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yield Veterano |
# mar/13
BIOPODER, TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E O CAMARO AMARELO
"Camaro Amarelo" foi considerada no Faustão a composição brasileira do ano e temos de reconhecer seus méritos. Não que ela apresente um elevado valor artístico ou traços sublimes de uma verdade que se revela ao gênio do artista e encontra forma apenas na expressão poética ou na melodia. Mas talvez ao atingir os limites da simplificação de um espectro de verdade hedonista e dogmática muito presente. O famoso fundo do poço.
Em linhas diretas, a canção propõe maximizar o gozo e desaparecer completamente com qualquer esforço necessário para alcança-lo. Teoria da prosperidade devidamente apresentada na figura arquetípica do “véio”, que pode representar um progenitor de bastantes posses ou mesmo o Pai Celestial. Ambos dariam conta perfeitamente da solução de todos os problemas, que no caso nada representam além das angústias de um desejo maior que as suas possibilidades no presente. “E aí veio a herança do meu véio e resolveu os meus problemas, minha situação. Do dia pra noite fiquei rico, tô na grife, tô bonito, tô andando igual patrão” (MUNHOZ & MARIANO, 2013).
A partir dessa “benção”, o sujeito da canção alcança o seu Nirvana existencial às avessas, com fartura e muita sensualidade. A alegoria da classe emergente e resignada pelas privações já vencidas na escalada social é encerrada então num refrão quase tântrico. “Agora eu fiquei doce, doce, doce. Igual caramelo...”.
Porém as implicações filosóficas mais graves da canção devem ser compreendidas melhor apenas sob a ótica do biopoder, de que trata Peter Pál Pelbart no texto Vida e Morte em Contexto de Dominação Biopolítca. Ele nos apresenta um poder que não visa mais a repressão, apontada por Freud como o berço da civilização. Trata-se agora de se “encarregar de toda a vida, intensifica-la, otimizá-la”, na base da incitação, do reforço e da vigilância, visando a otimização das forças vitais que ele submete.
Daí também nossa extrema dificuldade em resistir, já mal sabemos onde está o poder e onde estamos nós, o que ele nos dita e o que dele queremos, nós próprios nos encarregamos de administrar nosso controle, e o próprio desejo se vê inteiramente capturado nessa dinâmica anônima. Nunca o poder chegou tão longe e tão fundo no cerne da subjetividade e da própria vida (PAULBERT, 2008)
Paulbert traz em seguida a imagem de um muçulmano, descrito por Agamben, como exemplo daquele que se submete sem reserva à vontade divina, situando-se assim num meio termo entre a vida e a morte, entre o humano e o inumano, tão cansado dessa vida esvaziada e enfraquecida que já é quase incapaz de sofrer. Mas que também pode apenas abandonar parcialmente essa terra. Então sobrevive. Reduzido “ao consumo e ao hedonismo de massa, a medicalização da existência, em suma, a abordagem biológica da vida numa escala ampliada, mesmo quando promovida num contexto de luxo e de sofisticação biotecnológica.”
Para Agamben e Palbert, a condição de sobrevivente, de muçulmano, é um efeito generalizado do biopoder. O que fez de “Camaro Amarelo” esse hino contemporâneo. A síntese perfeita da tirania do prazer voluntariamente abraçada. Um prazer porém cuja imediaticidade – já que se esgota no próprio gozo sensorial – traz a necessidade um tanto incomoda de um contínuo esforço para renovar sua validade. Esforço esse que o artista sertanejo universitário faz desaparecer na sua poesia coreografada, oferecendo uma espécie de catarse. O sujeito da canção finalmente pode gozar de uma gorda saúde dominante, como chamou Deleuze ao diferenciá-la da estética existencial de Foucault. Essa saúde visa o próprio corpo, sua beleza, boa forma, felicidade científica e estética.
