Quase nada Veterano |
# set/08
"...A história mais engraçada, porém, aconteceu quando, acompanhado de três amigos, sentamos numa mesa com cinco mulheres (ou algo que se possa definir anatomicamente assim) que estavam, elas sim, guerreiraças. O problema é que, das cinco mulheres dessa mesa, uma era marromenu, outra era megamukiça e as outras três eram intragáveis, impegáveis, lanças-chamas ambulantes, tostadoras de filme para qualquer um. Quando a gente foi sentar na mesa delas (rolou uma conferência entre os quatro homens antes de decidirmos sentar lá e deu empate por 2 x 2 na decisão infeliz de nos juntarmos às quatro monstrengas), elas, estrategicamente, colocaram as cadeiras alternadas.
Daí em diante rolou um lance bizarro. Em um minuto, um dos caras tinha pegado a mais bonitinha. Os outros três já se entrolharam e pensaram “merda, fodeu”. Em seguida, o outro pega a mukissa. E, não mais que de repente, todo mundo começou a socar a mesa e dizer, aos berros “beija, beija, beija!!!!”, para mim e para o outro pobre coitado, que ficamos à mercê de dois espanta-monstros de fazer inveja à Zezé Macedo. Sucedeu-se, então, situação ainda mais complicada. O cara que estava ao meu lado, quase chorando de desespero, me soprou ao ouvido: “cara, não vai ter jeito, vamos ter que pegar essas mulheres. Dá só um ploc que os caras páram de encher o saco”. Quando ele deu um estalinho naquela coisa oriunda do planeta dos macacos, rolou uma comemoração geral na mesa e as atenções se voltaram à mim e àquele ser de feiúra indescritível que se postava à minha direita.
Discretamente, eu ainda conversei algo com ela, perguntando coisas do tipo “o que você faz?”. Ao que ela respondia “não faço nada”. Você estuda? “não, não faço nada no momento”. Puta merda. Quando ela abriu a boca para sorrir, foi algo nojento: ela não tinha um dente. Era feia demais, mais feia que bater na mãe na véspera do Natal. Feia não, horrível. Assim, uma visão do inferno. Eu tava tentando sair fora dali de qualquer jeito. E só despistei a menina quando disse, num lampejo de genialidade e sem a menor vergonha: “olha, desculpa, você é legal, mas sou homossexual”. Ela falou “como assim?”. Eu disse: “é isso mesmo. Eu sou gay, sou muito discreto. Não posso ficar com você”. Ela desconfiou, mas ficou quieta por um momento.
Quando eu achei que ia me safar, um dos amigos que já tinham trocado secreções com aqueles monstrinhos teve a infeliz idéia – recheada de vingança e sentimento de “não vou fazer merda sozinho, temos que ser solidários na merda” – de gritar em alto e bom som: “vamos combinar assim: quem não beijar na boca hoje vai pagar a conta”. A proposta, claro, foi amplamente aceita pelos Orcs e Ogras. A pressão foi enorme e a menina dizia, meio constrangida, para o meu amigo que não ia me beijar porque eu era gay. Ao que ele desementiu na hora: “mentira, esse filha da puta não é gay coisa nenhuma. Ta é de sacanagem com você”.
Foi então que eu me deparei com nove pessoas berrando “beija, beija, beija!!!” e a única coisa que me veio à cabeça foi simplesmente sair correndo. Sério, levantei e saí correndo, sem hesitar. Paguei a conta e fui embora. Quando estava no carro, eu dava socos no ar de tanta felicidade. Posso ter ido ali umas trinta vezes e me divertido muito, mas aquele dia foi, sem dúvida, o que eu me senti mais íntegro e feliz. Não à toa, na segunda-feira post mortem, os caras me ligaram com a maior sensação de “fiz merda” ou de “caralho, que queimação, peguei uma mulher muito horrorosa na frente de todo mundo”. E ainda disseram que deviam ter feito o mesmo que eu. Foi embaraçoso, mas engraçado. Histórias do finado Frei Caneca."
Fonte: http://joselitando.blogspot.com/2005/11/destroos-de-um-campo-de-batalh a.html
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