A guerra que já foi vencida

    Autor Mensagem
    yield
    Veterano
    # nov/10


    Se a violência pode ser justificada é na iminência de uma tragédia maior de outro modo inevitável. Sobre essa base a guerra busca a sua razão de ser, no seu ideal de futuro, que distrai a visão de um presente assustador. Porém a mesma lógica que garante ao assassino o perdão pode demonstrar que uma ação violenta produz, por natureza, novas sementes de violência.

    Nos combates do Rio de Janeiro falta base a esse futuro idealizado e redentor, capaz de fazer valer a pena as conseqüências, pelo fato de o inimigo não existir como indivíduo, mas sim também como efeito. Então seria irrelevante, não fosse trágico, quantos são presos ou mortos antes que se elimine a causa, o motivo primeiro que dá corpo ao problema: o tráfico de drogas.

    Essa imaterialidade do inimigo ultrapassa os limites da favela e ignora o combate aos corpos, que com facilidade são substituídos. Faz de tudo uma farsa, encenada pela polícia, com o aval dos governos e da sociedade. Todo combate se mostra em vão. Todo dinheiro gasto, todo o tempo e tantas vidas. O tráfico jamais pode ser vencido por um motivo óbvio demais para ser negado: as pessoas continuarão usando drogas.

    Talvez ainda seja difícil demais pra alguns acreditar nisso, porém sempre haverá drogas. De todos os tipos que se possa imaginar. Absolutamente independente do que quer a lei ou mesmo a maioria. Ingênuo é pensar que um dia pode ser anunciada a queima do último pé de maconha do mundo e que já não há ninguém disposto a buscar novas sementes. Acabar com o poder do narcotráfico no Complexo do Alemão, na Rocinha, ou onde quer que seja, na verdade nada mais é que transferir esse poder paralelo para outro lugar. Um poder desestruturado, mas que se não for extinto a partir de suas causas, se estabilizará novamente.

    O Rio vive hoje o caos da ausência de uma luz legítima no fim túnel. A população assustada se entorpece na ilusão e aplaude o mágico no final de cada cena. Um espetáculo dessa vez grandioso, com tanques de guerra, helicópteros blindados e muitos mortos. Ainda assim um espetáculo vazio, encenado por mascates de falsas esperanças. A solução para a violência não pode estar em recuperar territórios dominados, dizimar quadrilhas e apreender drogas e armas, uma vez que tudo pode ser substituído, mas a anestesia é vendida como cura, como um remédio amargo e milagroso, administrado somente agora porque o governo atual é melhor que o anterior.

    Aceitando a lógica de que as drogas continuarão sempre a ser vendidas, a perseguição aos traficantes revela sua face absurda. Todas as mortes decorrentes desse equívoco apenas contribuem para que a legalização se estabeleça como uma causa humanitária. Uma causa motivada pela compaixão e cujo efeito imediato seria a quebra do círculo de repressão inútil, violência e ilusão que a tantos causa sofrimento.
    Se a situação no Rio de Janeiro fugiu de controle se deve ao fato de que há muito tempo o dinheiro relacionado às drogas é investido em armas. Uma defesa contra a polícia e contra facções rivais na disputa por uma fatia maior de um mercado sem lei. E ainda que esse armamento seja todo destruído, o dinheiro das drogas permanecerá nas mãos de quem o estado combate, fazendo o círculo girar mais uma vez.

    Enquanto a hipocrisia não for vencida, enquanto a chacina de traficantes nas favelas for comemorada na zona sul em festas regadas a maconha e cocaína, o efeito anestésico da repressão se perderá sem que a doença em si seja tratada. O tráfico encontrará novos caminhos à margem da lei, sempre que lhe for imposto obstáculos impermanentes. E por maior que seja o benefício das Unidades de Polícia Pacificadora, entre os principais resultados práticos da implantação e manutenção do modelo em todas as favelas em que existe tráfico, estaria a falência do país.

    A invasão a alguns destes territórios parece mais uma questão de orgulho. Algo para esconder uma derrota que não se quer admitir. O deboche manifesto, transmitido ao vivo, torna-se então intolerável. Soa também como um pedido. Para que os traficantes sofistiquem seus métodos, não desafiem o poder oficial, conquistem seu espaço com mais diplomacia. Nada de invadir favela rival dando tiro. Façam seus líderes dialogar, respeitem a concorrência e se escondam às vezes, quando aparecer a polícia. No mais, sigam tranqüilos. A guerra na verdade já foi decidida e as drogas venceram. Seu lugar na Terra está garantido na vontade de um número mais que suficientes de nós, seres humanos, usuários ou comerciantes. A legalização é apenas uma formalidade necessária, o acordo de paz que oficializa a derrota.

    TWT ICE
    Veterano
    # nov/10
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    gerador de lero-lero

    Leucocieetus
    Veterano
    # nov/10
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    Mas assim, na lata?! Sem explicação, sem introdução?

    faith_girl
    Veterano
    # nov/10
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    yield

    ressurgindo das cinzas heim!

    yield
    Veterano
    # nov/10
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    ah eh q eu vi uns tópicos sobre maconha haha e tb q eu to chapado

    Rafael Walkabout
    Veterano
    # nov/10
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    yield
    Voltou!

    busterchair
    Veterano
    # nov/10
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    ctrl c ctrl v n dá trabalho.

    thebassx
    Veterano
    # nov/10 · Editado por: thebassx
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    Penta-Blues fecha esse aqui também.

    Porra, penta blues foi capaz de fechar um tópico em que ele mesmo opinou. fiquei pasmo com a imparcialidade.

    J. S. Coltrane
    Veterano
    # nov/10
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    achei digno

    Cavaleiro
    Veterano
    # nov/10
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    Hoje eu tô com dor de cabeça, então vou esperar o filme.

    Codinome Jones
    Veterano
    # nov/10
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    nemly nemleray - #nowplaying

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