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Baiano19 Veterano |
# ago/04
Olá, sou novo no forum. Naum sei se este é o melhor forum pra perguntar isso, mas queria saber sobre a musica "Construção" do Chico Buarque.
Eu escutei essa semana pela 1º vez e fiquei mto intrigado com a letra...pq ele repete a musica trocando as ultimas palavras? Naum espero uma resposta mas varias teorias.
Pra quem nunca escutou vale mto a pena, eu acho uma das melhore musica q ja escutei na vida!
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Basshero Veterano |
# set/06
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Pq??
Tai uma boa pergunta...
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MacCa Veterano |
# set/06
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Uma boa interpretação que eu vi uma vez é a seguinte: a música é composta por três estrofes nas quais os adjetivos se alternam. Aparentemente, cada estrofe narra a crônica de um ponto de vista diferente. Um dos pontos de vista, com certeza é o do operário acidentado, outro ponto de vista é de alguém de fora, que simplesmente viu um bêbado se desequilibrando, e tem o terceiro ponto de vista.
Vale deixar claro que a "construção" s pode se referir, também, à construção estética da letra.
Enfim, o álbum todo é um primor. O meu predileto depois de "meus caros amigos".
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LuizJu88 Veterano |
# set/06
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Kra essa letra eh uma obra prima...quase todos seus versos sao terminados em palavras proparoxitonas!!!Não sei a historia ao certo dela...mas a teoria do MacCa eh bem interessante...
Chico Buarque é um genio das letras na minha opiniao...basta ver a letra de Corrente entre outras que tambem sao geniais!
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Glynis Veterano |
# set/06
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Notas sobre Construção
Por Judith Patarra
"CHICO: Não passava de experiência formal, jogo de tijolos. Não tinha nada a ver com o problema dos operários - evidente, aliás, sempre que você abre a janela.
STATUS: Portanto, não havia nehuma intenção na música.
CHICO: Exatamente. Na hora em que componho não há intenção - só emoção. Em Construção, a emoção estava no jogo de palavras (todas proparoxítonas). Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo - acaba mexendo com a emoção das pessoas.
STATUS: Então não se liga com intenção?
CHICO: Tudo é ligado. Mas há diferença entre fazer a coisa com intenção ou - no meu caso - fazer sem a preocupação do significado. Se eu vivesse numa torre de marfim, isolado, talvez saísse um jogo de palavras com algo etéreo no meio, a Patagônia, talvez, que não tem nada a ver com nada. Em resumo, eu não colocaria na letra um ser humano. Mas eu não vivo isolado. Gosto de entrar no botequim, jogar sinuca, ouvir conversa de rua, ir a futebol. Tudo entra na cabeça em tumulto e sai em silêncio. Porém, resultado de uma vivência não solitária, que contrabalança o jogo mental e garante o pé no chão. A vivência dá a carga oposta à solidão, e vem da solidariedade - é o conteúdo social. Mas trata-se de uma coisa intuitiva, não intencional: faz parte da minha formação que compreende - igual aos outros de minha geração - jogar bola e brigar na rua, ler histórias em quadrinhos, colar, aos seis anos, cartazes a favor do Brigadeiro, por causa dos meus pais, contrários ao Estado Novo".
© Status, 1973 entrevista a Judith Patarra
Fonte
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albertoellobo Veterano |
# set/06
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Baiano19
Cara, esta música é de 1971 e deu nome à um dos melhores discos do Chico Buarque, na minha opinião: o homônimo "Construção".
