A patacoada do copyright e suas implicações

    Autor Mensagem
    Wild Bill Hickok
    Membro Novato
    # mar/20


    https://www.3dprintingmedia.network/covid-19-3d-printed-valve-for-rean imation-device/

    TL;DR: https://scontent.fcgh10-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/90596259_102169896188 34864_6143945313859141632_n.jpg?_nc_cat=108&_nc_sid=110474&_nc_oc=AQkm SGqH_dV-3-hLGCQuZW37gOTFylEQ_KhM4Gzi9X_tHVukLd6hVULonlX0emP-7FI&_nc_ht =scontent.fcgh10-1.fna&oh=fecf6b888c74c9c0ab6be470d87b717b&oe=5E9F9F10

    Propriedade intelectual = Jim Carrey. Dissertem, ou não.

    Lelo Mig
    Membro
    # mar/20 · Editado por: Lelo Mig
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    Wild Bill Hickok

    Eu até sou à favor da proteção de direitos, via de regra.

    Mas, em casos extremos, foda-se. É botar o arquivo stl na rede e que se dane.

    Futuramente o detentor dos direitos até poderá processar que fez e vendeu, ou seja, obteve lucro com a válvula.

    Mas, muito provavelmente não vencerá nenhum processo movido contra quem produziu gratuitamente para suprir o mercado emergencialmente.

    Jonas Kahnwald
    Membro Novato
    # mar/20
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    Outra área difícil de se proteger "direitos autorais" é a produção de conteúdo lírico, ou artístico, pois "não há nada de novo debaixo do sol"

    Wild Bill Hickok
    Membro Novato
    # mar/20
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    Lelo Mig
    Jonas Kahnwald
    Propriedade intelectual é algo que eu não consigo respeitar de modo algum. Ideias não estão sujeitas a escassez, logo o conceito de propriedade privada nao pode se aplicar a isto. Não faz o menor sentido. O lobby farmacêutico agradece.

    Lelo Mig
    Membro
    # mar/20 · Editado por: Lelo Mig
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    Wild Bill Hickok

    Eu tenho uma visão dúbia, e confesso, não fechada sobre o assunto. Mas, não linko o conceito "propriedade intelectual com propriedade privada" como fazem a maioria dos liberais. Em minha compreensão são assuntos distintos.

    Acho que quem desenvolve, inventa, cria algo "novo", têm "direito" a linkar seu nome e obter ganhos por isso. Vejo, inclusive, como uma forma de estimular a pesquisa, a ciência, e o desenvolvimento de produtos, incluindo aí inventores e cientistas amadores.

    Mas, reconheço que há todo um outro lado na questão que envolve o que "é melhor para a coletividade".

    Acho que é possível uma razoabilidade. Eu sempre que consigo prezo pela razão, pelo meio termo, em quase tudo. Toda posição extremada, para mim, é suspeita.

    Acho que foi minha criação, meu pai costumava dizer:

    Nunca conheci um fanático realmente bom. Todo fanatismo, inclusive o religioso, esconde o pior do homem e têm mais a ver com ódio por muitos do que o amor por um.

    st.efferding
    Membro
    # mar/20
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    Wild Bill Hickok

    sai daqui seu ancap fedorento

    Wild Bill Hickok
    Membro Novato
    # mar/20 · Editado por: Wild Bill Hickok
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    Lelo Mig
    Mas, não linko o conceito "propriedade intelectual com propriedade privada" como fazem a maioria dos liberais

    Eu nao vejo como assuntos distintos: em "propriedade" trata-se de algo que pertence a alguem (dono). Não existe outra definição dentro desse contexto.

    Acho que quem desenvolve, inventa, cria algo "novo", têm "direito" a linkar seu nome e obter ganhos por isso. Vejo, inclusive, como uma forma de estimular a pesquisa, a ciência, e o desenvolvimento de produtos, incluindo aí inventores e cientistas amadores.

    No final das contas toda a defesa de PI recai no argumento "mas e como fica o fulano que criou x?". Isso é insuficiente pra validar a idéia. Mas já que vc partiu pro lado utilitarista... já ouviu falar daquele estudo sobre pirataria encomendado pela uniao européia que ficou por debaixo dos panos depois que foi concluído que a pirataria pode até ser benéfica a indústria?

    Wild Bill Hickok
    Membro Novato
    # mar/20
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    st.efferding
    =* ( )*( )

    Lelo Mig
    Membro
    # mar/20
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    Wild Bill Hickok

    ""propriedade" trata-se de algo que pertence a alguem (dono). Não existe outra definição dentro desse contexto."

