Sobre aquela questão dos 1% que exploram os 99%.

Autor Mensagem
Die Kunst der Fuge
Veterano
# jul/12 · Editado por: Die Kunst der Fuge


Texto bacana, leiam ae:

A riqueza e a pobreza ao longo da história

"Nós somos os 99%". Este slogan dos manifestantes do movimento Occupy Wall Street tem sido considerado a citação mais memorável do ano passado. Aqueles que se agrupam para se manifestar o fazem em oposição aos infames indivíduos membros do 1%.

Para estes manifestantes, ser membro do 1% significa ser o afortunado beneficiário de algum incentivo governamental, ou algum outro tipo de benefício corporativista. Mas para os socialistas igualitários do movimento, significa simplesmente ser muito rico. Eles dizem que o 1% mais rico do mundo está esbulhando uma fatia injusta de riqueza da sociedade, em prejuízo dos 99%.

Qualquer que seja sua opinião sobre a difícil situação atual dos 99%, ao longo de praticamente toda a história as coisas foram muito piores para a imensa maioria da população. Na era pré-capitalista, o típico membro dos 99%, desde que tivesse a sorte de sobreviver à infância, estaria condenado a uma vida de trabalho braçal extenuante e à pobreza, constantemente no limite da fome, da doença e da morte.

Os únicos indivíduos que não levavam esta vida miserável eram os pertencentes ao "1%" de então. E esse 1% era virtualmente idêntico ao estado. Esse grupo era formado por reis franceses, lordes ingleses, senadores romanos, vizires egípcios e sacerdotes sumérios. Os membros desta elite viviam em esplendor olímpico: servos a seu dispor, comida farta, habitações espaçosas, joias abundantes, e uma imensa quantidade de tempo ocioso.

É claro que esse estilo de vida se apoiava nos ombros das massas. Eram os 99% que produziam o pão que enchia a boca e o estômago dos abastados membros do 1%, que derrubavam árvores para erguer as mansões deles, e que extraíam da terra os metais e pedras preciosos que adornavam seus corpos.

Tudo o que os manifestantes dizem hoje sobre os 99% e o 1% estaria totalmente correto naquele tempo. A riqueza da sociedade era um bolo de tamanho fixo. Quanto maior a fatia abiscoitada pelo 1%, menos sobrava para os 99%. Cada pequeno luxo desfrutado pelo 1% era retirado de recursos que poderiam tornar menos miserável a vida de algum membro dos 99%.

Por que os antigos 99% aceitavam esse domínio do 1%? Por que não se revoltavam e destronavam seus senhores? Estariam eles simplesmente intimidados pelas armaduras e pelas espadas reluzentes?

Não. Como assinalou David Hume, já que "aqueles que são governados" sempre superam vastamente em número "aqueles que governam", o poder de um regime nunca se sustenta somente na força bruta. Os muitos "governados" têm de acreditar que o poder dos poucos mandatários é bom para eles, de alguma forma.

Talvez os sacerdotes tenham convencido o povo que os deuses ficariam furiosos se os dirigentes fossem desobedecidos, ou que a chuva não viria e que as plantações não cresceriam. Ou talvez o populacho acreditasse que os dirigentes sejam os responsáveis pela paz e pela ordem na sociedade.

Os 99% não apenas apoiavam o 1% dominante, como também os veneravam em grandiosos pedestais. Os 99% concediam o poder ao 1%.

Como Ludwig von Mises deixou claro, o poder real — que ele chamava de "força ideológica" — sempre se depende da opinião pública. Se a opinião pública mudar a respeito de qualquer regime, os dias deste estão contados.

Mises foi ainda mais longe ao argumentar que a opinião pública determina não apenas quem está no comando, como também a característica geral da ordem legal — ou, como ele diz, ela determina "se existe liberdade ou servidão".

Em última análise, a única forma de tirania que pode durar é uma opinião pública tirânica.

A luta pela liberdade, no fim das contas, não se trata da resistência contra autocratas ou oligarcas, mas sim da resistência contra o despotismo da opinião pública.[1]

Se os 99% de qualquer país ou regime econômico são oprimidos, eles fundamentalmente são seus próprios opressores; são eles próprios que, em decorrência da própria e tirânica opinião pública, se subjugam e não apenas aceitam a opressão de seus opressores, como também a defendem.

