Die Kunst der Fuge Veterano |
# set/12 · Editado por: Die Kunst der Fuge
Estou postando este texto bastante interessante, informativo, claro e didático. O texto é longo, mas vale muito a pena ler! Vou postar aqui o começo, quem quiser ler o restante clique no link. Depois comentem.
Em que ponto do ciclo econômico está a economia brasileira? por Leandro Roque, sexta-feira, 16 de setembro de 2011
As notícias se avolumam. Redução no ritmo das vendas de imóveis (em algumas cidades, já há queda nos preços dos imóveis), redução no ritmo das vendas de material de construção, montadoras com estoques se acumulando, redução forte no ritmo de contratações para a indústria, para o comércio varejista, para a construção civil e até mesmo para o setor de serviços. Apenas o setor agrícola apresenta expansão nos empregos, e isso por causa da alta cotação das commodities. Todos esses fenômenos dão a entender que o ápice da expansão econômica já passou e, a julgar pelos dados macroeconômicos (que veremos mais abaixo), a economia brasileira já está em forte desaceleração, aproximando-se de uma recessão.
E aí vêm as perguntas inevitáveis: Quando isso ocorrerá? Qual será a intensidade? Já os mais céticos (ou mais governistas) perguntam até mesmo se realmente haverá alguma recessão.
Antes de abordamos mais especificamente essas perguntas, seria importante apresentar um pequeno, porém completo, resumo da mecânica de um ciclo econômico. Como ele começa, como ele termina e o que acontece nesse ínterim. Após essa explicação, poderemos então transportar a teoria para a prática.
O início de um ciclo econômico
Quando o Banco Central decide reduzir a taxa básica de juros da economia (no caso do Brasil, a SELIC), ele cria dinheiro eletronicamente e, com esse dinheiro criado do nada, compra títulos públicos que estão em posse do sistema bancário. O dinheiro eletrônico vai então para as reservas que os bancos mantêm depositadas junto ao Banco Central (os depósitos compulsórios).
E como isso afeta a SELIC?
A taxa SELIC nada mais é do que a taxa de juros que os bancos cobram (pagam) entre si no mercado interbancário para emprestar (tomar emprestado) dinheiro que possuem em suas reservas. Os bancos recorrem a essas operações interbancárias diariamente, pois, ao final de cada dia, precisam manter um determinado volume de dinheiro em suas reservas. (Esse volume é o equivalente a uma determinada porcentagem do total de suas contas-correntes, e é determinado pelo Banco Central.)
As reservas bancárias, portanto, são fundos que os bancos são obrigados — tanto por lei quanto por necessidade — a manter disponíveis na forma depósitos à vista junto ao Banco Central. Logo, uma redução na SELIC significa que o Banco Central está injetando dinheiro nas reservas do sistema bancário a uma velocidade maior do que antes. (Inversamente, um aumento da SELIC significa que o BC está injetando dinheiro nas reservas bancárias a uma taxa menor do que antes).
Com mais dinheiro nas reservas, menos bancos se veem na necessidade de pedir dinheiro emprestado no interbancário (ou do público em geral, via CDBs), e mais bancos se veem com reservas acima do nível estipulado pelo Banco Central. É essa mudança nas condições de oferta e demanda de reservas bancárias que altera a taxa de juros no mercado interbancário. E essa taxa de juros é justamente a SELIC.
No exemplo acima, a maior disponibilidade de reservas bancárias levou a uma redução da SELIC. Consequentemente, houve um aumento na capacidade do sistema bancário de criar contas-correntes adicionais, as quais serão utilizadas para a concessão de empréstimos — algo que os bancos só podem fazer quando possuem reservas em nível acima daquele estipulado pelo Banco Central. Consequentemente, os juros que os bancos cobram sobre empréstimos concedidos a pessoas e empresas diminuem.
Quando os juros são reduzidos, aqueles projetos de longo prazo que antes eram inviáveis tornam-se agora — justamente por causa dos juros mais baixos — aparentemente viáveis. Esses projetos de longo prazo (como empreendimentos imobiliários) são aqueles que demandam mais capital, mais investimentos vultosos. O que antes parecia caro, agora, repentinamente — por causa dos juros menores — parece bem mais acessível.
