Sobre a "nova onda vintage" - anos 80

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Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# dez/14
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Umas coisas à relembrar: Nos anos de 1979 e 1980 (em plena crise econômica brutal!), no rádio tocava muita coisa de Fagner, Geraldo Azevedo, Belchior, Alceu Valença e o gênio Zé Ramalho. Outro que fazia sucesso era o Benito di Paula (que é um grande compositor!). Rita Lee tinha cadeira cativa na rádio Cidade (Mania de você, Lança-perfume, etc), e dos lances brega, quem fazia sucesso e tocava no rádio era Agnaldo Timóteo!!! (até o ruim era bom!!! KKkkk....). Antes da chamada "Geração 80" do rock, teve o 14-Bis, que foi a única banda de rock que tocou no rádio naquela época. Eu me lembro que eu saí correndo pra comprar o disco e ir ao show deles no Planetário da Gávea! Era coisa de outro mundo!!!

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Veterano
# dez/14
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Mauricio Luiz Bertola
O que eu vejo é uma potencialização de tudo que já acontecia.

Antigamente existia música ruim e música boa. A "pior" se sobressaindo à "melhor".

Hoje a parte "ruim" está infinitamente maior. Em contrapartida, a parte boa também está.

Ou tu vai querer me dizer que nos anos 70~80 você encontraria o mesmo número de bandas de qualidade que hoje utilizando o "mesmo esforço"?

A tecnologia espalha coisa ruim ,mas também espalha coisa boa e muita gente, muita mesmo, pôde ter contato com a música que consideramos de qualidade, se influenciaram por ela e começaram a fazer a sua própria música de qualidade.

A gente tende a olhar a coisa toda muito pelo lado pessimista. Enxerga mais o lado negativo que o positivo.

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Veterano
# dez/14 · Editado por: Headstock invertido
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Mauricio Luiz Bertola
Era coisa de outro mundo!!!

Exatamente. Este é o ponto.

Estamos aqui discutindo o nível de porcaria entre gerações diferentes utilizando um parâmetro: o rádio.

É um parâmetro honesto para essa comparação? Acho que não.

O rádio tinha esse peso todo nessas épocas passadas. A juventude dessas épocas usavam o rádio pra ter o acesso.

Quem diabos hoje que se enquadre dentro do que podemos chamar de "juventude" busca no rádio suas referências musicais? Nem o "populacho", cara.

Nem os jovens das camadas mais pobres e marginalizadas dão tanto valor assim para o rádio.

A parada agora é a internet. Achei que isso fosse um tanto quanto óbvio.

O "bang" de hoje não é rádio, TV, gravadoras, vendas de discos, nada disso. É a internet.

E nela, meu caro, é indiscutível que a situação é a mais polarizada possível. O "lixo" popular convivendo lado a lado com a erudição.

Pra cada passo que a "música popular" dá em direção ao fundo do poço, uma banda com exímias referências é formada e sobe um vídeo independente no YouTube.

Não acho que tenha nada se perdendo não. É só o mundo andando.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# dez/14
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Ou tu vai querer me dizer que nos anos 70~80 você encontraria o mesmo número de bandas de qualidade que hoje utilizando o "mesmo esforço"?
Bem, em 1º lugar precisamos definir o que vc chama de "...número de bandas de qualidade...". Eu tenho certeza de que tem MUITA coisa boa por aí.
Mas acho que vcs não estão entendendo o meu posicionamento: O que afirmo é que a quantidade hoje em dia tornou-se inócua em função da pulverização das mídias, da digitalização e do fim do mercado musical como ele existia antes; não houve tempo de adaptação. Ademais, se vc tem um movimento cultural que se restringe a um ghetto, ele não não "produz" nada socialmente relevante.... Isso não é pessimismo, é constatação.
Antigamente existia música ruim e música boa. A "pior" se sobressaindo à "melhor".
Não concordo com você nesse aspecto. Pergunte a alguém na casa dos 50 e poucos anos (eu já tenho quase 52!), o que ele ouvia no rádio nos anos 70/80? Eles vão te responder com nomes que estão aí até hoje, e por sua qualidade (outros nem tanto); não vão te responder que ouvem "Gaiola das Popozudas", Mumuzinho e Luan Santana....
Que havia muita coisa ruim antigamente, havia sim, mas isso era "neutralizado" (socialmente falando) pelo que de bom havia (e havia!). Hoje, isso não ocorre mais, mesmo que existam sim coisas muito boas por aí...
Abç

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# dez/14
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Concordo com você sobre a questão da Internet e da obsolescência do rádio.
Isso não invalida o que disse acima...
Abç

