Movimento de resgate da simplicidade

    Autor Mensagem
    Casper
    Veterano
    # dez/08


    Em 13 de Maio de 1995, os cineastas dinamarqueses,
    Thomas Vinterberg e Lars von Trier (Dinamarca) deram
    um pontapé inicial em um movimento cinematográfico
    de resgate ao cinema conhecido como Dogma 95.

    Na essencia, as regras são:

    As regras do Dogma 95, também conhecidas como "voto de castidade", são:

    1) As filmagens devem ser feitas em locais externos.
    Não podem ser usados acessórios ou cenografia
    (se a trama requer um acessório particular,
    deve-se escolher um ambiente externo
    onde ele se encontre).

    2) O som não deve jamais ser produzido separadamente
    da imagem ou vice-versa. (A música não poderá ser
    utilizada a menos que ressoe no local onde se
    filma a cena).

    3) A câmera deve ser usada na mão.
    São consentidos todos os
    movimentos - ou a imobilidade - devidos
    aos movimentos do corpo.
    (O filme não deve ser feito onde a câmera
    está colocada; são as tomadas que devem
    desenvolver-se onde o filme tem lugar).

    4) O filme deve ser em cores. Não se aceita
    nenhuma iluminação especial. (Se há muito
    pouca luz, a cena deve ser cortada, ou
    então, pode-se colocar uma única lâmpada
    sobre a câmera).

    5) São proibidos os truques fotográficos e filtros.

    6) O filme não deve conter nenhuma ação
    "superficial". (Homicídios, Armas, etc.
    não podem ocorrer).

    7) São vetados os deslocamentos
    temporais ou geográficos. (O filme se
    desenvolve em tempo real).

    8) São inaceitáveis os filmes de gênero.

    9) O filme deve ser em 35 mm, padrão.

    10) O nome do diretor não deve figurar nos créditos.


    Esses detalhes estão em http://pt.wikipedia.org/wiki/Dogma_95

    Então eu imaginei, porque não fazer a mesma coisa com a
    música? Então imaginei algumas regras, que deverão
    ser seguidas:

    1) As gravações podem ser feitas em qualquer lugar, MENOS
    em um estúdio preparado para isso.

    2) O som deve ser captado por um microfone, para
    ser captada a ambiência do local onde foi feita a gravação.
    Em caso de usar um sintetizador, por exemplo, ele deve
    ser amplificado e o som dele captado pelo microfone.

    3) Em caso de instrumentos com efeitos embutidos, nenhum
    deles poderá ser usado.

    4) Nenhum efeito pode ser adicionado na gravação, inclusive
    equalização e compressão. A única edição permitida é
    variação de volume (fade-in/fade-out).

    5) A tomada de gravação deve ser contínua, sem edição no meio.

    6) O formato de gravação não importa, mas uma versão em MP3
    deve estar disponível para ser compartilhada.


    Gostaria de saber as opiniões das pessoas desse forum.
    Se alguém tiver uma opinião, por favor se manifeste.

    Lucas_fms
    Veterano
    # dez/08
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    Mas qual é o objetivo disso? Qual é o sentido?

    Tornar as coisas mais orgânicas e mais naturais? é isso?

    Casper
    Veterano
    # dez/08
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    O objetivo é ver qual o resultado musical quando
    se retiram os milhares de recursos disponíveis
    para edição. Algo parecido
    com o que o Dogma 95 fez para o
    cinema, mas aplicado na música.

    Lucas_fms
    Veterano
    # dez/08
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    Casper

    No inicio todas as gravações eram feitas dessa maneira, tirando a restrição do ambiente.

    E exige muito mais habilidade, tanto dos musicos quanto dos engenheiros.

    Rmiguez
    Veterano
    # dez/08 · Editado por: Rmiguez
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    Lucas_fms

    hehehe.. é o que mais nego faz em casa isso aí cara... só que não necessáriamente fica bom...

    rs

    abs

    Lucas_fms
    Veterano
    # dez/08
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    Rmiguez

    Exatamente!

    O dificil é fazer ficar bom!

    Casper
    Veterano
    # dez/08
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    Com um pouco de cuidado dá para fazer ficar bom sim.
    Por exemplo, eu gravo violão em um dos banheiros
    lá de casa, sem nada, e fica excelente, só usando um
    multitrack merreca. Dá trabalho? Claro que dá. Eu
    demorei para descobrir a posição certa do microfone,
    mas consigo bons resultados.

    Música de Preto
    Veterano
    # dez/08
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    Deixa eu ver se quero participar...

    annnhhhh........ não!

