Desenvolvimento da musicalidade. Texto e video demonstrativo - Mateus Starling

    Autor Mensagem
    mateusstarling
    Veterano
    # jun/12


    Eu tenho um motivo muito especial para fazer mais uma aula sobre desenvolvimento de motivos (desculpa o trocadilho, mas eu não resisti), pois acredito que esse conceito me levou a tocar e a compreender a improvisação num outro nível.

    Quando digo “outro nível” não estou me referindo apenas ao aspecto conceitual, mas também no quesito musicalidade.

    Foi em 2007 que realmente percebi que necessitava muito desse conceito em minha maneira de tocar.

    2007 era minha reta final como aluno da Berklee, ou seja, eu estava totalmente imerso naquele ambiente musical competitivo, vanguardista e informativo e que com certeza foi muito importante para mim, mas existiam tantos atrativos que eu tinha deixado um pouco de lado o desenvolvimento de ideias musicais em meus improvisos.

    Não quero me alongar demais nessa introdução, acho que tudo fica mais fácil com o instrumento em mãos, mas quando me despertei a esse respeito comecei há perceber isso muito claramente na maneira de improvisar dos grandes mestres e também a perceber como cada um desses tinha o seu toque especial para desenvolver ideias.

    Aproveitando a deixa vou logo citar alguns artistas onde o “desenvolver motivos” é uma grande parte de suas respectivas maneiras de tocar. (Mais antigos: Keith Jarret, Wayne Shorter e Miles Davis. Mais recentes: Brad Mehldau, Aaron Goldberg e Hal Crook). Apesar de a ideia ser muito presente no jazz, fusion, música brasileira e outros estilos influenciados pelo jazz, você também ouve esse conceito sendo extremamente explorada no rock, principalmente músicos que prezam pela musicalidade como Jeff Beck, Jimi Hendrix e quase todos os músicos de Blues (principalmente no conceito “pergunta e resposta”).

    Resumindo, um motivo nada mais é que uma ideia de pequena duração e que é fácil de ser detectada. Essa ideia é usada para alavancar uma série de eventos no improviso.

    É muito comum ouvir um improviso de 2 ou 3 minutos em que o solo seja desenvolvido sobre apenas 2 ou 3 idéias diferentes. Muitas coisas podem e devem acontecer no meio do improviso, aliás, não podemos colocar a música numa simples caixinha resumida através de 1 apostilas ou 1 aula, mas o conceito dos motivos vai ser encontrado fielmente nesse meio como pedra fundamental.

    Improvisar pensando em desenvolver motivos é algo tão presente no jazz que a maioria dos músicos do inicio desse movimento o faziam apenas por referência sonora (vinda do Blues e da música gospel) e obviamente isso se estende até os dias de hoje, porém, quando queremos elevar certo conceito em nossa maneira de tocar devemos colocar esforço e atenção nele.

    É muito comum você ouvir entrevistas dos grandes improvisadores e quando são perguntados sobre o que é improvisar o discurso quase sempre tende para o conceito da composição espontânea “on the fly”, ou seja, vai se criando naquele momento. Ouve-se também a questão do quebra cabeça que começa a se criar da primeira peça e então as outras peças vão se encaixando de forma compatível, ou seja, uma peça chama a outra.

    Certa vez ouvi o pianista Brad Mehldau dizer: “I Iike to mass around with the melody”, algo do tipo: Eu gosto de ficar bagunçando ou curtindo com a melodia da musica nos solos. Ouça os solos do Wayne Shorter no standard Footprints e você vai observar que quando pinta o turnaround na harmonia Shorter cita a melodia da música. Isso é algo muito importante para enlaçar o improviso a uma composição e não apenas ficar improvisando na harmonia como se a melodia da música não tivesse a mínima importância (falo sobre esse conceitos nas vídeo aulas de harmonia aplicada no improviso)

    Portanto, podemos dizer que o maior pecado do improvisador é desistir de uma ideia que apareceu inesperadamente, quando na verdade essas ideias poderiam ser a alavanca para um improviso fresco e espontâneo, portanto não abandone aquelas ideias que aparecem fora do seu controle.

