A moral e a ética altruista

Autor Mensagem
Cavaleiro
Veterano
# set/11 · Editado por: Cavaleiro


A Ética Altruísta:

"O altruísmo [enquanto moralidade] declara que qualquer ação praticada em benefício dos outros é boa, e qualquer ação praticada em nosso próprio benefício é má. Assim, o beneficiário de uma ação é o único critério de valor moral - e contanto que o beneficiário seja qualquer um, salvo nós mesmos, tudo passa a ser válido" (p.15).

A Alternativa: A Moralidade Egoísta (O Egoísmo como Virtude):

A primeira questão que se levanta em relação a um código de valores diz respeito à razão pela qual seres humanos precisam de um código de valores (pp.20-21).

"Dado que a natureza não provê o homem com uma forma automática de sobrevivência. . . . ele tem de sustentar sua vida através do seu próprio esforço . . .". (p.16). O homem precisa agir para manter sua vida. Se não o fizer, morre, deixa de existir. A vida só é mantida através de um processo de ação que a gera e sustenta. O homem é, portanto, diariamente confrontado com a mais genuína de todas as decisões: a de continuar vivendo ou perecer, a da existência e da não-existência. É por isso que precisa de um código de valores para orientar suas decisões e ações.

O valor supremo do homem é, portanto, sua própria vida. Sem ela não há nenhum outro valor. Tudo o mais que tem valor para o homem tem valor intermediário, derivativo. O valor supremo, o fim em si mesmo, é a manutenção da vida, porque sem ela nada mais existe para o ele, nada mais pode lhe ter valor. A vida é, portanto, o padrão de valor: aquilo que contribui (como meio) para sua manutenção, tem valor (intermediário, subsidiário).

A vida do homem (como a de qualquer outro organismo) depende, do ponto de vista material, de haver suficiente combustível (alimentação) para que ele sobreviva, mas depende, também, do ponto de vista do organismo, de ele tomar as ações necessárias para se apropriar desse combustível e fazer dele uso apropriado.

Em relação a muitos organismos, esse processo é mais ou menos automático: as ações necessárias para se apropriarem do combustível necessário à manutenção de sua vida são tomadas de maneira instintiva, mais ou menos automática. No caso de seres humanos, porém, esse automatismo não existe. "Um instinto de auto-preservação é precisamente o que o homem não possui. Um 'instinto' é uma forma inerrante e automática de conhecimento" (FNI, p.121). "O homem nasce nu e desarmado, sem presas, garras, chifres ou conhecimento 'instintivo'"( "The Anti-Industrial Revolution", in NL, p.136). O homem não toma, automática ou instintivamente, as ações necessárias para sobreviver: ele tem que escolher como agir, ele tem que conscientemente decidir. Se não fizer isso, morre. O homem, para sobreviver, tem que conscientemente decidir quais ações tomar para sobreviver.

Por causa disso, porque o homem precisa conscientemente decidir como agir para poder sobreviver, ele precisa de um código de valores para orientá-lo em suas decisões. O homem tem que escolher um padrão de valor. A escolha racional aponta na direção de um padrão e um código de valores que geram e sustentam sua vida. Uma escolha irracional o leva a um código de valores que impede ou mesmo destrói a vida. "Tudo o que é próprio à vida de um ser racional é o bem; tudo aquilo que a destrói é o mal" (FNI, p.122).

O homem pode, portanto, decidir não escolher o padrão objetivo: a vida. Nesse caso, suas ações levarão (eventualmente) à sua destruição. "Vida ou morte é a única alternativa fundamental do homem. Viver é seu ato básico de escolha. Se ele escolhe viver, uma ética racional lhe dirá que princípios de ação são necessários para implementar sua escolha. Se ele não escolhe viver, a natureza se encarrega" ("Causality versus Duty", in PWNI, p.99).

Uma ética racional é, necessariamente, uma ética egoísta.

A Ética e a Razão:

Por que é que se qualifica a ética necessária para a promoção da vida do ser humano uma ética racional?

Porque, para que possa elaborar um código de conduta, uma ética, o homem precisa conhecer a natureza do mundo que o cerca, a sua própria natureza e a natureza de seus meios de cognição: isto é, ele precisa responder às questões colocadas pela metafísica e pela epistemologia, pois doutra forma não poderá saber o que fazer (Cf. Ayn Rand, "Philosophy: Who Needs It?", in PWNI, p.3).