    Com relação a palavra, significado, não há diferença. Mas não me refiro ao substantivo, poderia até colocar outro, me refiro ao sentido.

    Acho que quem inventou a válvula XYZ, por exemplo, tem algum direito por sua invenção. Num prazo X, receber X%, de todo mundo que "LUCRAR" com sua invenção.

    Acho justo e acho que incentiva a tecnologia.

    Qual percentual? Por quanto tempo? Em que condições? Isso não tenho estofo argumentativo e intelectual para opinar. por isso deixei claro que minha visão sobre o assunto é meio dúbia e aberta a entender melhor.

    Gandalf the White
    Membro Novato
    # mar/20 · Editado por: Gandalf the White
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    Alguém sabe um bom site pra baixar artigos cientificos, principalmente aqueles que saem em revistas espeializadas?

    O Library Genesis tava indo bem, mas ta me decepcionando.

    http://gen.lib.rus.ec/

    solitude
    Membro Novato
    # mar/20 · Editado por: solitude
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    Lelo Mig

    Acho que quem inventou a válvula XYZ, por exemplo, tem algum direito por sua invenção. Num prazo X, receber X%, de todo mundo que "LUCRAR" com sua invenção.

    Eu concordo com isso, mas também acho que é muito melhor pra sociedade que essas ideias circulem livremente, pra serem aproveitadas e aprimoradas por qualquer pessoa. A gente avançaria muito mais rápido. Mas novamente, pesquisador no mínimo precisa comer e pagar o aluguel...

    Esse negócio de "propriedade" intelectual na verdade é uma das contradições do capitalismo que não podem ser resolvidas dentro do sistema, ou dentro de uma lógica de escassez. Sendo alguém que começou o pensamento político pelo iluminismo, valorização do avanço científico e etc, isso aí foi uma das coisas que me empurraram diretão pro socialismo.

    Viciado em Guarana
    Veterano
    # mar/20
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    pnc de copyright!

    Aquilo é partido pirata!

    JJJ
    Veterano
    # mar/20
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    Estamos em um momento totalmente anormal. Quase tudo tem que ser relativizado num momento desses.

    Lelo Mig
    Membro
    # mar/20
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    solitude

    "essas ideias circulem livremente, pra serem aproveitadas e aprimoradas por qualquer pessoa."

    Isso bem ou mal acaba acontecendo.

    Não acredito em avanço científico e tecnológico sem liberdades individuais e ganhos. Acho possível pagar sem ser injusto e também sem proteger excessivamente.

    Socialismo e capitalismo, ambos os sistemas econômicos já demostraram ser ineficazes para gerar bem-estar à maioria da população. Por isso a discussão capitalismo ou socialismo, em minha opinião, é olhar para trás. Já citei aqui em outro post qualquer, tanto o capitalismo quanto o socialismo é estar no presente olhando para trás.

    solitude
    Membro Novato
    # abr/20 · Editado por: solitude
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    Lelo Mig
    Não acredito em avanço científico e tecnológico sem liberdades individuais e ganhos.

    Assim, em 1917 a Rússia era um país semifeudal e em 1957 tava dando a largada na corrida espacial. Em 40 anos saíram do arado pro satélite, e ficaram na frente até dos EUA na corrida por 12 anos, e nos outros termos era o segundo poder tecnocientífico no mundo. A China passa por um processo parecido, apesar de um pouco menos impressionante.

    Não que eu concorde com o modelo que eles escolheram, até porque são completamente diferentes. Mas se não fosse possível ter avanço tecnocientífico sem liberdade, eles teriam continuado sendo fazendas, em vez de se tornado a segunda (em alguns aspectos, a primeira) potência tecnológica.

    Socialismo e capitalismo, ambos os sistemas econômicos já demostraram ser ineficazes para gerar bem-estar à maioria da população.

    Em termos materiais (saúde, educação, segurança, moradia, etc - lembre, até hoje ele só aconteceu em país onde a maior parte era miserável) o socialismo sempre melhorou a vida da maioria da população, depois que os conflitos principais terminaram de se resolver. Tanto nos modelos que ficam mais longe do ideal (URSS, Cuba) quanto nos que se aproximam mais dele (Rojava, Catalunha Revolucionária). Isso é meio que incontestável também, até a CIA reconhece (tem uma porrada de relatórios deles sobre o assunto).

    Por isso a discussão capitalismo ou socialismo, em minha opinião, é olhar para trás.