    VIVA OS VST E VSTIS E OS MILHÕES DE EFEITOS!!!!!!!

    Pimenta_1
    Veterano
    # dez/08
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    Casper


    concordo plenamente com a proposta, menos no que diz respeito a utilização de compressão e equalização.

    mesmo nas gravações mais simples e antigas isso acontecia, salvo nos primórdios, em que não existiam esses equipamentos propriamento ditos, mas a própria ação dos equipamentos como microfones condensadores e preamps valvulados da época já amortizava um pico ou atenuava/reforçava um faixa de frequência, dando a impressão desses efeitos.


    eu sinceramente acredito que mesmo para uma gravação bem simplificada deveria se aplicar algo de compressão/equalização, podemos definir algum parâmetro para isso

    mas qual a sua intenção? promover uma audição para diferentes gravações seguindo essa linha de pensamento?

    Música de Preto
    Veterano
    # dez/08
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    é cara, mas diferentemente do cinema, a música - falando tecnicamente é mais exigente. desde que veio o CD, ninguém aceita mais a fita. enfim, seu som seria recusado por estar fora dos padrões. essa mudança que vc propõe não é uma filosofia de produção, mas um decaimento técnico

    Pimenta_1
    Veterano
    # jan/09
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    Música de Preto


    descordo TOTALMENTE de vc, é sim uma filosofia que traria de volta às gravações vários aspectos esquecidos pelo uso excecivo de processamento, coisa que presenciei de ao mesmo tempo que da possibilidades ao músico, pode tb limitar seu desenvolvimento pelo simples fato de se ter muita coisa "pronta" alí....muita coisas se perdeam nas gravações: simplicidade, energia, DINÂMICA, criatividade para resolver problemas na ocasião da gravação, enfim, mesmo com muito recurso ainda temos muitos valores se perdendo.

    eu ja cheguei a gravar com tascam de 4 pistas, 8 pistas, A-DAT cara preta e XT......é muito legal ter essa experiência de não ver tela nenhuma e saber de verdade girar os botões, saber ouvir e não ver nenhuma forma de onda....e meu sonho é um dia ainda usar um gravador de rolo, aqueles antigos de 8 pistas cara, com um console de mixagem imenso....

    então acho que vc pode pesquisar sobre o assunto, vai ser de grande ajuda até mesmo para saber usar melhor o que a tecnologia atual nos oferece...

    ps. tenho gravações em fita que coloca muito estudiozinho digital aí no chinelo...

    Bog
    Veterano
    # jan/09 · Editado por: Bog
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    Casper
    porque não fazer a mesma coisa com a música

    Bom, como você citou o Dogma 95, eu diria que é porque nem mesmo os caras que criaram o manifesto do Dogma 95 conseguiram segui-lo à risca (sério!), e hoje em dia, o mesmo está enterrado e jogado de lado. Ou seja: quando nem quem criou as regras consegue segui-las, é porque as tais regras não eram uma boa idéia.

    E não vejo por que deveríamos aplicar uma idéia não muito boa para a música. ;)

    Particularmente, comecei gravando com um microfone numa sala, tudo ao vivo, duas pessoas com violões, sem nem fazer mixagem, e não tenho saudades daquele tempo. A primeira coisa que eu fiz foi escrever um compressor, antes mesmo de saber sobre programas e plugins para mixagem.

    Aliás, se o negócio é "voltar às origens", sugiro que coloque aí também uma regra proibindo o uso de amplificadores ou de qualquer coisa elétrica. Todo som precisa ser gerado e processado apenas por meios mecânicos! Nada de amplificadores de 5000 dólares com distorção (que também é um tipo de efeito).

    Pimenta_1
    tenho gravações em fita que coloca muito estudiozinho digital aí no chinelo...

    O custo para fazer essas gravações também devia colocar o custo das gravações digitais no chinelo...

    Pimenta_1
    Veterano
    # jan/09
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    Bog

    não acho que seria justo comparar custos de épocas diferentes, realidades economicas e tecnológicas diferentes, musicos diferentes, etc....

    Bog
    Veterano
    # jan/09
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    Pimenta_1
    não acho que seria justo comparar custos de épocas diferentes, realidades economicas e tecnológicas diferentes, musicos diferentes, etc....

    Exatamente... Hoje em dia temos outros equipamentos, outros recursos, outros estilos de músicas, e até os nossos instrumentos são feitos de outros materiais (certas madeiras hoje em dia são raridade). Enfim, é uma outra realidade. Por que não aproveitar o barateamento das tecnologias para fazer o que der na telha de cada um?