Isso explica a situação política da velha ordem (de qualquer ordem, na verdade). E quanto à situação econômica da antiguidade? Por que o "bolo da riqueza" raramente crescia?

Era de se supor que, com o passar do tempo, as pessoas se tornariam mais eficientes na produção de bens, o que elevaria o nível de vida. Ainda assim, por séculos, a vida quase não melhorou.

As raízes desta estagnada situação econômica podem ser encontradas na ordem política descrita acima.

Repetindo: ao longo da maior parte da história da civilização, o 1% tomou para si uma grande parte do que era produzido pelos 99%. E se algum indivíduo porventura conseguisse acumular riqueza suficiente ao ponto de ser notada, algum potentado a confiscaria também. É por isso que tesouros enterrados eram práticas comuns onde quer que os soberanos se mostrassem particularmente ávidos.

Com tão violento e desenfreado confisco governamental, nunca havia incentivos para a acumulação de capital em grande escala. Sem essa acumulação de capital em grande escala, era impossível ter produção em massa. E sem a produção em massa, era impossível melhorias generalizadas nas vidas das massas.

E esse é basicamente o motivo pelo qual os 99% viveram vidas maltrapilhas por quase toda a história.

E então, nos séculos XVIII e XIX, aconteceu algo realmente revolucionário. Um grupo de filósofos se dedicou a pensar com muito cuidado a respeito de coisas como propriedade, comércio, preços e produção. Estes filósofos foram chamados "economistas".

Ao analisar as leis econômicas que eles haviam descoberto, os economistas concluíram que a sociedade seria muito mais produtiva quanto mais respeitada fosse a propriedade privada. "Laissez faire et laissez passer", disseram os economistas. Deixem as pessoas controlar suas propriedades o mais completamente possível, e todos serão mais prósperos.

Esses filósofos econômicos, pessoas como Richard Cantillon, Adam Smith e J. B. Say, eram teóricos. Eles escreveram livros brilhantes, ainda que empolados, que mudaram as mentes dos comunicadores: indivíduos a quem F. A. Hayek chamou de "negociantes indiretos de ideias".

Dentre eles, havia comunicadores profissionais: escritores como Richard Cobden, e oradores como John Bright. Estes escritores e oradores escreveram panfletos e proferiram discursos que mudaram as mentes de muitos indivíduos reflexivos, ainda que menos eloquentes, a quem podemos chamar de comunicadores amadores. E esse estrato pensante, por sua vez, levou seus colegas não pensantes (os quais podemos chamar modernamente de "manada") a mudarem suas posições a respeito de questões públicas.

Por esse processo, a opinião pública mudou de direção, passando a acreditar que um governo deveria ser o mais limitado possível, e os direitos de propriedade, os mais sacrossantos possíveis. Em suma, a opinião pública mudou e adotou uma doutrina chamada de "liberalismo".

Mais uma vez, o modo como uma sociedade é organizada depende da opinião pública. Assim como a opinião pública mudou, a política também mudou. O capital privado tornou-se mais seguro. Restrições ao comércio foram removidas. Barreiras aos negócios foram abolidas. A propriedade privada reinou suprema, como nunca antes.

E os resultados foram miraculosos. Como nunca antes na história, as energias produtivas da humanidade foram liberadas. Itens antes reservados para a elite do 1% logo foram produzidos em massa para os 99%. Amenidades que nem existiam antes foram desenvolvidas — primeiro, para pequenos mercados; após um tempo, para todas as massas.

A produção de simples necessidades disparou. As populações ao redor do mundo beneficiadas pelo liberalismo explodiram. Pessoas que viviam à margem, e que em outras circunstâncias morreriam, conseguiram subsistir. E aqueles que em outras circunstâncias estariam condenados a passar toda a sua vida chafurdando em uma servidão vulgar tornaram-se capazes de levar uma vida de conforto e refinamento.

Nesta nova ordem, ainda havia os 99% e o 1%. Mas os 99% desse período viviam melhor que o 1% de épocas passadas. E o principal meio para se ascender ao 1% era sendo um empreendedor capitalista de sucesso: se esforçar para servir aos 99% (a massa de consumidores) de uma maneira melhor e mais eficiente do que seus competidores.

