Manual de etiqueta do privilegiado

Autor Mensagem
entamoeba
Membro Novato
# mai/21


Vou deixar só o título aí, porque quero desenvolver o assunto depois.

Tem gente que acha que "lugar de fala" é um cala boca no privilegiado, que é coação do "politicamente correto". Bobagem! O privilegiado pode falar pra caralho! É justamente por ser privilegiado que ele deve repensar suas falas para não se portar como um guardião dos preconceitos.

brunohardrocker
Veterano
# mai/21
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Não é que É um cala boca, mas é o que pretende ser.

entamoeba
Membro Novato
# mai/21
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brunohardrocker
mas é o que pretende ser.

Não li Djamila e afins, mas me parece que lugar de fala é um jeito de garantir alguma autoridade às falas de pessoas que vivenciam determinado problema. O que isso quer dizer? Que você não precisa ser doutor em sociologia para ter contribuições na discussão sobre o racismo, você pode falar do lugar de uma pessoa preta.

Você não acha isso interessante? Não acha que algumas pessoas podem dar contribuições importantes sobre determinados assuntos por estarem diretamente envolvidas com eles? Acho que você deve concordar com isso! Lugar de fala não é silenciamento de ninguém, é o oposto disso!

Mas esse tópico pretende ser sobre as responsabilidades que os privilegiados devem assumir ao participar dessas discussões, respeitando, inclusive, os excessos que podem surgir nas falas de quem está se defendendo de alguma injustiça. O que acontece é que, muitas das vezes, o privilegiado se comporta como um guardião da injustiça.

brunohardrocker
Veterano
# mai/21
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entamoeba

Isso é semelhante às discussões sobre o feminismo. O que dá para notar é que há uma distância muito grande entre as premissas majoritárias defendidas pelo movimento e a forma com que age um número muito grande de militantes que representam o movimento em defesa delas.
Se aqui na ponta nós estamos acostumados a receber o "lugar de fala" como um "cala boca que só eu tenho direito de falar", cria-se a impressão que os objetivos do movimento são revanchistas, a comunicação entre as partes fica comprometida, a imagem que se cola num movimento completamente válido fica negativada e acredito que em alguma medida os avanços pretendidos pelas causas ficam comprometidos.

Wanton
Veterano
# mai/21
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brunohardrocker
a forma com que age um número muito grande de militantes que representam o movimento em defesa delas.

As reações às formas como as militantes agem é pior do que as piores atitudes da militância, não acha? Porque a militância é diversa, não é um coro uníssono e lógico, é um sentimento contra a hostilidade sofrida no cotidiano. Não acha que quem é maltratado deveria ter a primazia da razão?

Viciado em Guarana
Veterano
# mai/21 · Editado por: Viciado em Guarana
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entamoeba
É uma postura antagonizante, contraproducente e zuado pra cacete.
E o resultado disso não é você, é o Bruno.

É justamente por ser privilegiado que ele deve repensar suas falas para não se portar como um guardião dos preconceitos.

E isso é um cala boca.
Um cala boca não deixa de ser um cala boca mesmo se for dado pelos motivos certos.

Tua intenção pouco importa, pois o método já é um cala a boca.

Lelo Mig
Membro
# mai/21 · Editado por: Lelo Mig
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entamoeba

Escrever prá carai... porque o assunto é complexo e exige. Vamos lá...

Não precisa ser muito inteligente para perceber que "quem sofre", "é protagonista", de um problema, possui uma ótica que quem não vivenciou pode desconsiderar. Por tanto, a ótica do protagonista têm que ser sempre a da qual se inicia uma avaliação.

Num mundo bi dimensional um sujeito não enxergaria uma laranja colocada dentro de uma caixa. Já o beltrano do mundo tridimensional esta vendo a laranja lá dentro. Contudo, os motivos que fazem "sujeito" não enxergar, precisam ser considerados também.

Um exemplo simples para entender isso, é substituir o racismo ou feminismo por algo menos "identitário", como um viciado em drogas.

Para termos uma política que melhore a situação do viciado é preciso ouvi-lo. Porém, é necessário ouvir quem o conhece, quem o estuda. A família do viciado, o médico, o psicólogo, a assistente social...ou seja, pessoas que entendam do assunto. Não é só a ótica do viciado que "enxerga" o que é melhor para ele.

