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Black Fire Gato OT 2011 |
# 16/nov/23 09:15
Eleito por mim como a obra de arte que mais me perturbou em todos os tempos depois dos quadros dos menino chorando do satã.
https://d3d00swyhr67nd.cloudfront.net/w800h800/collection/NML/WARG/NML _WARG_WAG_2743-001.jpg
A obra retrata um Auto de fé:
Auto de fé era o ritual de penitência pública de hereges e apóstatas que ocorria quando a Inquisição Espanhola, a Inquisição Portuguesa, a Inquisição mexicana ou outras inquisições decidiam a sua punição, seguida da execução das sentenças pelas autoridades civis. Nos autos de fé, os hereges podiam abandonar a heresia que alegadamente professavam (o que os tornaria "reconciliados" com a Igreja, merecedores de penas leves), continuar fiéis às suas crença ou "crimes" heréticos (eram os "negativos") ou ficar-se por uma confissão julgada incompleta (eram os chamados "diminutos"). Estes dois últimos casos levariam a penas graves, como prisão perpétua, morte pelo garrote ou fogueira.
As punições para os condenados pela Inquisição iam da obrigação de envergar um sambenito (espécie de capa ou tabardo penitencial), passando por ordens de prisão e, finalmente, em jeito de eufemismo, o condenado era relaxado à justiça secular, isto é, entregue aos carrascos da Coroa (poder secular, em oposição ao poder sagrado do clero). O Estado secular procedia às execuções como punição a uma ofensa herética, no seguimento da condenação pelo tribunal religioso. Se os prisioneiros desta categoria continuassem a defender a heresia e a repudiar a Igreja Católica, eram queimados vivos ou garrotados. Contudo, se mostrassem arrependimento e decidissem reconciliar-se com o catolicismo, eram absolvidos.
Os autos de fé decorriam em praças públicas e outros locais muito frequentados, tendo como assistência regular representantes das autoridades eclesiástica e civil. Um auto de fé era uma cerimónia com pompa e circunstância, uma exibição do poderio dos inquisidores. Ao mesmo tempo, uma festa popular, anual e dispendiosa, e o povo que assistia levava petiscos como para um piquenique.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Auto_de_f%C3%A9
Dissertem.
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Jonas Kahnwald Membro Novato |
# 16/nov/23 09:20
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Black Fire e o povo que assistia levava petiscos como para um piquenique.
É tipo ir ao antigo coliseu pra ver um pé rapado ser decapitado, comido por leões, ou lutar até a morte contra um gladiador
Com a diferença de, no ultimo caso, ter o apoio da ICAR
o que eu tenho a dizer sobre isso? ¯\_(ツ)_/¯
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Black Fire Gato OT 2011 |
# 16/nov/23 09:22
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Jonas Kahnwald É pra focar no quadro.
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LeandroP Moderador |
# 16/nov/23 09:23
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Caramba! Os cristãos mataram mais do que os comunistas?! meodeos...
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Black Fire Gato OT 2011 |
# 16/nov/23 09:26
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Os cristãos mataram mais do que os comunistas?!
Carece de fontes. Foca no quadro.
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Jonas Kahnwald Membro Novato |
# 16/nov/23 09:26
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Black Fire É pra focar no quadro.
Provavelmente a moça foi considerada bruxa e tá prestes a ser queimada né? Terrivel! Pior é ver que até crianças participavam desses autos, de alguma forma
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makumbator Moderador
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# 16/nov/23 09:35
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Black Fire
Esse “seriam absolvidos” significava realmente sair ileso ou era igual aqueles julgamentos de bruxaria em que a pessoa mesmo perdoada era queimada!
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LeandroP Moderador |
# 16/nov/23 09:36
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Black Fire
Foca no quadro.
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makumbator Moderador
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# 16/nov/23 09:36
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LeandroP
Mas quantos daqueles não eram proto comunas sem saber?
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Black Fire Gato OT 2011 |
# 16/nov/23 09:37
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Jonas Kahnwald a moça foi considerada bruxa
Improvável, a cena é da Inquisição Espanhola, não foram muitos casos de bruxaria nessa Inquisição, é mais provável que ela tenha sido condenada por alguma coisa relacionada ao judaísmo, eu acho.
