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# nov/06
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SINAIS NÃO-VERBAIS DO FLERTE
Artigo publicado na Revista Psicologia Argumento (PUC-PR) Nº XXIII, pp. 25-36.
Lidia Natalia Dobrianskyj Weber
Resumo: diversos pesquisadores têm evidenciado a existência de uma classe de expressões e gestos não-verbais no comportamento humano que fazem parte do flerte ou do cortejamento. Embora haja uma grande variabilidade na exibição destes sinais, estudos etológicos têm evidenciado que alguns destes gestos e expressões apresentam características universais, ou seja, aparecem de forma muito semelhante em culturas diferentes. Uma das características básicas destes sinais de flerte é a indicação de submissão, a qual seria oposta a um perigo de agressão, e isto facilitaria a aproximação das duas pessoas.
"Ela não deveria ter olhado nunca,
Se pensava que eu não deveria amá-la"
Browing (1812-1889)
Imagine que você está num país muito distante, com costumes bastante diversos daqueles praticados onde você mora. Imagine ainda que não fala uma só palavra da língua deste país. Você acredita que saberia como se comportar com uma pessoa pela qual estivesse atraído? Saberia dizer se uma pessoa está interessada em conhecer você somente pelos seus gestos, tom de voz e expressões faciais? Se você respondeu afirmativamente não precisa julgar-se muito pretensioso. A maioria de nós, humanos, sabemos nos comportar e decodificar sinais não-verbais que indicam flerte e/ou cortejamento e/ou sedução (1), embora, na maior parte das vezes, não sejamos capazes de descrever de maneira consciente esses sinais.
Muitos pesquisadores têm estudado o comportamento de cortejamento de inúmeras espécies animais e existe uma literatura abundante sobre o comportamento de aproximação amorosa de pássaros, peixes, ratos, macacos e até elefantes. No entanto, os estudos sobre o flerte na espécie humana são escassos, havendo até um certo preconceito entre os acadêmicos sobre este tema, considerado frívolo e desnecessário. Na verdade, o flerte humano é uma espécie de ritual (ou será arte?) que também pode ajudar na compreensão das relações humanas. Além do mais, parece evidente que uma pessoa que consegue vivenciar diversas situações bem sucedidas de cortejamento, passa a ter pontos favoráveis em sua auto-estima e, como conseqüência, ocorre um aumento na probabilidade de seleção de um parceiro que venha de encontro às suas expectativas e necessidades amorosas.
Sabe-se que nenhuma outra espécie tem a infância e a juventude tão longas quanto a espécie humana, exigindo um alto investimento parental durante todo o período em que os "filhotes" ainda são dependentes. Como conseqüência, houve a evolução de um ritual de cortejamento complexo e geralmente longo, pois este comportamento ajudaria a selecionar melhor um companheiro. Em outras espécies animais também existe uma forte correlação positiva entre a formação de pares duradouros e a duração do período de cortejamento. O flerte é uma etapa inicial da seleção natural, na qual as pessoas têm condições de avaliar melhor e testar, em diversas situações, seus parceiros (2). Parece que este ritual é uma etapa indispensável a um bom relacionamento, pois tem a função de estimular e selecionar uma ligação e uma cumplicidade mais forte, antes do relacionamento sexual propriamente dito, e, com isso, propiciar condições de que o casal permaneça um período maior de tempo juntos e cuide de sua "prole".
Estamos em uma era em que está ocorrendo um fenômeno novo no que se refere ao encontro e seleção de parceiros, pois atualmente é possível iniciar o cortejamento amoroso somente através da linguagem verbal e sem nunca ter encontrado a pessoa cortejada. Atualmente, este fenômeno está ocorrendo através dos encontros em Chats da Internet. No entanto, este tipo de flerte não tem características universais, pois ainda vivemos em uma espécie de Torre de Babel, ou seja, para que aconteça um "cortejamento essencialmente verbal" é preciso que as duas pessoas falem (ou escrevam) a mesma língua, enquanto que boa parte da linguagem não-verbal tem características universais. O comportamento não-verbal tem exercido um fascínio especial tanto para leigos quanto para diferentes pensadores há muitos séculos. Desde as antigas pinturas nas cavernas até as recentes fotografias e filmes digitais, os seres humanos têm manifestado um desejo de decodificar expressões e movimentos do ser humano, que possibilitariam decifrar motivações inconscientes.