O problema hoje em dia, muito por conta da internet, é que todo mundo dá pitaco em tudo quanto é assunto, sem entender porra nenhuma. Eu sou à favor do "livre pitaco", inclusive do que expressa: "Eu acho que viciado tinha que morrer tudo!" ou "falta Jesus no coração!. Mas, tenho dificuldade de entender como pessoas "sérias" ficam dando importância prá opinião bosta, opinião de leigo.

Há também uma divisão em tribos, onde pessoas simplesmente "aceitam conceitos" porque seu grupo pensa assim e é incapaz de analisar e formalizar seus próprios conceitos. O homem necessita constantemente fazer parte de um grupo, de aglutinar pares, de formar sua turminha.

Isso é um reflexo de nossa condição de animal social. E a sociabilidade é uma questão evolutiva para superar nossa fragilidade. O animal homem é uma máquina pobre, ruim, deficiente prá caralho. Um chipanzé têm metade de nosso tamanho e peso e chega a 2 vezes nossa força e 3 vezes mais ágil; um Gorila é 1,5 vezes maior que um homem e chega a 15 vezes nossa força. O ser humano teve de se juntar em bando para ter alguma chance na natureza e ficar "mais esperto".

Desta feita, com tanta opinião de ignorante sendo considerada, o "lugar de fala", acaba muitas vezes sendo apenas mais uma separação em grupos distintos, um motivo para segregar.

Eu posso aceitar que um preto tenha muito mais lugar de fala que qualquer outro numa questão racial. Mas, fico meio preocupado, quando vejo um negro dizer que o "preto mais escuro" tem mais lugar de fala que o "preto mais claro", porque acho que ele está caindo no mesmo erro que aparenta querer corrigir. Isso numa análise filosófica e social.

E fico preocupado quando vejo um preto dizer que a Beyoncé pode usar uma peruca loira, mas brancas não podem usar dreadlocks ou turbantes porque é apropriação cultural. Isso numa análise prática e social.

Não sei se fui claro.

Viciado em Guarana
Veterano
# mai/21
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Para termos uma política que melhore a situação do viciado é preciso ouvi-lo. Porém, é necessário ouvir quem o conhece, quem o estuda. A família do viciado, o médico, o psicólogo, a assistente social...ou seja, pessoas que entendam do assunto. Não é só a ótica do viciado que "enxerga" o que é melhor para ele.

Obrigado!

Wanton
Veterano
# mai/21
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Lelo Mig
Mas, tenho dificuldade de entender como pessoas "sérias" ficam dando importância prá opinião bosta, opinião de leigo.

Porque a democracia depende da educação dos leigos. Democracia é mais ou menos igual a pandemia: se a vontade dos idiotas prevalecer, o problema foge do controle.


mas brancas não podem usar dreadlocks ou turbantes porque é apropriação cultural.

Acho engraçado isso de apropriação cultural. Ok, é apropriação cultural, mas apropriação cultural é necessariamente ruim? A gente não conhece outras culturas para aprender com elas? Eu nunca tive oportunidade de conversar com nenhum partidário dessa resistência à apropriação cultural. Me parece que eles tem ideias um tanto equivocadas sobre o problema.


Não é só a ótica do viciado que "enxerga" o que é melhor para ele.

Seguramente! O lugar de fala é a inclusão de uma voz na discussão, não a exclusão das demais! Neste caso, é passar a ouvir o viciado, sem desconsiderar as opiniões que antes dominavam a discussão.

O exemplo é ótimo, porque sem ouvir o viciado, dificilmente se resolve um problema como o da Cracolândia! Quem pesquisa o problema faz isso! Quem se recusa a dialogar com os viciados é o PSDB, que de quatro em quatro anos joga a polícia na Cracolândia para dispersar os drogados. É só crueldade gratuita que não resolve porra nenhuma!


Viciado em Guarana
E o resultado disso não é você, é o Bruno.

Então a revisão é urgente!

brunohardrocker
Veterano
# mai/21
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Wanton
As reações às formas como as militantes agem é pior do que as piores atitudes da militância, não acha?

Depende das reações. Citando exemplos a gente pode avaliar.

Porque a militância é diversa, não é um coro uníssono e lógico, é um sentimento contra a hostilidade sofrida no cotidiano. Não acha que quem é maltratado deveria ter a primazia da razão?

