Rato Veterano |
# set/08
Estou no aeroporto. No momento em que o vôo é chamado, os passageiros disparam. Alguns furam fila, outros se apressam cortando o caminho de quem já está no corredor de embarque. Vejo uma jovem senhora com uma menina pequena. Tento abrir espaço para as duas. – Venham, vocês têm prioridade! – Deixa pra lá – responde ela. – Não gosto de correria. É um mistério. Por que tanta pressa para entrar no avião se os lugares são marcados e a aeronave só decola depois do embarque completo? É incrível: os apressados atropelam mães com crianças e não respeitam a prioridade aos idosos. Para depois esperar sentadinhos um bom tempo dentro do avião! No teatro é a mesma coisa. Os lugares são marcados. Quando as portas se abrem é uma aglomeração para entrar. Há até empurra-empurra. A peça vai começar antes de o público se acomodar? Nem pensar! O respeito à fila anda desaparecendo. Se passo o cartão no caixa de uma loja lotada, sempre há alguém que entra de lado, pedindo para ser atendido. E a raiva de alguns clientes quando a mocinha demora para fazer o troco? Respiram fundo, causam mal-estar. Para depois continuar andando pelo shopping, admirando as vitrines! É comum a espera nos restaurantes. Pior ainda é testemunhar o conluio entre alguns clientes e o maître para sentar antes. Se há pressa, melhor ir a um fast-food! Conheço uma jovem que mora perto do metrô, mas não o usa para chegar ao trabalho. O motivo: a conexão na Estação Sé. – Ninguém espera os outros saírem. Já vão entrando. Vira uma loucura. Sou empurrada, amassada. Dá medo. Mesmo no lazer as pessoas se apressam. Ficam nervosas se a bebida demora para chegar. Reclamam se o filme demora para começar. Entram em guerra com manobristas, garçons e vendedores. Tudo, muitas vezes, por questão de cinco minutos! Tenho um amigo que briga em todo tipo de lugar. Se está experimentando todas as prateleiras de uma loja e o vendedor se afasta um instante, reclama: – Você não está me atendendo? Agora foi atrás de outro cliente? Exige presença, mas costuma ir embora sem comprar nada depois de horas. Nos restaurantes, grita: – E aquela água que eu pedi faz um século? – Já está vindo – murmura o garçom apavorado. E assim por diante. Outro dia, desabafei: – Não tenho mais coragem de freqüentar restaurante com você. Passo vergonha. O pior é que esse tipo de pessoa consegue tornar qualquer passeio estressante. Na raiz dessa atitude existe a velha vontade de tirar vantagem em tudo. Todos se lembram do prefeito que, em sua campanha, há várias eleições, prometeu o Fura-Fila. Foi aplaudido pela idéia. Como se furar fila fosse correto! Passar à frente dos outros, sentar-se em primeiro lugar e atitudes do gênero são maneiras de obter vantagem. Francamente, para mim é uma forma de ser muito pequena. Mesquinha. A vida na cidade, com tantas informações, compromissos e trânsito, induz todos nós a viver em velocidade. Corro o risco de perder a alegria de admirar um ipê florido na rua, de conversar entre cafezinhos sem tempo para terminar, de não ter tempo para mim e para as pessoas, até desconhecidos. É ótimo quando bato papo com um vendedor ou um garçom, falamos sobre a vida, trocamos idéias. Para muitos seria perda de tempo. Afinal, para que serve o tempo? Não é para viver a vida? Nada melhor que ter tempo para mim mesmo, para a família, para os amigos e para conhecer o próximo. Em algumas situações, a pressa é necessária. Mas também é preciso saber quando é preciso ter calma e paz interior.
bom final de semana
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