    Acho que, no fim das contas, toda essa tralheira tecnológica é apenas uma ferramenta para chegar a um resultado almejado. O que importa é a idéia por trás do equipamento, e não creio que colocar restrições nas ferramentas vá necessariamente ajudar o produto final.

    Quando escuto os "defensores do vintage", sempre penso de um jeito extremamente simples: se eu estivesse em 1960, nunca poderia fazer minhas gravações amadoras, registrando minhas idéias. Como estou em 2009, posso. Logo, 2009 > 1960 para mim. Muitos profissionais, que estão con$eguindo agora cortar a dependência das gravadoras com estúdios baratos (mesmo que não sejam melhores), concordam comigo.

    BaNdAiD
    Veterano
    # jan/09
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    Não vejo sentido nenhum nesse resgate!
    Diferente do cinema, a digitalização da produção musical, aliada a popularização dos equipamentos, permite a um numero cada vez maior de pessoas o acesso a gravações e produções. Para mim, isso é uma coisa POSITIVA!
    Se vc recuar 10, 20 anos, vai perceber que pra vc gravar suas idéias com um mínimo de qualidade, vc precisava gastar muito dinheiro com estúdios e rolos de fitas, além do conhecimento alheio. Hoje em dia, um computador e um punhado de softwares piratas (não sejamos hipócritas!), aliado a todo conhecimento disponível gratuitamente na internet já são mais do que suficientes para vc gravar e publicar suas idéias musicais!

    O cinema ainda está muito preso, muito arraigado em certas formulas e certos padrões de mercado, que impedem a produção independente de ganhar mais espaço. Hoje, qualquer um tb pode comprar uma camera, baixar um editor de vídeos pirata (!) e produzir um filme completo, contando só com seu talento, capacidade de organização/improvisação e uns trocados pro lanche!

    Enfim, assim como o myspace, o youtube está ai para os cineastas a serem descobertos...

    Abraços!

    BaNdAiD
    Veterano
    # jan/09
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    Bog

    Muitos profissionais, que estão con$eguindo agora cortar a dependência das gravadoras com estúdios baratos (mesmo que não sejam melhores), concordam comigo.


    Pra mim vale a seguinte lógica: Melhor um estúdio com alguem que mexa bem nos plugins do que um com alguem que mexa mal nos racks!

    Bog
    Veterano
    # jan/09
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    BaNdAiD

    Isso que você disse é certo, mas não só isso! Conheço músicos que comentaram que antigamente, tinha que dançar conforme a coreografia decidida pela gravadora. Eles tinham o dinheiro, os equipamentos, os meios para divulgação, e os artistas eram empregados que tinham que seguir ordens. Hoje em dia, o cara pode fazer tudo em casa, cuidar dos filhos enquanto trabalha, levar 3 meses para fazer uma música (antes, tinha que fazer tudo correndo, porque as horas de estúdio custavam caro), fazer 50 versões da mesma música para ver como fica, e melhor de tudo, fazer a música que lhe der na telha, sem ter que seguir os desmandos dos tios que falam "isso não pode, isso não vai vender".

    Enfim, talvez os rolões de fita soassem melhores mesmo. Mas para a música em si, ainda acho que a liberdade artística é mais preciosa do que "aquele calor das válvulas".

    BaNdAiD
    Veterano
    # jan/09
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    Bog

    Mas para a música em si, ainda acho que a liberdade artística é mais preciosa do que "aquele calor das válvulas".

    Exatamente!
    Tanto é que hoje, muitos artistas renomados optam por se tornar "independentes" assim que o seu contrato expira! Além do mais, ter controle sobre a sua própria obra evita problemas como o do Paul MacCartney. Segundo ele mesmo:
    - "Sabe, o que não é legal é fazer uma turnê e ter que pagar para cantar todas minhas canções. Toda vez que eu canto 'Hey Jude' eu tenho que pagar para alguém."

    Música de Preto
    Veterano
    # jan/09
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    descordo TOTALMENTE de vc, é sim uma filosofia que traria de volta às gravações vários aspectos esquecidos pelo uso excecivo de processamento, coisa que presenciei de ao mesmo tempo que da possibilidades ao músico, pode tb limitar seu desenvolvimento pelo simples fato de se ter muita coisa "pronta" alí....muita coisas se perdeam nas gravações: simplicidade, energia, DINÂMICA, criatividade para resolver problemas na ocasião da gravação, enfim, mesmo com muito recurso ainda temos muitos valores se perdendo.