Não acho que agir de forma passional seja uma boa defesa para qualquer coisa. Na situação existem dois lados que precisam entrar em negociação, não acha? E o que tem que haver para que a negociação ocorra da melhor forma?
Entenda que eu estou propondo que os problemas existentes caminhem para a solução e não para a desqualificação dos movimentos.

brunohardrocker
Veterano
# mai/21
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Para termos uma política que melhore a situação do viciado é preciso ouvi-lo. Porém, é necessário ouvir quem o conhece, quem o estuda. A família do viciado, o médico, o psicólogo, a assistente social...ou seja, pessoas que entendam do assunto. Não é só a ótica do viciado que "enxerga" o que é melhor para ele.

Viciado em Guarana

Ou seja, você está em minhas mãos.

Wanton
Veterano
# mai/21 · Editado por: Wanton
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brunohardrocker
Não acho que agir de forma passional seja uma boa defesa para qualquer coisa.

O caso é que a maioria das pessoas apenas apoia as causas, elas apenas se identificam com elas. Não são teóricas dos problemas enfrentados. Elas só entendem que estão defendendo os seus interesses.

É que nem aquela sujeira que o Mamãe Falei faz nas manifestações. Ele quer desqualificar uma pressuposição burra que ele mesmo criou: a de que todos os que se manifestam conhecem a fundo o que defendem! Se uma manifestação dependesse disso, pouca gente estaria apta a sair às ruas!

Então, você tem feministas que simplesmente concordam com o discurso feminista, mas que não são capazes de adotar atitudes extremamente conscientes! Acho até que essa má interpretação do lugar de fala surgiu na esquerda, como uma forma de silenciar os críticos.

O caso que a crítica a qualquer resposta à opressão tende a ser uma crítica em defesa da manutenção de uma estrutura de preconceitos! Fazer críticas racionais ao feminismo é muito mais difícil do que apoiar o feminismo por causa desse risco: o risco de se comportar como um reaça que não tem sensibilidade para problemas reais!

LeandroP
Moderador
# mai/21
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Wanton
que todos os que se manifestam conhecem a fundo o que defendem! Se uma manifestação dependesse disso, pouca gente estaria apta a sair às ruas!


Exato!

brunohardrocker
Veterano
# mai/21
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Wanton
É que nem aquela sujeira que o Mamãe Falei faz nas manifestações. Ele quer desqualificar uma pressuposição burra que ele mesmo criou: a de que todos os que se manifestam conhecem a fundo o que defendem! Se uma manifestação dependesse disso, pouca gente estaria apta a sair às ruas!

Interessante. Daria esse desconto aos movimentos de direita também?

Então, você tem feministas que simplesmente concordam com o discurso feminista, mas que não são capazes de adotar atitudes extremamente conscientes! Acho até que essa má interpretação do lugar de fala surgiu na esquerda, como uma forma de silenciar os críticos.

É mais ou menos o meu ponto de vista. E as falhas de comunicação são inevitáveis. Não há compreensão de que do outro lado estão pessoas preocupadíssimas com questões mais individuais e pessoais na vida e que não falam a mesma língua criada pelo movimento e que estranham um "abaixo o patriarcado!" vindo na sua direção.

O caso que a crítica a qualquer resposta à opressão tende a ser uma crítica em defesa da manutenção de uma estrutura de preconceitos! Fazer críticas racionais ao feminismo é muito mais difícil do que apoiar o feminismo por causa desse risco: o risco de se comportar como um reaça que não tem sensibilidade para problemas reais!

Entendo, só que existe um outro lado. Ter sensibilidade está dentro do ok, mas também não dá para ser hipersensível, um completo capacho, que deixa fazerem o que quiserem de si porque o movimento defende uma boa causa. E é aí que reside o freio que eu imagino que é válido, como contrapeso aos movimentos.

LeandroP
Moderador
# mai/21
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Interessante. Daria esse desconto aos movimentos de direita também?


mimimi

-Dan
Veterano
# mai/21
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Wanton
Lelo Mig
apropriação cultural

Apropriação cultural é um problema combatido quando o objeto ou manifestação cultural só recebe valor quando é apropriado, no caso do racismo, embranquecido.

Foi assim com a história do nosso samba. O valor veio quando colocaram brancas cantoras para valorizar o som dos pretos. Carmem Miranda por exemplo.

