A estética evangelizadora dos comentários políticos.

    Autor Mensagem
    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/20


    A evangelização profissional é uma arte que fala aos sentidos. As pessoas são contagiadas por emoções que são transmitidas diretamente do púlpito, por meio de artifícios estéticos variados. A pregação é como uma encenação de novela mexicana, onde o conteúdo é muito menos importante do que aquilo que é sentido. Você não precisa entender, você tem que sentir! Não é à toa que ninguém fala que entende Deus, as pessoas sentem Deus.

    Agora, experimente acessar o canal de algum comentarista político no YouTube, sair do ambiente, fechar a porta e se posicionar a uma distância suficiente para que a voz seja ouvida, mas que as palavras não possam ser compreendidas. Veja se não soa como um sermão!

    Comentaristas políticos são vendidos como especialistas no assunto, ou seja, ao assisti-los, o espectador tem a impressão que está em contato com uma análise técnica. Nosso povo, iletrado, não sabe diferenciar opinião e fato. Some a isso o tom evangelizador da fala, que desarma as defesas daqueles que não têm capacidade para questionar o que está sendo dito, e você tem uma fórmula para reprodução irrefletida do discurso.

    De um tempo para cá, muita gente passou a "entender" de política. Gente que mal sabe interpretar uma frase está armada de discursos enlatados para jogar na cara de quem se interpor entre ela e a sua fé, recém adquirida.

    E o pior, elas são invencíveis, pois são imunes à razão.


    MOEBA, Enta. A estética evangelizadora dos comentários políticos. São Paulo: Editora OT, 2020.

    Black Strat
    Membro Novato
    # jan/20
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    Nem li, mas o importante é manter a abstinencia sexual.

    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/20
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    Black Strat
    Nem li

    Esse é o meu ponto. Se fosse seu comentarista político falando, você não só teria ouvido, como estaria repetindo.

    Lelo Mig
    Membro
    # jan/20
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    entamoeba

    Fato.
    Mas isso sempre ocorreu, porque sempre foi eficaz, a começar pelos palanques.

    Os políticos mais populares deste País (e do mundo) antes de terem alguma cultura ou nexo, são hábeis oradores.

    É natural que quem os defenda/ataquem usem da mesma matéria.


    (a não ser quer eu não tenha captado vossa mensagem)

    makumbator
    Moderador
    # jan/20 · Editado por: makumbator
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    entamoeba
    mas que as palavras não possam ser compreendidas. Veja se não soa como um sermão!

    Narração de jogo de futebol também parece sermão se for feita a mesma experiência (principalmente a narração de estilo radiofônica). Aliás, quase todo discurso mais inflamado vira sermão nesse cenário.


    Você não precisa entender, você tem que sentir!

    Claro, mas essa é também a premissa dos lacradores. Você não precisa ter fatos para comprovar nada, basta sentir e pronto. É o império dos sentimentos.

    De um tempo para cá, muita gente passou a "entender" de política. Gente que mal sabe interpretar uma frase está armada de discursos enlatados para jogar na cara de quem se interpor entre ela e a sua fé, recém adquirida.

    Isso é bom e ruim. O ruim você mesmo descreveu, o bom é que uma parte dessas pessoas realmente passa a buscar conhecimento além dos gurus de sempre. Mas nunca vai ser perfeito.

    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/20
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    Lelo Mig
    antes de terem alguma cultura ou nexo, são hábeis oradores.

    Você pode convencer com a razão, fazendo uso de discursos didáticos e coesos, o que requer muita habilidade; ou pode simplesmente escolher um lado e procurar caminhos para aflorar as emoções mais primitivas em quem te ouve, como a indignação. Indignados são ótimos candidatos a otários.

    O pior do comentarista político é que ele se porta como autoridade no assunto, mesmo quando faz discursos emotivos. Por isso, o comentário político (e econômico também) acaba tendo cara de pseudociência.


    makumbator
    o bom é que uma parte dessas pessoas realmente passa a buscar conhecimento além dos gurus de sempre.

    O ruim do "bom" é que essa parcela de pessoas é muito reduzida.

    Silspiders
    Membro Novato
    # jan/20 · Editado por: Silspiders
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    De um tempo para cá, muita gente passou a "entender" de política. Gente que mal sabe interpretar uma frase está armada de discursos enlatados para jogar na cara de quem se interpor entre ela e a sua fé, recém adquirida.

