Ken Himura Veterano |
# jun/20 · Editado por: Ken Himura
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Subdominante Função Meio-forte em Tom Menor: resolve ou não? Claro que sim.
Harmonia tonal é um assunto encrespado, cara. Melhor estudar por um bom livro: Walter Piston, Arnold Schoenberg, Stefan Kostka, Edward Aldwell & Carl Schachter etc, fácil de encontrar tanto legalmente quanto na pirataria.
Dito este alerta, vamos lá.
Como estamos sem contexto, é uma situação hipotética e arquetípica. Esqueça estes termos como forte, fraco, meio-forte... não entendi muito bem porque inventaram essas paradas, causam mais confusão num assunto que já é confuso por si.
No contexto tonal da Prática Comum (meados de 1600 até meados de 1900), toda subdominante vai pedir resolução - qualquer cadência que você procurar não termina na subdominante por arquétipo estilístico - isto não quer dizer que não vá acontecer numa música. Quando acontece, deram o nome de cadências deceptivas, só para ver como é o forte a expectativa de resolução em Tônicas.
Uma coisa básica - contexto. Sem contexto, ficamos limitados. Vou imaginar qualquer coisa sem grandes maluquices.
Partindo da tonalidade de Dó menor: 3 bemóis na armadura, mas a nota Si aqui sempre será natural, porque em tonalidades menores a harmonia é pensada sobre a Menor harmônica, sempre.
As funções tonais são iguais, independente do modo (maior ou menor): são 3 principais: Tônica (T), Subdominante (S) e Dominante (D). As tonalidades homônimas (no nosso contexto aí, Dó Maior e Dó menor) compartilham todas as funções, exceto a T, que difere diatonicamente em cada modo (Dó Maior: Dó - Mi - Sol, Dó menor: Dó - Mib - Sol). D e S sempre serão iguais, independentemente do modo. As cadências geralmente também serão iguais - são construídas pelas funções, com poucas alterações diatônicas em função do modo.
Os acordes de função S vão ser divididos em maiores (ex: Fá - Lá - Dó) e menores (Fá - Láb - Dó), e podem ser utilizados sem problema em tonalidades homônimas - desde que conduzidos de forma adequada. Ou seja, no nosso contexto de Dó menor, pode aparecer uma subdominante maior sem problema algum, desde que bem conduzida.
O iiø em Dó menor (Ré - Fá - Láb) é uma tríade diminuta, mas dificilmente vai aparecer como acorde diminuto completo (iiº). Por quê? Porque acordes diminutos são, por definição, Dominantes. Se aparecer completo (Si - Ré - Fá - Láb), seria um D9 sem a fundamental, razoavelmente comum em passagens Dominantes, mas acredito que não seja o que você perguntou. Mas saiba que vai aparecer muito em cifras de música popular este dominante cifrado erroneamente como um subdominante (a Wikipedia mostra alguns exemplos, procure por "sixth chord").
Se aparecer só o iiø, a função é S, e não D. Koellreuter, no seu manual de Harmonia Funcional, chama esse acorde de acorde de sexta-apojatura de subdominante, ou seja, um S6 - subdominante no qual o 5o grau do acorde é trocado pelo 6o, que serve de apojatura para este 5o, uma pseudo-dissonância - muito comum no estilo Galante (J.C. Bach e Mozart jovem, por exemplo). 6 por que entre Fá e Ré temos uma sexta - e é bem comum deste acorde aparecer com Fá no baixo.
S6 quase sempre leva pra D ou pra S, são os exemplos de condução mais frequentes que você vai encontrar. Sei lá, vamos construir um voicing aqui:
S6 -> D -> T
Ré-Ré-Mib Láb-Si-Dó Fá-Sol-Sol Fá-Sol-Dó
S6 -> S -> T
Ré-Dó-Dó Láb-Láb-Sol Fá-Fá-Mib Fá-Fá-Dó
Há um caso especial de S6, que é o S65 (quando o 6o e o 5o aparecem juntos no mesmo acorde). É um acorde dissonante no contexto tonal, bem famoso, conhecido pelo nome "acorde com sexta acrescentada de Rameau". Pode resolver tanto na T quanto na D, geralmente na D.
S65 -> T
Ré-Mi Dó-Dó Láb-Sol Fá-Dó
S65 -> D
Ré-Ré Dó-Si Láb-Sol Fá-Sol
Diz também o Koellreuter: A sexta acrescentada é tão característica da subdominante, como a sétima da dominante.
Resumindo: sua pergunta, muito provavelmente, se refere ao S65 - no nosso exemplo, Ré-Fá-Láb-Dó, que aparece muito em contexto menor, com o Fá no baixo.
Meu conselho: estude harmonia tradicional, com os livros dos autores que mencionei no início do post. Existem outros casos especiais de acordes subdominantes de sexta que são o terror dos estudantes de harmonia (principalmente os de sextas aumentadas, como o de Sexta Napolitana, por exemplo), isto é melhor entendido pelo estudo sério da harmonia tradicional.
Em vários contextos, todos os acordes usados aqui podem (e vão) ser usados de maneira ambígua, com tonalidade dúbia, que podem ou não ser resolvidas. Isto não é um erro, muitos compositores tanto clássicos quanto populares usaram estas dúvidas em seu favor desde o fim do século XIX, seja não definindo a tonalidade ou trocando a função dos mesmos acordes de forma mais livre. No tonalismo expandido, isto é muito comum. É possível aparecer em contextos de politonalidade, inclusive.
E um lembrete final: existem teorias harmônicas funcionais concorrentes que não tratam estas funções aqui sob a mesma ótica. Cada corpo teórico tem seu próprio nexo, aí fica difícil conciliar quando estamos olhando de outro prisma. No fim, tanto faz - o importante é poder explicar de forma consistente e replicável um conceito. Por exemplo, na teoria riemanniana original (que o Koellreuter adapta no livro), este acorde seria o Sp (paralelo/relativo da Subdominante). A teoria neorriemanniana trabalha em cima desses conceitos, mas de uma forma um pouco mais complexa.
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