Consequentemente, os recursos econômicos — maquinário, matérias-primas, metais e mão-de-obra — começam a ser desviados para esses setores intensivos em capital; para esses projetos de longo prazo.
Porém, ao contrário do que muita gente pensa, as taxas de juros não são o principal fator determinante para a formação de bolhas ou mesmo de ciclos econômicos em geral. A redução da taxa de juros decorrente de manipulações monetárias feitas pelo Banco Central desencadeia o início do ciclo/bolha, porém, a partir daí, alterações na oferta monetária têm mais importância.
Por quê?
Porque a expansão da oferta monetária da economia, como Mises explicou, não ocorre de maneira uniforme. Sempre há aqueles setores que recebem esse novo dinheiro antes do resto da economia. E esse dinheiro recém-criado que entra primeiramente em determinados setores da economia altera toda a estrutura de preços da economia; altera todos os preços relativos. Se o dinheiro recém-criado vai primeiramente para o setor imobiliário, por exemplo, a estrutura de preços da economia fica distorcida em relação a este setor, fazendo com que investimentos nesse setor aparentem ser mais vantajosos, mais lucrativos, pois os preços estão sempre subindo.
A taxa de juros pode permanecer constante esse tempo todo. Ela pode estar nominalmente alta (como sempre foi no Brasil). Não interessa. O que interessa são as expectativas de lucros. As taxas de juros por si sós têm pequeno efeito sobre o planejamento empreendedorial e, consequentemente, sobre a formação de bolhas e de ciclos econômicos. O que afeta uma decisão de planejamento é a expectativa de lucros. E se os lucros propiciados por um investimento forem maiores do que os juros cobrados sobre os empréstimos para esse investimento, tal investimento é vantajoso.
Ademais, os lucros são totalmente afetados por variações da quantidade de dinheiro na economia. Mais dinheiro sendo criado, maiores os lucros contábeis daqueles setores que recebem esse dinheiro antes dos outros.
Portanto, para resumir: a redução da taxa de juros decorrente de manipulações monetárias feitas pelo Banco Central desencadeia o início do ciclo; porém, a partir daí, alterações na oferta monetária têm mais importância. Variações na quantidade de dinheiro na economia afetam os preços relativos dos setores da economia e, consequentemente, alteram as expectativas de lucros de cada setor. Isso importa mais do que os juros praticados.
O período da expansão econômica insustentável
Após a expansão monetária acima descrita causar uma redução nos juros, os investimentos começam a surgir mais intensamente na economia. Porém, como essa redução nos juros não foi causada por um aumento na poupança (isto é, pela abstenção do consumo), mas sim pela simples manipulação dos juros feita pelo Banco Central, não houve uma liberação de recursos de um setor para ser utilizado em outro setor. Aí começam os problemas.
Mais dinheiro entrando economia via financiamentos para investimentos faz aumentar a demanda por mão-de-obra na indústria e na construção civil, mas ao mesmo tempo os setores de serviço e comércio continuam precisando de mão-de-obra e recursos, pois não houve aumento na poupança (abstenção de consumo). Assim, começa a haver uma batalha por mão-de-obra e por recursos. Houvesse poupança genuína, a mão-de-obra de um setor seria liberada para outro setor, e os recursos mais demandados por um setor seriam liberados para outros setores. Mas como não há poupança, esses fatores de produção começam a ser disputados via aumentos salariais e aumentos de preços.
Assim, ao mesmo tempo em que uma construtora passa a demandar mais engenheiros, arquitetos, mestres-de-obras, corretores, vendedores, relações públicas etc., os setores de serviço e comércio continuam demandando com a mesma intensidade esses profissionais, pois as pessoas não estão poupando, o que significa que o consumo segue aquecido em todos os setores — a redução dos juros, como dito, não veio da poupança, mas sim da criação de dinheiro pelo Banco Central.
O desemprego cai e os preços e os salários sobem, exatamente como está acontecendo no Brasil.
Enquanto estiver havendo essa expansão do dinheiro e do crédito, mas os preços continuarem contidos — subindo a um ritmo moderado —, os números positivos da economia irão durar. A demanda por bens e serviços irá continuar em alta. Os estoques das empresas serão prontamente vendidos. Apartamentos continuarão sendo vendidos na planta. Novos empreendimentos continuarão sendo iniciados. Carros zero continuarão sendo vendidos aceleradamente. Novos restaurantes e novas lojas continuarão sendo abertos. Os preços e os lucros continuarão subindo. Trabalhadores continuarão encontrando empregos a salários nominais cada vez maiores.
