A família em busca da extinção

    Autor Mensagem
    General Patton
    Membro Novato
    # set/15


    A “família tradicional” que os cristãos e conservadores defendem ardorosamente contra o assédio feminista, gayzista, pansexualista etc., bem como contra a usurpação do pátrio poder pelo Estado, é essencialmente a família nuclear constituída de pai, mãe e filhos (poucos). O cinema consagrou essa imagem como símbolo vivente dos valores fundamentais da cultura americana, e a transmitiu a todos os países da órbita cultural dos EUA.

    Mas esse modelo de família nada tem de tradicional. É um subproduto da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. A primeira desmantelou as culturas regionais e as unidades de trabalho familiar em que habilidades agrícolas ou artesanais se transmitiam de pai a filho ao longo das gerações; as famílias tradicionais desmembraram-se em pequenas unidades desarraigadas, que vieram para as cidades em busca de emprego. A Revolução Francesa completou o serviço, abolindo os laços tradicionais de lealdade territorial, familiar, pessoal e grupal e instaurando em lugar deles um novo sistema de liames legais e burocráticos em que a obrigação de cada indivíduo vai para o Estado em primeiro lugar e só secundariamente – por permissão do Estado – a seus familiares e amigos. A sociedade “natural”, formada ao longo dos séculos sem nenhum planejamento, por experiência e erro, foi enfim substituída pela sociedade planejada, racional-burocrática, em que os átomos humanos, amputados de qualquer ligação profunda de ordem pessoal e orgânica, só têm uns com os outros relações mecânicas fundadas nos regulamentos do Estado ou afinidades de superfície nascidas de encontros casuais nos ambientes de trabalho e lazer. Tal é a base e origem da moderna família nuclear.

    Max Weber descreve esse processo como um capítulo essencial do “desencantamento do mundo”, em que a perda de um sentido maior da existência é mal compensada por sucedâneos ideológicos, pela indústria das diversões públicas e por uma “religião” cada vez mais despojada da sua função essencial de moldar a cultura como um todo. Nessas condições, assinala Weber, é natural que a busca de uma ligação com o sentido profundo da existência reflua para a intimidade de ambientes cada vez mais restritos, entre os quais, evidentemente, a família nuclear. Mas, na medida mesma em que esta é uma entidade jurídica altamente regulamentada e cada vez mais exposta às intrusões da autoridade estatal, ela deixa de ser aos poucos o abrigo ideal da intimidade e é substituída, nessa função, pelas relações extramatrimoniais.

    Separada da proteção patriarcal, solta no espaço, dependente inteiramente da burocracia estatal que a esmaga, a família nuclear moderna é por sua estrutura mesma uma entidade muito frágil, incapaz de resistir ao impacto das mudanças sociais aceleradas e a cada “crise de gerações” que as acompanha necessariamente. Longe de ser a morada dos valores tradicionais, ela é uma etapa de um processo histórico-social abrangente que vai em direção à total erradicação da autoridade familiar e à sua substituição pelo poder impessoal da burocracia.

    Não por coincidência, o esfarelamento da sociedade em unidades familiares pequenas permanentemente ameaçadas de autodestruição veio acompanhada do fortalecimento inaudito de umas poucas famílias patriarcais, justamente aquelas que estavam e estão na liderança do mesmo processo. Refiro-me às dinastias nobiliárquicas e financeiras que hoje constituem o núcleo da elite globalista. Quanto mais uma “ciência social” subsidiada por essas grandes fortunas persuade a população de que a dissolução do patriarcalismo foi um grande progresso da liberdade e dos direitos humanos, mais fortemente a elite mandante se apega à continuidade patriarcalista que garante a perpetuação e ampliação do seu poder ao longo das gerações. Com toda a evidência, a família patriarcal é uma fonte de poder: a história social dos dois últimos séculos é a da transformação do poder patriarcal num privilégio dos muito ricos, negado simultaneamente a milhões de bocós cujos filhos aprendem, na universidade, a festejar o fim do patriarcado como o advento de uma era de liberdade quase paradisíaca. O desenvolvimento inevitável desse processo é a destruição – ou autodestruição -- das próprias famílias nucleares, ou do que delas reste após cada nova “crise de gerações”.

    A “defesa da família” torna-se, nesse contexto, a defesa de uma entidade abstrata cujo correspondente no mundo concreto só veio à existência com a finalidade de extinguir-se. A ameaça feminista, gayzista ou pansexualista existe, mas só se torna temível graças à fragilidade intrínseca da entidade contra a qual se volta.

    Ou as famílias se agrupam em unidades maiores fundadas em laços pessoais profundos e duradouros, ou sua erradicação é apenas questão de tempo. As comunidades religiosas funcionam às vezes como abrigos temporários onde as famílias encontram proteção e solidariedade. Mas essas comunidades baseiam-se numa uniformidade moral estrita, que exclui os divergentes, motivo pelo qual se tornam vítimas fáceis da drenagem de fiéis pela “crise de gerações”. A família patriarcal não é uma unidade ético-dogmática: é uma unidade biológica e funcional forjada em torno de interesses objetivos permanentes, onde os maus e desajustados sempre acabam sendo aproveitados em alguma função útil ao conjunto.

