Juliano de Oliveira Veterano |
# fev/05
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Johannes Brahms (1833-1897)
Em 1854, um jovem compositor de Hamburgo chegou a Bonn, para visitar Robert Schumann. O famoso compositor alemão não estava em casa e o jovem teve de voltar outro dia. A acolhida no primeiro encontro não foi das melhores, mas, quando o jovem visitante começou a tocar sua Sonata para Piano em Dó Maior, Schumann ficou estático, maravilhado.
Não contente, foi para o interior da casa chamar sua esposa, Clara, também pianista, para conhecer o recém-chegado. Esse foi o primeiro encontro entre Clara Schumann e o jovem pianista, Johannes Brahms.
Johannes Brahms nasceu em 7 de maio na cidade portuária de Hamburgo, no norte frio e congelado da Alemanha. Seu pai era um músico pobre, mas determinado a fazer o melhor por suas crianças, não importasse o que custasse. Já aos seis anos o pequeno Johannes demonstrava um talento incomum, sendo encorajado por seus pais a seguir a carreira musical. Além disso, desde pequeno foi colocado em contato com a literatura inglesa e francesa e, ponto determinante, a literatura romântica alemã.
Sua educação musical também data dessa época: depois das aulas na escola, tinha lições de piano com Otto F. W. Cossel. O progresso do filho na música fez com que o pai de Brahms se sentisse tentado a partir para os Estados Unidos para tentar repetir o sucesso de Mozart na infância. Consciente do perigo que isso representava para a educação do jovem, Cassel conseguiu que Eduard Marxsen, melhor professor da cidade, aceitasse Brahms como aluno, sob a condição de não viajarem.
Naquela época Hamburgo era o principal porto da Alemanha e, devido às despesas familiares, Brahms, ainda adolescente, começou a tocar piano como profissional nos bares próximos ao porto. A freqüência era a pior possível, mas a experiência de ficar tocando horas seguidas naquele ambiente foi tão importante para Brahms quanto seria para os Beatles um século e meio depois.
Obviamente seus estudos sérios de música continuavam. Há algum tempo que ele também escrevia música e, ao lado das apresentações nos bares, também se apresentava para a alta sociedade. Em abril de 1849, deu um recital no qual tocou a sonata Waldstein de Beethoven, uma Fantasia de Thalberg e, encerrando, uma Fantasia sobre uma Valsa Favorita de sua autoria.
Jovem, bonito, com grande capacidade de trabalho, Brahms em quatro anos tornou-se um dos mais famosos músicos da cidade. Apresentava-se em concertos com algumas estrelas da música alemã, em especial um violinista chamado Joseph Joachim, intérprete de sucesso na época, que sugeriu ao jovem Brahms que deixasse Hamburgo para procurar novos ares em algum lugar da Alemanha.
O primeiro lugar por onde parou foi Weimar, cidade de Goethe, onde Liszt estabelecera os novos padrões da música alemã. Apesar da recepção entusiástica de Liszt, o provinciano Brahms ficou desapontado com a verdadeira corte que cercava o músico. Além disso, em termos musicais, suas preferências não combinavam: consta que Liszt, quando conheceu Brahms, tocou para ele sua nova peça, a Sonata em Si Menor. A despeito dos efeitos grandiosos da obra, ao final Liszt viu que seu visitante adormecera na poltrona.
A próxima parada foi Bonn, onde conheceu o casal Schumann. Em pouco tempo passou a morar na casa de Robert, tornando-se um membro da família. Quando Schumann, em uma crise de loucura, atirou-se ao Reno, Brahms, como um filho mais velho, tomou sobre si as responsabilidades da casa. Clara, esposa de Robert, tornou-se sua grande amiga e companheira, representando para ele, de certa forma, o que Nadeja Von Meck foi para Tchaikovsky.
Muito se especulou se a amizade de ambos foi apenas amizade ou algo mais, mas, no final, todos os autores concordam que Brahms e Clara jamais se apaixonaram. Robert Schumann logo deixou claro para Brahms que não tinha nada para lhe ensinar. Brahms continuou morando com os Schumann (e se apaixonou por Julie, uma das filhas do casal) até 1856, quando Robert morreu.
Morto seu amigo, Brahms iniciou uma peregrinação por toda a Europa, apresentando-se em concertos e procurando um emprego fixo. Durante esse tempo não deixou de compor: esboçou uma sinfonia, criou várias peças menores e, em 1958, escreveu seu primeiro Concerto para Piano, que estrou no ano seguinte, para uma fria audiência, em Hanôver.
Em 1862, excursionou pela primeira vez a Viena, onde encontrou o ambiente que queria: uma vida musical florescente, a sombra de Beethoven pairando alto e, por que não dizer, boa comida.
Apesar de preferir trabalhar por conta - e assumir os riscos dessa posição - Brahms aceitou, em 1864, o posto de Diretor da Singakademie de Viena. Sua posição como compositor, inscrevendo-se na descendência direta de Beethoven e, de certa forma, contra a "Nova Escola" alemã representada por Wagner e Liszt, fez com que Brahms logo fosse alçado como o antagonista por excelência de Wagner (em especial por Edouard Hanslick, um crítico musical), quando na verdade Brahms só estava sendo fiel aos princípios nos quais acreditava, chegando mesmo, em algumas ocasiões, a expressar sua admiração por determinadas obras de Wagner.
Em Viena tornou-se uma figura quase folclórica: com seu corpo pesado, coroado por uma cabeça leonina e uma grande barba branca que davam-lhe um ar sério e risonho ao mesmo tempo. Sua amizade com Clara Schumann vencia o tempo e as dificuldades, continuando até a morte dela, em 1896. Sozinho - nunca se casou, apesar do sucesso que fazia com as mulheres em sua juventude - e sem sua grande amiga, Brahms escreveu ainda algumas obras, falecendo em 3 de abril de 1897.
Suas obras
Brahms não é um compositor de efeitos especiais, como Liszt ou Wagner. Ao contrário, sua música está mais próxima de Schubert e Mozart do que qualquer um de seus contemporâneos. Sem ter a pretensão de ser um revolucionário, Brahms desenvolveu com perfeição as formas musicais já estabelecidas. Detalhe: apesar de ser um grande compositor de canções, Brahms nunca compôs óperas.
Sinfonias e Concertos:
Sinfonia n. 3 - Influenciada por Beethoven e Schumann, esta obra é uma das mais fáceis do repertório de Brahms. A abertura traz, na notação por letras usada na Alemanha, Inglaterra e E.U.A, a divisa de Brahms: F.A.F - "Livre, mas solitário". Após o arrebatador primeiro movimento e um pequeno Scherzo, o terceiro movimento destaca-se como um trecho meditativo, triste e deprimido, do qual já foram feitos arranjos para todos os tipos de instrumentos. Não se deixe enganar: o original é sempre o melhor.
Os dois Concertos para Piano são muito bonitos, mas não alcançam o nível da terceira sinfonia. Já o Concerto Duplo para Violino e Violoncelo e as Variações sobre um Tema de Haydn são excelentes obras que servem, especialmente esta última, para familiarizar o ouvinte com o universo de Brahms.
Obras para piano e órgão
Duas pequenas coletâneas, as Peças para Piano op. 76 e os Três Intermezzos, op. 117, são a melhor introdução ao estilo pianístico de Brahms. São peças tristes, calmas e de certa maneira deprimidas - exatamente o estado de espírito do compositor na época em que as criou e, de resto, por toda a sua vida. Os Onze Corais, op. 93, para órgão, seguem o mesmo estilo, mas sob a influência inegável de J.S.Bach.
Extraído de: www.movimento.com
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