Recentemente as tranças ganharam valor porque foram vistas em mulheres na serie Vikings. A rica história das tranças nagôs, as quais serviam de mapa para escravos pretos fugitivos encontrarem os quilombos, quase ninguem conhece. Mas o valor veio quando os dreads encontraram espaço na cabeça das brancas da série. E os salões passaram a bombar de pedidos de tranças.

Claro que uma trancista negra pode usufruir dessa apropriação e fazer dinheiro com o aumento de clientes querendo tranças. Mas nem tudo é só sobre consumo. É frustrante ter que esperar sua manifestação ser esbranquiçada para receber valor.

entamoeba
Membro Novato
# mai/21
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brunohardrocker
Interessante. Daria esse desconto aos movimentos de direita também?

A última graça que ele fez foi na manifestação do bolsogado, ou não foi?


mas também não dá para ser hipersensível, um completo capacho

Não dá. Por isso é importante aprender a se defender sem atacar! Aí que entra o "manual de etiqueta do privilegiado".


-Dan
É frustrante ter que esperar sua manifestação ser esbranquiçada para receber valor.

Entendi. Então, também é um problema bem complexo

-Dan
Veterano
# mai/21
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ProgVacas
Membro Novato
# mai/21
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Ontem na escola eu toquei neste assunto com uma professora que vive me chamando a atenção por reclamar de algo dizendo que temos que dar graças a deus.

A gota d'água foi eu reclamar que salguei muito o feijão e ela soltou, no jantar, que eu devo agradecer porque tenho o que comer.

Aí eu intervi. Retruquei que eu não agradeço por nenhum privilégio, porque não gosto deles. Em vez disso, de agradecer, lamento porque muita gente não tem nem o feijão salgado para comer. Agradecer por eu ter uma moto e um carro para dias de chuva, como ela já disse também, é agradecer por ser um privilegiado e isso fere frontalmente meus princípios. Eu reconheço que tenho privilégios, e isso não me enche de coragem para agradecer.

Lelo Mig
Membro
# mai/21 · Editado por: Lelo Mig
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-Dan

"Apropriação cultural é um problema combatido quando o objeto ou manifestação cultural só recebe valor quando é apropriado, no caso do racismo, embranquecido."

Não tinha avaliado por esta ótica, entendi, obrigado por me ensinar.

Mas vou aproveitar a deixa e explicar o que denominei no meu post como: "análise filosófica e social" e "prática e social", inclusive para você apontar equívocos na análise.

filosófica e social: A questão do "mais preto" ter mais lugar de fala que o "menos preto" posso entender por uma questão física óbvia, o outro é "menos puro" possui mistura, "não sofre tanto quanto o outro por ser meio branco" (desculpe escrever uma merda dessas mas preciso me fazer entender). Mas, vejo uma segregação dentro da segregação, me remete a raça mais pura... e não vejo com bom olhos, não por mim, que não sou afetado diretamente pela questão, mas para os pretos e sua união. Chamei de filosófica porque é mais "abstrata".

prática e social: Se uma loira usa dreadlock ou turbante, ainda que agora entenda a "valorização pelo embranquecimento", (que não havia considerado antes ), em contra partida, ainda acho que o preto deveria se aproveitar para esclarecer sua propriedade, ensinar sua história (como você fez com o vídeo), e apoiar a divulgação e disseminação de sua cultura. Se uma loira sabe a história e a origem, podemos concluir duas coisas: Ela não é racista ou é burra. Porque uma racista, sabendo que é "coisa de preta" não iria usar. As não racistas vão usar por acharem bonito e, ao menos que esteja errado, é uma coisa boa para o respeito entre as diferenças.

-Dan
Veterano
# mai/21
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Lelo Mig
filosófica e social: A questão do "mais preto" ter mais lugar de fala que o "menos preto" posso entender por uma questão física óbvia, o outro é "menos puro" possui mistura, "não sofre tanto quanto o outro por ser meio branco" (desculpe escrever uma merda dessas mas preciso me fazer entender). Mas, vejo uma segregação dentro da segregação, me remete a raça mais pura... e não vejo com bom olhos, não por mim, que não sou afetado diretamente pela questão, mas para os pretos e sua união. Chamei de filosófica porque é mais "abstrata".

