Neschling sai da OSESP, francês assume.

    Autor Mensagem
    Alvaro Henrique
    Veterano
    # jan/09


    ASSINE BATE-PAPO BUSCA E-MAIL SAC SHOPPING UOL




    São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


    Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

    Francês é substituto temporário na Osesp
    Yan Pascal Tortelier regerá a orquestra até o segundo semestre de 2010, quando um novo maestro será escolhido

    Tortelier já foi titular da Filarmônica da BBC e esteve à frente da Osesp em 2008; ele substitui John Neschling, demitido anteontem

    JOÃO BATISTA NATALI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    John Neschling será substituído na Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado) pelo maestro francês Yan Pascal Tortelier, 61. A contratação será anunciada o mais tardar em dez dias.
    Ele regerá a orquestra até o segundo semestre de 2010, quando um novo regente, a ser escolhido por uma comissão, se tornará o titular definitivo.
    O maestro francês esteve à frente da Osesp por duas semanas, em maio do ano passado, em programas de música francesa que deixaram os músicos e o público bem impressionados.
    Ele substituiu de última hora o também francês Michel Plasson, inicialmente contratado para aqueles concertos.
    Filho do violoncelista Paul Tortelier (1914-1990), Yan Pascal Tortelier já foi titular da Filarmônica da BBC, de Manchester, e da Sinfônica de Pittsburgh. A Folha não conseguiu localizar o maestro, que mora em Londres, e seu empresário estava viajando.
    Ao assumir a Osesp, ele terá problemas de agenda. No final de abril deveria reger a Sinfônica de San Francisco, na mesma semana em que Neschling dirigiria em São Paulo uma versão de concerto de "Falstaff", ópera de Giuseppe Verdi. Tortelier tem ainda concertos agendados em Pittsburgh (EUA) e Melbourne (Austrália).
    Neschling foi demitido anteontem, por e-mail, por Fernando Henrique Cardoso, presidente do conselho da fundação que é responsável pela administração da orquestra. Procurado pela Folha, FHC disse, por sua assessoria, que não dará nenhuma declaração adicional sobre a demissão. O maestro se desgastou por atritos com o governador José Serra, com o secretário estadual da Cultura, João Sayad, e com músicos, que o julgavam arrogante e se queixavam de seu autoritarismo.
    Também entrou em choque com os integrantes do conselho da orquestra, que acusou em dezembro de "irresponsáveis" no processo de escolha de seu sucessor. Seu contrato expiraria em outubro de 2010. A informação sobre a demissão o pegou de surpresa. Sayad não quis comentar a maneira como se deu a demissão: "Cabe à Fundação Osesp se pronunciar", disse.
    A Folha apurou que pouco depois das 16h de anteontem FHC enviou ao maestro, que está na Suíça, e-mail que o alertava para a importância de um comunicado que lhe seria enviado em seguida. Sem mais informações, Neschling mobilizou amigos e só por volta das 19h30 soube do que se tratava.
    Às 20h10 os músicos recebiam e-mail com a notícia da demissão, e pouco depois o site da orquestra exibia carta assinada por FHC que reprimia o maestro pela "gravidade" de suas críticas ao conselho e deixava "poucas dúvidas" quanto a sua suposta intenção de manter uma relação de conflito.
    Ontem pela manhã a Folha teve rápida conversa telefônica com ele. "Eu não quero falar sobre nada", afirmou, da Suíça, depois de se dizer "chocado".
    A escolha de Tortelier, embora mantida em sigilo, já estava feita. Não está claro se ele cumprirá os compromissos assumidos por Neschling. A orquestra tem turnê pelos EUA no segundo semestre. A temporada de 2009 começa em 5 de março com o oratório "Paulus", de Felix Mendelssohn-Bartholdy. Antes disso, em 12/ 2, os músicos se fechariam por duas semanas para gravações.
    Entre as peças do CD estão as "Séries Brasileiras", de Alberto Nepomuceno (1864-1920).
    Em junho último o conselho anunciou que o contrato de Neschling não seria renovado, contrariamente aos planos dele de permanecer até 2012.