Pior é ver que até crianças participavam desses autos
Também, mas olha toda a estética desse troço: o menininho segurando a cruz com o machado, as imagens de demônios no sambenito, a tensão da menina puxando os dedos, o olhar de indiferença do menino e do homem, a inscrição Justiça e Misericórdia no muro.
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Lucmac Veterano |
# 16/nov/23 10:36 · Editado por: Lucmac
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Arte sacra é espetacular. Os elementos de uma inquisição estão todos postos, a tocha que acenderá a fogueira, as expressões. A mulher olhando para cima, demonstrando que sua fé é inabalável, ao estilo "senhor, perdoem-nos! eles não sabem o que fazem!". A criança empática e o carrasco sereno, crente de que é a mão de Deus ali.
Cabem diversas interpretações.
Qual a sua?
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Wanton Veterano |
# 16/nov/23 11:07
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Cadê o Lelo?
Bora falar de arte, então.
A primeira coisa que noto é que esse quadro tem uma composição esquisita. Tem erros nas projeções das sombras. A anatomia parece ok. A perspectiva daquela construção no canto direito está errada. A expressão dos braços dela tá muito interessante. A flor do topo do arranjo parece uma mão indicando o número três.
O quadro é da Inglaterra vitoriana, da última década do século XIX, ou seja, é bem posterior à inquisição. Não deve ser entendido como uma obra da inquisição.
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Black Fire Gato OT 2011 |
# 16/nov/23 11:13
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Wanton
A primeira coisa que noto é que esse quadro tem uma composição esquisita.
Isso me perturbou também.
O quadro é da Inglaterra vitoriana, da última década do século XIX
É verdade, mas a representação me parece fiel as descrições dos autos de fé.
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Jonas Kahnwald Membro Novato |
# 16/nov/23 11:15
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Wanton referente à estética da obra, achei o rosto da moça bem andrógino... se não fosse o cabelo comprido eu teria achado se tratar de um homem (na realidade, de relance inicialmente, mesmo com o cabelo longo, eu pensei que fosse)
Black Fire é mais provável que ela tenha sido condenada por alguma coisa relacionada ao judaísmo, eu acho. entendi, vc fala isso por conta dos traços físicos / étnicos dela?
mas olha toda a estética desse troço: o menininho segurando a cruz com o machado, as imagens de demônios no sambenito, a tensão da menina puxando os dedos, o olhar de indiferença do menino e do homem, a inscrição Justiça e Misericórdia no muro.
O menino tem um olhar dúbio, na minha visão. Poderia tanto ser interpretado como vc falou ou como o Lucmac falou.
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Wanton Veterano |
# 16/nov/23 11:19
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Jonas Kahnwald achei o rosto da moça bem andrógino.
É bem parecido com as Mariannes da Revolução Francesa.
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Black Fire Gato OT 2011 |
# 16/nov/23 11:21
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Jonas Kahnwald entendi, vc fala isso por conta dos traços físicos / étnicos dela?
Não, é que a Inquisição Espanhola condenou muito pouco por bruxaria, o foco era em cripto-judeus.
O menino tem um olhar dúbio, na minha visão. Poderia tanto ser interpretado como vc falou ou como o Lucmac falou.
É verdade.
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Jonas Kahnwald Membro Novato |
# 16/nov/23 11:24 · Editado por: Jonas Kahnwald
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Wanton É bem parecido com as Mariannes da Revolução Francesa.
não manjo, mas ela me lembrou um pouco o rosto da Kim Wexler, de Better Call Saul
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Wanton Veterano |
# 16/nov/23 12:04
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Jonas Kahnwald não manjo
Essa versão é mais ou menos conhecida.
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Jonas Kahnwald Membro Novato |
# 16/nov/23 13:16 · Editado por: Jonas Kahnwald
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Wanton agr entendi!
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Black Fire Gato OT 2011 |
# 08/jan/24 09:59
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Quando a procissão de sábado à noite findava, a população era novamente convidada a presenciar a cerimônia do auto-de-fé, que seria feita poucas horas depois, com a renovação das promessas das graças e indulgências feitas no édito de fé. Uma nova procissão se formava nas proximidades do amanhecer do domingo. Os réus outra vez saíam dos cárceres, em ordem, mas desta vez de uma forma bem diferente daquela anterior. A procissão agora era organizada conforme o crime do réu. Logo à frente, iam os homens suspeitos de crime contra a moral religiosa, a exemplo dos sodomitas.
