Edward Blake Membro Novato |
# jan/16 · Editado por: Edward Blake
Texto I: moralidade, costumes e a lei como moderadores do poder.
“Se tudo o que precisássemos saber sobre a política internacional se limitasse apenas às motivações por trás da disputa pelo poder e aos mecanismos mediante os quais ela opera, o cenário internacional se pareceria certamente com o estado de natureza descrito por Hobbes como uma ‘guerra de cada homem contra cada homem’. A política internacional seria então governada por aquelas considerações de oportunismo político de que Maquiavel nos deixou o relato mais agudo e sincero. Em um mundo assim, o fraco estaria completamente à mercê do forte. E a força valeria mais do que o direito.
Na realidade, contudo, a própria ameaça de um mundo em que o poder reinasse de modo supremo, e sem qualquer rival, provocaria aquela revolta contra o poder que é tão universal quanto a própria aspiração pelo poder. No intuito de reduzir o risco dessa revolta, de acalmar o ressentimento e a oposição que surgem quando o impulso pelo poder é reconhecido como tal, aqueles que buscam esse poder costumam, como já vimos, empregar ideologias para encobrir os seus objetivos reais. O que constitui de fato a aspiração pelo poder aparece então como uma coisa diferente, como algo que se encontra em harmonia com os reclamos da razão, da moralidade e da justiça. A sua substância íntima, de que as ideologias da política internacional não passam de mero reflexo, deve ser buscada nas ordens normativas da moralidade, dos costumes e da lei.
Desde a Bíblia até a ética e os esquemas constitucionais da democracia moderna, a principal função desses sistemas normativos tem sido a de manter as aspirações de poder dentro de limites socialmente toleráveis. Todas as éticas, costumes e sistemas legais dominantes na civilização ocidental reconhecem a ubiquidade dos impulsos de poder e os condenam. Ao contrário, filosofias como as de Maquiavel e Hobbes, que consideram a ubiquidade desses impulsos como o fato supremo da vida social (e que deve ser aceito, em vez de condenado e restringido), foram vistas com desaprovação pela opinião predominante.
[...] A sua debilidade demonstra a robustez da tradição ocidental, que busca, se não eliminar, pelo menos regular e restringir os ímpetos de poder que, de outro modo, estraçalhariam a sociedade ou deixariam a vida e a felicidade dos fracos entregues à vontade arbitrária dos todo-poderosos.
É nesse ponto que a moralidade, os costumes e o direito intervêm, no intuito de proteger a sociedade contra a ruptura e salvar o indivíduo da escravidão e da extinção. Quando uma sociedade ou alguns de seus membros se mostram incapazes de se proteger com sua própria força contra os impulsos de força alheios – quando, em outras palavras, a mecânica da política de poder se mostra insuficiente, como cedo ou tarde terá de acontecer – esses sistemas normativos tentam suplementar a política de poder com as suas próprias regras de conduta. Esta é a mensagem que o sistema normativo envia tanto aos fortes como aos fracos: a superioridade de força não dá qualquer direito, moral ou legal, para que se faça com tal poder tudo que ele é capaz fisicamente de fazer. Todo poder tem de estar sujeito a limitações, no interesse da sociedade como um todo e no de seus membros como indivíduos.
[...] O problema da força relativa dos diferentes tipos de injunção torna-se agudo quando existe um conflito entre diversas regras de conduta. O exemplo clássico, de um conflito entre duas regras do mesmo sistema legal, e muito discutido nos livros de jurisprudência, consiste na proibição de duelo nos códigos criminais de certos países europeus, enquanto que os códigos militares dos mesmos países exigem que os oficiais resolvam certas disputas por meio de duelos. Um sistema de ética que nos obriga a obedecer a Deus, e não aos homens, ao mesmo tempo que nos impõe ‘dar a César o que pertence a César’, apresenta um conflito similar, quando uma lei do Estado se contrapõe a um dos mandamentos de Deus. São muito frequentes, particularmente na esfera política, os conflitos desse tipo. Governos rivais – como, por exemplo, um governo revolucionário e um governo legítimo, um governo no exílio e um governo ‘quisling’ – exigem obediência do mesmo grupo de pessoas. As regras de conduta pelas quais se deve pautar um político divergem muitas vezes das normas aplicáveis a todos os membros da sociedade. [...]
