brunohardrocker Veterano |
# dez/13
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A um bochincho - certa feita, Fui chegando - de curioso, Que o vicio - é que nem sarnoso, nunca pára - nem se ajeita. Baile de gente direita Vi, de pronto, que não era, Na noite de primavera Gaguejava a voz dum tango E eu sou louco por fandango Que nem pinto por quireral.
Atei meu zaino - longito, Num galho de guamirim, Desde guri fui assim, Não brinco nem facilito. Em bruxas não acredito 'Pero - que las, las hay', Sou da costa do Uruguai, Meu velho pago querido E por andar desprevenido Há tanto guri sem pai.
No rancho de santa-fé, De pau-a-pique barreado, Num trancão de convidado Me entreverei no banzé. Chinaredo à bola-pé, No ambiente fumacento, Um candieiro, bem no centro, Num lusco-fusco de aurora, Pra quem chegava de fora Pouco enxergava ali dentro!
Dei de mão numa tiangaça Que me cruzou no costado E já sai entreverado Entre a poeira e a fumaça, Oigalé china lindaça, Morena de toda a crina, Dessas da venta brasina, Com cheiro de lechiguana Que quando ergue uma pestana Até a noite se ilumina.
Misto de diaba e de santa, Com ares de quem é dona E um gosto de temporona Que traz água na garganta. Eu me grudei na percanta O mesmo que um carrapato E o gaiteiro era um mulato Que até dormindo tocava E a gaita choramingava Como namoro de gato!
A gaita velha gemia, Ás vezes quase parava, De repente se acordava E num vanerão se perdia E eu - contra a pele macia Daquele corpo moreno, Sentia o mundo pequeno, Bombeando cheio de enlevo Dois olhos - flores de trevo Com respingos de sereno!
Mas o que é bom se termina - Cumpriu-se o velho ditado, Eu que dançava, embalado, Nos braços doces da china Escutei - de relancina, Uma espécie de relincho, Era o dono do bochincho, Meio oitavado num canto, Que me olhava - com espanto, Mais sério do que um capincho!
E foi ele que se veio, Pois era dele a pinguancha, Bufando e abrindo cancha Como dono de rodeio. Quis me partir pelo meio Num talonaço de adaga Que - se me pega - me estraga, Chegou levantar um cisco, Mas não é a toa - chomisco! Que sou de São Luiz Gonzaga!
Meio na volta do braço Consegui tirar o talho E quase que me atrapalho Porque havia pouco espaço, Mas senti o calor do aço E o calor do aço arde, Me levantei - sem alarde, Por causa do desaforo E soltei meu marca touro Num medonho buenas-tarde!
Tenho visto coisa feia, Tenho visto judiaria, Mas ainda hoje me arrepia Lembrar aquela peleia, Talvez quem ouça - não creia, Mas vi brotar no pescoço, Do índio do berro grosso Como uma cinta vermelha E desde o beiço até a orelha Ficou relampeando o osso!
O índio era um índio touro, Mas até touro se ajoelha, Cortado do beiço a orelha Amontoou-se como um couro E aquilo foi um estouro, Daqueles que dava medo, Espantou-se o chinaredo E amigos - foi uma zoada, Parecia até uma eguada Disparando num varzedo!
Não há quem pinte o retrato Dum bochincho - quando estoura, Tinidos de adaga - espora E gritos de desacato. Berros de quarenta e quatro De cada canto da sala E a velha gaita baguala Num vanerão pacholento, Fazendo acompanhamento Do turumbamba de bala!
É china que se escabela, Redemoinhando na porta E chiru da guampa torta Que vem direito à janela, Gritando - de toda guela, Num berreiro alucinante, Índio que não se garante, Vendo sangue - se apavora E se manda - campo fora, Levando tudo por diante!
Sou crente na divindade, Morro quando Deus quiser, Mas amigos - se eu disser, Até periga a verdade, Naquela barbaridade, De chínaredo fugindo, De grito e bala zunindo, O gaiteiro - alheio a tudo, Tocava um xote clinudo, Já quase meio dormindo!
E a coisa ia indo assim, Balanceei a situação, - Já quase sem munição, Todos atirando em mim. Qual ia ser o meu fim, Me dei conta - de repente, Não vou ficar pra semente, Mas gosto de andar no mundo, Me esperavam na do fundo, Saí na Porta da frente...
E dali ganhei o mato, Abaixo de tiroteio E inda escutava o floreio Da cordeona do mulato E, pra encurtar o relato, Me bandeei pra o outro lado, Cruzei o Uruguai, a nado, Que o meu zaino era um capincho E a história desse bochincho Faz parte do meu passado!
E a china - essa pergunta me é feita A cada vez que declamo É uma coisa que reclamo Porque não acho direita Considero uma desfeita Que compreender não consigo, Eu, no medonho perigo Duma situação brasina Todos perguntam da china E ninguém se importa comigo!
E a china - eu nunca mais vi No meu gauderiar andejo, Somente em sonhos a vejo Em bárbaro frenesi. Talvez ande - por aí, No rodeio das alçadas, Ou - talvez - nas madrugadas, Seja uma estrela chirua Dessas - que se banha nua No espelho das aguadas!
Bochincho Jayme Caetano Braun
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