    Um improviso onde não existem ideias que se correspondem, ideias que não se desenvolvem, tende a parecer um quebra cabeça onde as peças não se encaixaram perfeitamente ou onde algumas peças ficaram perdidas ao longo do caminho.

    A minha pretensão com essa aula é repartir conceitos e exercícios que possam te ajudar a desenvolver a musicalidade, portanto, o nome dessa aula poderia também ser desenvolvimento da musicalidade.

    Analisando muitos solos ao longo desses anos comecei a catalogar motivos, tentando trilhar o caminho inverso do improvisador, ou seja, pegando o produto final chamado solo, cortar em pequenos fragmentos para usar essas ideias como inspiração, para formar em nós a importante referência musical. Mas atente bem que o propósito aqui não é copiar frases, mas sim entender o conceito, estuda-lo de forma sistemática, porém musical, porque no fim será você quem precisará criar os seus próprios motivos dentro do seu contexto musical.

    Transcrever solos te leva a entender um pouco mais a cabeça do improvisador, portanto, muito melhor do que apenas copiar as frases é entender como o improvisador conduz o improviso, como ele pega uma simples ideia e transforma essa ideia numa grande história.

    Transcrevendo solos desses grandes mestres comecei a analisar os motivos e a tentar criar algo sistemático que me levou a certos nomes como os citados abaixo.

    OBS: Essa aula pretende ser um arsenal de motivos que possam te ajudar a desencadear novas ideias musicais que sem que necessariamente seja aprendido nenhuma escala, arpejo ou elemento novo.

    Expansão da ideia melódica + desenvolvimento: O improvisador toca uma ideia melódica idêntica 2 ou 3 vezes e depois expande essa ideia com algumas notas a mais.

    Repetição de motivos rítmicos: Quando as ideias se repetem apenas ritmicamente, mas melodicamente mudam (conceito explicado na aula de motivos vol. 1).

    Motivo com apenas 1 nota melódica porém com variação rítmica.

    Motivo com apenas 1 nota rítmica porém com variação melódica.

    Motivo 1 (1 compasso), motivo 2 (1 compasso), repete motivo 1 e desenvolve.

    Deslocamencomto da idéia rítmica ou (melódica): Motivo rítmico de 1 compasso começando do segundo beat, repete motivo começando no terceiro beat, repete motivos começando no quarto beat e desenvolve.

    Trecho da melodia da música congelado: Um trecho especifico da melodia da música sendo usado ritmicamente ao longo das variações harmônicas, podendo ser usado dentro e fora da tonalidade.

    Agora vamos colocar na prática, através do vídeo esses e muitos outros exemplos usando contextos com acordes estáticos, progressões e músicas.



    fonte:
    http://www.mateusstarling.com.br/pt/blog/148-desenvolvimento-da-musica lidade-

    mateusstarling
    Veterano
    # jun/12
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    Eu colei esse texto acima que é de uma aula que fiz sobre desenvolvimento da musicalidade e de motivos. Esse é o texto introdutória da aula, acho que é pertinente e por isso resolvi repartir com vocês.
    Fiquem com Deus.

    LeandroP
    Moderador
    # jun/12
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    mateusstarling

    Transcrever solos te leva a entender um pouco mais a cabeça do improvisador, portanto, muito melhor do que apenas copiar as frases é entender como o improvisador conduz o improviso, como ele pega uma simples ideia e transforma essa ideia numa grande história.

    Muito legal sua improvisação com motivos. Soa mais inteligente, o solo é como se fosse falado, com notas, valorizando as pausas também.

    Engraçado como o motivo (de uma maneira bem simples) é como repetir uma ideia melódica (intervalos) e ao mesmo tempo faz com que os solos não soem repetitivos... Meio irônico, não?!

    mateusstarling
    Veterano
    # jun/12
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    LeandroP
    Obrigado Leandro. Vc resumiu bem, os motivos passam a impressão de que o solo é uma comunicação.