    Como que seria olhar pra trás?

    Veja, a questão do sistema econômico é que ele determina a alocação dos recursos. O lado político dele é relacionado a quem controla essa alocação, porque por tabela são esses que controlam a sociedade.

    O feudalismo já foi hegemônico. Oficialmente a gente tinha reis, oficialmente eles eram a última autoridade, mas a gente chama essa época de feudalismo porque o poder real (controle da produção) ficava com os senhores feudais. Eles determinavam os rumos. E isso era o modelo hegemônico de sociedade.

    Quando os reis suplantaram de fato os senhores feudais, entramos nas monarquias absolutistas, e essa virou a hegemonia até lá pro final do século 18.

    Mesma coisa vale pro capitalismo: o capital derrubou as monarquias, começando nesse final do século 18, e passou a ter o controle da produção (de forma difusa, obviamente, semelhante aos senhores feudais). Por ter o controle da produção, determinaram os rumos da sociedade. E o capitalismo passou a ser o modelo hegemônico, e continua sendo até hoje. Olhar pro capitalismo é olhar pro presente, ele nunca foi superado.

    Da mesma forma, como que pensar em socialismo é olhar pra trás nesse contexto, se ele nunca foi hegemônico? Muito longe disso, ele só aconteceu em países periféricos. Que podem até ter chegado a ameaçar a hegemonia em certos pontos - a própria social democracia foi criada justamente como uma resposta a essa ameaça, comprovando o sucesso parcial das revoluções - mas nunca substituiu.

    Não vimos ainda a classe capitalista ser derrubada e substituída por outra na maior parte dos países, como aconteceu com os monarcas, como aconteceu com os senhores feudais. Enquanto isso não acontecer, cogitar sobre essa derrubada é olhar pra frente, não pra trás.

    solitude
    Membro Novato
    # abr/20
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    Lelo Mig
    Isso bem ou mal acaba acontecendo.

    Aqui a gente concorda, uma hora o negócio vaza, na pirataria ou na espionagem. Ainda bem.

    Lelo Mig
    Membro
    # abr/20
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    solitude

    "Em 40 anos saíram do arado pro satélite, e ficaram na frente até dos EUA na corrida por 12 anos, e nos outros termos era o segundo poder tecnocientífico no mundo. A China passa por um processo parecido, apesar de um pouco menos impressionante."

    Em nenhum dos casos isso têm a ver com o regime, isso é uma ilusão, chega até ser ingenua esta leitura. Pelo contrário, essa é a prova que todo modelo político pode ser viável, se bem intencionado e administrado. Fosse assim Albânia, Coréia do Norte, as antigas Tcheckoslovaquia e Bulgária seriam desenvolvidas. A própria Cuba tecnologicamente é totalmente ultrapassada e vive "há uns 40 anos atrás" da maioria dos outros Países.

    A Alemanha Oriental, também, era um atraso só.

    A Rússia sempre foi muito rica, é um dos Países mais ricos do mundo há pelo menos 300 anos, possuem recursos naturais como poucos outros no planeta. É potência mundial desde o início do século 20. O nível de educação é muito alto, a população muito pequena, quase metade da do Brasil. Qualquer governo minimamente decente os coloca em boas condições. A coisa mais complicada na Rússia é o seu DNA para a corrupção, coisa que o regime comunista, em muitos aspectos, agravou.

    Atribuir o avanço tecnológico deles ao regime comunista é admitir que o capitalismo também promove, afinal os EUA, Alemanha, Japão, Israel e quase todos os países mais avançados são capitalistas ou de economias liberais.

    A China, ao contrário, depois de décadas de miséria e fome sob o regime de Mao, buscou no avanço tecnológico a solução para seus problemas crônicos e seculares, escravizando a população e abrindo a economia para o mundo. A China, hoje, é mais capitalista que o Brasil, por exemplo.

    As Alemanhas (antes da divisão) e as Coréias, eram e são o grande exemplo comparativo do quanto regimes fechados são nocivos a uma nação.

    Resumindo, repito, não é o regime que faz uma nação boa ou ruim. Se fizer uma análise séria, e isenta de preferências pessoais, verá que existem países bons e ruins sob todos os regimes, contudo, uma coisa é fato, quanto mais fechado, quanto mais totalitário e ditatorial, é pior.

    Todo ditador merece ser morto.

    solitude
    Membro Novato
    # abr/20 · Editado por: solitude
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    Lelo Mig
    Atribuir o avanço tecnológico deles ao regime comunista é admitir que o capitalismo também promove

    Mas eu admito isso, ué. Isso também é incontestável. O próprio Marx admitia isso.