Não hesitamos em chama-lo, mesmo nas condições moduláveis da coerção contemporânea, de um corpo fascista – diante do modelo inalcançável, boa parcela da população é jogada numa condição de inferioridade sub-humana (...) Estamos às voltas, em todo caso, com o registro da vida biologizada. Reduzidos ao mero corpo, do corpo excitável ao corpo manipulável, do corpo espetáculo ao corpo automodulável, é o domínio da vida nua. Continuamos no domínio da sobrevida, da produção maciça de “sobreviventes” no sentido amplo do termo. (PAULBERT, 2008)
Se a herança do “véio”, no sentido de progenitor, é um privilégio ainda para poucos , as igrejas assumem a função de democratizar, tornar palpável e possível essa gorda saúde, na figura do Pai Eterno. A teologia da prosperidade unida à economia de mercado alivia às tensões e o desespero do sobrevivente. Em troca ainda cobra ofertas e obediência, e é portanto menos livre que o ideal simbólico alcançado na canção, mas talvez atinja o ponto de ser também plenamente compreendida no seu ideal: sobreviva, com um pouco de prazer para o dia e um pouco de prazer para a noite, tenha agradáveis sonhos, respeite as leis com muita fé e aguente firme, sobreviva! Deus lhe dará um camaro amarelo.
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Felippe Rosa Veterano |
# mar/13
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as igrejas assumem a função de democratizar, tornar palpável e possível essa gorda saúde, na figura do Pai Eterno. A teologia da prosperidade unida à economia de mercado alivia às tensões e o desespero do sobrevivente. Em troca ainda cobra ofertas e obediência, e é portanto menos livre que o ideal simbólico alcançado na canção Odeio a Igreja universal por isso, por culpa deles pensam que protestantismo se resume a isso....
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brunohardrocker Veterano |
# mar/13 · Editado por: brunohardrocker
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Entre o intelectual frustrado e invejoso e o comunzão fútil e ignorante eu infelizmente escolho aquele que fez parte da história desde que o mundo é mundo, se comporta de uma maneira que foi e sempre será, pois nunca houve nada de novo sob o sol para pensarmos que o presente se trata de alguma novidade.
Essas coisas tão fáceis e baratas para se criticar estão lá, sempre disponíveis no coxo servindo de alimento aos escritores showmans.
Mas é jogo duro, eu também acho triste essa realidade. Agora mesmo eu estava passando os canais e prestei atenção numa das musicas que passava num clipe no multishow. O funk falava na maior cara de pau sobre ostentação como se fosse a coisa mais bela e a coisificação da mulher rolando solta como se fosse brinquedinho. O meu repúdio é grande, mas quando vamos mexer com isso através de pedantismo filosófico eu prefiro rezar para que exista um meio termo, uma terceira força na jogada.
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yield Veterano |
# mar/13 · Editado por: yield
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brunohardrocker
A intelectualidade deve sempre buscar justamente libertar da frustração. Eu não a observo nos meus mestres, pelo contrário, quanto mais brilhantes, parecem mais realizados. Quanto ao jargão filosófico infelizmente é necessário pra resumir ideias mais complexas em pouco espaço. Então não se trata de pedantismo, ou você vai considerar todos os filósofos pedantes e negar assim a importância principalmente de um Kant, Heidegger que escrevem textos quase incompreensíveis para não iniciados. Os meus textos ainda são uma tentativa de popularizar a filosofia, mas não é um tarefa fácil (recomendo ler Zizek). E não se trata de se alimentar da crítica a essas coisas baratas, mas sim de se libertar dos sentimentos negativos que elas despertam. Prová-las absurdas pela lógica. E no caso do meu trabalho e da minha linha, pelos limites da linguagem, apontados por Wittgenstein.
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yield Veterano |
# mar/13
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Não que você não possa dizer que Kant e Heidegger não tem a menor importância e são frustrados, invejosos, bobos cabeça de melão. Você só nunca será levado a sério
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sallqantay Veterano |
# mar/13
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Zizek
fanfarrão pós-moderno não vale
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albertpike Membro |
# mar/13
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Nem li ó...moh priguissa...testo xatu
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Jack Kerouac... Veterano |
# mar/13
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se o texto não for seu, eu juro que lerei.
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albertpike Membro |
# mar/13
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Jack Kerouac...
se o texto não for seu, eu juro que lerei.
shauhsauhsuahsa
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Jeff.gomes Veterano |
# mar/13
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Não li o texto... Porque?