    Repercussão
    Segundo um de seus amigos, a fundação acreditou que Neschling estava disposto a reverter a situação por meio da mobilização do público da Sala São Paulo. Manifesto na internet pela permanência tinha ontem 1.184 assinaturas; comunidades do Orkut pediam o mesmo. Em de 13 de dezembro, o público o aplaudiu ao final do concerto aos gritos de "fica, fica".
    Nelson Freire e Antonio Meneses, os dois músicos eruditos brasileiros de maior projeção internacional, lamentam a demissão. "Ele transformou a Osesp numa orquestra de primeiro mundo", diz Freire. "Espero que essa história seja repensada e que ele volte." Meneses diz estar "realmente chocado": "Neschling é possivelmente o músico que fez a maior diferença na música brasileira dessas últimas décadas e merecia ao menos uma despedida digna de suas realizações".



    ---------------------------------------------------------------------- ----------
    Colaborou IRINEU FRANCO PERPETUO



    ASSINE BATE-PAPO BUSCA E-MAIL SAC SHOPPING UOL




    São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


    Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

    Análise

    Renovação de orquestra e criação da Sala São Paulo são marcos da Era Neschling
    ARTHUR NESTROVSKI
    ARTICULISTA DA FOLHA

    Como fica a Osesp agora? Um dia depois da notícia da demissão do maestro Neschling, essa, naturalmente, é a pergunta que todos se fazem. Uma primeira resposta prática já foi anunciada, com a devida eloquência: Yan Pascal Tortelier será o novo regente titular, com contrato de dois anos (2009-2010). Depois acontece o processo de escolha do novo diretor artístico, que assume em 2011.
    Desde junho do ano passado, quando o Conselho da Fundação Osesp aceitou o pedido do próprio Neschling de não renovar seu contrato, muitas versões têm circulado sobre o episódio. Quase nunca se relata a sequência de fatos.
    Aconteceu o seguinte: depois de três anos de atividade, o Conselho resolveu chamar especialistas para estudar melhor como se administra uma orquestra, segundo padrões internacionais. A notícia chegou ao maestro, que a interpretou da pior forma e reagiu anunciando pela imprensa sua decisão de não prosseguir à frente da Osesp depois de 2010.
    O Conselho só podia mesmo confirmar a saída do regente. Neschling em princípio ficaria com a Osesp nas próximas duas temporadas. Durante esse tempo, seria iniciada a busca de um novo diretor artístico, com orientação de dois experts.
    Resumo: sentindo-se ofendido ao ver contestada sua autoridade total sobre a orquestra, o maestro foi diretamente à imprensa. O Conselho ou voltava atrás, e perdia o respeito, ou mantinha-se firme e perdia o maestro. Perdeu o maestro -nos dois sentidos da frase.
    De lá para cá, Neschling deu várias declarações agressivas. Isso, mais uma carta de protesto dos músicos -que até então não tinham dado um pio- foi o sinal que faltava para que o Conselho demitisse o maestro.
    Os mais de 11 mil assinantes da Osesp vão chiar; mas tudo mostra que Neschling chegou ao limite -até ele, que sempre passou dos limites.