    A culpa da falta de criatividade de hoje em dia não é das possibilidades infinitas e sim da falta de criatividade de quem usa. Não preciso falar muito, já disseram bastante coisa interessante por aí. E quando quis dizer fita, falava sobre a fita K7 e sobre o consumidor final (CDxFita K7)

    Edu Cesar
    Veterano
    # jan/09
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    Eu até entendo o saudosismo e a vontade de fazer algo mais simples e com alma. Entretanto, isso não quer dizer que o simples fato de você usar um computador para gravar vai deixar o produto final pior ou melhor. O importante é o resultado final, é isso que o público vai ouvir/ver.

    Acho isso tudo meio engraçado. Sou fotógrafo e vi (há alguns poucos anos) muitos profissionais criticando a fotografia digital, dizendo que nunca ia chegar aos pés do filme e tudo mais. A mesma coisa sobre o uso do Photoshop, era como se o cara fosse um "trapaceiro" por ter usado o programa para manipular as imagens. Hoje em dia quase todo mundo usa a câmera digital e o Photoshop, mas ainda existem pessoas que gostam do filme e fazem trabalhos mais artísticos com ele.

    Acho que o mesmo acontece com a música.

    shoyoninja
    Veterano
    # jan/09
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    Não vejo propósito. Limitar os recursos para tornar mais difícil obter um bom resultado?

    Em contrapartida, considero boas opções que podem ser usadas dependendo do que a pessoa quer fazer.

    Então, ao invés de limitar o que já é usado, seria melhor apenas incluir essas opções.

    Musikalischmann
    Veterano
    # jan/09
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    Não é o fato de ser mais simples ou não, o que mais isso iria mudar é mesmo a qualidade dos instrumentistas. Porque, cá entre nós, qualquer um, sabendo ou não tocar, está gravando CD e o pior, é que ainda faz sucesso.
    É inadimissível que gente que não saiba o que fazer com um instrumento na mão, entre em um estúdio, e o editor faça tudo por ele, e no final ganhe os aplausos.
    Acho aceitável usar os efeitos existentes, porém não se esconder atrás deles. mas acho realmente bom o fato de favorecer aquilo que trás a simplicidade da música, o saudosismo de que fala Edu Cesar, pois sem isso não existiriam bons musicos, apenas bons efeitos e poucas músicas decentes, que para onde está se encaminhando a música atual. Uma verdadeira decadência, não causada pelo avanço da tecnologia, mas facilitada por ela, e por ela escorada.

    Edu Cesar
    Veterano
    # jan/09 · Editado por: Edu Cesar
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    mas acho realmente bom o fato de favorecer aquilo que trás a simplicidade da música, o saudosismo de que fala Edu Cesar, pois sem isso não existiriam bons musicos, apenas bons efeitos e poucas músicas decentes, que para onde está se encaminhando a música atual

    Humm...acho que o saudosismo na verdade é mais uma reação natural às novidades tecnológicas. Tudo que é novo acaba sendo criticado no início. O saudosismo em si não garante um bom artista. Se for assim, ficaremos eternamente ligados ao passado e nunca mais iremos ter uma grande quantidade de artistas de boa qualidade.


    Uma verdadeira decadência, não causada pelo avanço da tecnologia, mas facilitada por ela, e por ela escorada.

    Mas tem duas coisas que entram nisso tudo também: o consumidor e a demanda.

    Em tempos de internet, download, mp3 e ipod, o consumidor de hoje não quer saber de música de qualidade. Se o pessoal estivesse realmente interessado em qualidade sonora, excelência musical e performance, pode ter certeza de que haveriam mais artistas bons por aí.

    E é bom lembrar de que nós, aqui no fórum de Gravação, temos um nível crítico de uma minoria (produtores/engenheiros de som) dentro de outra minoria (músicos). Quem consome música hoje é a geração da internet, do MSN, do "vc" no lugar de "você".

    Concordo que a tecnologia facilita muito na hora de "mascarar" artistas medíocres, mas acho que o buraco é mais embaixo. O problema também é, em um certo nível, social e comportamental.

    Mas acho que isso vai mudar. É uma questão de tempo e dialética até comecarem a criticar isso e as pessoas perceberem que estão engolindo porcaria. Um bom exemplo disso é o último do Metallica, que foi bem criticado por uso de compressão excessiva.

    Também ouvi dizer (não sem nem se foi aqui) que lá na gringa uma associação de produtores/engenheiros de som está querendo criar um "selo de aprovação" para os CDs, garantindo e destacando que aquele disco tem uma qualidade sonora decente.

    O que vocês acham disso?

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