Na velha ordem, a maioria dos candidatos a se tornar parte do 1% precisaria, para subir na vida, apenas usar suas habilidades e ambições políticas para ser conquistadores, governantes, administradores governamentais, e, nesses papéis, explorar as massas. Na nova ordem, sob o que Mises chamava de "soberania do consumidor" no mercado, as habilidades do 1% foram direcionadas para prover as massas de consumidores soberanos.

Os mestres tornaram-se servos. Servos abastados, mas ainda assim servos.

A revolução ideológica liberal engendrou uma revolução industrial. E o que Mises chamou de "Era do Liberalismo" durou de 1815 a 1914: um século de ouro no qual a humanidade teve pela primeira vez uma vaga ideia do que era realmente capaz.

Tragicamente, a Era do Liberalismo foi encerrada por uma contrarrevolução ideológica: uma onda de pensamento estatizante, responsável por todos os infortúnios do século XX, bem como pelas atuais crises econômicas e geopolíticas.

Agora, os 99%, dominados por ideias inconsistentes, estão novamente oprimindo a si mesmos. Graças ao estado calamitoso da opinião pública, as classes do 1% estão novamente sendo preenchidas, não por capitalistas empreendedores servindo aos 99%, mas sim pelo estado e seus apadrinhados, que exploram e empobrecem os 99%. E caso as soluções redistributivistas vociferadas pelos pretensos 99% sejam de fato implementadas, elas iriam apenas acelerar esta tendência. Voltaríamos à era pré-capitalista.

Se nossa civilização for salva — isto é, se a maré da opinião pública virar algum dia —, será graças às sólidas ideias formuladas por teóricos como Mises e aos intelectuais que seguem sua tradição. Mas isso só poderá ocorrer caso estas ideias sejam efetivamente disseminadas por uma nova geração de comunicadores.

É por isso que o Mises Institute, o Mises Brasil e todos os outros institutos voltados à disseminação de ideias libertárias são tão vitais. É também por isso que os comunicadores amadores desta geração — que espalham a mensagem da liberdade por meio de posts no Facebook, vídeos no YouTube e afins — são também de enorme importância.

Como escreveu Mises,

O florescimento da sociedade humana depende de dois fatores: da capacidade intelectual de homens excepcionalmente dotados de conceber teorias sociais e econômicas sólidas e da habilidade destes ou de outros homens em tornar estas ideologias aceitáveis pela maioria.

Que as ideias sólidas vençam, e que a sociedade humana finalmente volte a florescer.

Fonte

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Discutam ae.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# jul/12
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Post para a saúde do Teru.

Embaixador da Etiopia
Veterano
# jul/12
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aprecio vossa ingenuidade.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# jul/12
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Embaixador da Etiopia

De ter achado o texto bacana ou de achar que alguém vai ler?
Se for a segunda alternativa, eu sei que vai ter gente que vai ler sim, mesmo que sejam poucos.

snowwhite
Veterano
# jul/12
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Sobre aquela questão dos 1% que exploram os 99%.

Parei aqui.

Beijos.

brunohardrocker
Veterano
# jul/12
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Bom texto.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# jul/12
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snowwhite
Beijos.

=****
Já fez valer o pótico *.*

brunohardrocker
Veterano
# jul/12
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snowwhite

Pode ler.
São poucos os textos assim que você pode ler sem ver viagens esquerdopatas que dão personalidade a problemas que só podem ser resolvidos com força de vontade nossa e que vitimizam a coitada classe proletária quando esta deveria aprender com os vencedores.

snowwhite
Veterano
# jul/12 · Editado por: snowwhite
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Eu me sinto profundamente açodada por representantes dos 99% a quem pago para me prestar determinados serviços aqui em casa e volta e meia me roubam, mentem ou me colocam na justiça alegando coisas bizarras e descaradas. Também me sinto explorada pela classe de políticos que estes 99% elegem para me ferrar. Ainda não entendi o que eu faço de errado e a quem eu ando explorando.