    É potência mundial desde o início do século 20.

    Isso não é verdade. Nem pra liberais, nem pra comunistas, nem pra qualquer historiador sério. A Rússia do czarismo a essa época era considerada um poder médio, de influência meramente regional. Tava atrás, no mínimo, da Inglaterra, da França e da Alemanha, pra falar só dos mais importantes da Europa à época. Fora da Europa tava atrás do Japão e dos EUA, só pra citar dois.

    Era um estágio de desenvolvimento tão atrasado que metade do PIB deles ainda era do setor agrário e 2/3 da população trabalhava no campo. E não era por dedicação: até no setor agropecuário eles eram atrasados, com produtividade baixíssima e grande parte dos agricultores vivendo em subsistência, raramente produzindo excedentes significativos.

    Quando eu falo que ainda era um país semifeudal não é exagero.

    Alemanha, Japão, Israel e quase todos os países mais avançados são capitalistas ou de economias liberais

    Mas não foi exatamente isso que eu disse quando falei que eram o poder hegemônico e revolução socialista só tinha acontecido em países periféricos?

    Resumindo, repito, não é o regime que faz uma nação boa ou ruim.

    Eu não fiz (nem faço) julgamento de valor da nação.

    To falando especificamente de desenvolvimento tecnocientífico e de condições materiais, que podem melhorar a nação, mas não são capazes de torná-la boa ou ruim por si só. O desenvolvimento japonês, nos últimos 20 anos, tem jogado parcelas significativas da população na pobreza, por exemplo. Porque existem outros fatores que influenciam no processo.

    Meu ponto é que, como é o modelo de organização social que determina as regras de produção e alocação de recursos, é claro que o regime determina o processo de desenvolvimento.

    uma coisa é fato, quanto mais fechado, quanto mais totalitário e ditatorial, é pior.

    Em termos de desenvolvimento isso simplesmente não é verdade, cara. Você pode dizer que em termos gerais é pior, porque você valoriza certos aspectos em detrimento de outros. E eu provavelmente vou concordar com você, inclusive.

    Mas não que isso importe, né? Afinal você ignorou completamente minha citação de situações socialistas não-autoritárias (Rojava, e a Catalunha Revolucionária, que teve até um link!!), assim como minha observação de que elas se aproximam do ideal enquanto as autoritárias se afastam. Claramente eu citar o fato incontestável de que o regime soviético, pelo menos até meados dos anos 60, trouxe desenvolvimento tecnocientífico e aumento de padrão de vida gerou algum tipo de bloqueio na sua interpretação do que eu falo e das minhas posições. Tá faltando nuance aí. A gente não pode negar os fatos por ideologia.

    escravizando a população e abrindo a economia para o mundo. A China, hoje, é mais capitalista que o Brasil, por exemplo.

    O trabalhador médio na china continental, hoje, já trabalha menos e recebe mais que o trabalhador brasileiro. Você tá pensando em Hong Kong aí.

    A Alemanha Oriental, também, era um atraso só.

    Sem dúvidas. Mas não é correto falar isso sem falar a mesma coisa do Haiti, El Salvador, Etiópia, Uganda, Brasil, etc.

    A própria Cuba tecnologicamente é totalmente ultrapassada e vive "há uns 40 anos atrás" da maioria dos outros Países.

    E é o país com o maior desenvolvimento social da América Latina. O caso específico deles é um trade off. Porque, novamente, a política determina os rumos da sociedade, e no caso deles as determinações foram outras. Tem nada a ver com esse conceito abstrato de "falta de liberdade" (seja lá o que isso signifique - um esfomeado não é livre, mesmo que possa xingar o governo sem ser preso), mas com os recursos sendo alocados pra outras áreas.

    Lelo Mig
    Membro
    # abr/20 · Editado por: Lelo Mig
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    solitude

    Cara eu desprezei a Catalunha Revolucionária porque prá mim é uma experiência inútil. Foi (parte) de uma região menor que muitas cidades no Brasil.

    É a mesma coisa que considerar Suiça, Finlandia, Noruega, Islândia e etc, nestas discussões político/ideológicas. Nações pequenas, homogêneas e etc, prá ser ruim precisa ou ser muito pobre (fruto do saque histórico e por séculos de nações poderosas), ou ser muito mal gerido.