    Perfeito! Incrivelmente a gente acompanha esse tipo perigoso de fiel na internet com uma frequência bem além do aceitável. Mas isso é estratégia.

    Ridicularizar a política é só uma forma inteligente que os eleitos encontraram para se perpetuar na máquina.

    Aqui mesmo a gente pode encontrar um sem número de antipestistas que mal sabem explicar porque o são.

    Incrivelmente pessoas que viveram os tempos gordos dos 2000 e 2010 também foram convencidos que o PT é o grande mal do país.

    É evidente que tornar a política essa várzea, para que os ricaços se mantenham sugando a máquina até onde puderem, e o quanto puderem (rachadinhas, funcionários fantasmas, filhos sem o mínimo talento sendo inserido para a continuação), passa por destruir um partido que segue uma linha ideológica que empodera o pobre, democratiza os acessos aos meios sociais etc. Sem contar a inúmera quantidade de pessoas que estão sendo formadas por esses caras sem noção de civilidade, igualdades fraternidade, que são conceitos que devem estar arraigados em um bom político.

    A existência desses Youtubers pode então ter duas vertentes: a burrice espontânea, prestigiada pela burrice cristalina (as mesmas coisas, portanto), essa aí que eu expliquei com mais detalhes.

    brunohardrocker
    Veterano
    # jan/20
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    Não há evangelização por parte de comentaristas políticos. Isso é uma crença fantasiosa de uma esquerda delirante.

    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/20 · Editado por: entamoeba
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    brunohardrocker
    Não há evangelização por parte de comentaristas políticos.

    Não disse que há evangelização.

    Evangelização é uma prática sistematizada, feita por meio de um guia que caracteriza uma doutrina. O papo aqui é sobre a retórica emotiva comum aos comentaristas políticos, independente da orientação política.

    Pegue qualquer palestra do Clóvis de Barros filho e você entenderá perfeitamente o que estou falando. O cara berra como um pastor para atiçar as emoções das pessoas. Há professores com muito mais conteúdo que ele, mas que não são bons palestrantes porque eles não são bons em provocar as emoções, ao contrário, eles provocam sono na audiência.


    Isso é uma crença fantasiosa de uma esquerda delirante.

    Você adora tentar isso, né? Quer "lacrar" pra cima de mim? Copiar os trejeitos de alguém com autoridade não te trará autoridade. É tão efetivo quanto foi o Boulos imitando os trejeitos do Lula.

    Quer ter autoridade em uma discussão? Produza textos coesos e fale com embasamento. Já cansei de dizer que você não demonstra conhecer os fundamentos das tuas falas, portanto, não passa de um repetidor inconsequente. Vá estudar primeiro, depois volte aqui e tente se portar com um pingo de dignidade.

    Silspiders
    Membro Novato
    # jan/20
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    Não há evangelização por parte de comentaristas políticos. Isso é uma crença fantasiosa de uma esquerda delirante.

    Uma refutada dessa, hein, entamoeba, deixou você totalmente sem ação, sem resposta.

    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/20 · Editado por: entamoeba
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    Silspiders
    Uma refutada dessa, hein, entamoeba, deixou você totalmente sem ação, sem resposta.

    É uma piada interna nossa. O brunohardrocker é um rapaz muito astuto.

    Ele botou um bule em órbita e quer que eu prove que ele não existe.

    sandroguiraldo
    Veterano
    # jan/20
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    entamoeba
    De um tempo para cá, muita gente passou a "entender" de política. Gente que mal sabe interpretar uma frase está armada de discursos enlatados para jogar na cara de quem se interpor entre ela e a sua fé, recém adquirida.

    E o pior, elas são invencíveis, pois são imunes à razão.


    Alguém liga o ventilador porque o cheiro de recalque tá forte aqui

    brunohardrocker
    Veterano
    # jan/20
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    entamoeba

    Seu textão até estaria dentro do lugar se o meu comentário não fosse uma simples ironia sobre outros debates envolvendo imprensa e escola sem partido.

    Wild Bill Hickok
    Membro Novato
    # jan/20
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    Efeito manada, nada de novo por aqui

    acabaramosnicks
    Membro Novato
    # jan/20
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    É como dizem, não basta saber pescar, tem que saber vender o peixe também.
    Eu lembro que o ano quando lula foi eleito pela primeira vez eue tinha mais ou menos 8 anos de idade, não tenho certeza. Naquela época, escutei pela primeira vez um discurso seu pelo rádio. Cara, naquela época eu mal sabia o que era política (a gente não falava disso nem em casa nem na escola), e só sabia o que era lula no mar e no outdoor. Eu fiquei emocionado com o discurso do cara, as habilidades oratórias dele são incríveis. O tempo passou e estou mais "veiáco" com políticos, o que me deixa bolado é ver nego com quarenta anos nas costas ficando tão ou mais emocionado do que aquela criança em plenos 2020.