O ritual de comportamentos não-verbais exibidos em situações de flerte assemelham-se a uma dança que parece seguir tanto alguns passos improvisados, como certos padrões seqüenciais que têm base na evolução filogenética. Desta forma, essa linguagem não-verbal utilizada no flerte e na sedução tem algumas características que independem da cultura na qual as pessoas estejam inseridas.
Do ponto de vista histórico, foi Charles Darwin, com a publicação do seu livro "The expression of emotion in the man and animal" (1872) quem mostrou a importância de se estudar as origens filogenéticas da comunicação não-verbal. No entanto, passou-se quase um século após a publicação de Darwin para que o assunto fosse tratado com o devido respeito acadêmico. Os estudos pioneiros sobre o comportamento não-verbal em encontros amorosos foram realizados por especialistas em cinética como Scheflen (1965) e Birdwhistell (1970). Este último autor concluiu que a importância das palavras é apenas indireta; para ele, somente 35% do significado social de uma conversa corresponderia às palavras pronunciadas, sendo que os outros 65% do conteúdo seriam comunicados através da comunicação não-verbal. Se isso for realmente verdadeiro, há de se convir que uma pessoa deve realmente ser muito habilidosa para conquistar alguém através de um Chat da Internet!
Um dos estudos mais famosos sobre a emissão de comportamento não-verbal durante o cortejamento amoroso foi realizado pelo etólogo Eibl-Eibesfeldt em 1971. Utilizando uma câmara filmadora com lentes laterais disfarçadas para que as pessoas não percebessem que estavam sendo filmadas, ele encontrou o mesmo padrão seqüencial no comportamento de flerte em diferentes. Ele fez uma análise minuciosa dos fotogramas seqüenciais do comportamento de flerte e concluiu que tanto as mulheres que viviam na selva amazônica quanto aquelas que vivem no coração de Paris utilizavam os mesmos padrões de expressões em um episódio de cortejamento. Inicialmente a mulher sorri para o homem e ergue as sobrancelhas em um rápido movimento, enquanto abre bem os olhos. Em seguida, ela abaixa as pálpebras, inclina levemente a cabeça para o lado e desvia os olhos. Eilb-Eibesfeldt (1975) continuou suas pesquisas e concluiu que comportamentos como abaixar o olhar, sorrir, hesitar em olhar para o outro e tocar o próprio rosto, ocorrem nos cortejamentos tanto das culturas ocidentais quanto das não-ocidentais. Tais comportamentos têm a função de demonstrar interesse sexual e fazem parte da evolução filogenética da espécie humana, por isso é que são tão semelhante em culturas tão diferentes.
As observações naturalísticas realizadas nos locais onde acontecem habitualmente os jogos de sedução (cafés, bares, salões de danças, etc.) revelam que existe um timing ótimo para que este jogo tenha sucesso. Parece que se o "ataque" for muito rápido ou agressivo, ou ao contrário, se houver muita demora e hesitação, o namoro tende a fracassar. Fischer (1995) compara este tipo de comportamento a aquele de outras espécies menos desenvolvidas, como as aranhas. Os machos da espécie precisam atravessar a longa e escura entrada da toca da fêmea para poder namorar e copular. Fazem isso bem devagar, pois caso se precipitem, elas os devoram.
A função destes sinais básicos e aparentemente universais, tanto masculinos, quanto femininos, é ficar próximo da pessoa cortejada sem provocar temor e esta indicar que o cortejador pode aproximar-se sem medo. Esta necessidade de aproximação é facilitada por uma postura e um comportamento infantilizado tanto por parte do cortejador como do cortejado, a qual demonstraria a "submissão" e seria oposta ao perigo de agressão e, portanto, facilitaria a aproximação. As pesquisas revelam que tais sinais de submissão no comportamento de flerte têm sido observados em vertebrados, em mamíferos e em primatas. A sua finalidade seria a de criar, consolidar e manter vínculos de apego, tendo sido inicialmente descrita por Darwin em sua clássica publicação de 1872. De maneira geral, este comportamento submisso e infantilizado presente no cortejamento parece ter a função de indicar ao outro: "eu não sou perigoso; eu estou disponível: você pode aproximar-se".