No entanto, tal expansão econômica não pode durar. Em algum momento, essa expansão monetária começará a provocar um aumento generalizado nos preços, como já vem acontecendo no Brasil.
O fim da ilusão
A consequência é que esse aumento de custos vai ficando fora do controle das empresas que estavam realizando investimentos. Quando começaram a investir, elas não previam (e não tinham como prever) que haveria esse rápido aumento em seus custos (tanto de mão-de-obra quanto de matéria-prima).
O aumento generalizado nos preços e nos custos força as empresas a obterem mais empréstimos (ou a refinanciar seus empréstimos) para que possam finalizar seus projetos já iniciados. Mais recursos passam a ser demandados. Essa busca por mais crédito provoca um aumento dos juros dos empréstimos. Entretanto, o Banco Central pode intervir aumentando o ritmo das injeções de dinheiro no sistema, evitando temporariamente essa subida nos juros. Porém, tais injeções de dinheiro farão — como foi explicado no início — com que haja ainda mais distorções nos preços relativos e na estrutura de produção da economia, reiniciando o ciclo de mais procura por crédito. Isso vai se repetir até o momento em que o Banco Central, assustado com a inflação de preços, resolver reduzir o ritmo das injeções monetárias e deixar os juros subirem gradualmente.
Mesmo que o Banco Central continuasse injetando dinheiro indefinidamente, uma hora os bancos teriam de aumentar os juros dos seus empréstimos, pois a expansão monetária estaria provocando um inevitável aumento de preços. Assim, se os bancos não aumentassem os juros cobrados, eles simplesmente receberiam — no momento da quitação do empréstimo — um dinheiro com um poder de compra menor do que o que esperavam receber quando concederam o empréstimo.
Enquanto isso, os preços dos fatores de produção (mão-de-obra e bens de capital) seguem subindo, por causa da forte demanda. Quanto mais os preços dos fatores de produção sobem, mais desesperadas por novos empréstimos ficam aquelas empresas que deram início a projetos de longo prazo levadas pela crença de que o crédito seria farto e barato durante muito tempo, e que os lucros seriam fáceis. O aumento dos preços — e, por conseguinte, dos juros — altera seus planos.
Esse aumento dos juros inviabilizará a conclusão desses empreendimentos de longo prazo — sejam eles a construção de shoppings, a construção de prédios, a expansão de indústrias ou até mesmo a abertura de franquias de restaurantes. Descobre-se, finalmente, que não havia poupança suficiente (poupança no sentido de recursos físicos disponíveis; a escassez fez com que seus preços subissem) para sustentar a viabilidade de longo prazo desses investimentos.
Quando isso ocorre, há um processo de correção na economia, também conhecido como recessão. A mão-de-obra que foi desviada para setores que se expandiram apenas por causa dos juros artificialmente baixos — indústrias e qualquer grande empreendimento de longo prazo — descobrirá que suas habilidades não mais estão sob demanda. Elas perdem o emprego e passam a ter de se reeducar para adquirir novas habilidades para outros empregos, os quais provavelmente estarão agora no setor de serviços e comércio.
O período da expansão econômica irá terminar e dar-se-á início à recessão. Quanto mais cedo esta vier, menor terá sido a destruição de capital desse período da expansão.
A expansão monetária no Brasil
Cada economista seguidor da Escola Austríaca tem seu método preferido para analisar a expansão monetária da economia brasileira. Alguns utilizam o M1. Outros, o M2. Outros, as reservas bancárias. E outros olham apenas a evolução dos depósitos em conta-corrente (este método é o meu segundo preferido).
Particularmente, acho que o método mais completo é analisar a evolução dos meios fiduciários. Meios fiduciários são os depósitos bancários que podem ser utilizados como meios de pagamento e que não estão lastreados por absolutamente nada (no atual sistema monetário, isso significa que não há nenhuma cédula de papel ou moeda metálica depositada no banco para cobrir essa quantia).