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# dez/14
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Para exemplificar maravilhosamente o que vc disse acima (e que eu concordo):
http://forum.cifraclub.com.br/forum/3/319408/
Um cara desses, nos anos 80, se bem encaminhado (e aqui é que a coisa complica), estaría fazendo "sucesso", podería ter entrado no círculo.
Hoje em dia, a internet é o canal, para o bem e para o mal...
Abç

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Veterano
# dez/14
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Mauricio Luiz Bertola
O que afirmo é que a quantidade hoje em dia tornou-se inócua em função da pulverização das mídias, da digitalização e do fim do mercado musical como ele existia antes

Vejo exatamente o contrário. Agora é que a quantidade importa. Porque é só agora que a gente pode facilmente ver e consumir essa quantidade.

Nos anos 70, podiam surgir 500 bandas fodas no sul da Escócia. De pouco isso ia importar pra quem vivia aqui. Se elas não se tornassem fenômenos internacionais, ninguém fora de lá sequer saberia de sua existência.

Hoje não. Hoje uma banda do interior da Finlândia é formada, grava uma demo, solta no SoundCloud e no outro dia eu estou ouvindo e mostrando pros meus amigos.

É agora que a quantidade importa.

se vc tem um movimento cultural que se restringe a um ghetto, ele não não "produz" nada socialmente relevante...

E tem ferramenta melhor pra transformar algo restrito em algo absurdamente disseminado que a internet? Se tem ou algum dia teve, desconheço.

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Veterano
# dez/14
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Mauricio Luiz Bertola
O mal da internet é esse: a concorrência.

Mas mesmo assim, é algo a se pensar. Acho preferível que 50 bandas alcancem o "sucesso" e no final da carreira tenham faturado X do que esse faturamento ser 500X, mas pra apenas 3 bandas.

Ter um vídeo na internet e gente do mundo todo podendo te assistir é luxo comparado ás décadas passadas. Quem tinha um privilégio desses antigamente? Poucos, muito poucos.

E além do mais, concorrência demanda uma coisa primordial na evolução de todas as coisas: busca por superação.

Antigamente as bandas concorriam e se degladiavam para conseguir aparecer. Hoje se degladiam pra ver quem aparece mais.

Mas só o fato de você entrar nessa briga estando ali visível já é bem melhor que brigar no escuro e todo mundo só enxergar o vencedor, como era antigamente.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# dez/14
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E tem ferramenta melhor pra transformar algo restrito em algo absurdamente disseminado que a internet? Se tem ou algum dia teve, desconheço.
Isso ainda não acontece, do ponto-de-vista cultural ainda não. No político tivemos o fenômeno da "Primavera Árabe", no qual a internet teve um papel que ainda está à ser estudado.
A "pulverização" (o termo é amplo) ainda não se tornou capaz de lançar movimentos culturais globais, talvez daqui à alguns anos... Mas acho que o reforço dos nichos (dos ghettos), e do individualismo gerado pela hiperinformação digital, acaba por restringir isso. As pessoas estão muito ligadas nos seus "mundinhos" particulares acessível vía "Smart Phones" e pouco se dão conta do que verdadeiramente ocorre à sua volta.
Nos anos 70, podiam surgir 500 bandas fodas no sul da Escócia. De pouco isso ia importar pra quem vivia aqui. Se elas não se tornassem fenômenos internacionais, ninguém fora de lá sequer saberia de sua existência.
Era a própria indústria que "filtrava", hoje isso não ocorre. Ademais, vai ser um grupo relativamente restrito que vai "se ligar" nessa banda do sul da Escócia ou do interior da Finlândia.... Se vc mostra isso pros seus amigos, isso ainda é muito restrito, muito pequeno.... Socialmente irrelevante....
Abç

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# dez/14
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Headstock invertido
Ter um vídeo na internet e gente do mundo todo podendo te assistir é luxo comparado ás décadas passadas. Quem tinha um privilégio desses antigamente? Poucos, muito poucos.
Concordo inteiramente. Isso é um ponto positivo.
Antigamente as bandas concorriam e se degladiavam para conseguir aparecer. Hoje se degladiam pra ver quem aparece mais.
Sinceramente é uma falsa questão, pois "aparecer" não garante qualidade....
Abç

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Veterano
# dez/14
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Mauricio Luiz Bertola
Aparacer não, mas aparecer mais, sim.

Ademais, vai ser um grupo relativamente restrito que vai "se ligar" nessa banda do sul da Escócia ou do interior da Finlândia.... Se vc mostra isso pros seus amigos, isso ainda é muito restrito, muito pequeno.... Socialmente irrelevante....