Além da evidente questão lúdica e "auto-reforçadora" que existe no comportamento de flerte, é preciso lembrar que, do ponto de vista biológico e da perpetuação da espécie, uma das tarefas mais importantes de um organismo é a seleção de um parceiro. Os erros na escolha podem ter efeitos desastrosos, sendo que errar neste sentido tem um custo muito mais alto para a mulher. É a mulher que engravida, carrega o bebê, amamenta-o e cuida dele por longos anos até ficar independente. Desta forma, parece que foi selecionado, para a mulher, um critério de seleção do companheiro muito mais cuidadoso.
Estudos recentes têm mostrado que a grande parte dos sinais iniciais de flerte são lançados pelas mulheres. Moore (1985) realizou um minucioso estudo cujo objetivo foi descrever o conjunto de sinais visuais e táteis emitidos por mulheres durante os contatos iniciais com homens. A originalidade do seu estudo está além da mera descrição, pois ela encontrou evidências contextuais (em quais ambientes os comportamentos ocorriam) e evidências consequenciais (o que ocorria após a emissão dos sinais). Desta forma, ela realizou a compilação de um catálogo baseado em informações consequenciais e fez a validação deste catálogo através de dados contextuais. Inicialmente ela observou os comportamentos em bares para solteiros e, em seguida, validou suas observações em outros contextos sociais: um café universitário; uma biblioteca universitária, um centro de encontros para mulheres universitárias e um outro bar para solteiros.
Moore compilou um catálogo de 52 gestos e atitudes que as mulheres utilizam para lançar o sinal de sua disponibilidade e de seu interesse. Seus dados revelaram que num ambiente propício ao encontro com homens, as mulheres apresentaram alta freqüência de manifestações não-verbais direcionadas aos homens. Ela afirma (assim como Ford & Beach, 1951; Givens, 1978; Perpers, 1985), ao contrário do que Darwin dizia - "... quase sempre são os machos que fazem a corte" (3), que é a mulher, através dos sinais que ela emite, a responsável pela primeira fase do cortejamento. O homem seria responsável pela segunda fase, a aproximação, sendo que os estudos de Crook (1972) sugeriram que os homens geralmente mostram hesitação em aproximar-se sem a indicação de interesse da parceira. Segundo Moore, as mulheres são capazes de determinar quando e onde elas desejam avaliar a potencialidade de um companheiro. Esta determinação é realizada através da exibição ou não das manifestações de cortejamento. Além disso, em todos os ambientes observados (em que havia homens disponíveis), Moore revela que aquelas mulheres que mostraram maior freqüência de sinais foram as que receberam maior número de abordagens dos homens. Esta pesquisadora enfatiza, para alegria das mulheres que infelizmente não nasceram parecidas com Isabelle Adjani ou Catherine Deneuve, que uma conquista bem sucedida depende menos da beleza de uma mulher do que o seu "talento" para o flerte.
Esta questão de saber quem é que deve iniciar um flerte é geralmente polêmica e existem muitas variáveis em jogo, mas de acordo com Silva (1992) "ninguém deve ficar esperando uma aproximação. Foi comprovado que a maioria das mulheres acha que deve esperar a iniciativa masculina. O curioso é que, na mesma pesquisa, os homens preferiam que as mulheres dessem as dicas ou se aproximassem espontaneamente. Ficar esperando, portanto, é marcar bobeira". Na verdade, as pessoas esperam algumas dicas sinalizadoras do outro para poder aproximar-se e, portanto, emitir sinais é tão importante quando o convite direto para sair, por exemplo, pois isso permite a ambos avaliar o nível de interesse do outro. Muehlenhard e colaboradores (1986) afirmam que convidar alguém para sair antes dessa troca de sinais de flerte pode resultar em insucesso, pois o convite pode ser percebido como prematuro e inapropriado e porque o iniciador não tem nenhuma informação prévia se a outra pessoa tem algum interesse.
Os sinais do flerte são ambíguos por natureza e é isso que permite a sensação de "jogo", no qual ambos os participantes sairiam lucrando... Estes sinais não significam uma receita de sucesso infalível. Não adianta uma pessoa decorar todos os sinais e passar a emiti-los diante de outra pessoa que deseja conquistar. Seria um verdadeiro desastre. No entanto, se podemos aprender a prestar mais atenção e a "ler" os sinais mais acuradamente, também é preciso ter cuidado com a interpretação dos sinais. É preciso estar ciente de outros contextos para saber as reais intenções de quem flerta; uma pista somente não significa nada e pode ser ambígua. Para se certa certeza das intenções, essas evidências devem ser convergentes e múltiplas.