Os conflitos entre distintas regras de conduta são decididos com base na pressão relativa que as sanções das regras conflituosas conseguem exercer sobre a vontade dos indivíduos. Incapaz de obedecer simultaneamente a todas as normas que lhe são impostas, cabe a ele escolher uma delas e violar as outras. A força relativa dessas pressões constitui, por sua vez, a expressão da força relativa das forças sociais que sustentam um grupo de valores e interesses, em oposição a um outro. A ordem normativa da sociedade – cujo intuito consiste em manter as aspirações de poder de seus membros individuais dentro de limites toleráveis socialmente – resulta ela própria, em certa medida, de forças sociais que disputam entre si o domínio da sociedade, por meio de sua influência, digamos, sobre a legislação ou sobre decisões judicias.
A vida social consiste predominantemente de reações contínuas, que em larga medida se tornaram automáticas, às pressões que a sociedade exerce sobre os seus membros, por meio de suas regras de conduta. Essas regras observam e acompanham o indivíduo continuamente, de manhã até a noite, de forma a modelar as ações dele em conformidade com os padrões da sociedade. Poder-se-ia mesmo dizer que a sociedade, como força dinâmica, nada mais é do que a soma total de suas regras de conduta que impõem padrões de ação a seus membros. O que chamamos de civilização não passa, em um certo sentido, do conjunto de reações automáticas dos membros de uma sociedade às regras de conduta, mediante as quais essa mesma sociedade procura levar os seus membros a se conformarem a certos padrões objetivos, a restringirem as suas aspirações de poder, bem com a dominá-las e conciliá-las em todos os respeitos socialmente relevantes”.
(MORGENTHAU, Hans J. A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz. Trad. Oswaldo Biato. Brasília: Universidade de Brasília, 2003, pp. 421-427)
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Edward Blake Membro Novato |
# jan/16 · Editado por: Edward Blake
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Texto II: estudo de caso.
Descobri que uma chata daqui tem tanto medo de ser manipulada por cafajestes que, no colégio, escolheu para desvirginá-la um cara bonzinho e dócil por quem ela -- segundo ela mesma diz -- não sentia nada; e sequer avisou o cara de que era virgem, justamente para ele não ficar muito gamado, e ela poder despachá-lo rapidamente.
Hoje, na casa dos 30, continua solteira e à procura de um bom partido -- fofo, carinhoso, educado, que faça tudo por ela e que não queira pegá-la de primeira --, fez já uma cirurgia de levantamento de tetas, proíbe as amigas de pegarem o busão para encontrarem homens (que, segundo ela, devem ser cavalheiros e ir buscá-las na porta de casa) e diz que prefere virjões a sujeitos com a ficha corrida.
Essa mulher é um bom exemplo de uso da moral para compensar inseguranças e neutralizar aspirações de poder alheias:
- Medo patológico de rejeição (prefere fazer sexo casual com um estranho inócuo a correr o risco de ser chutada);
- Medo de ser comparada com outras mulheres (do ponto de vista afetivo, quando a mulher é vaidosa e se sente capaz de competir com outras mulheres, o normal é ela se sentir lisonjeada, não ofendida, pelo fato de o sujeito ter mais opções e, ainda assim, querer alguma coisa com ela; do ponto de vista estritamente sexual, quando o sujeito tem alguma coisa que agrada às mulheres, o normal é as que ele já pegou falarem dele em rodinhas, e as amigas delas o procurarem para fazerem o test-drive, não fugirem dele como o diabo da cruz);
- Deseja convencer os homens de que sexo é um favor que as mulheres fazem para eles e, assim, pressioná-los a pagar pelo serviço com benefícios econômicos (uma mulher solteira, independente, em idade produtiva e de capacidade intelectual similar à do homem com quem ela pretende sair teria um automóvel e nem pensaria em explorar o cara para fins de transporte).
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