    Lembrei daqueles vídeos que colocavam o Daciolo "pregando" política e colocavam uma base de rap no fundo. Depois teve um canal (acho que é o "quadro em branco") que deu umas viajadas sobre o porquê do daciolo parecer estar cantando rap quando fala de política e porque tudo isso soa (na entonação) como um pastor, bem interessante.

    A teoria é que no início do rap, meio que nascido nos EUA, ele é contestador e feito por negros, e estes mesmos negros muitas vezes eram influenciados pelas igrejas protestantes, e por isso o rap desde o início tem meio que um tom de pregação; depois que ambos (protestantismo e rap) foram "importados" para o br, apesar de não serem vendidos como próximos, as raízes semelhantes criam uma espécie de vínculo inseparável, daí que a entonação é parecida.

    Fidel Castro
    Veterano
    # jan/20
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    brunohardrocker

    like a fucking category 5 hurricane

    ____

    ensina-se na escola em alguns países, mas aqui não, a trinca mágica do Rhethoric 101: Ethos, Pathos, Logos.

    a vida é feita de convencer pessoas e principalmente, pessoas estão dispostas a serem convencidas em troca de ressonância de ideias/pertencimento.

    sofistas não nasceram ontem

    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/20
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    brunohardrocker
    se o meu comentário não fosse uma simples ironia sobre outros debates envolvendo imprensa e escola sem partido.

    Não brinca!! Jura???


    acabaramosnicks
    o que me deixa bolado é ver nego com quarenta anos nas costas ficando tão ou mais emocionado do que aquela criança em plenos 2020.

    É diferente quando a gente tá com a guarda alta. Se você está ouvindo um cara que você não sabe que é político (e o discurso dele não entrega isso de cara), talvez a suscetibilidade seja outra.

    O caso do comentarista político é meio assim. Os caras são ardilosos, pondo banca de especialistas e assumindo uma postura aparentemente crítica. O problema é que eles acabam homogeneizando os campos políticos, porque eles seduzem remetendo-se aos desejos e às indignações que são comuns àquelas pessoas, para, então, vender visões alinhadas com os interesses políticos dos grupos aos quais eles pertencem.


    A teoria é que no início do rap, meio que nascido nos EUA, ele é contestador e feito por negros, e estes mesmos negros muitas vezes eram influenciados pelas igrejas protestantes, e por isso o rap desde o início tem meio que um tom de pregação; depois que ambos (protestantismo e rap) foram "importados" para o br, apesar de não serem vendidos como próximos, as raízes semelhantes criam uma espécie de vínculo inseparável, daí que a entonação é parecida.

    Curioso. Agora não estou lembrando se já li algo sobre isso ou se estou misturando as histórias, mas faz sentido. As estéticas da linguagem não surgem do nada, elas se desenvolvem dentro do ambiente cultural que as pessoas estão inseridas.

    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/20
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    Fidel Castro
    Ethos, Pathos, Logos.

    Relacionados à trinca, fazer, sentir e pensar.

    O brasileiro estuda um pouquinho e passa a se achar muito racional. Há, no imaginário, uma contradição entre emoção e razão, e admitir que se deixou levar pela primeira é quase um sinal de fraqueza.

    Parece que essa negação só piora as coisas. Ficam querendo racionalizar a paixão, inventando as explicações mais idiotas para justificar algo que não passa de um sentimento de que as coisas estão certas.

    Sem reconhecer-se como um animal estético, fica difícil para o sujeito exercer a autocrítica.

    makumbator
    Moderador
    # jan/20
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    entamoeba
    Há, no imaginário, uma contradição entre emoção e razão, e admitir que se deixou levar pela primeira é quase um sinal de fraqueza.


    Era assim, mas acho que já faz algum tempo que a coisa se inverteu. Hoje você se deixar levar pela razão é que é o problema. Você será visto como frio, sem empatia e insensível. Hoje o sentimento é que reina, e se tiver que se deixar levar, que seja pela emoção.

    sandroguiraldo
    Veterano
    # jan/20
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    emoção e razão
    a saída é fazer valer a pena

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