Tomando por base estes estudos sobre cortejamento, é possível dividir o período de cortejamento em, pelo menos, seis fases. No entanto, é preciso ressaltar que as fases não são sempre fixas, podem variar em relação às suas durações, é possível pular certas fases e ainda não foi possível verificar um padrão seqüencial rígido nem determinar os sinais mais eficientes para atrair um parceiro, pois a variabilidade inter-sujeitos é muito grande.
1ª) Fase de Atenção: homens e mulheres procuram chamar a atenção sobre si. Para diminuir o temor do outro, freqüentemente os indivíduos adotam posturas que lembram o comportamento infantil. Três tipos de comportamentos parecem predominar : orientação corporal em direção à pessoa que se tem interesse; breves olhares mútuos; comportamentos de automanipulação. Geralmente os homens tendem a estender os braços, estufar o peito, arrumar o cabelos, empinar o queixo, ajeitar a roupa, rir alto, exagerar nos movimentos corporais e tocar na face. As mulheres andam de maneira empinada, sorriem, olham, mudam de posição, balançam o corpo, ajeitam-se, enrolam o cabelo com os dedos, jogam a cabeça para trás, olham com ar tímido, dão risadinhas, erguem as sobrancelhas, umedecem o lábio superior com a língua. Para quem emite estes gestos, geralmente denominados de "deslocados", eles parecem servir para incrementar a própria aparência e como "consoladores". Grand (1977, citado em Givens, 1978) relata que essa função de "consolar" a pessoa funciona para orientar a energia para dentro, longe do parceiro que causa stress, da mesma forma que uma criança faz quando coloca um dedo na boca, morde a mão, toca o próprio corpo. O parceiro pode interpretar estes gestos como sinais de que a sua presença afeta, de alguma forma, aquele que emite tais comportamentos. De qualquer forma, existe uma ambivalência no cortejamento: um conflito entre a aproximação e a fuga, o que dá uma idéia de hesitação. Afinal, é terrível para a auto-estima ser rejeitado, então devemos estar bem seguros das pistas que o outro nos dá.
2ª) Fase de Reconhecimento : geralmente começa quando os olhares se encontram. O olhar é provavelmente o instrumento mais importante do flerte. Os pretendentes olham-se por 2 ou 3 segundos, suas pupilas dilatam-se e, em seguida, aquele que está fixando a vista, abaixa os olhos e afasta o olhar. O olhar é capaz de provocar tanto a aceitação quanto a rejeição. Freqüentemente existe uma emoção envolvida, como mostrou Fèdre ao falar de Hippolyte, seu amor: "Je le vis, je rougis, je pâlis à sa vue" (4). Ao perceber interesse no homem e gostar do que vê, a mulher geralmente responde com sinais que indicam sua disponibilidade e interesse para uma aproximação. Ela orienta seu corpo em direção ao paquerador, olha-o mais longamente e, muito freqüentemente, inclina lateralmente a cabeça, expondo a parte lateral do pescoço. O sinais de submissão, tais como abaixar os olhos, fazer beicinho com os lábios, segurar os próprios braços ou mantê-los muito próximos da área abdominal são comuns. Tais comportamentos de submissão servem para mostrar a não hostilidade e indicar uma implícita permissão para a aproximação.
3. Fase de Interação ou Conversa de Sedução: após a aproximação o casal começa a trocar um tipo de conversa sedutora. Existem evidências de que é mais importante como se fala e não o que se fala. Essa conversa é caracterizada pela mudança de voz, um tom mais agudo, um volume mais baixo, mais suave, mais musical, um tipo de voz que lembra o modo de se falar com crianças ou para tranqüilizar pessoas que precisam de cuidados. Essa conversa geralmente está repleta de elogios e de perguntas e o clima continua sendo o de submissão. Com a fala os indivíduos passam a se expor mais e, consequentemente os comportamentos não-verbais demonstram certa ansiedade: gestos vigorosos, risos altos, arrumar-se freqüentemente, entre outros.
