adnz Veterano |
# set/05
Três horas. Congelando os dedos por horas e horas. Como é difícil praticar no frio, os dedos não respondem como o desejado e aquilo se torna algo estressante. Geralmente quando as coisas não vão como queremos nos estressamos. Mais horas e horas vidrado naquilo, como uma máquina que nunca para. Lembro do meu professor, que diz ficar mais horas e horas das horas e horas que eu fico treinando. Não consigo passar muito de um tempo, depois fico cansado, com vontade de fazer outra coisa, aquilo suga demais, exige demais, por muito tempo então... Mas isso realmente não importa, independente do tempo, a qualidade deve ser suprema. E eu, naquelas horas e horas, tento deixar o som o mais limpo possível, buscando a perfeição em cada estudo, em cada música, sem errar, esbarrar ou esquecer. Meus dedos estão gelados, percebo que é impossível encontrar a perfeição com eles gelados. Também percebo que eles nunca esquentam, sempre, sempre, gelados. Por que? Já tentei de tudo, mas eles continuam gelados: luvas, aquecedores, colocar a mão no saco, embaixo das coxas, tomar banho fervendo, uma combinação de tudo isso. Mas que porra! Sempre gelados, dedos congelantes, minhas unhas ficam até com uma cor estranha, meio roxa, ou meio azulada. Daí, as horas e horas, com dedos retardados.
Duas horas. No quarto congelante, procuro algum conforto. A cadeira não é confortável, o frio não me deixa confortável e o ato de meus dedos estarem em constante movimento, mas ainda assim gelados, não me deixa confortável. Sentar alí não me deixa confortável, mas talvez seja um teste, que teste a minha paciência e minha inteligência, sobre como responder a esse teste. Continuo focado, dedo gelado, me viro de lado e tomo um pouco de coca, no copo gelado. Sinceramente não sei o que seria de mim sem coca. Hum, já passei da metade do livro em dois meses, que bom. E se o mundo fosse quadrado? Como seriam as doze dobras? Cachoeiras gigantes? Gravidade maior? Sei lá. Daí vem mais frio, coloco um blusão e continuo focado, tocando e ao mesmo tempo pensando como seria o mundo quadrado, chego a conclusão do impossível, de algum modo. Lá, dó... Qual a outra? Ó, é mi. Am. Hum, e agora? Como seria o mundo sem coca? Lá, dó, mi, sol, mi, dó. Sobe em Am e desce em C. Na direita, dó, dó, dó. Complicado juntar as duas, tem que entrar no tempo certo, falta um pouco de coordenação com os dedos gelados que não respondem ao que eu quero. Porra! Retardados, como não conseguem fazer uma coisa simples dessas? Dedos retardados.
Uma hora. Êêêê, ficou interessante a primeira parte. Depois eu tiro a segunda. Brrrrrr, que frio. Sobe, desce, sobe, desce. Escala, arpejo. Mais uma hora alí, congelando, subindo e descendo. Pelo menos agora os dedos esquentam um pouco. ... Não esquentaram. Acabei tudo como tinha começado. Dedos retardados.
Que merda de frio, só atrapalha quando tem que ajudar e ajuda quando tem que atrapalhar. A chuva e o frio e o vento e a dança e o piano e o conforto. Que confusão, penso tanta coisa em tão pouco tempo, ultimamente minha mente pensa demais. Será que é ruim? Até nessas escritas, isso é demais, é muita coisa pra se pensar quando se deve focar diretamente em uma ÚNICA coisa ou situação. Mas eu tento me achar, depois que me perdi, depois que não consegui estudar ou cantar, depois que não consegui ouvir nem falar, depois que não consegui entender nem ver. Ás vezes, horas e horas, pensando sobre coisas inúteis, refletindo sobre poemas, frases, essas coisinhas profanas, que fazem do meu pensamento, profano. Se a chuva voltar é uma nova chance pra organizar o que a pouco perdi, nova chance para avaliar as coisas e pensar duas vezes sobre tudo. Mas eu penso demais, por que pensar duas vezes? Porra... Disso que eu tô falando, não consigo organizar nem um texto... Falo sobre pensar menos e penso em pensar duas vezes sobre as coisas. Porra! Mente idiota, mente retardada.
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