erico.ascencao Veterano |
# abr/11 · Editado por: erico.ascencao
Neste tópico vou mostrar a nova versão do projeto de talk box que eu construi. Antes de mais nada, vou revisar um pouco sobre o que eu já tratei no tópico anterior.
1. Introdução Pra começar, vou tentar dar uma noção geral sobre o que é o talk box, pois muita gente acha este efeito muito misterioso. O talk box é um efeito de modulação, assim como o chorus, o flanger, o phaser, o uni-vibe, etc. Os efeitos de modulação são caracterizados pela adição de um outro sinal ao sinal original da guitarra, sendo que este segundo sinal interage com o sinal original de forma a modificá-lo. No caso do talk box, o sinal adicionado não é gerado por um circuito eletrônico, e sim pela movimentação da boca do guitarrista. Vamos detalhar a construção do talk box, e assim você entenderá mais facilmente como ele funciona.
A modulação feita pelo talk box é feita com a boca, ou seja, o som da guitarra entra na boca e o guitarrista "molda" o som mexendo a boca, os lábios e a língua. É possível, com muito treino, "fazer a guitarra falar", mas é importante lembrar que o som vem da guitarra, e não das cordas vocais do guitarrista. Para que o som da guitarra venha para a boca, é usada uma mangueira, que é ligada a um amplificador. Para que haja um grande aproveitamento da potência sonora emitida pelo amplificador, o seu falante tem que ser o mais isolado possível (em termos de som), para que não escape som para fora da mangueira. Por isso, no lugar dos falantes tradicionais, são usados drivers de corneta - aqueles usados em som automotivo.
Bom, com as informações acima, pode-se concluir que o talk box é um simples amplificador com um driver de corneta substituindo o falante. O sinal da guitarra entra pelo input do amplificador e vai para o driver. A mangueira que está encaixada no driver conduz o som da guitarra até a boca do guitarrista, que faz os devidos movimentos com a boca para gerar a modulação.
Porém, vale ressaltar que o som que vem da mangueira é de baixa intensidade para apresentações ao vivo. Portanto, é necessário usar um microfone, posicionado ao lado da mangueira, para captar o som que sai da boca do guitarrista. Este microfone pode ser plugado num PA, e assim você terá o som do talk box amplificado no nível de volume da guitarra.
Para aplicações ao vivo, é necessário um chaveamento entre o amplificador do talk box e o amplificador de guitarra comum. Para isto, pode-se utilizar um AB box.
Para maiores detalhes da ligação, veja a sessão sobre a montagem.
2. Material Necessário Vou fazer aqui uma lista dos materiais usados para fazer esta segunda versão do projeto, batizada de ESA Talk Box II. Vou também listar o custo médio de cada um dos itens e fazer alguns comentários.
- 1 amplificador de potência Electro-Harmonix 44 Magnum: US$150 (paguei US$18 de frete, e com os impostos e tudo bonitinho deu US$268,80 ou R$456,95) A escolha do amplificador é o grande diferencial deste projeto, pois não se trata de um amplificador de guitarra tradicional com pré e power; mas sim de um amplificador de potência (power), que não colore o som. Isso garante que o timbre do talk box seja o mais fiel possível ao timbre característico do pré que você está usando (seja um pré de amplificador, um pedal ou uma pedaleira). Escolhi o 44 Magnum por ter bastante potência (44 W), mas há também a opção do 22 Caliber (com 22 W) - o legal é que ambos entregam a potência prometida com uma impedância de saída entre 8 e 16 ohms, que é a faixa de impedâncias na qual se encontra a maioria dos drivers de corneta.
- 1 driver de corneta para som automotivo: R$95 Eu optei pelo Selenium D250-X por ser da Selenium e por ser o mesmo driver utilizado num vídeo do Youtube que ensina fazer um projeto bem semelhante ao que eu fiz. Há um outro modelo da Selenium, o D200 (ou algo assim, é um pretinho) que tem especificações muito próximas, também pode servir. Este item não merece economias, creio que boa parcela da qualidade do talk box vem dele.
