Kensei Veterano |
# ago/10
· votar
http://www.youtube.com/watch?v=TD4qRD408OQ
Esse collor deveria ser ator.
Bom, vou postar aqui uma revisão que eu fiz alguns anos atrás...
3.2 Planos Collor I e II
Durante a campanha eleitoral o candidato Collor manifestava o pensamento de que deveria ocorrer uma liberalização geral da economia e do Estado como forma de modernizar a economia e o social do país, propondo, ainda, o fim do processo inflacionário (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002, p. 289).
Às vésperas da posse do novo presidente eleito – Fernando Collor de Mello – a expectativa, aliado a uma enorme tensão, em relação a um novo plano econômico era enorme. O mercado financeiro estava imbuído em uma onda de incerteza, com uma grande movimentação de recursos, em um cenário de generalizada instabilidade nas cotações. Houve freqüentes e contraditórias trocas de posições financeiras. Grandes somas de recursos migraram do open market para os depósitos em poupança, haja vista que o presidente eleito, durante a campanha, assumiu o compromisso de preservar as poupanças contra desvalorizações e confisco. No entanto, a liquidez imediata parecia ser o único meio de neutralizar a incerteza daqueles momentos (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002, p. 283-284).
A inflação apurada entre 15 de fevereiro e 15 de março, alcançou 85%, ou seja, a economia se encontrava a beira da hiperinflação, e, vale dizer, ainda, que não houve na economia brasileira um momento igual a esse em se tratando de incerteza e nervosismo por parte dos agentes, havendo a necessidade, inclusive, de se decretar um feriado bancário entre os dias 13 e 19 de março de 1990 (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002, p.284).
Em 16 de março de 1990 ocorreu a revelação a respeito das medidas a serem implementadas pelo novo Plano Econômico. Para a surpresa geral, parecia muito mais drástico e radical do que todas as previsões.
As principais medidas de curto prazo eram: a) uma Reforma Monetária, com o bloqueio de 70% dos ativos financeiros do setor privado; b) um ajuste fiscal; c) uma política de rendas; d) introdução de câmbio flutuante; no longo prazo políticas de liberalização do comércio exterior e privatização (BRESSER-PEREIRA, 1991 (b), p.98).
A indexação mensal dos salários foi substituída por uma regra de reajuste baseada em um índice pré-fixado pelo governo. O câmbio passou a operar de forma "livre", deixando de lado o sistema de "minidesvalorizações". Em relação ao setor público foi criado um programa de demissão de funcionários e a venda de ativos da União, além de um programa de privatização com a qual se pretendia arrecadar US$ 1 bilhão já no ano de 1990 (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002, p.285-286).
Na área fiscal havia o objetivo de ampliar a incidência do imposto de renda, reduzir gastos em investimentos do setor público, com a eliminação de vários tipos de incentivos fiscais. Criou-se um imposto sobre saldos da riqueza financeira: 35% sobre a venda de ouro e 25% sobre a venda de ações. O congelamento de preços foi determinado, mas de forma prematura, começou a ocorrer o processo de liberação dos preços (BAER, 2002, p.202)
Com a reforma monetária a moeda voltou a se denominar cruzeiro em substituição ao cruzado novo. A troca do padrão monetário serviu para impor as condições de conversão dos ativos e haveres. A reforma somente autorizou a conversão automática e ao par ao papel moeda em poder do público. Sobre todos os demais valores em cruzados novos definiram-se regras de conversão à nova moeda. O valor das aplicações financeiras em cruzados novos seria convertido em cruzeiro após um ano e meio mediante 12 parcelas mensais com rendimento de 6% ao ano. Foram permitidas a conversão imediata e ao par, para poupanças e depósitos à vista de valores até Cr$ 50.000,00 e 20% das aplicações do open market (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002, p.287-288).