Ou não. Depende muito e é questão de tempo, eu acho. Hoje a TV ainda tem muito peso pras "massas" e, infelizmente, a TV ainda segue os padrões fechados de filtragem.

Creio que nos anos 70 já tinha gente de intelecto limitado produzindo (ou pelo menos com intenção de produzir) música merda e superficial exatamente nos moldes que vemos hoje. A diferença é que não ficava explícito como hoje. Porque hoje qualquer um produz e divulga conteúdo facilmente.

Por isso eu disse de enxergar os dois lados. Que a situação piorou? Claro que sim. O fundo do poço foi atingido e tão cavando mais ainda? Claro que sim. Maas, do outro lado, o limite do Céu está se expandindo, subindo... Cresce pros dois lados.

MMI
Veterano
# dez/14
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Mauricio Luiz Bertola

Na verdade, você naturalmente tem uma visão bastante carioca de toda essa história de rádio, rock e degringolada que a música deu. Compreendo. Mas a família de Paulo Machado de Carvalho (o "Marechal da Vitória" das primeiras Copas do Mundo, que dá o nome do Estádio do Pacaembú daqui), em especial Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, conhecido como Tutinha, tem um peso enorme nisso. São donos da rádio Jovem Pan, AM e FM, com sede na Av. Paulista (onde fui algumas vezes), líder desde a compra da rádio em 1943 em alguns setores. Na década de 80 a Jovem Pan FM se dedicava ao pop/rock e levantou muita banda naquela época, basicamente com o espírito empresarial (= lucro!) do Tutinha. Em 1993, a emissora iniciou o projeto Jovem Pan Sat, que teve sua implantação em 1994, com sinal de áudio totalmente digital, transmitindo via satélite para várias regiões do país, praticamente todas as capitais tem uma afiliada Jovem Pan, tem 3 canais de TV a cabo e três emissoras próprias nas cidades de São Paulo, São José do Rio Preto e Brasília. Lançou do anonimato à fama os apresentadores Luciano Huck, Adriane Galisteu, Emílio Surita, criador do programa Pânico na TV junto com Emilio Surita e Marcos Chiesa. O Tutinha também é dono da Bacanas Records e um dos principais responsáveis do "business" musical, fazendo o negócio da música girar no pop mais raso musicalmente, institucionalizando o "jabá" fortemente. Segundo ele mesmo, ele "faz o sucesso musical", é só pagar (muito bem) que imediatamente a música será difundida em todo o país, com shows patrocinados em cada recanto dessa terra. Queira ou não, é um dos nomes do país que dita os rumos culturais.

Ismah
Veterano
# dez/14
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Mas a qualidade de transmissão desses 200km nem se compara com a das rádios que pegam no sistema solar inteiro. Faca de dois gumes.

Ao menos nas horas atuais, isso é questionável. To negociando um valvulado num antiquário a tempos, e não é um streaming hi-fi, mas estou ouvindo uma rádio carioca e recebendo o sinal totalmente de forma analógica. É um fetiche? É, mas me impressiona isso tudo, perante o ser humano.

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Todos

Conversando com um dos produtores do Tequila Baby, à respeito do show de 20 anos no Opinião(PoA), ele dizia que o que ainda manda é a propaganda. "Fica como uma mensagem subliminar. Se vc perguntar aqui dentro [do Opinião], quem ligou o rádio, quem assistiu TV, um que outro vai levantar a mão. Se perguntar quem abriu o Facebook, todos vão erguer a mão. Pode ser até que vc não queria ir no show, não curte a banda, mas de tanto a ideia ficar martelando na cabeça 'Tequila Baby dia 20', quando chega perto, vc vê seu amigo indo, fulano indo. E pensa 'porra, vou ver que é isso', 'alguma coisa tem' "

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# dez/14
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MMI
Concordo plenamente com vc nesse aspecto, inclusive porque atuei mais aqui no RJ mesmo (só fui morar em São Paulo em 1991), mas, como vc pode perceber, na questão "rádio rock", a primazia cabe mesmo à Fluminense FM, onde não havia esquema de "jabá" (sou testemunha pessoal disso!). No mais, concordo.
Abç

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Veterano
# dez/14
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Ismah
Mas não tem nem como comparar a qualidade da transmissão AM com FM.
AM é só chiado a 32kbps. FM vai até 128.

MMI
Veterano
# dez/14
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Mauricio Luiz Bertola

Só uma correção, que não ficou muito clara...

