Os integrantes da banda se juntam, gravam uma demo e se esquecem da qualidade. Uma banda se faz após muito tempo de estrada e vários shows. Um problema grave também para as bandas é a falta de casas de shows para elas se apresentarem. É chato comparar, mas se pegarmos o mercado americano ou o europeu, as bandas de lá conseguem fazer 200 shows antes de amadurecer e gravar alguma coisa. Aqui no Brasil ainda estamos com um certo preconceito com relação às casas que tocam rock.
PR: Na Europa e nos EUA, o Rock é um grande business e empresas ligadas ao Rock fazem verdadeiras fortunas. Vocês acham que o Rock no Brasil tem sido encarado como business ou as pessoas que comandam o circuito são amadoras ?
Maia: Com certeza, este lance é fundamental. As vezes as pessoas pensam que o amadorismo é uma questão cultural, ideológica. Mas o amadorismo não é ideológico. Pelo contrário, o amadorismo é uma forma de você se preparar para aquilo que você vai enfrentar. Não importa se você tem ideologia, se você não fizer um trabalho bem feito ninguém vai saber de sua ideologia.
Então está coisa de você saber gerenciar um negócio, tratar o rock como um business, é fundamental. Porque no final, tudo é business, até a mais forte ideologia, até mesmo um livro de filosofia é business. As pessoas tem que pensar nisso. Eu também acho que enquanto as pessoas não fizerem as coisas no rock de maneira profissional, nada vai para frente.
PR: Falando sobre internet, a Brasil 2000 relançou seu website recentemente. Quais são as pretensões da Brasil 2000 em termos de internet, ou seja, quais os principais objetivos do site ?
Maia: Na verdade o que a internet traz de benéfico para uma rádio é ser um complemento da programação da rádio. Principalmente este lance de que as vezes a sua programação passa desapercebida em alguns detalhes, você pode ter na internet tudo o que rolou, disponível para as pessoas. Por exemplo, no caso da gente, que lança muita coisa, todo dia tem lançamento, é muito interessante ter no nosso site esta relação de lançamentos. É imprescindível para uma rádio ter um website que tenha um verdadeiro arquivo com tudo o que rolou na programação. Porém, este negócio da rádio virar uma fonte de informação na internet é muito relativo e difícil. Existem sites especializados em informações, como é o caso do site de vocês e seria a mesma coisa se uma rádio tentasse colocar no site um jornalismo muito quente, sendo que existem sites especializados somente em jornalismo e de ótima qualidade. Você não pode querer se meter naquilo que você não sabe fazer. Definindo, eu acho que o básico de um site de rádio seria ser mesmo o complemento da programaçào da rádio. "
Fonte --> http://www.portaldorock.com.br/entrevistatatolaemaia.htm
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