- 1 capacitor de 22uF (22 micro Faradays) para tensão máxima de 100 V: R$1,50 É indispensável. Deve ser ligado em série, para evitar que frequências graves (abaixo de 500Hz) danifiquem o driver. Passei a atentar para esta tensão máxima pois inicialmente comprei um capacitor para 25 V, o que ficava muito "justo" para usar com o Magnum que é alimentado com 24 V, portanto voltei na loja e peguei o de 100 V.
- 2,5m de mangueira: R$10 Aí vai do seu gosto, afinal é você que vai colocar a mangueira na boca, e não eu. Eu sugiro uma de 1/2", mais do que isso fica muito incômodo e induz questionamentos sobre sua sexualidade.
- 1 AB box: R$80 Eu peguei um da Snake, que funciona sem fonte (mas os LEDs indicativos não funcionam sem fonte). Caso você queria "ligar e desligar" o talk box, é muito importante ter um AB box para tal. Um adicional interessante pode ser um "A e/ou B box", que possibilite selecionar entre som de guitarra e/ou som de talk box. It's My Life do Bon Jovi é uma música que parece ter guitarra normal e talk box simultaneamente.
- Acoplamento driver-mangueira: R$15 Aqui mora a grande "arte" de fazer um talk box. Não existe uma peça que rosqueie perfeitamente na rosca do driver, portanto é necessária uma gambiarra. Eu achei, numa loja de material para construção, uma peça da Tigre chamada adaptador soldável com anel para caixa d'água. Basta encaixar outra peça, a bucha de redução soldável curta (veja o mesmo link anterior), no buraco da primeira e você terá um buraco para encaixar a mangueira. O negócio é procurar a peça já com o driver na mão, para ver o que encaixa no maldito driver.
- Acessórios e ferramentas: R$5 Ferro de solda, cordão de solda, alicate, cabinhos, cabo PP 1,0 mm², fita isolante (para gambiarras), termorretrátil (canundinho de borracha usado para isolamento), veda rosca (para auxiliar na vedação), etc. _______________________________________________________________________________________________ TOTAL: R$663,46
3. Montagem Nesta versão a montagem da parte elétrica da coisa fica mais por conta de montar um cabo para ligar a saída do amplificador no driver. Trata-se de um speaker cable com uma ponta P10 e a outra ponta com dois fios (o positivo e o negativo) a serem encaixados nos terminais do driver. Se você quiser comprar um speaker cable pronto, ótimo, aí é só cortar uma das pontas e separar os dois condutores para ligar aos terminais do driver.
Tendo em mãos o acoplamento que você escolheu, se vire para encaixá-lo no driver, e em seguida encaixe a mangueira no acoplamento. Não se preocupe com a vedação completa do acoplamento, pois isto não interfere tanto no vazamento de som.
O esquema de ligação é simples: - guitarra -> pré-amp (pode ser o do seu próprio amplificador de guitarra através do send do loop de efeitos, pedal ou pedaleira) -> input do AB box - saída A do AB box -> power amp do amplificador de guitarra (através do return do loop ou através do próprio input do ampli) - saída B do AB box -> input do amplificador do talk box - saída do amplificador do talk box -> driver de corneta (usando o speaker cable montado)
Quanto à ligação, cabem algumas considerações. Lembre-se de que o amplificador do talk box é somente um power amp, ou seja, ele não colore o timbre. Portanto, é legal usá-lo com um pré ligado antes dele para dar aquele "sabor" de guitarra. Como eu disse acima, este pré pode ser um pedal, uma simulação de amp de pedaleira ou o próprio pré do seu amplificador de guitarra. Este último caso presume que o seu amplificador tenha loop de efeitos, deste modo você ligaria o send do amplificador na entrada do talk box. No caso de o seu amplificador não ter loop, restam as opções de pedais e pedaleira.
Entretanto, se você não tem um amplificador com loop e não tem/usa pedais e pedaleira, aí só resta ligar a guitarra no talk box sem o pré mesmo. Eu cheguei a brincar um pouco só com guitarra e talk box (sem pré), mas não foi um experimento conclusivo. O que serve de consolo é que o som do talk box não tem nada abaixo dos 500 Hz, ou seja, é um troço bem médio e estridente.