BIOPODER - Ambiguidade TEOLOGIA DA PROSPERIDADE - Mentira imposta por alguns, o que faz alguns acreditarem que o cristianismo é assim. E O CAMARO AMARELO - complexo
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Viciado em Guarana Veterano |
# mar/13
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yield A intelectualidade deve sempre buscar justamente libertar da frustração. Eu não a observo nos meus mestres, pelo contrário, quanto mais brilhantes, parecem mais realizados.
Que lindo! A ignorância é uma maldição que parece uma benção mesmo, né! E o melhor de tudo é que ela pode ser facilmente mascarada com textos longos cheios de "intelectualidade".
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brunohardrocker Veterano |
# mar/13
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yield
Tá começando a me sensibilizar. obg
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yield Veterano |
# mar/13 · Editado por: yield
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brunohardrocker Viciado em Guarana
Eu sei que a intelectualidade ofende absurdamente os ignorantes. Vocês se sentem excluídos. Mas se quiserem participar, leiam e estudem. O que nunca pode acontecer é o nível das discussões acadêmicas serem reduzidas pra massa ignorante se sentir incluida. Eu sei que esse fórum não é um ambiente acadêmico. Então eu realmente defeco pra perseguição dos mais estúpidos e que realmente parecem sentir a necessidade absoluta de chamar a minha atenção. Em todo o tópico que eu crio, aparecem pra dizer bobagem e fazer piadas, que não chegam a ser piadas, só uma tentativa tosca de ser agressivo e me ofender. Mas que na verdade não são capazes de fazer ninguem rir. Por isso vocês só me causam as vezes um certo desgosto, de ver toda essa agressividade e desprezo exalando de uma massa que chafurda na própria estupidez e ainda se consideram os fodões do pedaço. É sempre triste. Por isso eu sumo do fórum. Quando o ar que vocês contaminam já torna o ambiente insuportável.
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Viciado em Guarana Veterano |
# mar/13
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yield Cara, você não é um intelectual. Você só se aprimorou na arte de escrever demais sem passar nenhuma mensagem em boa parte daquilo que escreveu.
Podemos ver isso em dois extremos, um com o usuário Black Fire e outro com você!
O Black Fire consegue ser intelectual da maneira mais chucra possível, enquanto você apenas enfeita discursos escrevendo um monte de abobrinhas sem passar nada de útil.
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yield Veterano |
# mar/13 · Editado por: yield
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Viciado em Guarana
É como você pegar um livro sem figuras pra colorir. Você também não vai entender. E você já me disse isso em diversas outras ocasiões. Acho q até em artigos que me valeram prêmios, então realmente eu não me importo. Eu defeco, como eu já disse. Mas você continua insistindo.
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Jack Kerouac... Veterano |
# mar/13 · Editado por: Jack Kerouac...
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O Black Fire consegue ser intelectual da maneira mais chucra possível
que lambeção de saco hein mano.
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brunohardrocker Veterano |
# mar/13
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yield
Agora eu fiquei doce igual caramelo.
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john s mill Membro |
# mar/13 · Editado por: john s mill
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Essa sua volta o tempo todo e repúdio aos que "não são intelectualmente capazes de compreender seus textos ganhadores de prêmios" nada mais são que reflexos da sua necessidade de validação.
O que em certo ponto pode ser interpretado como frustração e invalidar toda a sua lógica de pensamento quando diz: A intelectualidade deve sempre buscar justamente libertar da frustração. Eu não a observo nos meus mestres, pelo contrário, quanto mais brilhantes, parecem mais realizados.
Ou está apenas fazendo um péssimo trabalho buscando seguir o passo de seus mestres.
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-Dan Veterano
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# mar/13
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Eu acho que nunca ouvi essa música. Me sinto bem.
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Clara Schumann Veterano |
# mar/13
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Caraca, o yeld é um genio. (Não, nao to sendo ironica)
Além de analisar essa obra de arte, esse patrimonio cultural brasileiro, ele analisa num contexto historico filosófico de nossa contemporaneidade, e ainda por cima, consegue colocar humor no texto.
é explendoroso ver uma pessoa com tal capacidade de reflexão e entendimento social. Não ligue pro pessoal aqui, Yeld. Vc deveria ter pena deles, afinal, esse tipo de genialidade é pra poucos!
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