    A cidade onde moro, hoje, por exemplo, não têm nada a ver com o Brasil. Têm saúde, transporte, educação e segurança muito acima do aceitável. Não tem miséria, não têm favelas, não tem violência, nem morador de rua.

    Os poucos moradores de rua e drogados, a própria comunidade, principalmente a religiosa (sou ateu mas não omisso), fazem um trabalho exemplar aqui, espíritas, católicos e evangélicos dão ótima assistência a esses grupos numa troca justa com a prefeitura (que não cobra algumas taxas e colabora com alguma verba sem precisar fornecer o serviço e instalações).

    Olhar prá frente, em minha opinião, é buscar o novo. A sociedade já existia antes do capitalismo e do socialismo, portanto, existem outros sistemas que podem ser colocados em prática sem que haja qualquer relação entre os dois. O fato de não conhecer outros sistemas não faz o capitalismo e nem o socialismo serem únicos.

    Uma sociedade não deve girar em torno da economia, mas sim a economia que deve girar em torno dela. A economia só faz sentido se for para beneficiar a sociedade e não o contrário; e nisso acho que concordamos.

    Um olhar "novo" é um olhar crítico para ambos os sistemas; isso é fundamental para que se possa, no futuro, ter uma população socialmente justa, economicamente viável e ambientalmente sustentável.

    "conceito abstrato de "falta de liberdade"

    Aqui divergimos. Prá mim não é conceito abstrato é o conceito principal, é o que me move, é uma das poucas coisas pela qual cortaria a cabeça de um ser humano sem o mínimo remorso. Não existe tirano bom, nunca existiu. Só o fato de alguém almejar o poder já me coloca a faca nos dentes. Minha relação com o poder sempre foi a de um animal na espreita.

    Tanto é que nunca existiu nenhum País comunista no mundo. porque o comunismo de Marx seria sem a existência de um Estado e o socialismo, apenas, uma "passagem". Mas justamente por conta de ninguém querer largar o poder a passagem nunca ocorre.

    "Demoro muito tempo para confiar em alguém, e elas, apenas um segundo, para quebrar minha confiança."

    solitude
    Membro Novato
    # abr/20
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    Lelo Mig

    Acho que a gente concorda na maioria dos pontos, sinceramente. Só tenho duas observações mesmo.

    Cara eu desprezei a Catalunha Revolucionária porque prá mim é uma experiência inútil. Foi (parte) de uma região menor que muitas cidades no Brasil.

    Esse aqui porque é comum eu ler isso, mas nunca entendi. Quando vejo comparações entre o Brasil e os EUA, a opinião é sempre de que o modelo americano, federativo de verdade, descentralizado, com mais autonomia pros estados, é o ideal pra um país tão grande, porque centralização é ineficiente.

    Aí quando falam de anarquismo - que é o modelo de organização mais descentralizado, indo de assembleias em organizações de bairro até a coordenação coletiva a nível nacional - as pessoas duvidam da escalabilidade do modelo. Nunca consigo entender isso.

    A gente nunca viu um grande país anarquista por 2 razões: primeiro, essas revoluções, diferente das comunistas, tende a não ser muito expansionista (anarquista geralmente só quer fazer o negócio dele e ser deixado em paz); segundo, elas apanham de todas as facções, dos comunistas (que não querem influência anarquista dentro dos seus países), dos liberais (que não querem uma demonstração concreta de que a gente não precisa de propriedade privada nem "comando" pra funcionar), e dos fascistas (que querem enforcar os caras, obviamente). De fato foram esses os dois grandes problemas da revolução na Catalunha, não quiseram avançar quando venceram as primeiras batalhas contra os franquistas e foram apunhalados nas costas pelos comunistas.

    A mesma coisa tá acontecendo em Rojava agora. Não quiseram avançar contra o Assad; de um lado, tão apanhando do fascista turco; do outro, foram abandonados pelos liberais americanos; e os comunistas, via de regra, consideram que a revolução de Rojava é literalmente uma ferramenta imperialista de desestabilização da região, e que eles deviam voltar a se ajoelhar pro Assad (que nem socialista é).

    Aqui divergimos. Prá mim não é conceito abstrato é o conceito principal

    Eu falo conceito abstrato porque não é muito bem definido. Eu pensava como você (obviamente, a gente se torna socialista, mas obviamente cresce liberal porque essa é a ideologia dominante), mas é uma questão mais complicada. A gente associa algumas coisas à ideia de liberdade, mas nunca é algo concreto.