Depois, os abjurados de levi, aqueles que cometeram crimes considerados leves contra a fé; carregavam em suas vestes um sambenito amarelo, apenas com um desenho do rosto do réu, seu nome e culpa. Em seguida, vinham os abjurados de vehementi, com graves suspeitas na fé; por conta disso, o sambenito tinha características mais diferenciadoras: também era amarelo, mas vinha com uma Cruz de Santo André de cor vermelha na parte da frente do hábito. Logo adiante vinham os “negativos”, aqueles que durante os interrogatórios sempre alegaram inocência e negaram-se em reconhecer suas culpas.
Pela gravidade que apresentavam poderiam ser condenados à pena capital e, por isso, eram os primeiros que traziam nos sambenitos imagens de seus rostos envoltos de chamas. Caso estivessem previamente condenados à fogueira, as chamas eram voltadas para cima; por outro lado, se escapassem do fogo, os réus eram considerados “afogueados” e as chamas dos sambenitos caracterizavam-se pelo “fogo revolto”, ficando para baixo. Os negativos eram separados em grupos e os primeiros que saíam eram os “abjurados em forma”, aqueles que enfim reconheciam suas culpas e prometiam não mais cometer o pecado; estes eram acompanhados de familiares da Inquisição e de padres e eram coagidos a confessarem suas culpas para evitar a condenação à pena capital. Logo após vinham as mulheres, organizadas da mesma forma que os homens, alinhadas conforme o grau de seus crimes.
Por fim, na ponta da fila da procissão e com um número elevado de familiares da Inquisição e religiosos, vinham os relaxados, que seriam condenados à morte. Estes já tinham noção de sua punição. Também eram organizados conforme a gravidade das culpas. Primeiramente vinham os “diminutos”, que por algum motivo omitiram a denúncia contra alguém. Esta atitude era considerada por malícia e durante os interrogatórios recomendava-se o uso do tormento, isto é, da tortura para se obter provas; em caso de persistência na omissão, aí sim o acusado era levado ao auto-de-fé e condenado à morte. Em seguida, vinham os “relapsos”, os quais já haviam se arrependido de culpas anteriores, mas voltaram à heresia; de acordo com Elias Lipiner, para estes “não havia misericórdia e deviam ser condenados ao fogo irremediavelmente”. Por fim, era a vez dos “pertinazes”, aqueles que declaravam morrer judeu na “Lei de Moisés”; neste caso, o crime era considerado de gravidade máxima e o sentenciado era queimado vivo. Em boa medida, eram aos pertinazes que os sermões eram pregados. Constantemente, os relaxados eram exortados para, ao menos, morrer na Lei de Cristo, para assim ser uma morte menos dolorosa, não apenas em corpo, mas principalmente na alma – pois evitaria ser condenado ao fogo do inferno; esta exortação seria frequentemente retomada pelos pregadores.
Logo em seguida aos réus vinham as principais autoridades religiosas, na chamada “procissão dos Inquisidores”. Levavam os símbolos da Inquisição, como o estandarte do Santo Ofício, o qual foi utilizado em público pela primeira vez no auto-de-fé em Coimbra, no ano de 1623. A data e a importância do emblema demonstram, mais uma vez, a necessidade de um fortalecimento da imagem da Inquisição perante seu público e, principalmente, seus críticos. Os símbolos da Igreja vinham a seguir, como a Cruz Verde, cor que representava fé e esperança. Algumas insígnias eram incorporadas conforme os interesses que a Igreja pretendia passar aos seus fiéis. Na já referida carta de D. João de Mello ao rei D. João III, o inquisidor informou que a procissão contara com um “crucifixo muito devoto, que mandei fazer [...] e isto pacificava muito o povo e fazia devoção”. Finalmente, seguiam-se as autoridades seculares, responsáveis pela execução da justiça. A procissão findava quando todos chegavam ao cadafalso, já devidamente preparado. Ao aproximarem-se do lugar eram acolhidos por uma parte do público que lá se encontrava entoando o tradicional hino Veni Creator Spiritus [Venha Espírito Criador].
https://www.academia.edu/12286795/_E_Cristo_%C3%A9_a_%C3%BAnica_voz_de _todo_o_mundo_a_defesa_da_Respublica_Christiana_nos_serm%C3%B5es_de_au tos_de_f%C3%A9_da_Inquisi%C3%A7%C3%A3o_Portuguesa
Carai.
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