Hoje descobri que fui roubada por mais uma representante destes 99% dentro da minha casa. Vou precisar dispensá-la. E serei vista como exploradora por isto.

snowwhite
Veterano
# jul/12
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brunohardrocker
Pode ler.
São poucos os textos assim que você pode ler sem ver viagens esquerdopatas que dão personalidade a problemas que só podem ser resolvidos com força de vontade nossa e que vitimizam a coitada classe proletária quando esta deveria aprender com os vencedores.


Ái, tô muito triste com isto tudo. Nem vou ler.

Embaixador da Etiopia
Veterano
# jul/12
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snowwhite
oi, meu benzinho

snowwhite
Veterano
# jul/12
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Embaixador da Etiopia
oi, meu benzinho


Oi! Tudo?

JennyBack
Veterano
# jul/12
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já to na metade do texto, to numa luta de resistencia aqui

Die Kunst der Fuge
Veterano
# jul/12
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JennyBack

Força!

Benva
Veterano
# jul/12
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Comecei a ler o texto sem olhar o tamanho e cheguei em determinado trecho. Por curiosidade olhei para a barra de rolagem no canto da tela, e desisti. Depois eu leio. Acho.

Embaixador da Etiopia
Veterano
# jul/12
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JennyBack
vc já aguentou coisa pior

Scrutinizer
Veterano
# jul/12
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snowwhite
É, você é aquele 10^-100% das pessoas corretas e incorruptíveis, já entendemos.

snowwhite
Veterano
# jul/12
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Scrutinizer
É, você é aquele 10^-100% das pessoas corretas e incorruptíveis, já entendemos.


Sou mesmo, sem sombra de dúvidas. Vitimizar os 99% é injusto. Só levo ferro deste percentual majoritário.

Jeps
Veterano
# jul/12
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É também por isso que os comunicadores amadores desta geração — que espalham a mensagem da liberdade por meio de posts no Facebook, vídeos no YouTube e afins — são também de enorme importância.

Discordo aí. Mas o texto interessante.

JennyBack
Veterano
# jul/12
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É também por isso que os comunicadores amadores desta geração — que espalham a mensagem da liberdade por meio de posts no Facebook, vídeos no YouTube e afins — são também de enorme importância.

Discordo aí. Mas o texto interessante.

pois é, pensei a mesma coisa. Não vejo Felipe Neto mudando a sociedade, ainda mais pra melhor.

Tiago Correia
Veterano
# jul/12
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1% VS 99% = Rockfellers + Rothschild VS Mundo

Por que os antigos 99% aceitavam esse domínio do 1%? Por que não se revoltavam e destronavam seus senhores? Estariam eles simplesmente intimidados pelas armaduras e pelas espadas reluzentes?

Mestres são mestres e nós é que somos abastados e servos inseridos em uma sociedade programada ou em um "contrato social" (Leviatan-Thomas Hobbes).

Tá ai o Contrato: O país das Maravilhas é nosso!





dibass
Veterano
# jul/12 · Editado por: dibass
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Die Kunst der Fuge
Li todo o, interessantíssimo, texto. A problemática aparece quando percebemos que (generalizadamente) os 99% tratam de seres desprovidos de inteligencia, senso crítico econciencia política e, afogados em um comodismo com a situação que vivem. O 1% aprendeu bem a domá-los.
Logo, os 99%, com uma formação escolar inteligente o suficiente para entender os comandos ensinados pelo 1%.
A sociedade continuará assim até deixar de ser burra e decidir levantar o trazeiro gordo do sofá.

Atom Heart Mother
Veterano
# jul/12
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eu li o início e desisti.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# jul/12
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Atom Heart Mother

Deixa de ser biba, todo mundo tá gostando, veja ae.

dibass
Veterano
# jul/12
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Ah... dá pra fazer uma análise com base na Escola de Frankfurt. Bom, minha perspectiva caiu pra esse lado do meio do texto pro fim.

Mary Lennox
Pitéu OT 2012
# jul/12
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Essa porcentagem não tá certa.

Mary Lennox
Pitéu OT 2012
# jul/12
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Essa porcentagem não tá certa.

Mary Lennox
Pitéu OT 2012
# jul/12
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ops

dibass
Veterano
# jul/12
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Mary Lennox
é um número ilustrativo para o texto.

The Laughing Madcap
Veterano
# jul/12
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quando vejo uma parede de texto, procuro ver a fonte antes pra ver se é perda de tempo.


mises.org



ROFL

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