4. Fase do contato Físico: o discurso paralinguístico continua doce, até "meloso", incluindo o baby talk, e metáforas infantis podem ser ouvidas freqüentemente entre o casal. Geralmente ocorrem "atitudes de intenção", tais como, inclinação para a frente, colocação do braço do outro sobre a mesa, aproximação dos pés se as duas pessoas estão em pé, ou carícias no próprio braço, como se a pessoa estivesse acariciando o outro. O clímax desta fase acontece quando uma das pessoas toca a outra. Fischer (1995) ressalta que, em geral, a mulher toca primeiro, numa região do corpo onde é socialmente permitido tocar, como o ombro ou o braço, de uma forma aparentemente casual. Esse toque insignificante é extremamente importante, pois a pele é um receptor poderoso. Se a pessoa tocada recuar, o processo está terminado. Se ignorar, quem toca pode tentar repetir o gesto. Mas se a pessoa tocada se inclinar em sua direção, sorrir ou retribuir, eles terão superado uma barreira importante... Nesta fase o comportamento de "olho no olho" é muito freqüente. A idéia é despertar um comportamento protetor. O comportamento também é repleto de manifestações protetoras, como ajeitar a roupa do outro, alisar as costas e as mãos, ajeitar o cabelo. Se o casal continuar conversando e se tocando, o relacionamento passa então ao estágio seguinte.
5. Fase da Sincronia Corporal/ Excitação Sexual: é uma fase interessantíssima em que o casal começa a se movimentar tão harmoniosamente que parecem estar realmente numa dança coreografada e espelhada. Quando ele desliza a mão em seus próprios cabelos, ela faz o mesmo com os próprios cabelos; um cruza as pernas, o outro também o faz; ele inclina-se para frente e ela copia o movimento, sempre olhando-se "significativamente" nos olhos um do outro. Essa sincronia corporal presente no flerte está fortemente associada ao desejo sexual mútuo. Os corpos anseiam atingir o que o emocional já conseguiu, um encontro total de duas subjetividades e, como disse a famosa bailarina americana Martha Graham, "nada é mais revelador do que o movimento".
6. Fase de Resolução Sexual: sim, parece que o objetivo final, biologicamente falando, é sempre o contato sexual, pois segundo um ditado anônimo « uma relação platônica é sempre possível, mas somente entre marido e mulher". Esta fase não é precisa muita explicação, mas as observações mostram que, apesar desta fase ser extremamente individual, imediatamente após a união sexual ocorre o distanciamento social, ou seja, a relação muda (Givens, 1978); os casados quase não emitem nenhum tipo de flerte (Silva, 1992). O casal pode até dormir sossegado, ficar longe um do outro e envolver-se em outras atividades. Parece claro que após um certo período de tempo em que o casal está junto, o comportamento de cortejamento cessa. Por quê? Nesta fase o casal não precisa mais "negociar" a aproximação sexual; eles podem ir livremente ao relacionamento sexual, então parece que o cortejamento torna-se redundante e desnecessário, pois do ponto de vista biológico, o objetivo do cortejamento é de maximizar a otimização do sucesso reprodutivo das pessoas envolvidas. No entanto, as observações mostram que o flerte continua durante a paixão, ou seja, a fase mais intensa do amor, mesmo que o envolvimento sexual do casal seja intenso. Além disso, o senso comum nos mostra que flertar também é bom em si mesmo. As pessoas ficam até mais bonitas: o tônus muscular aumenta, deixando as pessoas mais ruborizadas, com menos rugas e olhos brilhantes (pelas pupilas dilatadas). Estes fatores ocorrem de maneira ainda mais intensa durante o relacionamento sexual. Desta forma, pode ser que o flerte diminua à medida que o tempo de convivência de um casal aumente porque existe uma redução significativa da ambigüidade, ou seja, cada um já sabe o que o outro deseja. Ou talvez porque os parceiros passem a investir menos no flerte e mais no relacionamento sexual o qual, além do aspecto reprodutivo, também é largamente reconhecido como bom em si mesmo.
Todos nós conhecemos a importância dos gestos. Estes chamados comportamentos não-verbais nos remetem ao primitivismo de bebês que ainda não falam mas que sabem expressar tudo. Estes gestos poderosos, alguns enraizados em nossa evolução filogenética e, portanto, independentes da cultura, podem ser significativos o suficiente para afastar o medo, mostrar interesse, revelar desejo e aproximar-nos do outro com quem desejamos uma relação de amor. Parece que fronteiras lingüísticas e culturais são inexistentes para este início de encontro amoroso; o gesto garante a união.
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