O padre De Bussy e o jovem libertino.

    Autor Mensagem
    Joseph de Maistre
    Veterano
    # jan/14 · Editado por: Joseph de Maistre


    (Capítulo do livro “L’enfer” do Monsenhor de Ségur)

    O fogo deste mundo é imperfeito, como tudo é que deste mundo o é; apesar de sua terrível potência, as chamas materiais não são senão um mísero símbolo dessas chamas eternas de que fala o Evangelho. Será que seria possível expressar em palavras, sem permanecer bem aquém da realidade, o horror do sofrimento que sentiria um homem que, ainda que por apenas alguns minutos, fosse atirado em uma fornalha ardente – assumindo-se que ele consiga sobreviver ali? É evidente que não. O que dizer então desse fogo sobrenatural, desse fogo eterno, a cujos horrores nada pode se comparar?

    Não obstante, como ainda vivemos no tempo, e não na eternidade, devemos nos servir das pequenas realidades deste mundo, por mais tênues e imperfeitas que possam ser, a fim de nos elevar um pouco mais às realidades invisíveis e imensas da outra vida. Devemos, utilizando a imagem do sofrimento impronunciável que o fogo terrestre nos inflige aqui, tentar aterrorizar a nós próprios, a fim de que não caiamos nos abismos do fogo do inferno.

    Foi isso que quis um dia mostrar a um jovem libertino um santo missionário do começo deste século, famoso, em toda a França, por seu zelo apostólico, por sua eloquência e por suas virtudes, e um pouco, também, por sua originalidade.

    Naquela época, o padre De Bussy realizava, em não sei qual cidade do Midi, uma importante missão que comovia a toda a população local. Era, àquela altura, o coração do inverno; o Natal se aproximava e fazia um grande frio. No quarto onde o padre recebia os fiéis, havia um forno com um baita fogo.

    Um dia, o padre viu chegando em sua casa um jovem que lhe haviam recomendado em razão de suas desordens e fanfarronices ímpias. O padre De Bussy rapidamente percebeu que não havia mais nada a se fazer por ele. “Venha cá, amiguinho”, disse-lhe ele alegremente, “não tenha medo; eu não confesso as pessoas contra a vontade delas. Venha, sente-se aí e conversemos um pouco enquanto nos aquecemos”. Ele abriu o forno e, percebendo que a lenha logo acabaria, disse ao jovem: “Antes de se sentar, traga-me um ou dois troncos”. O jovem, um pouco surpreso, fez, entretanto, o que o padre pedia. “Agora”, acrescentou este, “coloque lá dentro do forno, bem no fundo”. E quando o outro colocava a lenha na portinhola do forno, o padre De Bussy segurou-lhe, de repente, o braço e enfiou-o até o fundo. O jovem deu um grito e pulou para trás. “O que é isso?”, gemeu ele, “O senhor é louco? Ia me queimar!”. “O que é que há com você, meu caro?”, replicou o padre, tranquilamente. “Você não quer ir se acostumando desde logo? No inferno, que é para onde você irá, se continuar a viver como vive, não será apenas a ponta dos dedos que o fogo queimará, mas todo o seu corpo; e esse foguinho não é nada em comparação com o outro. Vamos, vamos, amiguinho, coragem; é preciso de acostumar a tudo”. E ele quis então segurar-lhe de novo o braço. O outro, como esperado, resistiu. “Meu pobre garoto”, diz-lhe então o padre, mudando de tom, “reflita, então, um pouco sobre isto: qualquer coisa no mundo não é melhor do que queimar eternamente no inferno? E os sacríficos que o bom Deus lhe pede, a fim de evitar-lhe um suplício tão pavoroso, não são, na verdade, tão pouca coisa?”.

    O jovem libertino saiu de lá pensativo. E, de fato, ele refletiu; refletiu tão bem que não tardou a voltar à casa do missionário, que o ajudou a se livrar de seus pecados e a entrar novamente na boa vida.