O instrumento de cognição do homem é sua razão: é através dela que ele integra os elementos da percepção e assim vem a conhecer o mundo que o cerca. Isso significa que a ética não está fundamentada, como acreditam muitos filósofos, no sentimento, nas emoções, ou na intuição, nos costumes sociais, tampouco na noção de utilidade ou de dever. Ela está fundamentada na razão.

Isso significa, além do mais, que a moralidade não é algo imposto sobre o homem porque ele vive em sociedade: "Vocês alardeiam que a moralidade é social, e que o homem não precisaria da moralidade em uma ilha deserta. É numa ilha deserta que ele mais precisaria dela! Deixe que ele pretenda, em um tal lugar, quando não há nenhuma vítima que ele possa espoliar, que rocha é casa, que areia é vestimenta, que alimento vai cair em sua boca sem causa e esforço, que ele vai ter uma colheita amanhã devorando seu estoque de sementes hoje -- e a realidade o varrerá da face da terra, como ele merece. A realidade lhe mostrará que a vida é um valor a ser comprado, e que o pensamento é a única moeda suficientemente nobre para adquiri-lo" (FNI, p.127).

O Bem Objetivo:

"Há, em essência, três escolas de pensamento sobre o natureza do bem, a saber, as que vêem o bem como, respectivamente, intrínseco, subjetivo, e objetivo. A teoria do bem intrínseco mantém que o bem é inerente a certas coisas ou ações, enquanto tais, irrespectivamente de seu contexto e de suas conseqüências, independentemente do benefício ou injúria que possam causar aos atores e sujeitos envolvidos. ... A teoria do bem subjetivo mantém que o bem não tem relação com os fatos da realidade, que ele é o produto da consciência do homem, criado por seus sentimentos, desejos, 'intuições', caprichos ... A primeira dessas duas teorias mantém que o bem reside em alguma forma da realidade, independente da consciência do homem; a segunda, que o bem reside na consciência do homem, independente da realidade. A teoria do bem objetivo, por sua vez, mantém que o bem não é nem um atributo das 'coisas em si mesmas' nem dos estados emocionais do homem, mas uma avaliação dos fatos da realidade segundo um padrão racional de valor. (Racional, neste contexto, quer dizer: derivado dos fatos da realidade e validado por um processo de razão). A teoria objetiva mantém que o bem é um aspecto da realidade em relação ao homem -- e o bem tem que ser descoberto, não inventado, pelo homem" ("What is Capitalism?", in Capitalism: the Unknown Ideal).

Qual "bem objetivo" faz mais sentido para você? A sentença abaixo faz sentido para você?

... comportamentos altruístas beneficiam quem os pratica num outro aspecto que assume relevância aqui: permitem evitar a dor e o sofrimento futuros que seriam provocados pela vergonha de não agir com altruismo. Não é só a idéia de arriscar a vida para salvar um filho que nos faz sentir bem; mas a idéia de não o salvar e de perde-lo faz que nos sintamos muito pior do que com o risco imediato.

Dissertem, ou não, o poder é de vocês.

Fonte: http://aynrand.com.br/texts/ethics.htm

klypterosforme
Veterano
# set/11
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lindo! amei!

Cavaleiro
Veterano
# set/11
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Bônus para popularizar o tópico, ou não:



tambourine man
Veterano
# set/11
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Uma ética racional é, necessariamente, uma ética egoísta.

o teólogo pergunta: o homem pode ser a fôrma do homem? Algo pode se definir por si próprio, sem uma instância superior? Essa tal ética racional é possível?

O crítico aponta os limites: a ética se separou da esfera econômica de reprodução da vida humana com o surgimento do capitalismo. A tal "escolha racional" se dá em um sistema termodinamicamente burro, voltado para a acumulação de capital, e não para a subsistência humana.