    Vou dar um exemplo pra ficar melhor de ilustrar, usando um liberal conservador, o Tocqueville. Pra fazer a obra mais famosa dele (Democracy in America), ele foi nos EUA estudar o país, e escreveu um capítulo sobre as manufaturas. O capítulo é até curtinho, mas vou botar só uma parte:

    What can be expected of a man who has spent twenty years of his life in making heads for pins? and to what can that mighty human intelligence, which has so often stirred the world, be applied in him, except it be to investigate the best method of making pins' heads?

    When a workman has spent a considerable portion of his existence in this manner, his thoughts are for ever set upon the object of his daily toil; his body has contracted certain fixed habits, which it can never shake off: in a word, he no longer belongs to himself, but to the calling which he has chosen.

    It is in vain that laws and manners have been at the pains to level all barriers round such a man, and to open to him on every side a thousand different paths to fortune; a theory of manufactures more powerful than manners and laws binds him to a craft, and frequently to a spot, which he cannot leave: it assigns to him a certain place in society, beyond which he cannot go: in the midst of universal movement, it has rendered him stationary.

    In proportion as the principle of the division of labour is more extensively applied, the workman becomes more weak, more narrow-minded and more dependent. The art advances, the artisan recedes.

    On the other hand, in proportion as it becomes more manifest that the productions of manufactures are by so much the cheaper and better as the manufacture is larger and the amount of capital employed more considerable, wealthy and educated men come forward to embark in manufactures which were heretofore abandoned to poor or ignorant handicraftsmen. The magnitude of the efforts required, and the importance of the results to be obtained, attract them.

    Thus at the very time at which the science of manufactures lowers the class of workmen, it raises the class of masters.


    Veja, tecnicamente, os EUA dessa época não eram uma ditadura, nem de longe. Todo mundo tinha direitos políticos plenos garantidos constitucionalmente, mas que não podiam ser postos em prática, por causa dessas condições de vida.

    Esses caras eram livres?

    Pra fazer outra comparação, agora um pouco mais "abrasiva". Antes da revolução, mais de 40% da população cubana nos interiores era analfabeta. Analfabetismo é a condição mais humilhante e desumanizante que existe - a pessoa é impedida de se desenvolver apropriadamente, tanto em suas opiniões quanto seus ofícios. Hoje, como é todo mundo alfabetizado, essa barreira não existe mais, e qualquer cubano tem o direito de, por exemplo, se tornar um médico, se essa for sua vontade. Os cubanos de hoje, vivendo sob o que é uma ditadura (pelo menos a nível federal), então, são mais ou menos livres que antes?

    E em comparação com a classe trabalhadora brasileira?

    Isso vale pra outras condições também. A nível local (não federal), as eleições cubanas, assim como os processos de decisão política, são geralmente feitas com voto direto e participação de organizações de bairro. Os dias de votação são livres, você pode sair do trabalho pra participar, etc. O resultado é que os turnouts são de mais de 80%, de acordo com observadores internacionais, até mesmo a Reuters, que sempre foi uma fonte imperialista.

    Nos EUA, não é feriado, grande parte da classe trabalhadora não consegue tempo pra votar, os turnouts são de menos de 60%, e em eleições locais chega a míseros 40%. E pela miséria material, parte da população - moradores de rua, por exemplo - não tem sequer como se desenvolver politicamente e se informar sobre o voto.

    O americano supostamente tem direitos políticos plenos protegidos pela constituição, mas em grande parte não consegue exercê-los. O outro não pode escrever um artigo no jornal criticando o partido cubano, mas pode se informar, votar, e, a nível local, pode opinar - os índices de participação nesses caso chegam a 90%.

    Qual dos dois é mais livre?

    Analisando objetivamente, indo além de direitos constitucionais e observando as coisas no que acontece de verdade: me parece, e novamente, isso não é uma conta simples, que o trabalhador cubano, no que seria uma ditadura, acaba sendo mais livre que o trabalhador brasileiro e até o americano.

    Porém ele é certamente menos livre que o trabalhador sueco, o trabalhador finlandês, etc, que tem todos esses direitos e a princípio pode exercê-los pelas condições mais favoráveis nesses países.

    Entende por que eu digo que é um conceito abstrato? Não é uma simples questão de garantir direitos, mas de conseguir colocá-los em prática. Por esse motivo que eu falei isso aqui no post:

    seja lá o que isso signifique - um esfomeado não é livre, mesmo que possa xingar o governo sem ser preso

    solitude
    Membro Novato
    # abr/20
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    Caralho, olha o tamanho desse post. Se não quiser ler nada eu vou compreender.

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