    Eu estimo que, de cada mil, ou dez mil, homens que vivem longe de Deus -- e, consequentemente, no caminho do inferno --, não haveria talvez sequer um só que resistiria ao “teste do fogo”. Não há um só que seria suficientemente louco para aceitar a seguinte barganha: “Durante o ano inteiro, tu poderás te entegrar impunemente a todos os prazeres, te saturar de todas as voluptuosidades e satisfazer a todos os teus caprichos, mediante uma única condição: passar um dia, ou mesmo uma hora, no fogo”. Repito: nenhum, nenhum só sequer, aceitaria a barganha.

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    Reflitam um pouco sobre isso, amiguinhos.

    One More Red Nightmare
    Veterano
    # jan/14
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    seria algo a se pensar caso fosse desconhecido o fato de que ninguém de fato iria se queimar

    todo mundo sabe que essa sua ladainha panegirística é engodo, ninguém em sã consciência acredita em inferno, em pleno sec xxi esclarecido pra caralho leitor de livros e richard dawkins e cia

    megiddo
    Membro
    # jan/14
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    One More Red Nightmare
    sec xxi
    esclarecido
    richard dawkins

    Faz tanto sentido quanto cagar de ponta-cabeça.

    One More Red Nightmare
    Veterano
    # jan/14
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    minhas críticas tendem ao dadaísmo quando acabando

    Hawklord
    Veterano
    # jan/14
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    Debussy?


    sallqantay
    Veterano
    # jan/14 · Editado por: sallqantay
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    o entendimento das boas novas não precisa de medo e nem de acreditar em um mundo além do nosso, essas são somente muletas que os incapazes usam por não conseguir enxergar a luz, estando condenados à eternidade à enxergar o iluminado

    Joseph de Maistre
    Veterano
    # jan/14 · Editado por: Joseph de Maistre
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    One More Red Nightmare
    seria algo a se pensar caso fosse desconhecido o fato de que ninguém de fato iria se queimar

    todo mundo sabe que essa sua ladainha panegirística é engodo

    .
    Cara, abra a sua mente.

    Quando alguém falar com você, tente ver na sua frente um ser humano, uma pessoa, um indivíduo -- uma criatura única, igual a você, com todas as suas singularidades e complexidades --, não um estereótipo ambulante a ser rotulado e automaticamente desclassificado.

    Todo mundo tem uma trajetória, uma história própria de vida: um monte de fatos à sua volta que somente você testemunhou, um monte de pensamentos na cabeça que somente você sabe que pensou, um monte de sensações e reações que somente você sentiu no seu âmago -- enfim, um monte de razões para pensar e dizer as coisas do jeito que você as pensa e diz, e não de outro jeito. Por que não tentar descobrir que razões são essas, ao invés de fantasiar?

    Dialogue, troque experiências, amplie a sua perspectiva das coisas, tente conhecer o pequeno universo que todo mundo carrega dentro de si. Não deixe esses clichês e preconceitos amputarem a sua capacidade de ouvir com atenção e boa-vontade o que os outros têm a dizer. “Esclarecimento” sem contraditório é apenas doutrinação e fanatismo.

    Você já morreu? Já conheceu alguém que morreu e voltou dos mortos para contar como é que foi a experiência? Que estudos empíricos você fez para prever o que vai acontecer com a sua consciência depois que tu morreres e ela perder todo o substrato físico-químico? Achas possível reencarnar? Achas que, uma hora, vai estar vivo, e, na outra, tudo vai simplesmente apagar, assim de repente e pá, sem ficar nada nem ninguém para contar história daquilo que só tu testemunhaste, viste e sentiste? Se alguém morresse e voltasse para lhe dizer que o inferno existe, você acreditaria nesse alguém mais ou menos do que acreditaria no Richard Dawkins dizendo que o inferno não existe, mesmo sem nunca ter morrido?