A ética e a moral só fazem sentido para legitimar o que é irracional e tautológico. É um falso plano de debate

Qual "bem objetivo" faz mais sentido para você? A sentença abaixo faz sentido para você?

nada que se baseie em culpa ou vergonha faz sentido para mim

Cavaleiro
Veterano
# set/11
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tambourine man

Entendo, então o Feudalismo era o sistema econômico ideal que prezava pela ética.

tambourine man
Veterano
# set/11 · Editado por: tambourine man
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Cavaleiro

história não é o julgamento de um modo ideal, pois esse julgamento é impossível, dado que interpretamos os fatos do passado com base no presente. No futuro haverá outra visão, que vai interpretar de outra forma, e daí por diante.

Além disso, o capitalismo uniu o mundo e abriu espaço para a destruição de todas as tradições e vergonhas/culpa. Só que, ao invés de encarar esse nada de frente, criou novos deuses com outros nomes.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# set/11
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Moral e ética...


RÁÁÁÁ

brunohardrocker
Veterano
# set/11
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Marcando o pótico pra ler quando estiver normal.

neologist_
Veterano
# set/11
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"O altruísmo [enquanto moralidade] declara que qualquer ação praticada em benefício dos outros é boa, e qualquer ação praticada em nosso próprio benefício é má.

Uma ação praticada em nosso benefício só é má se for em detrimento de alguém, não?

neologist_
Veterano
# set/11
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irrespectivamente

Pedante!

brunohardrocker
Veterano
# set/11 · Editado por: brunohardrocker
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Altruísmo Recíproco

Robert Trivers, um biólogo de Harvard, foi quem primeiro falou sobre esse conceito. Veja de que forma ele se aplica ao seu dia-a-dia

Se cada indivíduo maximiza seus benefícios através do comportamento egoísta, por que algumas espécies (inclusive, mas não só, o Homo sapiens) evoluíram através de um mecanismo de trocas altruístas? Para responder a esta pergunta, Robert Trivers, um biólogo de Harvard, produziu um estudo em 1971 chamado "A Evolução do Altruísmo Recíproco", um paper acadêmico que procura responder à questão inicial deste parágrafo através de conceitos da Biologia Evolucionista e da Teoria dos Jogos.

[...]

http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/altruismo-recipro co/525/

neologist_
Veterano
# set/11 · Editado por: neologist_
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Há uma certa confusão nesse texto. Na construção de uma ética, ele trabalha com um sujeito - o homem em estado de natureza, mas dirige essa mesma ética a um outro sujeito - o homem em estado de cultura. Esse movimento que vai do primeiro ao segundo sujeito - essencialmente distinto do anterior - me parece bem claro no decorrer da construção. Parece até haver uma manifestação desse caráter contraditório em certa parte do texto:

Vocês alardeiam que a moralidade é social, e que o homem não precisaria da moralidade em uma ilha deserta. É numa ilha deserta que ele mais precisaria dela!

É exatamente esse o ponto. O homem não está em uma ilha deserta, tampouco em estado de natureza. Sendo assim, o sujeito deveria ser determinado de acordo com seu modo de existência no estado de cultura. E me parece ingenuidade dizer que a racionalidade, no atual modo de existência (se preferir, de produção), está orientada à manutenção da vida, à sobrevivência.

Slash_1989
Veterano
# set/11
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esse forum ja virou recanto pseudo-intelectual........ tsc tsc

tambourine man
Veterano
# set/11
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neologist_

Uma ação praticada em nosso benefício só é má se for em detrimento de alguém, não?

Exato, e essa é a condição do modo de produção capitalista. Alguém aqui quer viver na China sob vigilância do partido comunista, ganhando 1 dólar por dia para montar computadores em uma fábrica de merda?

Cavaleiro

moralidade ateísta é papo para boi dormir. "Se deus não existe, tudo é permitido"

AnaClara
Veterano
# set/11
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Isso significa que a ética não está fundamentada, como acreditam muitos filósofos, no sentimento, nas emoções, ou na intuição, nos costumes sociais, tampouco na noção de utilidade ou de dever. Ela está fundamentada na razão.

é o que eu to tentando falar a um tempão em um tópico aí.

tambourine man
Veterano
# set/11
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Ela está fundamentada na razão.

Há fronteiras no jardim da razão

brunohardrocker
Veterano
# set/11
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tambourine man

Quero uma resposta sua, por ser mais independente.