Até o início da década de 80 a Jovem Pan tocava rock e pop, a Fluminense Fm virou radio rock em 81. Apareceu a 97 Rock FM (tinha um sinal fraquinho, os roqueiros sofriam com os chiados, kkkkk) com uma programação rock também, mas em 83, seguida da 89 FM em 85.

A Jovem Pan não era propriamente uma rádio rock, tinha muita MPB, tinha noticiário pela manhã, tinha inserções humorísticas. Em 83-84 a rádio deixou o rock e mergulhou fundo no pop, iniciou o jabá, na direção firme e empresarial do Tutinha. Foi nessa época apenas que começou a engatinhar o jabá, a virar um negócio altamente rentável, deixou de ser uma rádio da cidade de São Paulo para ser uma rádio espalhada pelo Brasil todo. E em parte por isso que hoje o Brasil ouve tanta porcaria, caiu muito o nível das rádios. Até rádios de pequenas cidades do interior de MG (sem preconceitos, citei porque vi cobrarem) entraram no esquema do jabá, hoje é uma regra.

Ismah
Veterano
# dez/14
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MMI

Mas o jabá tem até em rádios do interior do interior.

MMI
Veterano
# dez/14
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Ismah

Hoje tem em tudo que é biboca. Mas não tinha antes, inclusive o Mauricio Luiz Bertola confirmou que não tinha nem no RJ, aqui em SP também não tinha.

Ismah
Veterano
# dez/14
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MMI

Aqui também é algo recente, as rádios rock ainda não sentem tanto.

cafe_com_leite
Veterano
# dez/14
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Pra quem tem TV a cabo, tá rolando um documentario muito legal no canal Bis chamado "Minha loja de discos". É um tour por varias cidades musicalmente interessantes do mundo (leia-se EUA e europa) onde eles visitam importantes lojas de vinis dessas cidades. Além de mostrar a loja, eles fazem uma sintetese da cena musical da cidade.

Pra quem tem tempo de assistir TV e curte vinis e/ou conhecer cenas musicais distintas, vale a pena assistir.

R. Marcone
Veterano
# jan/15
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Eu gostava das porcarias dos anos 80. E não gosto das porcarias de hoje.

erico.ascencao
Veterano
# jan/15
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MMI
Acerca desta história de jabá, tenho uma dúvida: ele só se aplica aos músicos brasileiros? Ou tem músico gringo que paga pra Kiss FM tocar suas músicas à exaustão na rádio (por exemplo, um The Cult da vida que esteja lançando um álbum novo e bota a "música de trabalho" pra tocar na rádio)?

Ismah
Veterano
# jan/15
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erico.ascencao

É o que sempre quis saber também. Mas não há como saber.

MMI
Veterano
# jan/15
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erico.ascencao

Depende do tamanho e expressividade da rádio. O selo, a gravadora, a produtora comercial, muitas vezes se paga indiretamente para as grandes. Existem royalties para se pagar para, por exemplo, a Kiss FM tocar U2, Rolling Stones ou sei lá quem. Não paga, em compensação toca uns lançamentos...

erico.ascencao
Veterano
# jan/15 · Editado por: erico.ascencao
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MMI
É meio difícil entender mercadologicamente quando a rádio paga pra tocar uma música (seja via ECAD ou qualquer outro modo) ou quando recebe para tal. Dá pra imaginar alguns extremos, mas existe um bololô nebuloso... eu por exemplo não entendo o porquê de a Kiss tocar tanto The Cult na programação, pra mim esta banda não tinha tanta expressão na história do rock pra merecer tanta exposição na rádio.

Ismah
Veterano
# jan/15
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erico.ascencao

Preferência dos ouvintes?

MMI
Veterano
# jan/15 · Editado por: MMI
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erico.ascencao

É meio difícil entender mercadologicamente quando a rádio paga pra tocar uma música (seja via ECAD ou qualquer outro modo) ou quando recebe para tal.

Sim, isso é bem nebuloso mesmo. E varia de rádio pequenas, médias e grandes. Mas se alguém vai pagar o músico pelo ECAD que seja 1 centavo, vai sair do bolso de alguém. E adivinhe quem é o elo mais fraco da corrente, que paga o pato? A gravadora, a rádio, a mega banda de sucesso mundial ou o mané que ninguém nunca ouviu falar e quer ter a música divulgada? Por isso que hoje a tal "produtora comercial" é importante, faz dinheiro e produz sucessos. As bandas contratam esses escritórios e estes colocam no circuito as músicas, aparece na TV, nas rádios, matérias de jornais e revistas.

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