4. Comentários Meu medo na montagem do talk box continuou sendo dar merda na ligação - apesar de ser muito simples, sempre pode dar algo errado - mas eu não tive problemas. Creio que este é o efeito mais fácil de se fazer, qualquer um que pegar um ferro de solda já poderá fazer este "pedal".
O som do ESA Talk Box II é FAN-TÁS-TI-CO. Lendo o review do EHX 44 Magnum do MauricioBahia eu tive a impressão de que este power amp se comportaria como um valvuladinho: timbre gordo, com definição e crunchando em volumes altos. Não cheguei a testá-lo do modo tradicional, mas senti boa parte desta dinâmica de um valvulado no próprio talk box, tanto sentindo a diferença de acordo com o tipo de drive quanto com o tipo de guitarra. Com o volume em ~40% ele fica limpo ao meu gosto e interage bem com drives de pedal/pedaleira/ampli, tendo bastante definição nas notas e bastante corpo. O grande barato é o volume: é muito volume, mesmo, o suficiente pra levar um ensaio de boa sem precisar microfonar a minha boca - melhor dizendo, se microfonasse eu cobriria o resto da banda, mesmo ligando o microfone naqueles amplizinhos multiuso toscos. Cheguei a colocar o volume do power amp mais alto pra experimentar o headroom dele e cheguei em drives bastante encorpados e muito mais altos.
Trocando em miúdos, gastar nem R$650 num talk box relativamente potente é uma barbada. Um Rocktron Banshee está uns R$900, R$1000. O Talk Box da Dunlop, nem se fala. E se você fizer um AB box handmade, o preço despenca mais um pouco.
5. Sugetões de Melhoria Vou começar este item respondendo às propostas de melhoria da versão anterior. Logo em seguida vou adicionar novas propostas.
- Alimentação: a alimentação de 110V é um inconveniente, pois acaba gerando um aumento excessivo do circuito em comparação aos circuitos de pedais. E este circuito trombolhudo fica difícil de ser transplantado para uma latinha (no caso, seria uma latona).
Problema eliminado em partes. O pedal tem alimentação de 24 V e vem com uma fonte 110 V semelhante às de notebook. O pedalboard fica meio poluído (se pensar que no chão tem também a fonte da POD X3L e a dos pedaizinhos que entraram no set...), mas pelo menos não tem o caixotão Meteoro, que aliás agora serve de "hard case" pro talk box.
- Acoplamento driver-mangueira: este é maior desafio, pois depende da sorte ou da criatividade do handmaker na hora de achar ou improvisar uma peça para esta função.
Ele continua firme e forte, denunciando o caráter caseiro do projeto. Depois que eu vi o Júlio Ikehara, guitarrista da banda Kashmir, com um talk box igual ao meu, nem ligo mais pra este aspecto visual da coisa.
- Circuito "genérico": seria legal fazer um circuito de amplificação só com o power, pois deste modo o som não é "recolorido" pelo amplificador do talk box.
Proposta quase totalmente adotada. A seguir virá uma proposta que é continuação desta.
- Unificação dos circuitos: agora que o talk box não colore mais o som, o próximo passo seria unir os circuitos do AB box e do power amp num único encapsulamento. Este é um sonho meu que eu gostaria de desenvolver com algum handmaker, porém nenhum dos contatos que eu fiz teve sucesso.
- Alternativa para mangueira de vinil: a mangueira de vinil adquire memória muito fácil, se tornando um estorvo na hora de montá-la no pedestal de microfone. Estou fazendo contatos para tentar comprar uma mangueira de silicone.
- Base de apoio para o driver: agora que ele fica direto no chão e não mais dentro do gabinete do Meteoro, o driver está sujeito a ficar "caindo" devido ao esforço causado pela mangueira tentando se desesticar. Estou pensando em construir uma base em madeira para servir tanto de peso morto para o driver quanto para acomodar bornes para uma ligação mais "profissional" do cabo.
Bom, ta aí. Dúvidas e sugestões, mandem aí!
|