Não vejo essa segregação nos meus grupos e não duvido que ocorra. Pretitude é menos sobre tons e mais sobre traços africanos a meu ver. Aquele nariz achatado com narinas largas, aquele cabelo crespo, aqueles lábios grandes, mesmo se o tom da pele é claro, na minha experiencia, acolhe-se como pretos. Mas nao duvido que ocorra extremismos como ocorre em qualquer agrupamento existente.



prática e social: Se uma loira usa dreadlock ou turbante, ainda que agora entenda a "valorização pelo embranquecimento", (que não havia considerado antes ), em contra partida, ainda acho que o preto deveria se aproveitar para esclarecer sua propriedade, ensinar sua história (como você fez com o vídeo), e apoiar a divulgação e disseminação de sua cultura. Se uma loira sabe a história e a origem, podemos concluir duas coisas: Ela não é racista ou é burra. Porque uma racista, sabendo que é "coisa de preta" não iria usar. As não racistas vão usar por acharem bonito e, ao menos que esteja errado, é uma coisa boa para o respeito entre as diferenças.

É complicado cobrar ações de pretos como se o preto fosse uma entidade imune de racismo por exemplo ou tivesse a obrigação de comprar a luta de quem quer que seja. Direcionando a crítica aos grupos ativistas pretos, creio que houve avanços quando, por exemplo, entrou na grade escolar a historia da Africa e das religioes de origem africana, para exemplificar.

Sobre o uso tópico de adereços, é sempre bom senso pesquisar aquilo que vamos usar, independente da origem cultural da coisa. Não é meio patético a brasileirança meter aquela tatuagem maori neozelandesa na pele? Mas todo o direito das pessoas serem patéticas.

Lelo Mig
Membro
# mai/21 · Editado por: Lelo Mig
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-Dan

Entendi.

Só uma observação, entre nós: Eu não trato o preto como uma entidade ou acho que é um organismo que deveria se comportar e se mover num determinado sentido. O "preto" quando me refiro, não é o indivíduo afrodescendente, e sim uma "generalização", apenas com relação a cor da pele, no sentido que é essa diferença física (raça, à priori) que gerou o preconceito.

Assim, como um "branco" tem o direito de chegar aqui e me dizer: "O cuzão! Fale por você e não pelos brancos!". Entenda que não estou querendo ensinar como os pretos deveriam agir.

Apenas, puxando fios para gerar e aprofundar o assunto.

Jonas Kahnwald
Membro Novato
# mai/21
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-Dan
Vou dar uma leve paraquedeada aqui, mas com uma pergunta sincera, (a propósito, não sei se vc é preto, mas entendi que sim)

Percebi um certo tom de desaprovação da sua parte em pessoas de uma etnia usarem adereços, estilos de penteado, etc de outras etnias (mais especificamente a africana) como se isso categorizasse algo patético em alguns casos, mas no mínimo desaconselhável. Estou correto com a percepção do seu sentimento?

Se eu estiver, pq isso? Tipo, realmente entendo como deve ser frustrante ver um traço da sua cultura passar a ser valorizado apenas quando pessoas de outras etnias passam a utilizar.
Mas não há nada de positivo em popularizar aspectos da cultura afro num mundo em que geralmente só "coisa de branco" é valorizada? Não é justamente o fato de que o "padrão" que a maioria deseja imitar seja o europeu que incomoda? Se outras culturas ou aspectos delas começam a ser valorizados o mundo não fica mais plural e representativo? Você acha um desrespeito pessoas brancas (ou de qqr outra etnia) usarem cabelo afro ou fazerem as fitas tranças? Você acha que essas pessoas fazem isso com alguma má intenção?

JJJ
Veterano
# mai/21
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Não sei se entendi bem o tópico, mas se é mais ou menos o que li em alguns posts, o problema é muito complexo. De um lado, os fascistas de sempre. De outro, o apreço por uma cultura diferente sendo interpretado como ofensa. Estamos longe de resolver o assunto.

ProgVacas
Membro Novato
# mai/21
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Jonas Kahnwald

entendo como deve ser frustrante ver um traço da sua cultura passar a ser valorizado apenas quando pessoas de outras etnias passam a utilizar.
Mas não há nada de positivo em popularizar aspectos da cultura afro num mundo em que geralmente só "coisa de branco" é valorizada?