Esta música é mesmo muito intrigante, pois Chico mescla um poema musical anterior seu (Deus Lhe Pague) com esta então nova composição. Viviámos o auge da ditatura militar no Brasil (Governo Geisel) e Chico vivia o auge de sua carreira nesse período, sendo o compositor/cantor/artista brasileiro que mais incomodava os Ditadores com suas produções. Como é praxe em governos autoritários, a perseguição ideológica e a Censura era a mas temida ferramenta de repressão imposta ao meio intelectual/artistico da sociedade brasileira. Nesse cenário sombrio que pairava sobre a liberdade de expressão, ou por medo ou por prudência, os nossos artistas adotaram "táticas de sobrevivência" interessantes e uma delas era escrever suas musicas/letras/poemas/livros/artigos/impressos recheados de metáforas e termos com interpretações dúbias, para que não fosse detectatos e classificados como "subversivos" pelo SCDP. Outra forma de não ser incomodados pelos sensores era falar de coisas subjetivas, como o Amor, o Patriotismo, Alegria, Futebol, Priaia, Natureza... por isso viveu-se, no Brasil, um verdadeiro "boom" de cantores/compositores românticos, Bregas e/ou festeiros, a partir de 1968, Como Roberto Carlos, Bebeto, Tim Maia, Evaldo Braga, Odair José, Benito di Paula, etc, que foram classificados como Filhos da Ditadura, sendo acusados de se servirem da mesma (o que não deixa de ter um Q de verdade, pois, a "esquerda" artistica já tinha dono - era capitaneada pela "santissima trindade" da MPB universitária, Chico, Caetano e Gil.
Então, sendo fruto dessa época, Construção - tanto o disco quanto a Música, é profundamente crítica, crônicista, reveladora... a síntese do que se encondia debaixo do tapete de um pais que "ia pra frente", onde o status máximo da felicidade e da realização pessoal era ter um fusca, um violão, ser Flamengo e ter uma negra chamada Tereza, como cantou Jorge Ben em "Pais Tropical".
Perguntas à frente, questiono: porque esta música continua tão intrigante e tão atual?
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Dogs2 Veterano |
# set/06
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Resumindo: quem dá o significado à Construção é você, ouvinte?
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Basshero Veterano |
# set/06
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albertoellobo
Glynis
LuizJu88
MacCa
Valeu galera, desculpe a super desinterrada de tópico...soh conhecia a versão sobre as proparoxitonas!
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Basshero Veterano |
# set/06
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albertoellobo
Cara, é interessante como a maioria das músicas do Chico continuam extremamente atuais para a época...
Será um sinal de falta de evolução por parte da população?
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albertoellobo Veterano |
# set/06
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Basshero
Será um sinal de falta de evolução por parte da população?
Não acho que seja somente isso. Repare que vivemos sob uma ditadura com nova forma: ela hoje é mercadológica /econômica /financeira/ publicitária. Ou vc agrada o Mercado ou vc é "cassado" dele, mas ou menos como era no periodo Militar, apenas sem a truculência da violência.
Vou mais além: acho que estamos na era certa, vide a liberdade de se criar, inclusive "merdas". Precisamos apenas de uma reversão de estruturas: dar menos valor ao que é produto de mercado e procurar o alternativo.
Pergunta adiante: O que fazemos no nosso dia-a-dia para quebrar este ciclo vicioso da mídia de mercado?
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MacCa Veterano |
# set/06
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Nossa, nem vi que o tópico era velhaço. Enfim, repito que esse álbum é um primor repleto de parcerias com Toquinho e Vinícius de Moraes. Procurem (quem jamais ouviu o álbum inteiro) por Samba de Orly, Valsinha, Cotidiano, Cordão, etc...
ps: A Corrente, que já foi citada, é outro ótimo exemplo de experimentação estética do Chico.
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pacman jp Veterano |
# set/06
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Notas sobre Construção
Por Judith Patarra
"CHICO: Não passava de experiência formal, jogo de tijolos. Não tinha nada a ver com o problema dos operários
STATUS: Portanto, não havia nehuma intenção na música.
CHICO: Exatamente. Na hora em que componho não há intenção - só emoção.
© Status, 1973 entrevista a Judith Patarra
sério...
ninguém esperava q ele fosse falar, nessa época ainda, q essa música tinha tematica anarquista, né?
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albertoellobo Veterano |
# set/06
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pacman jp
sério...
ninguém esperava q ele fosse falar, nessa época ainda, q essa música tinha tematica anarquista, né?
E quem era doido de fazer isso?
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MacCa Veterano |
# set/06
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pacman jp
mas o próprio Chico já disse, posteriormente, que ele não sofreu com a ditadura. Viveu bem em seu exílio, financiado pelo governo. Na verdade, ele incomodou muito mais do que foi incomodado.
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