The Root Of All Evil Veterano
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# out/10
Nem sempre a palavra Islã povoa o imaginário ocidental de forma positiva. Mas pouca gente conhece de fato a tradição islâmica, que se propagou desde o século VII e, mesmo com uma origem comum, ganha contornos distintos mundo afora. O Rio terá a chance de se aproximar dessa cultura na exposição "Islã", que será inaugurada hoje, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com curadoria de Rodolfo Athayde e Daniel Farah. Em cerca de 300 obras, a mostra abarca 13 séculos de arte islâmica, do VIII ao início do XX, com peças de coleções de importantes instituições da Síria, como o Museu Nacional de Damasco, e do Irã, como o Museu Reza Abassi, em Teerã, além de obras do Acervo Casa das Áfricas e da Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul - Países Árabes, em São Paulo.
Confira o serviço da exposição no site do Rio Show.
- Os extremismos islâmicos são hoje um tema da mídia, e a exposição traz a possibilidade de entender melhor essa cultura, que é vinculada à religião. A ideia é oferecer uma janela para o diálogo - diz Athayde, idealizador da mostra. - As obras não vieram de coleções montadas na Europa ou nos Estados Unidos. Fomos diretamente à fonte. A Síria foi o território fundacional da primeira grande dinastia islâmica, e o Irã tem uma cultura profunda, com um legado não árabe da cultura muçulmana.
Adaga iemenita com bainha / Divulgação Pátio cenográfico na rotunda
Na rotunda do CCBB, a cenografia já começa a ambientar o espectador para o que está por vir, com a reprodução de um pátio interno típico da arquitetura muçulmana, com padrões geométricos da Grande Mesquita de Damasco. No primeiro andar, um portal inspirado nas mesquitas persas recebe o visitante numa sala introdutória, que destaca os diferentes tipos de objetos e materiais que serão vistos ao longo do percurso. Ali, quatro mapas mostram os períodos de expansão e retração do Islã pelo mundo, da Península Ibérica ao Norte da África, da ocupação de Istambul à chegada ao Sudeste Asiático.
- Uma linha do tempo vai do nascimento do profeta Maomé até o período após a Segunda Guerra Mundial, quando se conformam os Estados nacionais islâmicos atuais - diz Athayde, que buscou dar um panorama de alguns dos princípios que norteiam a arte islâmica. - Não existe a prescrição de um estilo artístico, mas características comuns, como a caligrafia e os padrões ornamentais, por excelência geométricos. Há uma busca de harmonia por meio de conceitos, assim como o Deus do Islã é abstrato, nunca representado.
Arco feito de azulejo de cerâmica com versículo do Alcorão / DivulgaçãoNa segunda sala, mantém-se uma preocupação educativa e de estímulos lúdicos, com uma tela touch screen na qual se podem construir padronagens da arquitetura islâmica e uma projeção em 360 graus que leva o visitante a diversas mesquitas do mundo.
- Não tenho medo da palavra "didático". É uma exposição grande, para uma plateia ampla, com conhecimento superficial ou quase nulo do assunto - explica o curador.
Em seguida, a mostra passa a se aprofundar em aspectos específicos da arte islâmica, a começar por uma seleção de cerâmica e objetos em vidro dos séculos VII ao XIII. Há ainda pedras de caráter funerário, uma madeira do século XI, talhada com inscrições, além de peças que cobriam as fachadas do Palácio de Al Gharbi, na Síria, onde reinou a dinastia dos Omíadas, nos séculos VII e VIII.
- Sobretudo nessa primeira fase islâmica, os muçulmanos aproveitaram o legado que tinham, como as colunas dóricas, jônicas e romanas. Isso pode ser visto muito bem na Igreja de Damasco.
Astrolábio esférico / Divulgação
A exposição se completa com escudos, capacetes, armaduras, tapetes persas e cerâmicas esmaltadas em azul. Por fim, estão reunidos objetos do século XIX provenientes do Palácio Azem - hoje Museu das Tradições Populares, em Damasco -, como instrumentos, baús em madrepérola, armas, sabres, adagas, tamancos, tecidos e roupas típicas do Império Otomano. Para Athayde, esse é um núcleo importante para se perceber a marca da tradição islâmica no cotidiano, facilitando ainda mais o diálogo com uma outra cultura:
- A Síria é um Estado com características laicas, onde muçulmanos e cristãos convivem em harmonia. É um exemplo de tolerância na região - diz Athayde. - Damasco é um labirinto de mercados milenares e palácios escondidos. Teerã é tipo São Paulo, só que mais decadente. São duas capitais modernas cujas culturas, com todas as suas contradições, precisam ser conhecidas.
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Vou hoje! =***
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