A repercussão após a divulgação da Reforma foi enorme, o sentimento geral da população era de indignação. Na tentativa de se proteger da inflação, a maior parte da população utilizava-se de aplicações em caderneta de poupança, que a partir de 16 de março tornaram-se "bloqueadas". Juristas de todo o Brasil questionaram a legalidade da reforma. Alguns políticos questionavam a maneira autoritária e impopular do bloqueio das poupanças, entretanto, após um mês da introdução do novo plano via medida provisória, o Congresso Nacional aprovou, praticamente na íntegra, a reforma. Essa viabilização deixou conseqüências políticas importantes, haja vista que os setores liberal-conservadores passaram a impor a política econômica e social do país (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002, p. 288).
Os impactos do novo plano foram acintosos, os negócios foram interrompidos de forma geral, ocorrendo uma retração na produção e nas vendas sem precedentes, para se ter idéia, a produção industrial no mês de abril, declinou 29% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Os índices de inflação também reduziram, o Índice Geral de Preços (IGP-DI) registrou aumento de 81,3% em março, 11,3% em abril e 9,1% em maio (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002, p. 295).
Vale dizer ainda, que o súbito desaparecimento da liquidez monetária fez com que as taxas de juros se elevassem subitamente, chegando ao patamar de 30% ao mês. Isso ocasionou a criação de um mercado secundário de transações, e tornou-se um método fundamental no período posterior ao "Plano Collor". Considerando a falta de liquidez e a elevada taxa de juros, as empresas e famílias passaram a tomar empréstimos entre si para saldar as dívidas, ao passo que também era permitido usar os saldos bloqueados para pagar tributos e antigas dívidas fiscais, ao invés de utilizar a moeda nova, de modo que essa relação entre os agentes, usando a moeda velha, acompanhado de um deságio, para pagar tais dívidas, permitiu que não ocorresse um aumento generalizado da liquidez na economia (CARNEIRO, 2002, p.220).
Um outro aspecto ocorrido após a reforma, foi a recuperação de algumas das funções básicas da moeda, mesmo que não tenha se conseguido debelar a inflação, a Reforma conseguiu "estancar" o processo de hiperinflação, ao mesmo tempo em que o Brasil passava por uma das piores recessões (CARNEIRO, 2002, p. 224).
A partir do mês de julho de 1990, a inflação volta a se acelerar, haja vista que houve um afrouxamento do controle de preços e salários e no processo de remonetização, e em fevereiro de 1992 é lançado um conjunto de medidas que ficou conhecido como Plano Collor II, que tinha como foco implementar uma reforma financeira no intuito de extinguir o overnight e a eliminar a inflação inercial por meio de um congelamento de salários e preços (BAER, 2002, p, 205).
Durante o Plano Collor II houve uma intensa busca pela austeridade, nesse sentido o Governo promoveu um intenso bloqueio no orçamento, inclusive nos Ministérios chaves, tais quais: Educação, Saúde, Transporte, e Bem Estar Social. Além disso, criou-se uma comissão subordinada ao Ministério da Fazenda para controlar os gastos das empresas estatais. Houve também um aumento nas tarifas públicas antes do congelamento. Entretanto, os efeitos de tais medidas sobre os preços foram apenas de curto prazo, a inflação em janeiro de 1991 apresentou alta de 27%, enquanto que em abril caiu para 18% ,entretanto, na segunda metade do ano ficou na média em 25% ao mês. No mês de maio de 1991, após os fracassos dos planos adotados e as enormes pressões da mídia e da sociedade, e a falta de apoio político, cai a então Ministra Zélia Cardoso (BAER, 2002, p, 205).
Em suma, no Governo de Fernando Collor de Mello, o setor público foi o grande beneficiado com a reforma implementada, principalmente no que se refere á dívida de curto prazo, que após a reforma foi transformada em dívida de médio prazo, carregando, ainda, taxas de juros menores, além da introdução de uma nova moeda ter gerado um deságio sobre a dívida (CARNEIRO, 2002, p. 221).
Vale salientar, ainda, que em relação ao setor externo, houve uma intensa abertura comercial, por meio de uma redução nas tarifas de importação, combinada com uma valorização cambial, além da eliminação do programa de incentivo às exportações (BAER, 2002, p, 204).
|