Conversei com um aluno esses dias sobre isso e foi exatamente essa posição. Sua segunda frase explica intrinsecamente o problema maior, que é apropriação cultural. Não é simplesmente um branco usar rasta ou uma branca usar turbante. É o fato desses adereços étnicos estarem muito mais valorizados quando usados em corpos brancos.

Isso é um problemão. Como se sente o preto?

-Dan
Veterano
# mai/21
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Lelo Mig
Entendi.

Só uma observação, entre nós: Eu não trato o preto como uma entidade ou acho que é um organismo que deveria se comportar e se mover num determinado sentido. O "preto" quando me refiro, não é o indivíduo afrodescendente, e sim uma "generalização", apenas com relação a cor da pele, no sentido que é essa diferença física (raça, à priori) que gerou o preconceito.

Assim, como um "branco" tem o direito de chegar aqui e me dizer: "O cuzão! Fale por você e não pelos brancos!". Entenda que não estou querendo ensinar como os pretos deveriam agir.

Apenas, puxando fios para gerar e aprofundar o assunto.


Tranquilo. Percebi isso mesmo. É importante ressaltar essa diferença. Vejo muitos criticando movimentos como se fossem coordenados e não difuso. É muito dificil dizer o que uma feminista deve fazer, ou criticar o movimento porque uma membro que se intitula do grupo fez isso ou aquilo, por exemplo.

-Dan
Veterano
# mai/21
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Jonas Kahnwald
Vou dar uma leve paraquedeada aqui, mas com uma pergunta sincera, (a propósito, não sei se vc é preto, mas entendi que sim)

Sim. Sou preto.

Percebi um certo tom de desaprovação da sua parte em pessoas de uma etnia usarem adereços, estilos de penteado, etc de outras etnias (mais especificamente a africana) como se isso categorizasse algo patético em alguns casos, mas no mínimo desaconselhável. Estou correto com a percepção do seu sentimento?


Não sei se desaprovação seria uma palavra boa. Acho realmente patético usar símbolos sem entender a profundidade dos significados. Mas não considero big deal. Eu evito, mas se alguem curte, não emitirei desaprovação. A minha opiniao de achar patetico não tem muita validade ao que as pessoas gostam de fazer ou nao.

Se eu estiver, pq isso?

Pela frustração que você entendeu bem. Por ser raso.

Mas não há nada de positivo em popularizar aspectos da cultura afro num mundo em que geralmente só "coisa de branco" é valorizada?

Há coisas positivas sim. Como citei num post acima, a popularização pode trazer aumento de renda por exemplo, em casos específicos, mesmo que uma grande fatia da renda vá para a mão de apropriadores. Carmem Miranda e seus empresários faturaram muito perguntando "o que é que a baiana tem". As cantoras baianas pretas, nem tanto.

Não é justamente o fato de que o "padrão" que a maioria deseja imitar seja o europeu que incomoda? Se outras culturas ou aspectos delas começam a ser valorizados o mundo não fica mais plural e representativo?

Desde que o crédito seja repartido. O problema da apropriação é quando o crédito não é repartido, sequer creditado.

Você acha um desrespeito pessoas brancas (ou de qqr outra etnia) usarem cabelo afro ou fazerem as fitas tranças? Você acha que essas pessoas fazem isso com alguma má intenção?

Não acho que a nivel individual exista desrespeito ou má intenção. O que não faz a questao perder complexidade ou deixar de exisitir.

entamoeba
Membro Novato
# mai/21
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-Dan
Carmem Miranda e seus empresários faturaram muito perguntando "o que é que a baiana tem". As cantoras baianas pretas, nem tanto.

Ivete Sangalo e Cláudia Leite são as Carmens Mirandas contemporâneas?

Lelo Mig
Membro
# mai/21
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entamoeba

Bom, pelo menos a Ivete Sangalo é baiana de verdade... as outras são fakes, a Claudia Leite é carioca e a Carmen Miranda nem brasileira era... (ainda que eu ache a Carmem Miranda simpática e talentosa)

-Dan
Veterano
# mai/21
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entamoeba

No axé, precisamente a Daniela Mercury. No inicio dos anos 90, sua figura ímpar de jovem baiana branca caiu como uma luva pra indústria fonográfica popularizar o axé.

Tem um documentario na Netflix sobre a historia e industria do axé que destaca bem isso.

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