    ninguém em sã consciência acredita em inferno,

    “A morte vem a ser, na minha opinião, apenas a separação de duas coisas, alma e corpo; depois de se apartarem um do outro, cada qual mantém o seu próprio estado, não muito inferior ao de quando o homem estava vivo. O corpo conserva a sua natureza e, visíveis, todos os bons e maus tratamentos recebidos. Por exemplo, se alguém, por natureza ou por alimentação, ou por ambas as causas, era corpulento em vida, depois que morrer, seu cadáver será grande; se gordo, gordo também depois da morte, e assim por diante; de igual modo, se deixava crescer o cabelo, cabeludo será também seu cadáver; igualmente, se alguém era um malhadiço e trazia no corpo marcas de vergastadas, isto é, vergões impressos pelos açoites ou por outras pancadas em vida, mesmo depois da morte se podem ver conservados pelo corpo; ou, ainda, se alguém tinha em vida membros quebrados ou tortos, isso pode-se ver no defunto. Em suma, por algum tempo após a morte será visível tudo, ou quase tudo, que uma pessoa deparou a seu corpo durante a vida.

    A mesma coisa, Cálicles, se passa, no meu entender, com a alma; depois que ela despe o corpo, torna-se visível tudo que nela existe, tanto o que vem da natureza, quanto os influxos, que o homem guarda na alma, da prática de cada um de seus atos. Quando comparecem a juízo, os da Ásia apresentam-se a Radamanto; ele os detém e examina a alma de cada um, sem saber de quem se trata; muitas vezes, deitando a mão ao Rei da Pérsia, ou qualquer outro monarca ou potentado, verifica não haver nada sadio na alma, avergoada e cheia de cicatrizes dos perjúrios e iniquidades; são mossas impressas em sua alma por cada um de seus atos; tudo a mentira e a impostura entortou, e nada resta direito por ter ele vivido sem verdade; Radamanto vê a alma carregada de desproporções e feiúra, efeito da licença, da voluptuosidade, da insolência e intemperança de seus atos; vendo isso, ele a expede, despojada de honras, diretamente para o calabouço, aonde chegada deverá sofrer a pena competente. [...]

    Talvez aches isto meros contos da carochinha e os desprezes; talvez, com inteira razão os desprezássemos, se, pesquisando, tivéssemos descoberto outros, melhores e mais verdadeiros; como, porém, estás vendo, vós outros, tu, Polo e Górgias, sendo três pessoas, por sinal as mais sábias da Grécia de hoje, não podeis apontar outra vida melhor de viver do que essa, que precisamente se revela vantajosa lá em baixo. De tantos argumentos, confutados os demais, só um permanece incólume – que mais nos devemos precaver de cometer injustiças do que de sofrê-las e que o principal cuidado do homem deve ser, não o de parecer, mas o de ser bom, quer em particular, quer na vida pública; que, se alguém for mau nalguma coisa, precisa ser punido; que o segundo bem, abaixo do de ser justo, é vir a sê-lo e, punido, expiar a falta; que cumpre evitar toda bajulice, seja para consigo, seja para com os outros, quer para com poucos, quer para com a maioria; e que a oratória, como as atividades em geral, devemos empregar a serviço da justiça. Dá-me, pois, ouvidos e acompanham-se até onde, chegado, serás feliz na vida e na morte, como indica a razão”. (Sócrates, in PLATÃO. Górgias: ou a oratória, 524b a 525a e 527b a c).

    Joseph de Maistre
    Veterano
    # jan/14
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    sallqantay
    o entendimento das boas novas não precisa de medo e nem de acreditar em um mundo além do nosso, essas são somente muletas que os incapazes usam por não conseguir enxergar a luz, estando condenados à eternidade à enxergar o iluminado

    http://3.bp.blogspot.com/-9kC1AOpRzwk/ToWxOGF4ZDI/AAAAAAAADCA/22gfLu5R 5D0/s1600/sexta+dorgas+02+no+atrasadinho.jpg

    sallqantay
    Veterano
    # jan/14
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    Joseph de Maistre

    ayauahsca > padre de bussy

    dr. Rey
    Membro Novato
    # fev/17
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