    Legado
    Com este longo ciclo da orquestra chegando ao fim, ninguém pode tirar do maestro a glória de ter realizado, contra todas as expectativas, o mais ambicioso e mais bem sucedido projeto musical nessa área de que já se teve notícia entre nós.
    A renovação da Osesp, a partir de 1997, e a construção da Sala São Paulo (inaugurada em 1999) são marcos de um período que será conhecido com justiça como a Era Neschling. Não só se chegou a resultados musicais de alto nível, mas mudou-se a forma de administrar as coisas, criando um modelo hoje seguido, em alguma medida, por muitas instituições.
    O mínimo que se pode dizer é que a Osesp de Neschling desprovincianizou a música clássica brasileira, com repercussões em outras áreas. Cabe enfatizar que a programação de concertos ao longo desses 12 anos foi excepcionalmente interessante, com raros exemplos análogos, mesmo entre as maiores orquestras do mundo. Abriu espaço ainda para o reconhecimento da música brasileira, lá fora não mais do que aqui.
    A temporada 2009 já está fechada e não deve sofrer mudanças, sob o comando de Tortelier. A do próximo ano, imagina-se, também. Crucial agora será encontrar um diretor artístico capaz não só de fazer a orquestra crescer musicalmente, como ela pede, mas de sustentar à altura seu projeto cultural. Esse terá sido maior legado da Era Neschling. Direta ou indiretamente, em maior ou menor escala, todos nós somos hoje o resultado; tomara que não o seu fim.


    A ERA NESCHLING

    Veja os momentos que marcaram o período do regente na Osesp
    dez.1996
    John Neschling é nomeado para a direção artística da Osesp; ele atuava como diretor artístico das casas de ópera de Saint Gallen (Suíça) e Bordeaux (França)

    9.jul.1999
    - A Osesp estreia em parte da antiga estação Júlio Prestes, que tem como centro a Sala São Paulo, executando "Sinfonia nº 2 - Ressurreição", de Gustav Mahler; prometida para dezembro do ano anterior e com custos de cerca de R$ 45 mi, a sala tem 1.509 lugares

    out.2000
    - Pela primeira vez em sua história, a Osesp faz turnê pela América Latina, se apresentando no Peru e na Argentina

    23.ago.2001
    - Neschling é vaiado por estudantes de música da Escola Municipal de Música, da Unesp e da USP; os alunos protestavam contra a demissão de sete integrantes do corpo da orquestra e contra uma suposta atitude desrespeitosa do regente em relação aos funcionários da orquestra

    fev.2002
    - A Osesp grava para o selo sueco Bis três obras de Camargo Guarnieri; outros autores nacionais também têm CDs gravados pela orquestra

    21.mai.2002
    - Reportagem da Folha revela contrato de Neschling, que recebe cerca de R$ 1,16 milhão por ano para o seu cumprimento

    25.jul.2002
    - Governo reduz salário do maestro para cerca de R$ 800 mil anuais

    out.2002
    - A Osesp começa sua primeira turnê pelos EUA, com 20 concertos em 18 cidades

    out.2003
    - A Osesp parte para sua primeira excursão européia, com duas apresentações na Alemanha e cinco na Suíça

    jun.2005
    - Começam as rusgas públicas entre Minczuk e Neschling, tendo como catalisador a nomeação de Minczuk, que atuava como regente convidado, como o titular da regência da OSB, no Rio; Neschling envia uma carta de "destrato" a Minczuk
    - É fundada a Fundação Osesp, presidida por FHC

    nov.2007
    - A coluna Mônica Bergamo informa que uma fala atribuída a Neschling, em que ele chama o governador José Serra de "menino mimado" e "autoritário", é veiculado pelo site YouTube. As falas creditadas ao maestro teriam sido gravadas sem que ele soubesse

    19.jun.2008
    - Neschling anuncia que não pretende renovar seu contrato com a Fundação Osesp, que acaba em 31 de outubro de 2010, mas que pode ser prorrogado até dezembro

    21.jan.2009
    - Neschling é demitido da Osesp

    Pseudonimum
    Veterano
    # jan/09
    · votar


    Achei uma pena, esse Neschling é muito bom.

    Khronos
    Veterano
    # jan/09
    · votar


    HA

    Ken Himura
    Veterano
    # jan/09
    · votar


    Menos um, vamos ver se vem algum diretor não fdp agora.

      Enviar sua resposta para este assunto
              Tablatura   
      Responder tópico na versão original
       

      Tópicos relacionados a Neschling sai da OSESP, francês assume.