Se eu resolver praticar o canibalismo, quem é que pode me dizer que sou anti-ético? Que tipo de razão irá me julgar, se posso fazer o que outros seres vivos fazem partindo do pressuposto de que "tudo é permitido"?
"Não matar" seria uma lei moral ou ética-racional?

Die Kunst der Fuge
Veterano
# set/11 · Editado por: Die Kunst der Fuge
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tambourine man
moralidade ateísta é papo para boi dormir. "Se deus não existe, tudo é permitido"

Isso ae que tu falou e citou é ultra last week, já tem até empirismo que contraria.

tambourine man
Veterano
# set/11
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brunohardrocker

Ninguém pode te julgar, só você mesmo. Todos os outros tribunais são meros castelos de retórica, é só desmontar que eles tombam. "Não matar" pode ser uma ética racional em estados que admitem a pena de morte, assim como uma lei moral também.

Die Kunst der Fuge

Quando Dostô for last week, eu me pinto de purpurina.
http://forum.cifraclub.com.br/forum/11/270200/

Die Kunst der Fuge
Veterano
# set/11
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tambourine man
Quando Dostô for last week, eu me pinto de purpurina.

Pode pintar ae.

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=45467

Die Kunst der Fuge
Veterano
# set/11
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Mas claro, você vai ignorar tudo que está no link com uma desculpa esfarrapada.

tambourine man
Veterano
# set/11
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Die Kunst der Fuge

eu posso usar o seu argumento da suposta hierarquia de saberes e chutar esse seu link para a gaveta "soft science"?

Die Kunst der Fuge
Veterano
# set/11 · Editado por: Die Kunst der Fuge
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tambourine man
eu posso usar o seu argumento da suposta hierarquia de saberes e chutar esse seu link para a gaveta "soft science"?


Junto com a Física, que não consegue nem prever o que vai acontecer com o Universo, nem sua forma... que falta de poder de previsão. É soft-science.

Todas as ciências são soft-science.

ps: Isso é só uma matéria de divulgação, você nem leu a MATÉRIA e já tá falando que é soft-science... pra não dizer os artigos que inspiraram a mesma.

tambourine man
Veterano
# set/11 · Editado por: tambourine man
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Die Kunst der Fuge

Na verdade eu queria mais um modelo hipotético-dedutivo-matemático testável [como é o caso da física], e não só uma indução testada por estatística.

animais não têm cultura, animais não têm linguagem, animais não têm história.

Na verdade, tanto faz como tanto fez, o plano moral/ético é falso, como eu coloquei acima. O sistema produtor de mercadorias, que sustenta a vida humana, tá se cagando para esse blablabla.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# set/11
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Isso é que é poder de previsão:

Mas claro, você vai ignorar tudo que está no link com uma desculpa esfarrapada.

tambourine man
Veterano
# set/11
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Die Kunst der Fuge

O seu link está em um falso plano de debate. O sistema produtor de mercadorias, que sustenta a vida humana, tá se cagando para esse blablabla de ética.

AnaClara
Veterano
# set/11
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O primeiro grito de batalha foi do biólogo Edward O. Wilson, há mais de 30 anos, quando sugeriu em seu livro "Sociobiology" (sociobiologia) que chegara "a hora de a ética ser removida temporariamente das mãos dos filósofos" e passar aos biólogos e aos ceurocientistas.

AnaClara
Veterano
# set/11
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No fim dá na mesma.

brunohardrocker
Veterano
# set/11
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AnaClara
a hora de a ética ser removida temporariamente das mãos dos filósofos" e passar aos biólogos e aos ceurocientistas.


Nem conheço esse livro, mas pode justificar qual o motivo?

Die Kunst der Fuge
Veterano
# set/11
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brunohardrocker

Alguns animais são surpreendentemente sensíveis ao sofrimento dos outros. Chimpanzés, que não sabem nadar, morreram afogados em piscinas de zoológico tentando salvar os outros.

Quando podem só obter comida puxando uma corrente que também desfere um choque elétrico a um companheiro, macacos rhesus passam fome por vários dias.

Biólogos argumentam que esses e outros comportamentos sociais são os precursores da moralidade humana.

Eles também acreditam que, se a moralidade nasceu de regras de comportamento formuladas pela evolução, cabe aos biólogos, e não aos filósofos ou teólogos, dizer quais são essas regras.


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