    Em últimas contas, se o patriarcalismo fosse coisa ruim os ricos não o guardariam ciumentamente para si mesmos, mas o distribuiriam aos pobres, preferindo, por seu lado, esfarelar-se em pequenas famílias nucleares. Se fazem precisamente o oposto, é porque sabem o que estão fazendo.

    Olavo de Carvalho

    sallqantay
    Veterano
    # set/15
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    porra cara, se o cara diminuísse um pouco esse tom panfletário ia ficar um texto foda

    john s mill
    Membro
    # set/15 · Editado por: john s mill
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    bom texto

    ele só confundiu burocracia com disfunção burocrática, o que é engraçado ao citar Max Weber que foi justamente quem cunhou essa diferença.

    landlord
    Veterano
    # set/15
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    Eu sinceramente não consegui achar nada de bom nesse texto.
    Até perdi um tempo lendo, mas realmente é uma grande salada de bosta sem sentido.

    Insufferable Bear
    Membro
    # set/15
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    não li e não acho bom

    Black Fire
    Gato OT 2011
    # set/15
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    General Patton
    Quantos filhos você tem?

    Horcruxes
    Veterano
    # set/15
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    Olavo de Carvalho? Sério isso?

    Black Fire
    Gato OT 2011
    # set/15
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    O Face do Olavo tá engraçado de novo. Agora ele tá puto porque o Kim trocou ele pelo FHC.

    General Patton
    Membro Novato
    # set/15
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    Black Fire

    Agora ele tá puto porque o Kim trocou ele pelo FHC.

    E ele tá certo.

    Dois milhões de pessoas gritando nas ruas e noventa e três por cento da população exigindo a queda do governo são obviamente uma REVOLUÇÃO. Reduzir isso a um conchavo de libertarians e esquerdistas foi a maior broxada desde que Adão foi brindado com um pênis. OdC

    shoyoninja
    Veterano
    # set/15
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    A sociedade “natural”

    Como apuro a "naturalidade" de uma sociedade? Porque a sociedade atual não é também parte desse processo "natural" de tentativa e erro?

    Black Fire
    Gato OT 2011
    # set/15
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    General Patton
    Dois milhões de pessoas gritando nas ruas

    Metade sem nem saber porque.

    noventa e três por cento da população exigindo a queda do governo

    Isso é mentira. Achar o governo de regular a péssimo não é o mesmo que querer a queda do governo.

    Na real, o Olavo tá doidão faz tempo. Nas eleições, ficou cantando a vitória do Aécio, tipo, todo mundo no Brasil sabia que não ia rolar, não rolou, ele inventou a conspiração maluca das urnas. Esse cara devia ter morrido assim que lançou "O Mínimo" e ter evitado essa decadência.

    Black Fire
    Gato OT 2011
    # set/15 · Editado por: Black Fire
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    Agora, falando sério, eu acompanho o facebook do OdC há alguns anos, e é notório a deterioração do cara e a alienação progressiva da realidade. Acho que tem a ver com ele ter se rodeado exclusivamente de puxa-sacos. Sempre fui crítico do Kataguiri, mesmo quando o Olavo cantava as virtudes dele, eu achava um piá de bosta, fecho inclusive com o Jean Wyllys: analfabeto político. Mas me admirei muito em ver que esse guri tem um senso de realidade melhor que o do OdC. Tipo, OK, colocaram 2 milhões de pessoas na rua (número controverso), mas desses milhões, quantos sabiam ou sabem o que é um MBL e quem é Kim Kataguiri? Olha aquela marcha pra Brasília, fiasco total, coroado com um atropelamento ainda por cima. Tipo, o Kim sabe que o destino do MBL é o desaparecimento, o único movimento sensato é a aliança com partidos da oposição, o resto é coisa de megalomaníaco, do ET de Virgínia.

    brunohardrocker
    Veterano
    # set/15
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    Black Fire

    O japinha pra mim nada mais é que alguns que eu conheço a nivel municipal. Faz barulho, quer projeção, busca quem banca, mesmo sendo tryhard, lambari de sanga. Aliás, é isso que dá certo.

    Não tem nada a perder e já está ganhando. Se for pensar em movimento que dá certo no Brasil...

    Mas eu sou pratico: se querem fechar as comportas do esquerdismo no BR, tem que unir forças com todos, do Bolsonaro, passando pelo Alvaro Dias, indo para o MBL até os liberais de verdade e depois todo mundo volta a se contrariar.

    sallqantay
    Veterano
    # set/15 · Editado por: sallqantay
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    Horcruxes

    OdC é patrono do OT hoje em dia

    shoyoninja

    essa é a parte frágil da coisa. Pois o que se chama de natural é na realidade um processo cultural, e quando o OdC fala isso, quer se referir ao mainstream da cultura ocidental (algo muito difícil de precisar exatamente).

    Cultura essa em evolução. Mas o OdC se refere a uma linha evolutiva específica, dentro do que hayek qualifica como ordem espontânea (nesse sentido, algo que é natural)

    Viciado em Guarana
    Veterano
    # set/15
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    É incrível como o Olavão consegue organizar tanta merda de forma coerente em um texto.

    O veio é foda!

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