Ou seja, trata-se da moeda escritural que não tem nenhuma reserva lastreando-a, pois foi criada do nada pelo sistema bancário de reservas fracionárias. Falando mais popularmente, é o dinheiro que você utiliza como pagamento via cheques ou cartão de débito, mas que não possui um correspondente valor em dinheiro físico dentro dos cofres dos bancos ou nos depósitos eletrônicos dos bancos junto ao Banco Central.
Em termos técnicos, para você saber o total de meios fiduciários, basta subtrair o total da base monetária do total do M1[1]. (Aos mais interessados, realmente recomendo clicar nessa nota de rodapé).
E por que analisar os meios fiduciários? Porque a quantidade de meios fiduciários em qualquer momento representa o acumulado total de toda a expansão de crédito ocorrida na oferta monetária do país até aquele momento. Ela representa a soma de todos os empréstimos que o sistema bancário de reservas fracionárias fez baseando-se na criação de dinheiro sem qualquer lastro.
E o principal: a diferença entre a quantidade de meios fiduciários entre dois períodos de tempo representa exatamente a expansão do crédito ocorrida nesse intervalo.
Logo, a evolução dos meios fiduciários representa um bom indicador da evolução do crédito artificial no país, além de mostrar como esse crédito está sendo afetado pela política de juros do Banco Central.
(...)
Continua:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1108&comments=true
---------------------------------------------
Só por desencargo de consciência mesmo...
Quem se interessar sobre o assunto de crises econômicas, aqui tem uma ÓTIMA introdução, recomendo este artigo e o power point no final dele:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=228
|
Die Kunst der Fuge Veterano |
# set/12
· votar
Eric Clapton Mas pelo o que eu entendi, no aspecto imobiliário, vai ocorrer uma forte desvalorização?
Essa especulação imobiliária maldita vai diminuir?
Este artigo é de 2011, tem um mais atual, de julho de 2012, que ele fala do setor imobiliário:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1347
"Este gráfico mostra uma realidade bem mais interessante. Ele mostra que, como já havia sido identificado no gráfico anterior, a expansão do crédito para a aquisição de imóveis de fato começou a ser inflada em 2005. Depois, apresentou uma ligeira arrefecida no final de 2006/início de 2007, voltando a acelerar fortemente em 2008, desacelerando um pouco em 2009 e voltando a acelerar a todo vapor em 2010. No início de 2011, a aceleração estancou; no segundo semestre, começou a desaceleração.
Portanto, de acordo com a teoria austríaca, o setor imobiliário entrou em estagnação desde o início de 2011. Afinal, como dito, não é necessário haver nenhuma contração do crédito (algo muito longe de ocorrer, dado que ele segue crescendo mais de 40% ao ano). Basta apenas que haja uma redução na taxa de crescimento, que é o que está acontecendo. Ela caiu de 54% para 42%. Vale observar que, até então, nunca havia ocorrido nenhuma redução desde 2003.
Quando o crédito direcionado ao setor imobiliário parou de se acelerar, as bases para a subida contínua nos preços foram removidas. A redução nesta expansão do crédito significou um arrefecimento da demanda por imóveis, pois um dos principais componentes da demanda por imóveis advinha exatamente dos fundos gerados pela expansão do crédito. Um declínio nesse componente gerou um equivalente declínio na demanda geral por imóveis. O declínio na demanda por imóveis foi, obviamente, seguido de um declínio nos preços dos imóveis.
Os preços dos imóveis já caíram, mas este é um fato que está sendo muito astutamente ocultado. Por exemplo, em vez de dizer que não mais estão conseguindo vender por aqueles preços que haviam imaginado ser possível, as construtoras preferem dizer que estão "fazendo ofertas" ou "oferecendo descontos e promoções". Mas não existe desconto em um mercado genuinamente aquecido. Existe apenas queda de preço.
Quando o crédito para o setor estava fluindo aceleradamente, começando em 2008 e se consolidando em 2010, várias construtoras se animaram com as perspectivas de lucro fácil, se endividaram e foram lançar projetos. Agora, no entanto, com a desaceleração do crédito para a aquisição de imóveis, tais perspectivas de lucros não mais estão se concretizando, e várias construtoras estão enfrentando dificuldades em seus balancetes. As cotações das ações de algumas empresas imobiliárias listadas na Bovespa estão próximas de suas mínimas históricas (Rossi Residencial, PDG Realty, Brookfield e Gafisa.)"
Benva
Sim, por que a pergunta? Alguma parte em específico?
|