    LeandroP
    Moderador
    # jun/12
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    mateusstarling

    Matou a pau! Nessa aula você demonstrou que pode se fazer muito em termos de fraseado com tão pouco. Ou seja, pra improvisar é importante ter um bom motivo (roubei seu trocadilho).

    renatocaster
    Moderador
    # jun/12
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    mateusstarling

    Mais um belo tópico, parabéns.

    Dando uma subida aqui para o pessoal ver, pois vale à pena.

    clebergf
    Veterano
    # jun/12
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    mateusstarling

    Belo texto Mateus!!!
    Esse é um ponto que em breve irei começar a estudar...

    E deixo como dica para a galera o Thelonious Monk, um músico que estou apredendendo a curtir muito e que tem vários pequenos motivos em seu solos...frases curtas que falam mto...

    mateusstarling
    Veterano
    # jun/12
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    renatocaster clebergf Obrigado rapaziada, fiquem com Deus.

    LeandroP Isso mesmo, estar apto em fazer muito com pouco.

    Rednef2
    Veterano
    # jun/12 · Editado por: Rednef2
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    As vezes tento aplicar isso a meus improvisos, de vez em quando consigo desenvolver algo legal.
    isso realmente eleva o nivel da improvisação

    Quem sabe um dia eu não chegue no nivel de Jeff Beck hehehehe

    mateusstarling
    Veterano
    # jun/12
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    Rednef2 Isso ai. Eu entendo que um solo é um desencadeamento de uma idéia (motivos) que vão originar outras idéias.

    Rednef2
    Veterano
    # jun/12 · Editado por: Rednef2
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    mateusstarling
    Também tenho esse mesmo pensamento em relação a solo!!

    valeu pelas suas dicas cara, ta ajudando muito a galera aqui

    abraço, fica com Deus!!!

    mateusstarling
    Veterano
    # jun/12
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    Rednef2 Obrigado, fico feliz em poder estar contribuindo para o desenvolvimento de algumas pessoas.

    brunoepronto
    Melhor participante de jam
    Prêmio FCC violão 2008
    # jun/12
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    mateusstarling
    Dando uma moral, ainda n assisti o video mas c/ certeza é material de altíssimo nível, grande abraço.

    mateusstarling
    Veterano
    # jun/12
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    brunoepronto
    Valeu Bruno. Te aguardo hoje para a aula :-)

    Rednef2
    Veterano
    # fev/13
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    Uma pergunta: qual a diferença de motivos ritmicos e motivos melodicos?

    mateusstarling
    Veterano
    # fev/13
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    Rednef2 Você pode desenvolver somente a parte ritmica ou somente a parte melodica.
    Primeiro vc pode manter a parte ritmica e desenvolver a parte melodica que é o que eu proponho no video abaixo.
    Vc pode também manter a parte melodica e mudar ritmicamente a ideia melodica.
    Existem muitas outras variações dentro disso tamb.



    Filippo14
    Veterano
    # fev/13
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    Bom tópico, vai ajudar muita gente. Seus tópicos são excelentes, parabéns

    mateusstarling
    Veterano
    # fev/13
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    Filippo14 Obrigado, fico feliz de estar contribuindo de alguma forma.
    abs e paz.

    Rednef2
    Veterano
    # fev/13
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    mateusstarling
    Então motivos melodicos é eu tocar uma mesma ideia só que com divisão ritmica diferente?

    se eu tocar uma ideia em semiminima e depois tocar essa mesma ideia em semicolcheia isso é um motivo melodico?

    mateusstarling
    Veterano
    # fev/13
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    Rednef2 Quando vc mantem a ideia melodica tipo: G E C e vc muda a execução ritmica das notas melodicas que se manterão a mesma.

    Rednef2
    Veterano
    # fev/13
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    mateusstarling
    Acho que agora entendi, valeu cara.

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